rotinas com afeto

antes de qualquer coisa, preciso dizer que domei o tempo. aliás, esse tem sido um tema comum por aqui porque tenho pensado muito sobre tempo e a maneira como me relaciono com ele. enfim, acredito que domei o tempo, essa fera bestial, que vive como fumaça e aparece e desaparece quando você menos espera. eu tive ajuda, claro, de uma ferramenta maravilhosa somada a doses cavalares de auto-motivação e palavras de incentivo (“você consegue!“, “agora, vai!“, “bora lá!“), além das xícaras (a mais) de café.

pensar com as mãos desancorando

quando sentir que for o momento, falo mais da ferramenta em si, mas tive uma experiência sobrenatural na última semana e meia de conseguir terminar o trabalho num horário aceitável, completar todas as tarefas definidas pros dias e ainda encontrar tempo extra (!!!!!) pra fazer outras coisas ou pra me sentir tão livre de não ter o que fazer (!!!!!!!!!) a ponto de ficar meio perdida e ir dormir às 22h.

eu sei.

uma loucura.

mas vamos ao assunto em questão: eu gostava muito de desenhar quando era novinha. tipo, muito mesmo. eu lembro de ter muitos cadernos de desenho e um bloco gigantesco de folha vegetal que usava pra decalcar desenhos que gostava e reproduzir no meu caderno pra colorir depois. lembro de me arriscar a desenhar coisas por conta e de desenhar grids em cima de gibis da Mônica pra tentar fazer os personagens iguais no meu caderno.

por um lado, sinto que tive uma dose de incentivo (eu fiz aulas de desenho, uma época), mas por outro, a lembrança que tenho é que, em algum momento, o desenho se tornou menos importante do que ser uma boa aluna na escola e a prática caiu no esquecimento.

retomei alguma coisa de desenho há alguns anos, com o bullet journal, mas ainda assim de forma tímida o suficiente pra me chicotear mentalmente cada vez que fazia uma linha torta ou desenho que eu considerava “feio”.

mas, com essa história do tempo, eu me vi com tempo pra buscar o que eu realmente tinha vontade de fazer, e eu não tinha mais a desculpa do trabalho pra me ajudar a “desfocar” de alguma coisa – quem nunca viu uma aula online pulando de aba em aba no navegador que atire a primeira pedra. percebi que se me uno ao papel e ao lápis quando preciso me concentrar em uma aula, por exemplo, a coisa é não só mais produtiva como mais relaxante.

e me peguei pensando com as mãos. escrevendo palavras que se destacavam no conteúdo que eu tava ouvindo ou tirando da frente pensamentos aleatórios que me vinham à mente na forma de desenho ou de letterings engraçadinhos. e eu achei legal. me senti uma verdadeira cria de Austin Kleon. me senti prestando mais atenção nas coisas, se é que isso é possível.

no último final de semana, ouvi um podcast com a Fran Menezes (a.k.a frannerd) e ela fala um pouco sobre isso, como desenhar foi algo muito estimulado e ela entendeu que conseguia transmitir uma coisa pelo desenho de uma forma natural. é o que eu sinto com a escrita, mas, como já falei muitas vezes, era normal eu me sentir travada em muitos momentos porque a escrita tava demais pra mim – trabalhar escrevendo tem suas desvantagens assim como ser obcecada com trabalho.

mas não estou aqui pra ser julgada por você, caro leitor, (sério, pare com isso!) mas pra compartilhar um insight.

e o insight é: tem coisas que a gente pode fazer e coisas que a gente não pode fazer e uma das coisas que a gente não pode fazer é esperar que a nossa mente descubra sozinha como encontrar inspiração.

ela é danada e brilhante, essa mente, mas às vezes pode ser muito perdida e sem foco, e aí entra a tal da disciplina e do descanso e do repertório variado pra dar um direcionamento pra bichinha. inclusive, lembrei aqui que o Murakami fala um pouco disso em Do que falo quando eu falo de corrida, ó:

você aprenderá naturalmente a ter tanta concentração quanto perseverança quando sentar todo dia diante da sua escrivaninha e treinar a mente a se concentrar em uma coisa só.

enfim.

mas é que eu li um artigo também que falava sobre isso, que existem coisas que você não faz na frente do computador e uma delas é pensar. se eu já achava que escrevia pra entender o que eu penso sobre as coisas (esse post é mais um exemplo disso), entendi também que fazer isso de forma livre com papel e lápis é maravilhoso e rende coisas muito legais.

