escrita criativa

eu gostaria muito de dizer que esse é um daqueles posts em que eu consigo NÃO falar sobre o Austin Kleon, mas não vai ser dessa vez. sinto muito, mas é assim que as coisas funcionam por aqui. explico: esses dias, me peguei pensando sobre um conselho que o Austin dá no seu primeiro livro, Roube como um Artista, um dos meus favoritos da vida. ele diz o seguinte:

carregue um caderno e uma caneta com você aonde quer que vá. acostume-se a sacá-los e a tomar notas dos seus pensamentos e observações. copie suas passagens favoritas dos livros, grave conversas que ouviu por aí. rabisque enquanto fala ao telefone.

gostaria muito de dizer também que, como pupila dedicada do Austin, eu li e segui esse conselho à risca. não foi o caso. eu li, achei lindo e falei “vou tentar”, pra nem lembrar do tal caderninho que eu tinha separado pra isso no dia seguinte.

anos depois de ter lido esse livro pela primeira vez, preciso dizer que Austin Kleon sempre esteve certo. assim como tantos escritores antes dele. Erico Veríssimo, por exemplo, teve até um diário de viagem, escrito em 1966, e que depois virou um livro, Solo de clarineta. o caderno faz parte do acervo do Instituto Moreira Salles, sob o nome “cadernos de escritores”.

não, a ironia não me passou batida.

Mark Twain também levava um caderno pra todos os lugares, assim como Joan Didion. Leonardo da Vinci é um dos caderneiros mais famosos da história, ele anotava tudo o que estudava e aprendia ou achava interessante.

mas é claro que eu, do alto da minha arrogância cética, acredito que sei mais do que todos eles e que levar um caderno no bolso é bobagem, certo?

nunca estive mais errada.

e digo tudo isso porque foi numa viagem de nove horas de ônibus de São Paulo até Belo Horizonte que eu entendi a necessidade de ter um caderninho fácil pra anotar as coisas aleatórias que passam pela minha mente, que eu vejo, assisto ou leio. acabei escolhendo um caderno menor pra levar na mochila e diminuir o peso, meio sem pretensão nenhuma, e, no meio do caminho entre lá e cá, percebi que vinham na minha cabeça coisas que me davam uma vontade imediata de escrever a respeito.

pra evitar a empolgação momentânea, eu tentei manter o bichinho por perto nos outros dias e, de lá, já saíram ideias pra outros dois conteúdos.

quer dizer.

troquei o bullet journal por um planner esse ano (sim, eu cometi esse pecado), e a falta de espaço para escrever além das tarefas do dia me forçou a ter outro lugar pra escrever o que passa pela minha mente. eu achava que era bobagem andar com um caderno por aí, mesmo sendo 200% inspirada por Patti Smith a ir até um café escrever sobre o que passa na minha mente.

e longe de mim não fazer isso. as páginas matinais seguem firmes e fortes como aliadas por aqui. mas sabe essa coisa das ideias que a gente têm em momentos inoportunos e fala “eu vou lembrar disso depois”?

pois é, a gente nunca lembra.

eu, pelo menos, nunca me lembro das ideias incríveis que tive logo antes de cair no sono ou quando tô no meio do banho.

por isso, caderninho.

sinto que a gente ainda coloca muita esperança na própria memória, mas a nossa memória, com o perdão da palavra, é uma merda. basicamente, ela consegue lembrar de memes aleatórios que você viu uma única vez, mas não guarda as ideias mais incríveis que você já teve. então, percebi que ter um baú de repertórios é a melhor coisa que eu posso fazer por mim mesma, quando o assunto é escrita e criatividade.

na verdade, sinto que até ter essa experiência, eu levava muito a sério ainda o poder da inspiração momentânea. daquela ideia bonita e bem polida que surge aos 45 do segundo tempo, quando o prazo tá apertando muito e o seu chefe (no caso, eu mesma) já tá bufando no seu pescoço.

mesmo com um planejamento funcionando e tendo um pouco mais de tempo pra produzir o que me proponho, eu percebi que fazia pouco caso das minhas próprias ideias – não era fiel a elas. na verdade, nem dava a chance da gente se conhecer melhor e saber qual que é.

sempre olhei pra romantização do escritor (ou do músico, do artista) com certo ceticismo. aquela coisa cinematográfica de escrever uma ideia perfeita num pedaço de guardanapo de papel numa lanchonete caindo aos pedaços e aí a vida inteira muda como num passe de mágica.

