cotidiano

Eu já pensei muito na morte. Mais especificamente, já pensei muito em morrer. Nos dias ruins, a vontade vinha bem forte e sonora: se eu me jogar na frente desse ônibus agora, talvez dê certo. Se eu pular por essa janela, acho que consigo. Se eu tomar esse vidro todo de remédio, talvez eu morra mesmo.

Pensar na morte, pra mim, era normal. Era como pensar no leite que eu tomava todas as manhãs: inevitável e já parte da rotina. Café da manhã. Morte. Trabalho. Quero morrer. Ônibus pra casa. Hora de morrer. Em casa vendo série. Morte. Na cama antes de dormir. Tomara que eu não acorde mais.

Eu pensava muito em morrerFoto: Cassio Crow Fotografia

No meu consciente, eu queria muito não acordar de novo. Essa vida, ela não tem sentido, sabe? Essa coisa de levantar de manhã pra ir pra um trabalho ganhar ‘o sustento‘. Ter que se preocupar com política e com o futebol. Ter que chorar quando eu não encontro alguém pra ser a minha metade da laranja. Acordar no dia seguinte e começar de novo.

Me preocupar com IPTU, IPVA, comprar um carro, uma casa ou uma bicicleta. Ter que lidar com a violência na televisão, na rua e dentro de casa, nos pequenos atos que vão matando a gente aos poucos (ou nos grandes, que nos matam de vez). Ter que tirar a esperança de uma chama interna que já tinha se apagado há tanto tempo que os fósforos que ficavam na caixinha do lado apodreceram ou ficaram molhados por conta da chuva.

Sorrir não era possível e a pergunta que eu mais me fazia era: ‘Qual o sentido de tudo isso?‘. Eu pensava em morrer o tempo todo porque a vida não tinha sentido. Eu não encontrava uma razão para continuar. Tudo o que eu queria era desaparecer da existência.

Isso é possível? Simplesmente deixar de existir? Pra sempre? Será que eu sou mesmo capaz de acreditar que a minha vida se resume aos 80 anos – em média – que um ser humano vive na Terra? É isso mesmo?

Não à toa eu achava que a vida não tinha sentido nenhum.

A verdade é que eu cheguei num ponto em que queria mesmo morrer. E depois me culpei porque vi que não seria capaz de acabar com a minha própria vida, e então percebi que talvez eu não quisesse morrer tanto assim.

A verdade mesmo é que morrer não ia mudar nada.

Morrer não ia resolver os meus problemas (ou os dos outros, diga-se de passagem). Morrer não ia me trazer paz. Não ia me tornar mártir. Talvez me transformasse numa estatística. E pra quem quer ser especial, virar só mais um número não funciona muito bem.

Eu dormia mal, acordava mal, comia mal, porque achava que eu merecia isso e também porque eu não via uma saída. Pra mim o mundo era isso e a vida era essa merda toda mesmo. Nada tem muito sentido a gente tem que se virar com o que tem.

Mas eu decidi sair dessa. Eu percebi, mesmo que no tal do meu inconsciente, que eu não queria mais morrer, porque acabar com o corpo não ia resolver coisa alguma. Então saí em busca de uma razão pra continuar viva.

E eu encontrei. Sim, realmente, a vida no mundo não tem sentido algum e viver por aqui é uma coisa meio louca mesmo. Mas a Vida, a Vida de verdade, o que ela é, é mais do que motivo pra continuar existindo (e, na verdade, a gente jamais consegue deixar de existir). A vida é alegre, a vida é leve, a vida é abundante. A vida é.

Dá, sim, pra ser feliz o tempo todo, porque a Vida não tem opostos. Pode, sim, ser feliz o tempo todo porque quem está em contato com A VIDA não tem porque se abalar com as pequenezas do mundo.

O mundo é isso: pequeno. E a vida no mundo é menor ainda. Mas eu? Eu sou a somatória de todo o universo e muito mais. Eu sou tudo o que existe e, nesse lugar, eu sei que morrer não ajuda nada nem ninguém.

Eu achei a minha razão pra viver: lembrar de quem eu sou de verdade. Pra que você possa olhar pra mim e lembrar também. E a gente consiga, juntas, voltar pro lugar da onde a gente nunca saiu.

A gente se distrai muito, sabe? A gente pensa que é um monte de coisas. Humana. Mulher. Alta. Baixa. Magra. Gorda. Simpática. Antipática. Jornalista. Advogada. Pediatra. Nutricionista. Mãe. Avó. Solteira. Casada. Viúva. E dá pra resumir isso tudo numa palavra só: limitada.

A gente se limita por uma coisa tão pequena quanto o mundo. Tão sem sentido quanto uma bola gigante que gira em torno de uma bola maior ainda e que pega fogo o tempo todo. A gente pensa que nessa bola tá a chave pra nossa felicidade e quando a gente não acha… Bem, sempre tem a morte pra dar um fim nessa busca infrutífera.

Os meus dias eram regrados pelo pensamento da morte. E pela sensação da morte. Eu não precisava deixar o corpo pra provar que já estava morta há muito tempo. Eu achava que morrer era a solução dos meus problemas, mas na real, quem olhasse pra mim sabia que eu já tinha desistido de viver muito antes.

Tenho certeza que você já pensou assim também.

Mas tá tudo bem. Comigo e com você. E eu garanto que você não precisa morrer pra resolver coisa alguma. Não faz isso, não. Não se machuca. A gente já se fere tanto sem nem encostar no corpo… Tem saída, viu? Tem mesmo. Tá tudo bem com você.

A vida é muito bonita, e não é nada disso que você pensa. Para de achar que você tá sozinha, não tá não! Eu tô com você. E hoje sei também que você está comigo também. Sempre e em todos os lugares, porque não há distância pro amor que existe em nós.

Eu pensava o tempo em todo em morte. Hoje eu penso o tempo todo em como ser mais viva. Em como levar a vida pra tudo o que eu faço. Em como fazer você entender que eu te amo e que sei que sou amada também. Quais palavras vão fazer você entender a minha mensagem?

A morte não resolve nada.
Mas entrar em contato com a Vida (de verdade!) resolve tudo.

E, ó, se você ainda pensa muito assim… Não tem problema pedir ajuda. Isso não torna você uma pessoa fraca, pelo contrário. Você pode procurar o Centro de Valorização da Vida, um amigo disposto a ouvir, alguém da família, um desconhecido na rua, mandar um email pra mim… Só não acredite que você está sozinha. Combinado?

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Escrito pelaMaki
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14 Comentários
  1. Paula marra  em junho 06, 2016

    Oi marcela, nao sei nem como cheguei na sua pÁgIna, mas penso muito em SUICÍDIO e é DIFÍCIL encontrar pessoas falando disso abertamente, mesmo na Internet. Eu me sInto exatamente como você detalhou no Seu Último tExto, só que essa sensação não passa. Ontem tive uma das piores noItes da minha vIda e fiquei arquitetando minha mOrte, peNsando em todos os deTalhes e tal. Mas eu nÃo quero morrer, eu só queria parar de sofrer! Eu Orei e pedi a deus ajuda, mas ele simplesmente não me ouviu….eu nÃo sei nem se acredito em deis mais. Por que auando eu mais prrciso ele nunca Esta? Pq eu nao Simto? Pq ele nao me rESponde? 🙁

    • Maki  em junho 06, 2016

      Paula, Deus está com você a todo momento. Ele nunca te deixa sozinha, mas talvez a resposta que você queira é diferente da resposta que ele está te dando, e por isso pode parecer que ele não está ouvindo nada. Mas isso não é verdade.
      A sua vida vale a pena ser vivida e você merece estar em contato com tudo o que ela tem para te oferecer. Se você se sente assim, não tenha medo de pedir ajuda, de ir atrás de alguém que possa, de fato, te ajudar a encontrar esse caminho de volta. Seja um terapeuta, um amigo próximo, um familiar. Conversar com alguém sobre isso é o primeiro passo para conseguir sair dessa. Decida sair disso, e tudo o que você precisa pra isso vai se apresentar na sua frente. Força! ♥

  2. Lila  em abril 19, 2016

    Oi Maki! Muito bom o texto, inspirador como sempre! A energia flui para onde está a nossa atenção! Se vc muda o foco,muda a vida!Bjo

    • Maki  em abril 20, 2016

      Oi, Lila!
      Isso! Se a gente muda o foco pro que é verdade (a Vida!) tudo muda!
      Beijos!

