escrita criativa

outro dia, abri uma dessas caixinhas de perguntas no Instagram, e o Pedro (oi, Pedro!) me perguntou como lidar com os momentos de bloqueio criativo. eu fiquei um tempo pensando sobre, sabe? (como de costume!) muito porque não sabia se tinha uma resposta. uns dias depois, coloquei lá o que sinto que funciona pra mim (e que vou explicar logo mais), mas fui atrás de quem também já passou por isso pra entender melhor o que fazer.

bloqueio criativo desancorando

eis que saí, eu mesma, atrás de referências sobre como as pessoas que eu admiro lidam com o bloqueio criativo, e dei de cara com essa aspa maravilhosa da Liz Gilbert, autora de Grande Magia, respondendo uma pergunta feita no Good Reads. a pergunta era: como superar um bloqueio de escrita?

Primeiro de tudo, não acreditando em bloqueios de escrita. Nós alegremente jogamos esse termo todas as vezes que a nossa escrita não vai bem – como se fosse uma condição médica de verdade. Nós nos diagnosticamos com bloqueio de escrita, como se tivéssemos uma doença comum. Eu acredito que o que nós chamamos de ‘bloqueio de escrita’ é comumente um diagnóstico errado de algum outro problema emocional que você tem”.

pesadíssimo, né? mas eu não poderia concordar mais. sabe por quê? porque eu fiquei me observando e percebi que, via de regra, quando dizia que tava com “bloqueio criativo”, eu só tava com medo. medo mesmo. de escrever o que eu queria, como queria. de fazer o que eu tinha vontade. medo, principalmente, dos resultados. do que aconteceria se eu fizesse isso mesmo. tinha também um desejo de auto-boicote, sabe? pra evitar o contato com o resultado, eu já nem faço. é mais fácil. evito o máximo que posso e jogo a culpa na falta de organização depois.

achei essa resposta muito interessante por causa disso. parece que esse bloqueio tem a ver com o trabalho em si, mas pode ter uma raiz muito mais profunda, sabe? que começa nas coisas que você pensa e sente. e, aí, ela continua, porque muitas vezes a gente pode perceber também que, ok, tem algo estranho acontecendo no meu coração, mas tem uma dificuldade em fazer uma coisa que eu preciso fazer também. daí, ela diz:

Eu costumo ficar bloqueada porque estou entediada com a minha escrita, comigo mesma. Porque escrever é comumente entediante. Eu sinto que o trabalho não está indo na direção que eu gostaria. Eu sinto que gostaria de fazer alguma outra coisa com o meu tempo que não seja tão entediante. Agora, tédio não é nem de perto tão glamouroso quanto uma condição trágica como bloqueio de escrita, mas o tédio é, geralmente, o que é.

plau. num parece meio… auto-depreciativo? falar que você está entediado com o seu trabalho? mas é meio isso mesmo, né? porque, sei lá, se você parar pra pensar, escrever um texto, fazer um desenho, terminar uma aquarela… qualquer trabalho puramente criativo é bem menos empolgante do que parece nos filmes. não tem outra excitação que não seja aquela que você sente borbulhando dentro de você quando você tá no fluxo.

é só… você e o seu material de trabalho. talvez, uma xícara de café. uma música que você gosta. e tempo.

menos filme de Hollywood, mais cotidiano.

com imagens bem editadas, o figurino e a trilha sonora certa, qualquer coisa parece muito mais atrativa e glamourosa, mas, via de regra, eu tô usando calça de moletom, sem maquiagem no rosto, ouvindo k-pop e tentando entregar as coisas no prazo ou segundo o meu planejamento. sim, tem também a coisa da rotina que, pra muita gente, também é zero glamour.

mas, sabe, eu gosto dessa resposta da Liz porque deixa tudo mais pé no chão. é verdade que quando eu me sinto bloqueada, tem alguma coisa emocional rolando por baixo dos panos. é verdade também que, muitas vezes, eu só tô tão entediada de ficar sentada no computador digitando que daria TUDO pra fazer outra coisa, qualquer outra coisa. (uma vez, decidi lavar o banheiro pra não trabalhar, JURO PRA VOCÊ!)

enfim, esfregadas de box à parte, dá pra lidar com o emocional e com o tédio. isso é fazível. o glamouroso “bloqueio criativo” não tem muita solução. e, pra isso, encontrei no meu próprio repertório e no de outras pessoas incríveis formas de contornar essas dificuldades.

1.dê um passo pra trás

essa é minha dica, e foi o que respondi pro Pedro no Instagram. se a coisa tá truncada, tá difícil, dá um passo pra trás. mas não é pra você se distrair com outra coisa totalmente, é pra investigar. ficar de olho, sabe? o dia que eu decidi lavar o banheiro foi quando percebi que tava com medo. usei cada esfregada pra tentar entender o que tava acontecendo e deu certo. depois, voltei mais tranquila e mais preparada, porque, mesmo com medo, eu não ia deixar de fazer o que sentia no meu coração que tinha que fazer, sabe? é mudar um pouco o foco pra deixar as coisas clarearem. daí, a gente busca a ajuda necessária (foi o que eu fiz) e, depois, segue em frente.

2.limite-se

eu sei, eu sei, isso parece totalmente contraditório. mas quem disse não fui eu e sim o Austin Kleon, muso supremo desta que vos escreve, no livro Siga Em Frente. diz ele:

A forma de superar um bloqueio criativo é simplesmente colocar algumas amarras em si mesmo. Parece contraditório, mas quando o assunto é o trabalho criativo, limitações significam liberdade.

afe, que lindo. ele até cita o exemplo do Dr. Seuss, que certa vez se desafiou a escrever um livro todo usando só um número limitado de palavras e, bem, deu tão certo que o tal livro virou um dos mais vendidos no mundo todo (se eu não me engano, o livro em questão é Ovos Verdes e Presunto).

3.abrace o absurdo

saí pesquisando mesmo como as pessoas fazem pra sair de um bloqueio criativo, e, ouvindo um episódio do Creative PepTalk sobre o assunto, me deparei com essa dica do Nate Utesch: abrace o absurdo. tipo, tira um tempo pra fazer algo absolutamente não comum pra você. ele conta que o segredo dele é ficar meia hora tocando bateria, uma coisa que é totalmente o contrário do trabalho de ilustração e design que ele faz. achei isso aqui preciosíssimo, porque a gente não costuma se deixar levar pelo absurdo com frequência, né?

4.preste atenção na sua rotina

outra ideia que eu amo demais e que é super simples, né? mas se tem algum nózinho emocional impedindo você de criar, de trabalhar no que você curte, então vale a pena a gente dar um outro passo pra trás pra prestar atenção nas nossas necessidades básicas. tipo: você dormiu bem? comeu o suficiente hoje? tomou bastante água? deu uma alongada no corpinho? tem horas que a gente se deixa levar tanto pela produtividade (ugh!) que esquece de coisas muito cotidianas ou deixa elas passarem batido. pode ser, até mesmo, que o seu bloqueio seja só um resultado de cansaço e uma boa noite de sono resolve.

5.mude de cenário

uma dica que eu tô doida pra colocar em prática, pelo menos um pouquinho. tem horas que a gente passa tanto tempo num mesmo ambiente – ainda mais agora, em tempos de pandemia -, que fica com a mente totalmente viciada nas mesmas coisas. então, ver um pouco de natureza, dar uma volta no quarteirão, sentar um tempo numa praça ou num parque, ter contato com a natureza pode dar o respiro que a gente precisa pra destravar qualquer dificuldade, sabe? acho que isso casa um pouquinho com a dica 1: você sai um pouco daquela imersão estranha e volta depois, com um novo olhar <3.

6.engaje em trocas criativas

fiquei um tempinho pensando nisso aqui, porque fui atrás de entender o que mais me tira de uma trava, seja emocional ou criativa. e a resposta foi: conversas com as pessoas. então, tô chamando de troca criativa, as conversas incríveis que a gente pode ter quando sai da própria cabeça e se interessa por outra pessoa. conversar é uma das coisas mais maravilhosas do mundo, e a gente pode chegar muito longe procurando entender sobre alguém. então, converse. ligue (ou mande uma mensagem) pra alguém que você ama e não conversa tem um tempo – e busque saber sobre ela.

vá atrás das suas referências e busque compreender o que existe atrás de cada uma delas (isso também gera uma troca!). investigue! coloque o seu foco em outra pessoa que não seja você mesmo. mesmo que você só esteja em contato com o trabalho de alguém, dá pra saber muito sobre uma pessoa através do que ela faz. queira entender. acho que isso é o mais legal de tudo.

ufa! queria dizer que fazer esse post foi a coisa mais incrível de todas e me deu a chance de entrar em contato com um monte de gente incrível e como elas lidam com um momento de desmotivação. eu espero que ajude você também!

ah, queria deixar registrado aqui um salve pro pessoal do nosso clube de escrita que me ajuda a manter o site no ar, paga os cafés que eu tomo todos os dias e ainda me desafia a, diariamente, pensar em soluções criativas pra questões como essa. muito obrigada, vocês são incríveis!

me conta: como você lida com o bloqueio criativo?

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Escrito pelaMaki
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12 Comentários
  1. Alexandra Soares  em março 10, 2021

    Olá,
    Obrigada pelo seu bloqueio criativo. Eu sou de Portugal, e segou o seu blog algum tempo, gosto muito da maneira que você escreve. Posso dizer que já me ajudou algumas vezes. Obrigada

    • Maki  em março 17, 2021

      oi, Alexandra! que legal ter você por aqui! obrigada <3

  2. Karine  em março 06, 2021

    aaai, amei esse post ♥ eu acho que o que mais me ajuda, é me colocar em movimento. se uma coisa não tá rolando e fico adiando, parada procrastinando, entro em uma bola de neve. as vezes ir arrumar alguma outra coisa, fazer algo que me coloque em movimento, me ajuda a clarear a mente pra seguir com o trabalho empacado. mudar de ambiente também é maravilhoso, saudades demais de sair pra trabalhar em cafés e tal.

    • Maki  em março 17, 2021

      amiga, eu pensei isso esses dias? na saudade de ir até um café passar uma tarde escrevendo. ai, meu coração.
      e amei a tua dica <3

  3. Jae  em fevereiro 21, 2021

    Ai, Maki, seu bloqueio criativo é mto nobre.
    O meu eu já entrei em conformidade que é nada além de preguiça.
    Quando eu me esforço o suficiente para pôr as palavra no papel (normalmente no display, mas papel é mais poético então vou me segurar nesse conceito) eu consigo escrever. Pode até ser movido pela força do ódio durante o primeiro sprint, mas dps de dez minutos de pausa eu consigo escrever e gostar de estar escrevendo.
    E quando eu não consigo sentar e “pegar o papel e a caneta”, é nada além de preguiça. Ou melhor, fadiga.
    Normalmente uma fadiga intelecto-emocional.
    E eu sei que para vencer isso eu preciso de uma rotina.
    Tudo no seu devido horário, alimentação saudável, blá blá blá.
    Esses valores bem instagrammers.
    Mas às vezes só parece ser muito utópica, essa realidade.

    • Maki  em fevereiro 27, 2021

      nossa, eu super entendo. e ó, eu sou apaixonada por rotinas, mas não é sempre que sigo as minhas à risca, viu? na última semana, vivi uma verdadeira montanha-russa emocional e ficou tudo um abagunça! mas o importante é tentar, sabe? ter esse compromisso com você se isso te faz bem. acho que é o mais importante, sempre!

  4. Bianca  em fevereiro 14, 2021

    ai Maki, eu amei o post! já deixei até salvo aqui no bloglovin porque sei que essas palavras me serão úteis no futuro!
    muitos dos casos de bloqueios criativos das pessoas que eu conheço são por bloqueios que as pessoas colocam em si mesmas, na maior parte as vezes sem nem reparar. justamente por isso achei todas as dicas do post muito válidas.
    no momento estou procrastinando escrever redações para treinar para o vestibular por puro medo, nem tinha reparado nisso até você falar sobre, é difícil admitir que temos medo né?
    um beijo!

    • Maki  em fevereiro 15, 2021

      menina, num é? mas ao mesmo tempo, depois que você percebe… esse medo fica quase cômico, né? tipo, você vai deixar de treinar pra algo que você quer por medo? claro que não! porque eu tenho certeza que é algo que você quer muito. daí, a saída é se preparar e olhar pra esse medo e falar “Hoje não, Faro”, e deixa ele pra lá!
      boa sorte nos seus estudos ❤️

  5. Barbs  em fevereiro 11, 2021

    oie, primeira vez que tô aqui por culpa da Clara e da Karine hahaha e já to amando!
    esse post fez sentido com o livro que tô lendo, e se eu puder agregar em algo, que seja com isso: tô lendo a “bíblia” da comunicação não-violenta e fala bastante sobre se conectar com nossos sentimentos e necessidades quando observamos algo de “errado” em nós ou nos outros.
    parar e tentar entrar em contato com o que estamos sentindo numa situação que nos incomode e verbalizar isso, seja pra nós mesmas ou pro outro, é muito importante. e foi isso que você fez, você encontrou o medo.
    gostei bastante das dicas, aplico a maioria delas já, principalmente a de se distrair com qualquer outra coisa, porque entendo que talvez seja o meu corpo e mente me avisando que não tá dando naquele momento pra continuar ali por algum motivo, seja cansaço ou outra coisa.

    fica a dica do livro que tem me ajudado DEMAIS a melhorar minha comunicação comigo e com os outros e a entender meus sentimentos e necessidades por trás de cada fala e pensamento que tenho.

    de resto, adorei o blog e já virei leitora 🙂
    beijo!

    • Maki  em fevereiro 15, 2021

      Barbs, bem-vindaaaaa ❤️
      que legal que você veio pelas meninas! fiquei feliz de saber!
      cara, eu já fiz um curso de comunicação não-violenta e, atualmente, sou aluna avançada de um curso sobre relacionamentos e muito do que você falou e do que eu escrevi tem isso como ponto de partida mesmo, você se conectar com os seus sentimentos antes de tudo. mas vou anotar a dica, sim, porque ainda não li nada específico sobre o tema e é sempre bom, né?
      beijos!

  6. Pedro Teixeira rodrigues  em fevereiro 10, 2021

    Oi, Maki! Que post mais incrível! E obrigado por responder e nos ajudar quanto ao bloqueio criativo.
    Eu sinto que se não vivenciamos o real, uma conversa que seja com alguém da família, um vizinho…a boa noite de sono, faz a gente sentir de imediato a falha da nossa mente, tudo acaba interferindo nesse processo, nessa construção. Penso que se não pararmos pra observar cada detalhe que seja, a gente chega nesse estado de exaustão e uma simples tarefa, vira um fardo.
    Ah, e como eu nem tinha parado pra pensar que com o nosso emocional afetado, poderia fazer parte disso também, porque, a gente pensa que, pelos simples fato de estarmos um pouco que seja afetados emocionalmente, o escape nesse caso, pode ser a escrita, que acaba não ocorrendo da melhor forma, aí a saída mesmo é fazer tudo isso listado e voltarmos a ter o brilho nos olhos para a vida.
    Obrigado de verdade. Seus textos fazem a gente sentir-se abraçados.♡

    • Maki  em fevereiro 15, 2021

      Pedrooooo ❤️
      é sobre isso. eu acredito que a gente tem o costume de se fechar um jeito nas próprias ideias, que essa vivência com o real (que eu chamo de relacionamento) é a faísca que a gente precisa de retomar esse contato com a inspiração, sabe? a exaustão, pelo menos a meu ver, tá nesse lugar. e isso é foda, né?
      brigada por apoiar tanto o meu trabalho! fico muito feliz de te ver mais perto!