como uma página em branco cheia de desenhos engraçadinhos que virou um post novo de blog.

mas é um ciclo, eu percebi, que funciona de forma retroativa. eu preciso de tempo pra pensar e com tempo pra pensar eu tenho outros pensamentos que viram alguma coisa. e isso é muito legal.

enfim, pensar com as mãos ainda é um hábito relativamente novo pra mim (mesmo escrevendo um diário todos os dias), mas me senti numa fase de videogame em que meu personagem destravou uma nova habilidade que agora eu preciso usar algumas vezes pra ser interiorizada, sabe?

ou talvez eu esteja falando um monte de bobagens sem sentido.

(talvez não.)

quero praticar isso mais algumas vezes e ver onde me leva, mas já posso dizer com segurança que o desejo de voltar a desenhar e praticar lettering voltou com mais força do que eu gostaria de admitir recentemente, assim como um desejo meio incontrolável de começar a crochetar. me vem na mente o Nam Do Sam de Start Up (vocês já viram? recomendo muito!) que usa o tricô pra pensar e como isso também é pensar com as mãos.

me sinto numa fase nova e diferente de experimentação e eu tô achando tudo isso muito legal e interessante e um pouco assustador (?), porém empolgante ao mesmo tempo. toda essa movimentação interna também me deu mais vontade de escrever coisas bonitas e interessantes que ajudem alguém nesse lugar maluco que a gente chama de mundo a não se sentir sozinho nas suas dificuldades criativas.

porque, né, a criatividade é uma vivência coletiva e tudo mais.

percebi que esse exercício de pensar com as mãos pode ser interessante inclusive pra destravar dificuldades, sabe? dificuldades de escrita, de colocar palavras no papel sem pretensão de que elas sejam alguma coisa – mas você pode se surpreender e perceber que você quer que elas virem alguma coisa depois. é gostoso. é divertido. e é pra você. e ponto.

e aqui vai um pouco de auto-promoção: se você quiser mais um espaço pra praticar essa escrita despretensiosa pra você, o navegantes é um lugar maravilhoso pra isso! criei esse clube de escrita como um laboratório pessoal que virou um monte de coisas legais com pessoas maravilhosas que fazem parte disso tudo. e lá, eu percebi, a gente faz muito isso, de pensar com as mãos.

não sei muito bem como finalizar esse post hoje, então vou terminar com uma pílula de sabedoria não requisitada:

pense muito.

mas faça isso fora do computador, por favor.

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Escrito pelaMaki
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3 Comentários
  1. Bianca  em janeiro 26, 2022

    você aprendeu a domar as palavras antes de aprender a domar o tempo, confesso que nesse caso sou seu exato oposto. mas eu tenho uma teoria (baseada em nada além de vozes da minha cabeça) de que pra gente domar o tempo a gente precisa esquecer que ele existe.
    enfim, confesso que estou com uma inveja do seu gosto por desenhar quando nova, sempre DETESTEI, por mais que adorasse a parte de colagens e pinturas. esse provavelmente foi um dos posts em que mais aprendi uma perspectiva (BEM) diferente da minha ksjksjksjs
    já ouviu falar em alexitimia? é a inabilidade e/ou dificuldade em reconhecer e expressar sentimentos ou emoções, bem comum (mas não restrito) a pessoas autistas. eu tenho e simplesmente nunca sei o que eu estou pensando sobre algo até eu ler/ouvir/ver alguém falando exatamente o que eu estou sentindo mas não sei como reconhecer em palavras.
    sua mente é um lugarzinho tão interessante de se ler sobre!

  2. Caroline Lopes  em novembro 09, 2021

    Que paz ler os seus textos!
    Tenho mania de ficar enfiando tarefas e hábitos em um dia, e não sobra espaço pra descansar. Às vezes até leitura que era pra ser um hobbie, vira obrigação.
    Ontem li um dos seus textos e me fez me permitir simplesmente não fazer nada. E foi libertador!!

  3. Camila Faria  em novembro 09, 2021

    Senti um quentinho no coração lendo esse post Maki. E terminei pensando: que maravilha essa nossa capacidade de encontrar (ou reencontrar) coisas bonitas e que nos fazem tão bem, independente da idade, profissão, gênero. Está tudo aí, (muitas vezes literalmente) ao alcance das nossas mãos.

    E não tenho dúvida de que você seria uma crocheteira maravilhosa. 🙂

    Beijo, beijo!