rotinas com afeto

devo ter comentado em algum momento por aqui que tô num baixão criativo. o que é contraditório considerando que eu tô bem empolgada com algumas coisas – como o clube navegantes. mas, sim, tô passando por uma fase. e a minha vontade, nessa fase, é passar o dia inteiro deitada na minha cama lendo tudo o que eu prometi que leria esse mês e vendo os meus filmes favoritos da década de 90, na esperança que alguma coisa mágica aconteça e eu volte a me sentir inspirada novo.

acho que mudança tem dessas. quando a gente muda muito ou passa por uma ruptura muito grande, a coisa toda chacoalha aqui dentro e parece que fica muito difícil encontrar alguma coerência, quiça veia criativa. as minhas todas secaram, parece, e jazem imóveis nesse invólucro estranho que eu chamo de corpo. talvez seja por isso que eu voltei a ser aquela fervorosa defensora das rotinas, porque quando a coisa pesa do lado de cá, eu me volto pro mecânico, pro que eu faço sem pensar.

e, honestamente, eu tô evitando pensar, por esses tempos.

dizer que as rotinas me salvam pode parecer um exagero e até redundante pra quem acompanha esse blog há mais tempo. você, diamante raro que tá aqui comigo desde que isso tudo é mato, sabe o quanto manter uma rotina foi importante enquanto eu passava por uma depressão pesada.

hoje, não me vejo no mesmo ponto em que estava anos atrás, mas reencontrei um novo carinho e admiração por metodologias que me ajudam a fazer-uma-coisa-depois-da-outra-todo-dia, porque essa mecânica tem me ajudado a recuperar as forças.

sim, eu vou falar de Austin Kleon

é inevitável, sabe? mas em Siga em Frente o Austin fala exatamente sobre a importância de manter uma rotina pra continuar com o trabalho quando os dias parecem complexos demais. quando a criatividade estiver em baixa, ele diz, você pode sempre contar com a sua rotina pra te ajudar a levar um dia depois do outro, independente do seu humor.

esse trecho do livro vira e mexe me vem à mente, porque parece que eu tenho entendido cada vez mais a importância de ter um bom sistema pros dias difíceis. dando continuidade pra essa ideia, o Struthless, um dos meus youtubers favoritos do momento, fala exatamente sobre como é legal a gente montar uma rotina ideal pros dias que se sente como o Leonardo DiCaprio em Titanic, “dono do mundo“, e outra pros dias medíocres, aqueles em que você tá se sentindo meio blé e a vontade é de não fazer nada.

uma rotina te dá liberdade ao proteger você dos altos e baixos da vida e ao ajudar você a tirar proveito do seu tempo limitado, da sua energia e do seu talento.
– austin kleon, siga em frente

Stephen King, em Sobre a Escrita, também fala sobre como ter uma rotina de escrita foi essencial pra ele continuar com o trabalho, principalmente depois que ele voltou da clínica de reabilitação e percebeu que a sua criatividade continuava lá. ele não precisava da bebida pra colocá-la em prática.

até mesmo Haruki Murakami, sabe, que escreveu sobre não forçar a barra quando a vontade de escrever não tá lá, fala que ter uma rotina mantém o trabalho constante e consistente. e eu concordo. eu acho mesmo que mantém (inclusive, até falei sobre essa história de forçar a barra nos meus Stories semana passada).

em Pense como um artista, Will Gompertz fala sobre como os grandes artistas da história seguiram em frente com as suas produções artísticas mesmo diante do fracasso. ele não fala diretamente sobre rotina (pelo menos, até onde eu cheguei na leitura), mas acaba recaindo nesse lugar, né? a ideia de você seguir em frente, fazendo o seu trabalho dia sim, dia também, na esperança de que você encontre o que procura com ele em algum momento.

os artistas são empreendedores. estão dispostos a correr todos os riscos pela chance de progredir no trabalho que se sentem compelidos a criar.
– will gompertz, pense como um artista

vamos falar O Milagre da Manhã também

entra aí a forma como eu tenho levado os meus dias ultimamente. se você, querido diamante, se lembra bem, eu escrevi há alguns anos (!) sobre O Milagre da Manhã e o quanto esse livro mais parecia um grande comercial da Polishop. reli ele inteirinho no final de janeiro / começo de fevereiro e por mais que ainda pense que estou lendo o roteiro de uma live de vendas, entendi o livro de outra forma e sinto que captei melhor a intenção do autor, o Hal Elrod, de ajudar as pessoas a desencadearem o seu potencial completo.

dito isso, já tem duas semanas completas que eu faço todos os seis passos do milagre da manhã todos os dias (sim, mesmo de fim de semana). é uma hora por dia dedicada a mim, numa rotina certinha que tem me ajudado a manter a motivação pra levantar da cama de manhã e não cair do cavalo completamente. então, é isso: eu medito, escrevo as minhas páginas matinais, recito as minhas afirmações, faço um exercício de visualização, leio por 15 minutos e me exercito por mais 10.

o propósito de definir um objetivo não é conquistá-lo. o verdadeiro propósito de definir um objetivo é se desenvolver e se tornar o tipo de pessoa capaz de conquistar objetivos, independentemente de consegui-los ou não.
– hal elrod, a equação do milagre

depois, arrumo a cama. tomo café da manhã e me permito comer direitinho. dependendo do dia, vou treinar na academia e tomo banho depois. quando não passo por essa etapa, vou direto pro banho. lá pelas 10h, começo a trabalhar. meio dia em ponto paro pra almoçar, não tem conversa. depois, paro de novo às 16h pro lanche da tarde. por último, termino de trabalhar às 19h30, e me permito passar o resto da noite fazendo o que tenho vontade, até a hora de dormir, às 22h30.

tenho funcionado como um relógio suíço e entre uma mecanicidade e outra, recorro às pessoas queridas pra conversar o que tem que ser conversado. pra pedir ajuda quando preciso, pra desabafar quando necessário e pra dar risadas e comer coisas gostosas junto também. tudo isso, eu acho, tem me ajudado a criar dias repletos de pequenos rituais que, pouco a pouco, eu sinto que estão fazendo a sua mágica no meu coração, colocando ele de volta no lugar.

e como faz pra construir um dia de belos rituais?

acho fácil a gente cair, aqui, naquela falácia de que uma mesma receita funciona pra todo mundo. mas não é bem assim. o que tem funcionado pra mim pode não funcionar pra você – e tudo bem. como diz o Struthless, leva o que fizer sentido, o que não faz, você descarta.

ainda assim, acredito também que tudo começa num mesmo ponto: a sua intenção. quando percebi que a coisa começava a complicar por aqui, coloquei na minha mente que, não importava o que acontecesse, eu precisava ficar bem. e tudo o que eu faria no meu dia, seria pra que esse fosse o resultado final. passar por fases complexas faz parte dessa vivência doida no mundo, então, a única coisa que eu posso fazer é mudar a minha percepção de tudo.

isso não significa jogar pra debaixo do tapete as sensações ruins. pelo contrário. pra mim, significou me deixar senti-las por tempo o suficiente pra que elas saíssem do caminho e me dessem espaço pra seguir em frente (em A Equação do Milagre, o Hal fala da regra dos cinco minutos: permitir-se cinco minutos pra sentir tudo relacionado àquela situação e depois aceitar que ela não pode ser mudada e buscar uma solução).

em alguns momentos, o meu sentir levou mais que cinco minutos, mas percebia que, no dia seguinte, seguir a minha rotina me permitia olhar de outra forma e eu comecei a buscar o próximo passo de maneira cada vez mais consciente, colocando em cada um a intenção de ficar bem.

tem funcionado.

e não é que a criatividade me abandonou, sabe? como eu mesma contei na newsletter, umas semanas atrás, ela tá hibernando aqui dentro. coisas mais urgentes precisam da minha atenção e, aos poucos, ela vai dando os sinais de que a hora de acordar chegou. quando ela quiser sair da caverna em que se enfiou, eu vou recebê-la de braços bem abertos, feliz pelo reencontro.

até lá, sigo os meus pequenos rituais, na certeza de que, pra mim, são gigantes. marco tudo o que faço num aplicativo de hábitos e comemoro quando ele me diz que cumpri toda a rotina do dia. coloco a cabeça no meu trabalho pra não me permitir vacilos. como bem. tento dormir bem também. e, enfim, sigo em frente.

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. Ana Letícia Dantas  em março 09, 2022

    Esse texto complementou bem minha sessão de terapia de hoje haha até salvei uns trechos no notion para não esquecer. Obrigada por isso.

  2. Emerson  em fevereiro 23, 2022

    O bom é nos mantermos bem conosco mesmo. Graças a Deus tenho achado o ponto certo do meu bem estar. Incrível esse texto!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está em Hiatus de verão de 18 de janeiro à 04 de março, mas comentaremos nos blogs amigos nesse período! Mesmo em Hiatus, o blog tem um post novo. Não deixe de conferir!

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