rotinas com afeto

falar que eu sempre amei ler é quase pleonasmo. mas, de fato, desde que virei adepta do famigerado ‘trabalhar de casa’, bem antes do coronavírus, e as minhas distâncias percorridas caíram de uma hora todos os dias pra alguns poucos minutos algumas vezes na semana, ler saiu um pouco do meu radar.

o ano em que disse sim desancorando

só que, de alguns meses pra cá, me vi tentada a retomar o hábito de uma forma bem mais consistente. não por pressão externa ou por comparação (eu babo em muitos perfis de leitura no Instagram, confesso), mas porque eu lembrei que eu, de verdade, amo ler.

comentei no meu livro, palavras de presente, que eu não acredito em “não gostar de ler”, mas em “não achei o que eu gosto de ler”. e sigo acreditando que isso é assim. quando a gente tem uma paixão, tanto faz se preciso ler um texto de 500 palavras ou uma dissertação de 150 páginas pra aprender sobre. e isso, em qualquer um desses espectros, é ler.

eu divaguei um pouquinho por um motivo: esse ano comecei relendo um dos meus livros favoritos, O Ano em Que Disse Sim, da Shonda Rhimes. sim, eu sei, você já viu um post sobre esse livro por aqui. mas, correndo o risco de ser o maior dos clichês, dessa vez foi diferente.

por exemplo, não lembro de ter chorado tanto lendo um livro como dessa vez (talvez, só ganhe disso quando eu me propus a ler A Culpa é das Estrelas, mas, até aí, quem não chorou lendo esse livro só não existe!). tem outra coisa: eu fiquei impressionada com a quantidade de insights que eu tive. foi como – e lá vem ele de novo, o clichê -, se eu estivesse lendo pela primeira vez.

como bem disse minha mentora, Ly Takai, é preciso ter discernimento pra saber o que é realmente válido e o que não é em cada leitura – estamos em tempos questionadores, afinal. e cada um tem com um livro uma experiência única. por isso, compartilho aqui a minha experiência.

sim, esse é um texto sobre solidão.

tem um trecho do livro em que a Shonda explica como ela decidiu dizer sim pras pessoas. e essa, eu acho, foi a parte mais difícil pra mim junto com a explicação sobre conversas difíceis (uma complementa a outra, acredito eu). recentemente, eu sinto que entendi o quanto eu escolhi me manter a um braço de distância dos outros, como as minhas escolhas me colocaram numa posição de acreditar, muito cegamente, que eu era e estava sozinha.

Liberdade está do outro lado do campo das conversas difíceis.

(queria tirar um segundo aqui pra dizer pra essa Maki do passado que tá tudo bem, e que eu não a culpo nem me arrependo dessas escolhas, que eu sei que foram feitas sob a influência do medo.)

sabe, teve um dia, no final do ano passado, talvez o mesmo em que eu tive a minha epifania de planejamento, em que eu percebi como tinha um tanto de gente que eu amava, mas que tinha deixado de lado. e tem tanta coisa nisso, sabe? tem falta de tempo, a própria distância… toda uma pandemia entre nós. tinham também coisas que eu pensava sobre mim, e que a Shonda descreveu de maneira tão brilhante (a meu ver). o que eu sinto, é que tinha alguém naquelas páginas que, por mais que fosse uma pessoa extremamente reconhecida no mundo, sentia a mesma coisa que eu. e ela tomou uma decisão, sabe? por fazer algo diferente.

o curioso é que eu já tinha lido esse livro outras duas vezes. mas tenho entendido cada vez mais que as lições perfeitas vem pra gente no exato momento em que a gente quer aprendê-las. e, de fato, eu realmente quero uma mudança de vida. foi o que a Shonda fez, à maneira dela, e ler sobre o que ela sentia e como ela escolheu fazer coisas diferentes, mesmo entre tombos e tropeços, foi incrível.

ano em que disse sim 2
Michael Scott amou o livro também

porque a gente não quer ficar sozinho, mas também tem medo, sabe? medo de se abrir pra alguém de verdade e isso… ser ruim. dar errado. *insira a sua insegurança sobre relacionamentos aqui* mas o que é isso, né? dar errado?

curioso que agora mesmo parei pra pensar no que escreveria a seguir e o BTS cantou no meu ouvido: “you gave me the best of me so you’ll give you the best of you”. você me deu o melhor de mim, então, você dará a você o melhor de você. num é pra isso que servem os relacionamentos? pra gente desapertar o que há de melhor no outro, ao mesmo tempo que encontra o melhor de si?

tô falando, gente. lições perfeitas nos momentos perfeitos. nem tinha percebido que era essa a música que tava tocando até parar um segundinho de digitar pra me perguntar onde eu tava indo com esse post.

então, sim, teve um dia que eu meio que me liguei que tinha esse tanto de gente que eu amo e que eu não sabia sobre há um tempão por causa de…. é tanta coisa que nem dá pra explicar direito aqui (talvez levaria algumas horas… e quem tem esse tempo, né?). saí feito doida mandando mensagem pra todo mundo, com um pensamento só vibrando na minha cabeça: se eu não quero passar a vida sozinha, eu preciso fazer alguma coisa a respeito.

a solidão é um sentimento doido que coloca a gente em treinamento de vitela, como diz a Shonda, quase que automaticamente. quando você vê, tá há dias deitada na cama maratonando uma série sabe-se lá há quantas horas com um pacote de fandangos vazio de um lado e uma barra de chocolate pela metade do outro sem saber muito bem como você chegou ali. (acredite, já aconteceu – mais de uma vez.)

acho que o eu to querendo dizer é que a Shonda me lembrou do meu poder de escolha. e, tudo bem, o insight veio um pouco antes de eu começar essa releitura, mas ela consolidou no meu coração que eu posso escolher pelo o que eu quiser no mundo e me sentir confortável com isso porque a escolha é minha. e isso é liberdade. eu decidi usar a minha liberdade pra lembrar que eu amo as pessoas, saber sobre elas, conhecê-las, eu amo estar cercada de pessoas e me recuso a passar a vida distante delas.

por isso, sinto que releituras são coisas tão bonitas, sabe? porque a primeira vez que li esse livro, senti que conversava com uma amiga sobre coisas que nem todo mundo fala abertamente. agora, sinto que consolidei um aprendizado profundo através da experiência de outra pessoa. me reconheci nas dores dela, apesar das experiências que nos duas vivemos serem completamente diferentes. mas vi que sentíamos a mesma coisa e que nós duas temos não só o poder como a capacidade de escolher diferente.

e isso, pra mim, é lindo.

quem diz que reler livros não é uma prática interessante poderia rever o conceito, aliás. releituras me ensinaram e continuam me ensinando muito. que escolha acertada foi reler O Ano em que Disse Sim esse ano! não poderia ter pensado em um jeito melhor de ter começado essa nova fase.

uma última coisa: nesse livro Shonda também me mostrou como compartilhar as nossas experiências e aprendizados podem ser úteis para as experiências e aprendizados do outro. mais uma lição que, acredito eu, foi consolidada com essa leitura. termino esse post recomendando esse livro como fiz da outra vez, mas com um plus a mais: uma frase que tô levando no meu coração daqui em diante:

A felicidade vem de viver conforme você precisa, conforme você quer. Conforme sua voz interior diz. A felicidade vem de ser quem você é de verdade em vez de quem acha que deveria ser.

brigado por isso, Shonda. foi muito bom conversar com você de novo.

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. Jae  em fevereiro 21, 2021

    É muito engraçado como você fala sobre encontrar acolhimento no texto da Shonda, e como você diz que sente como se estivesse conversando com um amigo, quando eu percebo q essa é a mesma percepção q eu tenho quando leio seus posts hehe.

    Eu fico muito feliz quando eu vejo q você escreveu um post novo, e fico procurando tempo para parar e ler suas palavras com calma, e eu sei que elas vão me revigorar de alguma forma. Infelizmente meus estudos de coreano (… e o BBB.) tiraram todo meu tempo livre, então demorei dias para vir ler teus novos posts.

    E, nossa, a solidão tá assolando todos nós, eu acho. Talvez o fato de que essa semana as aulas da faculdade voltam (e a faculdade se tornou um trigger para mim) tenham trazido à tona o estresse que me é causado durante o semestre desde o começo da pandemia. Estresse me traz uma sensação de abandono muito forte.

    E eu sei que a leitura é meu conforto nessas horas. É nos momentos de leitura que eu consigo aquecer meu coração e relaxar um pouco. Todos precisamos desse conforto nos dias atuais.

    • Maki  em fevereiro 27, 2021

      Jae, seus comentários são sempre maravilhosos! brigada por isso e por tirar um tempinho dos estudos (e do BBB!) pra ler e comentar com tanto carinho.
      você não só, ok? de coração ❤️

  2. Danielle  em fevereiro 13, 2021

    Texto maravilhoso como sempre, Maki! Amo esse blog pelo tanto que me identifico com a maioria das suas palavras e reflexões.
    Também me identifico muito com as experiências da Shonda em “O ano em que disse sim”. Acho que também tô precisando dessa releitura em 2021 pra vê se me dá um empurrãozinho a dizer “sim” para as pessoas (definitivamente, publicar esse comentário foi um primeiro passo kkkk).

    • Maki  em fevereiro 15, 2021

      aaaaa Dani!!!!
      parabéns pelo seu primeiro passo ❤️
      e é isso, sabe? vamos aos poucos, da maneira que a gente consegue.
      eu sou suspeita pra falar, mas sou super a favor de você reler esse livro, sim. é sempre uma experiência nova, né?
      beijo! ❤️