a minha relação com a escrita é complexa. é linda, eu tenho que admitir. mas é complexa. a gente já se desentendeu muitas vezes e só esses anos tiveram umas cinco ou seis brigas daquelas que a gente ouve os nossos vizinhos tendo e fala pra si “ixi, acho que agora acabou de vez”. mas, no fim das contas, a gente meio que refaz as pazes e fica tudo bem.
desde janeiro, eu percebi que comecei super empolgada e cheia de sonhos e alegrias com a minha escrita – especialmente a criativa. mas aí, veio uma montanha de trabalho e a coisa deixou de ser divertida pra voltar a ser chata, maçante e, principalmente, automática. daí, eu fiz um curso de youtube e tudo mudou de novo. só pra me ver caindo na mesma espiral meses depois.
setembro e outubro, por exemplo, foram meses sombrios por aqui, porque eu percebi que a minha relação com a escrita tinha passado por mais uma dessas brigas que a gente prefere não estar perto pra ver acontecer. a boa notícia é que eu tenho encontrado uma saída pra tudo isso e, apesar de perceber que é fácil o trabalho tirar o meu prazer de escrever, eu percebi também é não é tão difícil recuperar essa alegria.
como saber que eu perdi o prazer de escrever?, você pode me perguntar.
bem, minha cara leitora (ou leitor), não é tão difícil assim, né? mas, antes de começar a falar mais desse assunto eu preciso dizer que tô falando aqui sobre a minha experiência e coisas que eu percebi e pratiquei nos últimos meses, as descobertas que eu tive. o que significa que não necessariamente o que aconteceu e funcionou comigo pode acontecer ou funcionar com você, ok?
avisos à parte, eu comecei a perceber alguns sinais que eu acredito serem bem perceptíveis sobre perder o prazer de escrever. são eles:
- a primeira coisa era que eu tava trabalhando demais. e trabalhar demais significa se cansar demais e isso, por si só, acaba com qualquer vontade que não seja a de dormir depois de certo horário do dia (no meu caso, era depois das 17h). a minha paciência pra ficar na frente de um computador caiu pra um total de zero e mesmo tendo que adiantar ou terminar coisas no final de semana, eu tava tão exausta que preferia atrasar tudo a fazer qualquer coisa.
- o segundo ponto era a falta de assunto. eu abria uma página em branco e não me vinha nada que parecia interessante o suficiente ou que me animasse pra escrever. tinha um planejamento de redes sociais bonitinho me esperando, mas zero vontade de escrever qualquer coisa, ou melhor, zero vontade de escrever sobre qualquer coisa.
- tinha um monte de coisa acontecendo fora da internet também (ainda tem, na verdade), um monte de mudanças, coisas novas começando, coisas antigas terminando, burocracias e correrias que fazem parte de ser uma pessoa adulta no mundo. isso também me tirou um pouco essa vontade de escrever.
- eu comecei a escrever muito mais a trabalho também. mais textos, mais matérias, mais posts – bem mais do que antes, e percebi que tem um limite pro quanto o meu cérebro consegue pensar em textos de temas diferentes num dia, de forma que continuar sentada pra escrever sobre um assunto livre pro blog, pro Instagram ou pra qualquer um dos meus projetos parecia um martírio.
lembro que teve um dia, um pouco antes do meu aniversário, em outubro, que eu percebi que só tava de saco cheio de ficar digitando na frente de uma tela e que era muito melhor fazer qualquer outra coisa que não isso aqui. e foi nesse momento que eu pensei que tavez tivesse perdido o prazer de escrever também.
e, como bem diz Murakami, se não tem prazer então é melhor nem fazer. por isso, não fiz.
calma! agora não é a hora da gente se desesperar, tá bem? estamos aqui, não estamos? a gente tá conversando sobre isso e olhando pra essa sensação horrorosa de se sentir vazia por dentro e sem um pingo de vontade de fazer uma coisa que antes era tão legal pra gente.
quando você monetiza o seu hobby preferido e tals.
(a gente tá rindo, mas é de nervoso)
eu vou ser sincera com você. não aconteceu nenhuma mágica que me fez retomar essa vontade e esse gosto por escrever, me fez voltar a colocar o planejamento em prática de uma forma mais divertida do que nunca antes e priorizar o meu tempo de escrita. eu acendi até uma vela de alecrim pra entrar no clima hoje, sabe? pelo amor de Deus, escrever tá sendo divertido de novo.
e eu me sinto bastante… contraditória ao falar sobre isso de tempos em tempos, mas é que o processo criativo é bem menos linear do que a gente pensa e ele tá sujeito a todo tipo de coisa. incluindo a porra de uma pandemia que coloca o mundo inteiro de cabeça pra baixo.
enfim.
não tem mágica. no meu caso, teve uma decisão. eu parei pra pensar que se não me organizasse de verdade, se não colocasse limites pra mim mesma quando o assunto é trabalho, eu ia entrar em burnout muito rapidamente. tipo, de verdade, sabe? não era brincadeira.
lá nos meus 20 anos (ai, minha nossa, será que eu já tô virando essa pessoa?) eu até tinha pique de trabalhar de domingo a domingo, apesar de ser absolutamente contra isso hoje e entender que essa é a coisa mais cruel que se pode pedir pra uma pessoa, não importa a fase da vida. mas agora, depois de tudo, eu entendi que não é nem que eu não tenho mais esse pique todo, é que eu simplesmente não quero me soterrar de trabalho e não aproveitar a minha vida.
então, eu tomei uma decisão. mais uma. revi a agenda, estabeleci horários e comecei a ser uma chefe rígida comigo mesma, no sentido de não me deixar usar o tempo dedicado pro trabalho pra alimentar as minhas inseguranças. se tem que ser feito, tem que ser feito e pronto.
