rotinas com afeto

lá atrás, quando a pandemia começou, eu fiquei observando esse movimento doido do mundo dizer que a gente tinha que fazer um monte de coisas importantes / essenciais e que ler mais era uma delas. “use esse tempo a mais em casa“, diziam os doidos, como se o mundo não tivesse despencando lá fora e a gente tendo que lidar com muito mais do que “mais tempo em casa“.

verdade seja dita, num exercício de tentar me manter com a cabeça acima da linha d’água, eu fui atrás das coisas que me faziam bem e, de fato, comecei a ler mais de novo. sempre fui do time dos leitores vorazes, de devorar um livro por semana no tempo que passava dentro do ônibus ou quando tinha uma horinha de folga. mas a coisa desandou bastante quando eu saí da vida CLT e comecei a freelar – o que significa que eu aderi ao trabalho remoto muito antes da hype.

só que foi esse ano (que não acaba nunca), que eu decidi retomar o hábito de forma consistente, sabe? tava tudo muito aleatório, muito pouco diverso e bem… cansativo, digamos assim. coloquei uma leitura conjunta do clube de escrita (que agora chama navegantes!) e criei um grupo de leitura com duas amigas. eis que, de repete, ler voltou a ser legal e a minha vontade crescente de voltar a estudar e entender o mundo ajudou bastante.

tô falando tudo isso porque foi só no mês passado que eu percebi uma coisa bem importante. em setembro, a gente leu no navegantes o livro novo do Greg Mckeown (com tradução de Beatriz Medina), Sem Esforço, e tem uma passagem específica que ele fala sobre leitura que me chamou muito a atenção.

pra dar um contexto, ele tava falando sobre alavancar o aprendizado sem esforço, o que significa você tirar melhor proveito das oportunidades que têm e manter o foco em algo que você realmente quer aprofundar / trabalhar com.

a passagem é a seguinte:

ler um livro está entre as atividades com mais alavancagem da face da Terra. com um investimento mais ou menos equivalente à duração de um único dia de trabalho (e algum dinheiro), você obtém acesso ao conhecimento que as pessoas mais inteligentes já descobriram. ler, ou melhor, ler para realmente entender, traz resultados residuais sob qualquer ponto de vista.

foi essa parte do ler para realmente entender que me chamou atenção, porque casou muito bem com uma coisa que me falaram um dia antes, sobre o quanto eu aproveito um livro. é verdade, eu acho, por dois motivos:

  1. eu amo reler livros que, de alguma forma me impactaram (e, por isso, acabo aproveitando cada vez mais uma mesma publicação).
  2. eu sou meio preguiçosa e às vezes prefiro o que eu já conheço à tortura de escolher algo novo (eu ouvi “serviços de streaming“????) – o que acaba colaborando para o ponto 1.

nos parágrafos seguintes, o Greg dá algumas dicas de como fazer essa leitura mais bem aproveitada, que passa por: priorizar os clássicos e antigos, ler para absorver e não para ticar uma lista de ‘leituras a fazer’, e extrair a essência de uma leitura fazendo um pequeno resumo quando acabar.

“tá, mas porque você tá falando tudo isso, Maki?”

calma, eu chego lá. mas tem a ver com o tempo das coisas. eu até me lembrei um pouco da Jenny Oddell, que fala em Resista sobre como a sua própria forma de enfrentar o sistema que a gente vive era fazendo horários de almoço um pouco maiores do que o combinado. porque, pra mim, a coisa se encontra nesse lugar: a gente vive num mundo em que virou normal até acelerar áudio de whatsapp, que dirá ler rápido pra terminar uma lista de 52 livros lidos num ano.

e nada contra as metas de leitura, acredito que elas podem, mesmo, ser interessantes pra ajudar a gente a manter o hábito, buscar autores fora da nossa bolha e conhecer um pouco mais do mundo.

mas pra que a pressa?

percebi que eu gosto de ler pra entender e que ler rápido só pra terminar um livro é chato demais. fazer encontros com outras pessoas pra conversar sobre as leituras mensais que eu tenho feito também me mostraram isso: minha memória é ruim demais se eu não paro pra prestar atenção em alguma coisa, se faço rápido, com pressa. eu não tiro dali o que tem de legal.

isso não significa também que eu não vou manter o desafio pessoal de ler dois (ou três) livros num mês por conta dos grupos que eu administro ou participo, mas eu tenho buscado mudar a qualidade do meu tempo de leitura.

de forma prática, o que isso significa?

  1. por mais clichê que seja, significa ficar longe do meu celular, pelo amor de Deus!, quando eu tô lendo. me distraio tanto com notificações, vendo o horário ou só lembrando de alguma coisa que eu tenho que pesquisar que cheguei no ponto absurdo de esconder o celular de mim mesma quando preciso ler.
  2. ao mesmo tempo, tenho marcado no relógio um período pra dedicar a leitura. tenho tentado fazer dois blocos de meia hora por dia, um de manhã, outro de noite. nem sempre dá, mas eu tento e isso, pra mim, basta.
  3. se eu não entendi um parágrafo, eu leio de novo – e não passo batido, como costumava acontecer. eu tô lendo alguma coisa pra entender, né? se eu não entendi ou se me perdi no que a pessoa tá dizendo, é o mínimo eu voltar pra entender.
  4. fazer resumos ainda é uma dificuldade, mas eu tenho tentado voltar às minhas marcações pra ver se o que eu marquei faz sentido ou se eu só marquei aquilo porque outras pessoas fizeram isso também (no kindle, a gente consegue ver quantas pessoas marcaram uma certa passagem, e eu acho isso fascinante e irritante ao mesmo tempo).
  5. principalmente, eu tenho revisto a minha rotina pra entender se eu tenho mesmo que passar tanto tempo no computador trabalhando ou se isso é uma falta de organização pira da minha cabeça. a última semana me mostrou que é o segundo caso.

