cotidiano

Tem horas que tudo o que a gente mais quer é ter aquele tiquinho de coragem pra mandar a tal mensagem, sem precisar jogar o celular longe depois, com medo da resposta. (quem nunca?)

Parece que a sinceridade é um ácido, que corrói a pele instantaneamente, ao menor contato. A gente acha que ser sincero é uma coisa negativa, até: ‘olha o sincericídio!’. Se eu disser que nunca fiquei chateada por conta de uma sinceridade dessas, eu seria a maior das mentirosas.

Diário #51 - Sinceridade não é pecado

Eu não sei em que momento a gente achou que seria melhor a gente mentir pra conseguir se adaptar à vida humana. A gente não pode falar o que pensa de verdade porque pode ser taxada de ‘chata’, de ‘grossa’ ou qualquer outro adjetivo que as pessoas encontrem no dicionário e que se encaixem nessa situação.

A gente precisa entrar num jogo. Eu minto um pouquinho daqui, você dali, e a coisa vai evoluindo até que ela explode na nossa cara. Quantas vezes você já deixou de falar o que passava na sua mente por medo do que os outros falariam a respeito? Por receio de começar uma discussão, uma briga?

Mas também, quantas vezes você ficou mal, sozinha, triste no seu quarto, ouvindo aquela playlist de fossa, porque ficou chateada com alguma coisa que ouviu? Se você tivesse falado na hora o que te incomodou e resolvido a situação, será que você precisaria mesmo ouvir o CD da Adele em loop pra tentar tirar essa nhaca de você?

A gente acha que a sinceridade é um pecado. Que é errado a gente falar logo tudo o que tá sentindo e tentar ser claro e fiel à si mesmo. Não, isso não pode. Deus me livre ficar em paz comigo mesma. Melhor colocar uns conflitos aí no meio mesmo, porque isso, sim, é normal.

Depois, ninguém entende porque ninguém se entende. É tanto joguinho, tanta intriga, que ‘falar na acra’ vira uma desfeita. ‘Vou te falar umas verdades!’, pelo amor de Deus, fala, fala todas as que você puder, porque eu tô cansada de mentiras.

Tem coisa que não pode falar porque não pega bem. ‘Eu gosto de você’ antes do primeiro beijo. ‘Eu te amo’ depois do primeiro encontro. ‘Eu não gosto quando você fala assim comigo’. ‘Eu entendi que você não gosta de mim quando fez aquilo’. ‘Me diz, eu entendi errado o que falou naquela hora? ’. ‘Vamos tirar essa sensação ruim da frente, pra gente poder se relacionar de verdade?’

A gente sempre acha tudo. Que se comunica. Que entende. Que sabe o que o outro quis dizer. Quando a verdade – e a beleza da coisa – é que a gente não sabe de nada. Mas pegar a fala de alguém e jogar pra nossa cabeça pra tentar entender não adianta de nada. Não vale mais a pena a gente jogar de volta pra ver se é isso mesmo?

Será que a gente consegue ser sincero o tempo todo? Eu cheguei num ponto que não ser sincero é algo que me dói. Falar sobre o que não é, concordar com coisas que eu não concordo mais, aceitar o que não é mais aceitável. E, nessa, tem horas que a gente nem precisa falar nada, é só ouvir com vontade de entender mesmo e aí já tá tudo certo.

Tem uma música da Frances que eu adoro que fala assim: Todo esse glitter e poeira voando ao redor das palavras na nossa boca não podem ficar, deixe sair. Deixa as palavras saírem, não guarda nada com você. Não joga no remoinho de confusão que é a sua mente mais um elemento pra você não se sentir digna, pra não se sentir importante.

Não interpreta, não. Interpretação de texto é legal, mas melhor ainda é quando você entende mesmo o que o outro quer dizer e não deixa nem uma vírgula sem explicação no caminho.

Ultimamente, prefiro sem chamada de chata do que de mentirosa. Longe de mim querer continuar achando que eu não presto e guardando pra mim um monte de falas fora de contexto que poderiam ser resolvidas com um simples ‘Você entendeu o que eu disse?

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. Beatriz  em maio 20, 2016

    Acho que cheguei no ponto de tanto faz …. quando vejo q a idéia não bate … deixo quieto. Vou conversar com outra pessoa que seja mais agradável para mim… no serviço tento tentado só trabalhar mesmo … e os poucos amigos que tenho sou bem sincera …. e se começar a nossa amizade ser “prejudicada” por isso (se bem q amizades não deveriam se deteriorando por sinceridade e sim talvez pelo como estou sendo sincera, ou pelo jeito de ser sincera) é melhor cada um seguir seu caminho.

    • Maki  em maio 23, 2016

      Oi, Beatriz!
      É, quando existe muito conflito no relacionamento, não tem como a gente ficar bem, né? É bem melhor deixar as coisas rolarem naturalmente e se você não tiver que ficar próxima dessa pessoa, isso acontece naturalmente também. A gente tem que usar a sinceridade como uma forma de entrar mais em contato com quem a gente é de verdade e não para ficar mais próxima ou distante de alguém! Se não, perde o propósito!
      Um beijo!

  2. Marcela  em maio 10, 2016

    adorei a reflexão! no fundo, no fundo, não sabemos de nada mesmo!

    • Maki  em maio 10, 2016

      Exato ♥