comentei por cima sobre isso no último post, mas eu comecei a usar uma boa ferramenta de organização de trabalho, fui buscar ajuda onde podia e, de repente, me vi com o sábado totalmente livre e bonito e reluzente pra fazer o que eu queria, sem pendências de trabalho.
ufa!
quando eu percebi que tava com tempo, sentar pra escrever sobre o que eu queria veio como uma coisa natural, um “ah, mas é claro, eu posso usar esse tempo pra fazer isso, porque, ei!, eu gosto disso, lembra?”. foi como se eu e a escrita tivéssemos trocado aquelas mensagens malucas de “vamo marcar na próxima semana, vai tá mais tranquilo”, só que aí realmente ficou mais tranquilo e a gente marcou de se encontrar.
e foi um encontro delicioso.
só que o tempo que eu ganhei não foi usado só pra isso. acho que a melhor coisa que eu fiz por mim mesma foi determinar uma hora pra parar de trabalhar, mesmo. e ser fiel a isso. 19h30 é o horário limite? então é o horário limite e pronto acabou. vi mais filmes do meio de outubro pra cá do que no último ano inteiro. encontrei meus amigos sem me preocupar que tinha horário pra voltar a trabalhar. li muito e sem me preocupar que a leitura tava roubando tempo do meu trabalho.
no fim, talvez esse post seja muito mais sobre limites do que sobre reencontrar o prazer de escrever, sabe? porque foram os limites que eu criei e comecei a seguir que me permitiu ver que o prazer que eu sentia continuava aqui dentro, ele só tava soterrado por um monte de tralhas desorganizadas.
também já comentei aqui como eu vejo a criatividade, a inspiração, como um músculo que a gente precisa continuar trabalhando, senão fica rígido e pouco flexível, e, escrevendo sobre isso agora, eu entendi que isso só acontece quando eu aprendo a dizer “não” antes. e não é “dizer não” só pro trabalho, escolher melhor o que eu quero fazer e com quem, etc. mas pra mim mesma.
“não” pra minha procrastinação que num acaba nunca se eu deixar.
“não” pra trabalhar de fim de semana.
“não” pra deixar de lado as coisas que eu gosto (inclusive escrever).
“não” pra dormir tarde porque trabalhei até tarde.
“não” pra pular os treinos porque eu tenho que começar a trabalhar mais cedo.
“não”. e ponto. num tenho que me justificar pra ninguém, nem pra mim mesma.
e, dizendo não pra algumas coisas (principalmente pra mim), eu percebi que tava dizendo “sim” pra outras. e acho que essa foi e continua sendo a melhor vantagem de tudo isso.
queria dizer que eu encontrei a solução para todos os problemas, mas sinto que não é exatamente isso. acho que encontrei um caminho e isso, pra mim, é mais valioso do que qualquer outra coisa.
então, pensando aqui com os meus botões, acho que vale a gente transformar isso tudo num exercício de escrita que a gente pode praticar junto. pra reencontrar o seu prazer de escrever, você pode começar respondendo as seguintes perguntas:
- o que mais tem tomado o meu tempo hoje?
- o que precisa acontecer pra que eu tenha mais tempo ocioso?
- se eu tivesse mais tempo ocioso hoje, o que gostaria de fazer com ele?
- esse desejo serve como motivação pra eu colocar em prática o que respondi na pergunta 2? por quê?
- considerando a resposta anterior, o que eu pode fazer agora pra mudar a minha situação atual?
foi um tempo pensando nisso, mas acho que dá um direcionamento pra gente, né? perceba que nenhuma das perguntas foi sobre escrita, mas respondê-las, em si, é um exercício de escrita. sugiro que ele seja feito à mão (sim, é isso mesmo), pra gente tirar um pouco dessa dependência das telas e consiga pensar melhor. acho que esse exercício pode ajudar você a descobrir coisas muito legais e, se sentir que é o momento de mudar, boa sorte nesse processo! tenho certeza que você consegue e que vai ser muito legal!
por último, mas não menos importante, se você estiver procurando um lugar para te ajudar a recuperar esse prazer pela escrita, já pensou em fazer parte do navegantes? o clube de escrita tá cada vez mais legal e vem muita novidade por aí ❤️
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3 Comentários
a escrita faz parte de você e acho que todo mundo tem uma relação de amor e ódio ao com certas partes nossas conforme a época né?
esses dias estava falando com uma amiga sobre algo do tipo, sobre se eu realmente tinha parado de sentir prazer em certos hobbies meus em um contexto geral ou se era pelo contexto de vida atual.
fico feliz que você tenha dito “chega” e recuperado as rédeas, como era sua vontade. escrever parece te fazer tão bem! no momento eu estou no momento de aprender a tentar trabalhar com esses limites, não no sentido de criar o limite em si mas mais ao contrário na verdade, eu costumo ser bem indulgente comigo mesma e meu cansaço, mas um dia a gente chega lá na nossa situação de equilíbrio, ou pelo menos espero ksjskjsks
Oi Maki! Eu já entrei nesse ciclo de trabalhar sem hora pra terminar, de atropelar noite, final de semana, café da manhã etc. porque estava envolvida/enrolada com prazos… um horror. A gente perde o prazer de fazer qualquer coisa mesmo, até as coisas que a gente teoricamente mais gosta (especialmente se trabalhamos com elas). Muito boa a reflexão. Eu acho que, quanto mais velha eu fico, mais eu tenho me recusado a viver essa loucura corporativa (que a gente acaba assimilando, mesmo trabalhando como freela). Beijo, beijo :*
O bom mesmo é você se respeitar, respeitar seus limites e aprender a dizer “não” quando necessário. Texto inspirador.
Boa semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia