rotinas com afeto

semana passada, vi um vídeo do Matt D’Avella em que ele contava sobre a experiência de chegar na Austrália e ver que, por lá, o Instagram não mostra o número de likes das imagens. pra mim, soou meio estranho porque essa conversa já passou por aqui há um tempo, mas, aparentemente, ainda era algo que rolava nos Estados Unidos (onde o Matt morava até o fim de 2020). vai entender.

de qualquer maneira, ele, que é uma pessoa considerada “grande” em termos de internet (pelo menos, pra mim), jogava a ideia da gente se desconectar de vez dessa história de números e estatísticas e audiência. bom, pra quem tem um documentário recém-publicado na Netflix, talvez isso seja mais fácil… pra quem é um pequeno criador, nem tanto.

ao mesmo tempo, no ano passado me vi absolutamente sufocada pelas redes sociais e a famosa “produção de conteúdo pra internet”, justamente por causa disso. dos números, da pressão, da quantidade de gente fazendo coisas legais enquanto eu parecia estar sempre um passo atrás. talvez eu mesma esteja sendo muito repetitiva sobre esse assunto, mas foi só no final do ano passado que me dei conta de uma coisa…

… eu odeio números.

quando li O Colecionador de Lágrimas, do Augusto Cury, uma passagem ficou marcada na minha memória: quando o protagonista, um professor de história, fala para os seus alunos sobre as vítimas do holocausto e diz o quanto ficamos insensibilizados por conta de um número. o número, de fato, é só um número até que a gente se lembra que ele representa pessoas de carne e osso.

qualquer semelhança com o momento atual é mera coincidência.

(só que não.)

enfim, isso ficou na minha mente e voltou agora por um motivo. quando eu tive a Grande Epifania de 2020™ (já posso dar um nome chique, né?), eu me liguei que se quisesse ter um compromisso fiel comigo mesma, eu precisaria dar adeus ao meu stalker pessoal. o número.

olha, eu sou de humanas. sempre fui, e sempre tive na cabeça que detestava matemática (apesar de mandar muito bem em trigonometria e log na escola), mas trabalhar com internet desde cedo gerou uma falha na minha Matrix pessoal em que tudo agora gira em torno de um número que tem que ser cada vez maior.

se cair, tem alguma coisa errada. se ficar estável, também. se crescer um tiquinho, não é bom o suficiente. se crescer muito… bingo, você ganhou o jogo da internet que todo mundo joga, mas num tem prêmio nenhum (a não ser um efeito gigante na nossa saúde mental).

tô falando de tudo isso por um motivo. eu percebi que se quisesse fazer o que eu queria de verdade, eu teria que parar de ficar tão neurada com os números, porque talvez, só talvez, eles não fossem bons o suficiente pra medir o meu sucesso.

me senti a própria coach agora.

eu também tava tentando encontrar um jeito de falar sobre os cinco dias que eu fiquei absolutamente longe das redes sociais e até deletei os aplicativos do Twitter e do Instagram do meu celular (o Facebook eu já não uso tem tempo). mas não encontrava uma forma de dizer porque isso foi tão impotante pra mim.

foi por isso.

gosto de pensar que foi um ritual de passagem. quando voltei, me percebi tão obcecada com as redes como antes. não foram cinco dias longe que mudaram tudo o que eu pensava sobre o assunto, só que agora, mais de um mês depois desse período, começo a entender um pouco mais do porquê eu tomei essa decisão. eu precisava mesmo de uma desintoxicação pra me permitir fazer o que eu queria.

tem uma coisa sobre os números que eu não gosto: eles deixam tudo impessoal demais. a gente perde contato com o que ele significa, sabe? 239 mil mortes parece só um número distante, mas a gente não pode perder a humanidade que existe por trás disso. são mais de três Estádios do Maracanã lotados, sabe? três estádios. é muita gente. e esse número pode crescer.

