porque não uso cadernos até o final

ou seria “por que não uso cadernos até o final?”. fique em dúvida se esse post é uma pergunta ou uma afirmação, mas, no fim das contas, eu acho que é uma mistura das duas coisas.

na verdade, eu acho que tem muito a ver com aquela questão da continuidade, sabe? eu tenho uma série de cadernos não finalizados, não terminados, nunca usados. percebi agora pouco, quando mudei e encontrei na minha cômoda uma infinidade de cadernos antigos usados pela metade, que, somados aos meus bullet journals davam uma pilha infinita de folhas. algumas escritas, outras intactas.

percebi que a gente tem essa mania. de começar um caderno novo na esperança de que, dessa vez, tudo saia perfeito – ou, pelo menos, exatamente como o planejado. e, se isso não acontecer… bom, eu sempre posso ir atrás de um caderno novo, não é mesmo?

me peguei pensando isso do meu bujo atual. o caderno é uma gracinha. da a.craft, sabe? com uma capa fofinha que eu amo. mas logo fiz um errinho numa página e pensei “ah, e se eu começasse tudo outra vez?”. joga fora, queima, esquece que existiu. vamos pra uma página em branco e ver se agora a coisa funciona, se dá certo, se rola. talvez sim, talvez não.

percebi outra coisa também. no fim das contas, eu gosto dos erros que cometi, sabia? porque eles me contam onde eu tô. no que a minha mente tá focando, no que eu presto atenção, no que não presto… me mostra que eu tô ocupada demais fazendo coisas mais interessantes que escrever num caderno, ou que tô distraída demais pra fazer isso também.

acho que a gente tem que ser mais gentil com a gente, sabe? e com os nossos cadernos também. tem uma falta de consideração pelos nossos erros em cada caderno descartado, é a gente dizendo que aquilo ali não é bom o suficiente, que a gente não é bom o suficiente.

puxa, que profundo, né? e num post sobre cadernos, ainda por cima.

mas é verdade. me liguei disso pensando sobre os meus. sobre como eu me dizia imperfeita numa página não finalizada e falava que tudo bem desistir e tentar começar do zero. mas a gente já sabe que é tudo sobre continuidade, né? que a gente nunca começa do zero e cada página em branco é uma oportunidade pra colocar ali tudo o que a gente aprendeu até agora e quer continuar ensinando. pra si mesmo ou pros outros, tanto faz, na real.

cadernos não finalizados só parecem um problema porque a gente tenta usar cada página imaculada como uma forma de falar mal da gente. mas não precisa, sabe? e não é porque o erro faz parte e qualquer coisa que o valha, mas porque é uma oportunidade maravilhosa e muito bonita de aprender e tentar de novo.

fiquei com vontade de usar mais cadernos até o final. de persistir, mesmo se eu não achar bonito. o que é beleza, afinal? taí mais uma pergunta profunda que talvez valha outro post.

talvez essas palavras aqui sejam só um lembrete pra você não desistir dos seus cadernos, dos seus projetos, das coisas todas que você quer fazer só porque não tá perfeito. quem foi que disse que tem que ser, né? talvez só aquele cara chato e de bengala que habita a sua mente e fala coisas sem sentido que você acha que tem que seguir.

deixa ele falando sozinho mesmo, continua escrevendo-desenhando-pintando-bujoando… tá tudo bem terminar um caderno e deixar as folhas todas amassadas, dobadas, talvez não totalmente finalizadas.

beleza mesmo é você se sentir bem com você. mesmo que isso renda um caderno todo confuso.

pelo menos ele tá finalizado. ufa.