cotidiano

Se você soubesse que hoje é o meu último dia, o que você faria? Se você descobrisse que eu vou morrer amanhã, o que você me diria? Você brigaria comigo pela toalha molhada em cima da cama? Discutiria porque eu esqueci de repor o açúcar no açucareiro? Deixaria de dizer ‘eu te amo’ antes de desligar o telefone ou antes de parar de responder no Whatsapp?

Por que a gente tem que pensar na morte pra fazer o que quer fazer desde o princípio? Quem se importa com a toalha, o açucareiro, o trânsito, a garrafa que agora está vazia ou o cursor que não para de piscar, provocando?

Diário #50 - Se hoje fosse o último dia...

A gente sempre acha que tem mais tempo. Tem mais uma semana, mais um dia, mais uma hora, mais um minuto. Mas a gente esquece que cada minuto é uma nova história, que cada segundo é como se o mundo fosse novo de novo. As projeções se refizeram, afinal.

Eu sempre odiei a ideia de arrependimentos. De deixar as coisas sem serem ditas, os ‘i’s sem pingos e as frases sem ponto final. Sempre achei que não sabia amar em doses homeopáticas porque sempre fui muito intensa no sentimento. Preferia ser sincera a ficar escondendo o que eu sinto. Com ressalvas, é claro.

Por que a gente tem que ficar de olho na morte quando quer dizer o que o nosso coração sente? A gente acha que vai morrer a qualquer momento e que aí tudo vai sumir então antes tarde do que nunca. Mas só se a possibilidade de morte for iminente, porque, se não, sempre tem outro dia. Outra hora. Outra ocasião.

A pessoa que inventou o timing talvez fosse a mais medrosa de todo o planeta. Porque criou uma ideia de que existe hora certa pra tudo, de que existem ‘momentos e momentos’, que é melhor a gente mentir e dizer que tá tudo bem do que sentar, chorando, e dizer que o nosso coração tá doendo.

Quantas vezes você deixou de dizer ‘eu te amo’ porque achava que não era a hora? Agora não, ele tá no telefone. Xi, ela tá de mau humor, melhor deixar pra lá. Ele não vai responder a mesma coisa, prefiro não falar nada.

Se morrer fosse, realmente, a chave pra gente fazer tudo o que o nosso coração manda, então seriamos uma raça plenamente feliz. Não é a verdade, é claro. A morte é só uma desculpa pra achar que tudo tem um fim. Mas a gente já sabe que nem ela resolve coisa alguma.

E se a gente pensasse que cada segundo é uma nova chance de fazer diferente? Que a cada momento a gente pode mudar tudo, de verdade. Não precisa acreditar na morte pra ficar mais em contato com quem você é. Dá pra fazer isso sem ter medo de uma coisa que ninguém entende muito bem e que tá tão longe no futuro (ou não, dependendo do ponto de vista).

Se hoje fosse o seu último dia na Terra, o que você faria de diferente? Manda logo a mensagem, não se preocupa com o que ele vai pensar. Come o doce, mas pensa nele como um carinho ao invés de uma coisa ruim que você tá colocando pra dentro do corpo. Fala, fala tudo. Não deixa nada guardado, não. Não deixa as coisas saírem do controle pra olhar daqui dez anos e descontar em alguém coisas que aconteceram quando você ainda era uma criança.

Olha pra você mesma com carinho. Não espera alguma desgraça acontecer pra você reavaliar a sua vida. Ela pode mudar agora. E agora. E agora! Cada segundo é uma folha em branco que você tem pra fazer as coisas de forma diferente. Pra entrar mais em contato com quem você é. Pra achar a sua paz.

A vida não é uma só. Eu não sou mais tão ingênua a ponto de acreditar nisso. Mas também sei que a minha Vida é tão mais do que esse tic-tac do relógio que pensar em deixar as coisas pra depois me dá um arrepio na espinha.

Pergunta. Pergunta pra você mesma. O que você quer fazer agora? Quais são as melhores palavras pra falar o que eu quero falar? O que vai ser melhor pra mim (e pra todos) agora?

Para de mentir, menina. Para de achar que só a morte te dá coragem de fazer o que você quer fazer. A vida não é difícil, não. As pessoas não são difíceis. Sabe o que é falta de amor? É a gente achar que essa vida pela metade que a gente vive é a Vida de verdade. Que não tem como mudar. Que tudo é assim mesmo e a gente tem que se conformar com o que tem.

Para com isso, não tem nada a ver. Você tá se esquecendo de quem você é. Entende de uma vez por todas que a tristeza não é normal e que fases ruins não fazem parte da Vida. Esquece a culpa. Ela não existe. É só uma ideia da sua cabeça criada pra fazer você esquecer a sua verdadeira identidade.

Ó, eu sei que não tem porque falar essas coisas – que você pode até ficar meio sem graça em ler –, mas se esse for o último texto meu que você ler… Saiba que eu te amo. Que você é importante e que tá tudo bem.

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Escrito pelaMaki
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7 Comentários
  1. Melri Pantoja  em agosto 30, 2018

    Lindo mesmo❤ me fez refletir algumas coisas.

  2. Manoely  em janeiro 31, 2018

    Nossa que lindo ❤❤ seus textos são maravilhosos ❤ amo eles … E eles falam realmente o que eu sinto

    • Maki  em janeiro 31, 2018

      brigada, Manoely! você é muito fofa!

  3. Vitória elisa  em outubro 21, 2016

    Pòderia dizer muitas coisas sobre esse texto, mas direi apenas:
    Obrigada ><

    • Maki  em outubro 22, 2016

      obrigada você <3

  4. Nay  em maio 03, 2016

    Seus textos mexem com a gente lá no fundinho do coração <3

    • Maki  em maio 04, 2016

      Nhoooo, obrigada Nay! ♥