é claro que, enquanto eu escrevo sobre isso, eu tô aqui organizando as minhas próprias ideias do assunto. no dia a dia, isso não fica tão bonitinho e listado assim, mas é aquela coisa: a gente tenta e isso é o suficiente. eu me percebo fazendo e querendo fazer essa mudancinhas e cheguei num ponto em que isso basta. o sistema já é cruel demais pra eu colocar essa pressão toda numa coisa que eu amo fazer, né?

enfim, uma grande reflexão sobre leituras e como eu tenho observado isso tudo. tenho lido muita coisa legal também, o que eu acho que ajuda. fica aí aquela listinha amiga das minhas leituras atuais:

  • só garotos, da Patti Smith: leitura do clube três estantes (que eu tenho com a Karine e a Clarinha – me dá um alô se quiser participar!) e que tava empolgadíssima pra ler.
  • do que eu falo quando falo de corrida, do Haruki Murakami: meldels, o Murakami, sabe? tem como não amar qualquer coisa que esse homem escreve? acho que não. esse é da leitura conjunta do navegantes.
  • na corda bamba, da Kiley Reid: esse faz parte do clube do livro da obvious, e eu ainda tô muito no comecinho pra ter uma opinião formada (porém, muito legal!).
  • mostre seu trabalho, do Austin Kleon: eu juro que não to lendo só porque eu amo o Austin, mas é pra estudar mesmo (juro!!!!).

me conta o que você tá lendo? como é a sua relação com a leitura? é sempre legal aprender sobre a maneira como as pessoas se relacionam com os livros, né?

(ps: esse post contém links afiliados da Amazon, o que significa que eu posso ganhar uma pequena comissão com as vendas ❤️)

Compartilhe!
Escrito pelaMaki
Deixe seu Comentário!


Warning: Undefined property: stdClass::$comments in /home1/desan476/public_html/wp-content/themes/plicplac/functions.php on line 219
4 Comentários
  1. Bianca  em janeiro 26, 2022

    eu dei uma gargalhada tão genuína com o primeiro parágrafo pois é exatamente isso!!! sempre fui uma grande leitora, daquelas que lê uns 50 livros de ficção por ano, mas quando a pandemia começou eu só estagnei. voltei a ler mais recentemente pois nada como se afogar no entretenimento para tentar esquecer o caos lá fora.
    também tenho que dizer que a mudança do nome do clube de leitura foi GENIAL, sério que nome incrível. sei lá, navegantes me parece um grupinho que está escrevendo e tentando navegar no mar da vida. achei poético.
    eu comprei o kindle no meio do ano passado e isso alavancou meus hábitos de leitura, mas a curiosidade em deixar a função “faltam x minutos para acabar o capítulo” as vezes, naqueles dias que a ansiedade tá atacada, acaba comigo justamente por essa sensação que você escreveu, de ter que fazer, de uma tarefa inacabada. vem aquela reflexão de que a gente não pode mais fazer só por gostar ou querer fazer algo né, tem que ser “produtivo”

  2. Carol Lopes  em novembro 22, 2021

    Amo ler desde sempre.
    E nos últimos tempos apressados, às vezes me pego me pressionando pra ler mais. Pra ler mais rápido, mais livros, mais números.
    E aí sinto que está me fazendo mal, e tento desacelerar.
    Até ver que estou acelerando novamente haha
    Mas a gente chega lá!

  3. Camila Faria  em novembro 01, 2021

    Oi Maki, eu já fui muito de passar um parágrafo batido mesmo sem ter entendido muito bem o que estava sendo dito/pretendido ali ~ mas acho que isso tem muito a ver com ansiedade também, de querer terminar logo uma leitura, de chegar numa parte mais empolgante, enfim, muitos motivos, né? Mas aprendi que, nesses casos, o melhor é deixar a leitura para um outro momento (ou às vezes abandonar mesmo) e tentar seguir com outro livro ou autor. Gosto dessa ideia da leitura como um aprendizado SEMPRE, independente do tipo de livro. Muito bacana o texto, fiquei curiosa para saber mais sobre o Greg Mckeown. Um beijo :*

  4. Sthela  em outubro 27, 2021

    Uau, eu acabei de chegar aqui e já devorei os seus últimos posts.
    Sua escrita é muito gostosa, tô amando.
    Antes eu encarava a leitura como uma maratona, ganha quem lê mais. Já cheguei a ler só pelo check mesmo. Hoje o único compromisso que eu tenho é ler, não leio 50 livros no ano, não devo chegar nem na metade disso. Porém, todos os livros que eu leio são muito bem lidos.
    Atualmente eu estou lendo “Irmã Outside” da Andre Lorde, o livro é sensacional, recomento. Enfim você me despertou uma vontade de compartilhar isso kkkkk