sei lá, eu tenho escutado muito os podcasts do Andy J. Pizza, que eu considero mais um cristal da internet, e ele fala muito sobre a gente não esquecer das pessoas que já acompanham o que a gente faz. e eu me liguei que, talvez, essas pessoas estivessem numa fase nova, como eu, e precisassem de coisas novas, como eu. de uma relação diferente com as coisas. é uma troca, sabe? dá quase pra ver os números, nesse contexto, como gratidão. o meu trabalho é legal, por isso, alguém me segue. alguém curte uma foto. alguém compartilha um vídeo. alguém percebe que o meu trabalho não é o que ela precisa agora, então ela deixa de me seguir e vai atrás de outro alguém pra acompanhar. e tudo bem.

esses dias, teve uma atualização nessa história. eu tava lavando louça (bloqueio criativo, é você?) e me peguei pensando no porquê dessa neurose tão grande com números. e a resposta que me veio era que a meta era ganhar dinheiro com o que eu fazia aqui.

viiiiiiish.

só que, em seguida, eu me peguei pensando que… pera, ninguém falou que eu tinha que fazer isso. ou que era obrigatório criar conteúdo pra internet por conta de dinheiro. eu coloquei essa ideia na minha própria mente. e daí… parece que tudo ficou mais leve de novo.

ah, pera, então eu posso fazer isso só porque eu gosto?

pode sim.

ufa!

eu já falei algumas vezes que esse ano tem sido um de muitas transformações pra mim. e, sabe, senti que essa foi mais uma delas. porque fazer isso aqui voltou a ser divertido! começou com um planejamento, depois com vários estalos mentais. agora, com um novo empurrão que é: eu quero estar aqui porque eu gosto! e isso me dá tantas ideias, sabe? tanta vontade de fazer coisas diferentes, de experimentar, de testar, de, quem sabe, sair um pouco da caixinha.

e aí, tem esse post que eu vi no perfil da Freela School que me levou a pensar nesse mesmo assunto, só que por outro viés: a solidão de empreender em algo que você gosta ou acredita (o que não necessariamente precisa ser um negócio).

parece que caiu mais uma fichona, sabe? o quanto a gente traça esse caminho de produção de conteúdo e de internet de uma forma meio sozinha, como as cobranças são sempre a mais e as vitórias… bem, elas passam batido porque quando a gente alcança a meta, a gente sobra a meta, já diz a sabedoria popular.

bom, e se eu não quiser dobrar a meta? e se eu quiser transformar isso aqui num arquivo de furtos, em que eu coloco as minhas reflexões e as coisas que eu amo e quem quiser que se junte ao clube com sua xícara de café (que os chás não me ouçam!) e um tempinho livre pra trocar essa ideia comigo? e se no meio do caminho os números crescerem… bom, que legal! mas isso não pode mais tirar o meu coração desse entendimento.

eu gosto de estar aqui. e eu gosto que você esteja aqui também.

corte seco, eu mudei completamente o meu medidor de sucesso pra esse espaço, muito antes do Matt comentar sobre isso no canal dele. esse ano, o que importa pra mim são mensagens de agradecimento. cada uma que recebo dizendo que o que eu faço aqui tocou alguém de alguma forma, ganha um print que vai pra uma pastinha no meu computador. releio cada uma delas no começo da semana, pra não esquecer de tudo isso.

ainda olho as redes com frequência maior do que gostaria. ainda me perco em comparações vez ou outra (vamos combinar, deve ser uns 90% do tempo). mas o post da Denise me fez pensar na importância, de novo, de compartilhar um pouco do que eu sinto e passo da forma mais sincera sempre que puder. chame de vulnerabilidade, como diria Brené Brown, mas sei lá…

eu chamo de troca. eu dou um pouquinho aqui, você me dá um pouquinho de volta e a gente fica nessa dança que transforma o “estar aqui” em algo que realmente faz sentido pra gente. enquanto isso, o meu perseguidor pessoal segue pseudo-escondido num canto do quarto, se perguntando quando eu vou olhar os números do meu Instagram de novo, o número de seguidores, de comentários, de posts salvos, de… ah, sei lá, pensa numa estatística e coloca aqui. me dá canseira só de pensar.

pra finalizar, eu tô relendo Roube como Um Artista com o clube de leitura que eu, Karine e Clara montamos (me manda uma mensagem aqui, se você quiser saber como participar!), e levei uma tijolada na cara com essa passagem, do capítulo que chama “Escreva o livro que você quer ler” (risos, a ironia não me passou batida):

vá fazer isso. o manifesto é esse: desenhe a arte que você quer ver, comece o negócio que quer gerir, toque a música que quer ouvir. escreva os livros que quer ler, crie os produtos que quer usar – faça o trabalho que você quer ver pronto.

bom… pois é. não há muito a se dizer depois disso, certo? certo.

obs.: os links da Amazon contidos neste post são de afiliados, o que significa que eu ganho uma pequena comissão a cada compra feita com eles. de novo, a ironia (ou seria a hipocrisia?) não me passou despercebida 😅

Compartilhe!
Escrito pelaMaki
Deixe seu Comentário!


Warning: Undefined property: stdClass::$comments in /home1/desan476/public_html/wp-content/themes/plicplac/functions.php on line 219
14 Comentários
  1. Emerson  em março 10, 2021

    Eu também não gosto de matemática, mas ela está presente em nossas vidas em tudo que formos fazer. Adorei o texto!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA voltou do Hiatus de verão cheio de novidades e posts novos!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    • Maki  em março 17, 2021

      oi, Emerson!
      sim, é verdade… mas tudo depende da maneira como olhamos pra ela, né?

  2. Karine  em março 06, 2021

    a gente se prende tanto a esses números, que acaba usando isso pra medir nível de sucesso, como se só isso definisse que nosso trabalho é bom ou não. tipo: se os números caem, mesmo que você tenha clientes e esteja em um momento ~bom nesse sentido, acaba se sentindo um fracasso. isso é muito doido. e acho que rola demais também isso de esquecer que não é um número, são pessoas. e cada pessoa que tá ali, presente, tá tirando seu tempo pra acompanhar a gente, curtir e compartilhar o que a gente faz. o que já dá uma perspectiva diferente de pensar, né? 1 pessoa já é muito, 10 é incrível, com 50 pessoas em uma sala eu já me sentiria a pessoa mais importante do mundo se todas estivesse ali só por mim, me dando atenção hahahah

    • Maki  em março 17, 2021

      amiga, SIM! a gente perde total a noção do que significa uma quantidade de pessoas acompanhando o teu trabalho. é muito doido. sei lá, sem pessoas é uma sala de aula MUITO lotada. e a gente perde contato com isso. é maluco demais e uma distorção de visão muito gigante.

  3. Camila Faria  em fevereiro 23, 2021

    Nossa Maki, de vez em quando eu me pego nessa loucura dos números também: “porque perdi/ganhei xxx seguidores essa semana?” ~ e o pior de todos: “como fazer para aumentar o número de curtidas (e similares). Não faz sentido NENHUM realmente. Produzir conteúdo para agradar uma maioria, que na maioria das vezes nem tem tanto a ver com você assim. Libertador demais pensar nesse meio como algo sem obrigações externas, especialmente se você é o seu próprio “empregador”. Amei a reflexão e o post. :*

    • Maki  em fevereiro 27, 2021

      menina, num é uma loucura? eu fiquei pensado depois o quanto isso é 100% absurdo, de verdade. e tem sido um treino, me colocar de volta no lugar de produzir porque eu amo e não pra agradar alguém. brigada pelo seu comentário!