  3. Taís  em abril 19, 2016

    Maki, que texto! Eu alguma momento da minha adolescencia também me vi nessas suas palavras e super concordo que entrar em contato com a vida de verdade, vai sim resolver tudo! Parabéns por escrever um texto tão pessoal assim e deixando bem claro pra quem passa ou ja passou por isso que ninguém tá sozinho. vamos todos nos unir e nos fazer fortes juntos! 🙂

    • Maki  em abril 20, 2016

      Oi, Taís!
      Siiiimm! Vamos juntos que assim a gente é muito mais forte, né? Obrigada pelo seu comentário ♥

  4. Bruna Hirano  em abril 19, 2016

    OI, MAKI.
    NOSSA, QUE TEXTO. PARABÉNS DE VERDADE POR TER ESCRITO ELE. ACREDITO QUE EU LI EM UMA FASE QUE EU ESTAVA PROCURANDO, TALVEZ ESSE TEXTO ME ACHOU. EU NUNCA HAVIA PENSADO EM SUICÍDIO ANTES, ATÉ QUE MÊS PASSADO COGITEI, PASSOU PELA A MINHA CABEÇA E FOI O PIOR SENTIMENTO QUE EU TIVE NA VIDA. ENTÃO, BUSQUEI MELHORAR, CRIEI UM SITE PRA DIVULGAR MEU TRABALHO COMO FOTÓGRAFA E OUTRAS COISAS QUE GOSTO, COMECEI A FREQUENTAR PSICÓLOGA, VOLTEI A FOTOGRAFAR MAIS. É BEM ISSO QUE VOCÊ FALOU, QUANDO A GENTE CHEGA NESSE LIMITE DE PENSAR EM ACABAR COM A PRÓPRIA VIDA, TEMOS QUE BUSCAR MOTIVOS PARA QUERERMOS CONTINUAR VIVENDO, NÃO SÓ EXISTINDO E EMPURRANDO TUDO COM A BARRIGA, MAS SIM SORRIR POR SIMPLESMENTE ESTAR BEM E VIVA. E VIVER, SÓ. VIVER.

    OBRIGADA POR ESSE POST! DE VERDADE. ESTOU MELHORANDO AOS POUCOS E O SEU POST ME EMOCIONOU DE VERDADE.

    UM BEIJO!

    • Bruna Hirano  em abril 19, 2016

      Não sei porque meu comentário anterior saiu tudo em caps 🙁 Parece que tô gritando hahaha sorry 🙁

      • Maki  em abril 19, 2016

        AHAHAHAHA sem problemas 🙂

    • Maki  em abril 19, 2016

      Oi, Bruna!
      Nossa, você não sabe como é bom ler um comentário como o seu!
      É isso, sabe? Todo mundo pode pensar nisso, o mais importante é saber que tem saída e fazer o possível pra buscar um motivo pra viver. Viver é muito bom mesmo, sabe? A gente esquece de vez em quando…
      Brigada você por ter dividido a sua história aqui ♥

  5. Diana  em abril 18, 2016

    A única coisa que consigo dizer é: QUE TEXTO INCRÍVEL!!!. Acho impossível, qualquer pessoa, não se identificar com ao menos um trecho dele. ♥

    • Maki  em abril 19, 2016

      Oi, Diana!
      Fico muito feliz que você pense assim. Apesar do tema meio ~pesado~ acho que todo mundo já pensou assim alguma vez, né? O mais importante é saber que tem saída!

  6. Aline  em abril 18, 2016

    Maki, como esse texto falou comigo! Talvez eu não tenha pensado em morte tanto quanto você, mas já pensei. E já me senti sozinha, e as vezes ainda sinto essa coisa estranha que faz a gente achar que não somos nada. Só que assim como você em algum lugar de mim eu acredito que somos uma energia muito maior do que esse corpo representa. Li uma vez uma frase que agora não lembro de quem era, mas que dizia assim: “Eu não tenho uma alma, eu sou uma alma, eu tenho um corpo” e trouxe essa frase pra minha vida porque é isso, o corpo é a casca, nossa Vida, quem nós somos é muito maior do que isso.

    É tão bom vir aqui e ver que você descobriu tanta coisa boa sobre você e a sua Vida e poder ler isso e aprender também! Obrigada por continuar e que as descobertas não acabem nunca!

    Beijos ❤

    • Maki  em abril 18, 2016

      Aline, que frase incrível! É isso mesmo. O corpo é só uma ferramenta que a gente usa. A nossa vida não depende dele pra existir. Obrigada por acompanhar essas minhas descobertas ♥ você é muito importante!