mas essa experiência, de ver coisas surgindo na mente e anotando depois, me fez pensar um pouco mais nesse meu processo de fidelização. de me levar mais a sério sem me levar tão a sério assim. ideias surgem e somem da mente o tempo inteiro, já diz Liz Gilbert em Grande Magia. mas quantas boas ideias eu deixei passar porque contei com a força da minha memória (que falhou logo em seguida)?

deixo aí esse pequeno surto pra reflexão.

enfim, me senti uma pupila de meia tigela demorando tanto tempo pra seguir o conselho do meu próprio professor, mas a vida tá aí pra isso, né? pelo menos, eu acho. criar o seu próprio arquivo de roubos tem muito menos a ver com colagens bonitas e letterings perfeitos e muito mais a ver com só usar o papel e a caneta como uma extensão da sua própria mente.

então, se você, como eu, ainda se vê meio cético com a ideia de carregar um caderno pra todos os lados – alguém ainda usa bolsas depois que a pandemia começou? , aí vão algumas utilidades muito úteis pra esses bichinhos:

  • anotar pensamentos e sentimentos que você tem;
  • registrar tarefas ou coisas que você precisa fazer (mas não lembrou antes);
  • anotar nomes de livros, músicas, filmes com os quais você se depara por aí;
  • frases bonitas ou interessantes que você leu / ouviu;
  • tirar da frente pensamentos que estão atrapalhando (o famoso “despejo mental”);
  • anotar outras aleatoriedades ou coisas que inspiram.

pra vocês terem uma ideia do que já entrou no meu caderninho, enquanto tava viajando escrevi a frase “mãos com cheiro de tempero” e isso virou um texto que vai entrar no Instagram por esses dias aí.

não precisa ser só coisas geniosas e maravilhosas que vão pra página. pode ser qualquer coisa mesmo. acho que eu também me esquecia disso com certa frequência e deixava toda essa responsabilidade pras minhas páginas matinais. enfim, é mais uma ferramenta pra praticar a criatividade, de baixo custo (quem não tem um caderninho esquecido por aí?) e que pode trazer um montão de benefícios, a meu ver.

montei todas as minhas metas pra esse ano nesse caderninho minúsculo, desabafei sobre a falta de motivação que andei sentindo esses dias e até já anotei umas frases importantes e nomes de livros que vi por aí.

quer dizer.

parece que agora, com um planner e um caderninho de escritor (sim, vou chamar assim), eu tenho uma ideia melhor do que vai em qual lugar e onde procurar inspiração se eu eu estiver desinspirada.

vamos acompanhar a evolução disso, mas queria trazer esse insight pra cá porque nada melhor do que falar sobre um novo hábito pra todo mundo ler. assim, as chances de continuar fazendo são bem maiores, né?

você já teve essa experiência também? me conta o que você descobriu nos comentários ❤️

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. carol justo  em janeiro 12, 2022

    pior que a gente NUNCA lembra das ideias que temos aleatoriamente, ja cheguei montar histórias inteiras que jurei que ia lembrar, mas não lembrei de jeito nenhum

    eu já tenho o meu diário, mas vou dar uma chance pra esse caderninho do escritor… já garanti meu livro “roube como um artista” e vou começar a ler em breve

    bjsss

  2. Emerson  em janeiro 12, 2022

    Que incrível! Eu tenho um caderno que irei usar para a igreja esse ano. Sou o louco das agendas e dos caderninhos, embora o bloco de notas do meu celular seja o meu maior aliado atualmente.

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

  3. Angélica Cirne  em janeiro 12, 2022

    Eu sempre andei de caderninho, desde muito nova (tô véia já), eu sempre fui aquela que quem estava próximo sabia que eu tinha um “papel” na bolsa, muito antes do celular, que anotava os telefones dos conhecidos nas férias, guardava tíquetes de alguma coisa, anotava pequenas coisas pra colocar no diário depois. Depois de muitos anos comecei a fazer encadernação então era meio que obrigação ter um caderninho/bloquinho na bolsa. Tenho trabalhado nos últimos anos em casa, mas mesmo saindo pouco investi esse ano em uma mais legal.

  4. Lorena  em janeiro 12, 2022

    Maki, adorei o post!
    Ficou até mais claro a forma de separar o planner, o caderno de ideias e o caderno pra páginas matinais.
    Austin Kleon é tudo!