  4. Jae  em fevereiro 21, 2021

    É muito interessante como o número é um rótulo nosso.
    É a quantidade de seguidores, de curtidas, de comentários, a nota de uma prova, a quantidade de experiência profissional num currículo. Quanto mais melhor.
    O que é muito contraditório para uma contemporaneidade que preza o minimalismo e prega que “less is more.”
    Não vou ser hipócrita e dizer aqui que os números não importam pra mim (como alguém que não é presente na internet como um criador de conteúdo, apenas como um telespectador). Aql postzinho q a gente faz e leva mtos rts/reblogs, aquele comentário que leva muita curtida, aql bolinha com um número grande encima do sininho de notificações, tudo isso nos traz um pouco de satisfação com nós mesmos.
    É um sentimento superficial, talvez, como se fôssemos dependentes da aprovação dos outros para com o que a gente faz. A sensação de ser aceito como parte de algo é uma coisa quase biológica nossa.
    A sensação de pertencimento move muito mais a gente do que a gente percebe.
    Mas tá tudo bem, até um certo ponto. Se nós conseguimos lidar com essa nossa rotulação numérica de forma saudável, não tem problema.

    • Maki  em fevereiro 27, 2021

      sim! é bem isso mesmo, um desejo por pertencimento, né? mas eu sinto que a gente pode buscar uma saída pra isso, porque é bem doído ficar procurando pertencer segundo esses números, né? e é tão frágil… tudo pode sumir de uma hora pra outra… sei lá.
      brigada por esse comentário, Jae!

  5. Barbs  em fevereiro 19, 2021

    oie 🙂

    esse post caiu como uma luva aqui hoje pra mim. tenho me questionado porque de ter dado uma desanimada com blog e me lembrava quando tinha um onde escrevia coisas que gostava de escrever. hoje tenho um com relatos da minha vida nômade que tem dado bastante trabalho pra relatar tudo e quando não tem nenhum comentário eu fico triste pelo trabalho que deu “a toa”.

    mas o que você disse é muito do que sinto. se a gente gosta de escrever aqui por ser um lugar onde a gente desabafa, fica aliviado e faz por prazer, por que não?
    eu lembro que escrevi alguns posts antes do blog ir ao ar e amava fazer isso, sentava todo dia e escrevia um pouco.

    que loco a gente hoje ter essa ansiedade de querer números, likes, e dinheiros pra serem medidores de sucesso. quando na real o importante deveria ser que se nos fez bem já valeu ter sido feito. e quando vem aquela pessoinha, aquela única comentar aqui e elogiar, a gente tem que ter razões pra comemorar e ficar feliz porque ajudou outra pessoa também 🙂

    enfim, adorei a reflexão e amei o instagram da Freela School!
    bêju!

    • Maki  em fevereiro 21, 2021

      Barbs, é sobre isso, sabe?????
      tipo, mesmo. porque eu sinto que a gente se vende o tempo inteiro por coisas tão poucas e tão pequenas que, sei lá, perde de vista o que importa mesmo. e acaba se deixando levar por coisas que nem gosta, sabe?
      brigada pelo seu comentário, MESMO!

  6. Tatiana Agra  em fevereiro 19, 2021

    Amiga só hoje consegui vir ler seu novo postno blog e nossa… tudo a ver com nosso papo né? Fico feliz que eu tenha feito parte um pedacinho dessa dua experiência de refletir sobre as reses e quem sabe eu tenha te dito algo tão bom e inapirador como esses nomes gogantes que vc citou haha

    eu amei o texto! é muito real e reconfortante pra essa guerra doa números que vivemos.

    ❤️

    • Maki  em fevereiro 21, 2021

      Taaaatttttiiiiiii! ❤️
      ahhh brigada mesmo pelo nosso papo! foi ótimo, real. acho que já tô olhando de outra maneira, buscando inspirações e focando no que importa, o que eu quero entregar pras pessoas. brigada mesmo! ❤️

  7. Aline Amorim  em fevereiro 17, 2021

    Quando os números de curtidas pararam de aparecer no instagram eu achei bem legal, mas aí fiquei sabendo que dá pra ver as curtidas pelo computador. Aí as vezes olho pra saber quantas curtidas certa foto teve e isso é tão ruim pra saúde mental, essa dependência de números né…
    Gostei dessa citação!

    • Maki  em fevereiro 21, 2021

      nossa, Aline, é muito péssima! e parece que define a gente, né? credo… nada a ver!
      mas acho que é isso, a gente tem que ressignificar e olhar por outro ângulo