Diário #58 – Sobre a dificuldade de acordar

Houve uma época em que eu odiava acordar. Não era aquela coisa do ‘ai, que preguiça de acordar cedo’, era um ódio profundo mesmo, uma coisa que vinha lá do fundo da alma e que me deixava meio sem chão.

Tinha um motivo, claro. Acordar significava que eu ainda estava viva. E como vocês bem sabem, teve uma época em que eu simplesmente pensava em morrer todos os dias, o dia inteiro. Então, acordar era algo horrível, porque era sinal de que eu não tinha morrido ainda.

Sabe, quando a gente vive sem um propósito, sem ter alguma coisa significativa pra fazer, sem saber quem é direito ou o que a gente tá fazendo aqui nesse mundão de Deus, acordar pode ser a pior hora do dia mesmo.

Os meus dias já estavam fadados a serem ruins porque eu tinha acordado, e isso, pra mim, causava uma dor física, um aperto no peito não que passava por nada nesse mundo. Nem assistir todos os filmes da franquia Harry Potter ou comer aquele pote de sorvete Ben & Jerry’s que eu tanto amo resolvia.

O meu grau de ódio por acordar não era normal, verdade. Eu estava depressiva, me sentindo tão perdida e longe de mim mesma que se me perguntasse eu não saberia dizer se meu nome era Marcela mesmo. Mas eu tenho certeza que você já sentiu isso, em menor ou maior grau, alguma vez na vida.

Se a gente sente raiva ao acordar, é sinal que alguma coisa tá errada. E se a gente fica nervoso quando acorda, porque acha que tá tudo passando rápido demais e que a vida ‘tá acabando‘, é sinal que alguma coisa tá errada também.

No último final de semana, eu passei por mais uma experiência maravilhosa que me lembrou que, agora, eu fico feliz em acordar todos os dias. Eu vou dormir animada com a possibilidade de acordar no dia seguinte porque eu sei que essa é mais uma oportunidade de fazer o que eu vim fazer aqui. É uma nova chance de ficar mais perto de quem eu sou e de mostrar pro mundo de que isso é possível.

E, sabe, nesse final de semana eu fui lembrada de que ainda existem muitas pessoas que se sentem como eu me senti. E que a minha missão não estará cumprida enquanto essas pessoas ainda se sentirem assim.

O mundo é muito hostil e é fácil a gente se perder no tanto de informação e coisas ruins que a gente vê por aí. Parece que tá tudo sempre errado e ninguém nunca faz nada certo e que talvez a gente não devesse estar aqui mesmo, porque ‘a humanidade falhou’.

Mas, ao mesmo tempo… A gente tem que acreditar que isso tem uma saída. Porque tem mesmo. A gente acha que tem que se conformar com o que o mundo apresenta pra gente e que ‘a vida é assim mesmo’, cheia de altos e baixos e que sentir uma dor no peito sempre que acorda é normal.

Mas, gente, não é. Sentir essas coisas não é normal. Não é. Não. É. Não é, não é, não é.

Tem horas que a gente precisa decidir ver as coisas de uma forma diferente, sair disso que o mundo diz que é comum, caso contrário a gente se afoga nessas coisas ruins e fica perdido pra sempre acreditando que odiar levantar pra trabalhar é algo que todo mundo sente, então, tá tudo bem.

Não tá, não, viu? Só pra reforçar.

Eu sei que tem horas que parece impossível ver uma razão pra sair da cama. Acredite, eu já estive nesse lugar (e considerei bater a cabeça na parede até desmaiar e voltar a dormir). Mas ela existe. Ela existe. E o convite que eu faço é: queira ver. Esse é o primeiro passo pra tornar esse motivo a sua razão pra levantar da cama todas as manhãs. E fazer isso bem, sem pensar já na hora de voltar pra lá. (#quemnunca)

Eu acho que já sei bem o que eu quero. Eu quero as pessoas acordem bem. Não quero nunca mais que alguém sinta o que eu senti por tanto tempo. E, olha, vou fazer tudo o que for preciso pra isso acontecer.

Se você já se sentiu assim, ou se sente agora, eu só tenho uma coisa a dizer: cada novo dia é uma oportunidade pra você escolher de novo. Escolha usar essa folha em branco pra lembrar de quem você é, pra saber que você é importante e que a vida sem você jamais será a mesma. Tá bem?