rotinas com afeto

nossos rituais são hábitos em que pusemos nossa impressão digital. são hábitos com alma.

a frase acima não sai da minha cabeça desde que foi lida pela primeira vez, na semana passada, quando comecei Sem Esforço, do Greg McKeown. eu tinha altas expectativas pra esse livro (Essencialismo, do mesmo autor, é um dos meus favoritos), mas não esperava um tapa na cara depois do outro, como tem sido o caso. esse trecho, em específico, me marcou porque “rituais” é uma palavra que tem me acompanhado muito no último ano.

a verdade é que eu to cansada de hábitos. todo mundo pode criar um hábito. todo mundo tem hábitos. e tá tudo bem com os hábitos, mas eu me percebi muito de saco cheio do tanto que se fala em otimização de rotinas, em produtividade, em manter hábitos, criar hábitos, desenvolver hábitos, em ter hábitos produtivos, em ser mais produtivo… se eu pudesse sumir com uma palavra do vocabulário mundial, essa palavra seria “produtividade”.

então, sim, eu tenho pensado muito em rituais e naquela outra frase do Austin Kleon, “deixe as coisas melhores do que quando você as encontrou“, que eu acho que encaixa perfeitamente com essa primeira. rituais, no fundo, não deixam de ser uma forma melhorar algo em relação ao que era antes, né?

tô falando isso por um motivo: é que a última segunda-feira foi um dia bom. foi um dia cheio, claro, mas foi um dia bom. muito bom. ótimo, eu diria. e, inclusive, digo porque me percebi praticando um monte de coisas que eu aprendi nos últimos tempos, até mesmo essa a frase que abriu esse texto.

quando eu olho pro mundo, eu vejo tanta coisa acontecendo, sabe, que é meio difícil colocar em palavras o que eu sinto (apesar de tentar muito!), mas é impossível não ver o quanto as pessoas tão cansadas, o quanto elas tão sofrendo, o quanto de coisa torta que tá acontecendo, e o que fica martelando na minha mente é como a gente faz mudanças pequenas pra, no mínimo, tornar esse dia a dia melhor, sabe?

porque se não for nas coisas pequenas… esperar pelas coisas grandes me parece muito sofrido.

e a coisa do ritual tem um misticismo por trás que eu tenho entendido muito bem nesses meses recentes. o que o Greg fala sobre impressão digital, a meu ver, é só uma forma de paixão muito específica por uma coisa que você ama tanto a ponto de fazer aquilo com gosto.

eu vejo muito disso no meu dia. o tomar a xícara de café enquanto olho os e-mails. ouvir as minhas músicas preferidas pra escrever um texto. caminhar de manhãzinha pra ver as folhas novas nascendo nas árvores junto com o nascer do sol.

o que o Greg explica tem muito a ver com isso. com esse gostar de todos os dias que tornam uma vida boa enquanto ela acontece, sabe? longe de mim romantizar ou ignorar o sofrimento alheio, mas eu acredito (mesmo! muito!) no poder das pequenas coisas, e se alguém não pode prestar atenção nisso agora, eu me comprometo a fazer isso por ele. a minha posição permite, e tá todo mundo dando o máximo que pode, a todo momento.

e eu citei a segunda-feira boa que tive por um motivo. eu não sei o que é ter “hábitos com alma” em sua totalidade ainda. mas eu tô aprendendo. e sinto que, nisso, também reside uma parte desse viver ritualístico que o autor explica e que faz tão bem, entende? ele até continua o assunto, dizendo assim:

eles [os rituais] têm o poder de transformar uma tarefa maçante numa experiência que traz alegria.

eu achei isso tão importante. porque todo mundo tem tarefas maçantes pra fazer. o imposto de renda. as finanças do mês. uma burocracia doida tipo… pedir a segunda via de um documento. tudo isso. mas eu me vi com uma opção. eu posso tornar isso uma tarefa difícil e chata e totalmente adiável, ou eu posso transformar isso numa coisa que me traz alegria.

eu fiz isso. e foi legal. eu tinha que fazer o balanço financeiro do mês (um nome muito mais bonito pra “pagar as contas”) e criei todo um mood. coloquei músicas que amo pra tocar. fiz café e pão de queijo. abri as janelas pra ver o sol lá fora (era de manhã). e fui em frente. de repente, virou gostoso. e nem foi difícil. mas precisou de um empurrão inicial de tentar trazer alegria pra uma coisa que eu considerava chata.

daí, segunda. vamos voltar pra segunda. logo no comecinho do dia, eu li uma outra frase do livro que diz assim:

não faça hoje mais do que conseguiria se recuperar completamente hoje. esta semana, não faça mais do que conseguiria se recuperar totalmente esta semana.

ele tava falando de descanso. e da importância do descanso pra manter esses rituais rolando. e o dia gostoso. e a saúde em dia, pelo amor de Deus. essa frase foi um tapão na minha cara. e eu decidi colocar isso em prática. não fazer, naquele dia, mais do que eu conseguiria me recuperar completamente naquele dia. era um dia de muitas reuniões (e duas delas, foram inesperadas). dia de treino físico no CT. e dia de uma grande entrega. e foi isso que eu me propus a fazer. nem mais, nem menos. terminei o dia escrevendo esse texto. são nove e meia da noite, mas não me sinto cansada como nas outras segunda-feiras igualmente cheias.

pelo contrário.

tirei horário de almoço e de jantar – longe do celular (bem longe!). fiz pausas. busquei me manter focada e me dei espaço pra distrair de vez em quando.

segunda-feira foi um dia bom.

e onde as duas coisas se conectam?

aqui: rituais são também momentos de descanso. porque o que me alegra, me descansa. e não me entenda mal, eu não faria mais reuniões do que tive naquele dia (cinco foram o suficiente), mas acho que teve um permitir curtir, sabe? um planejamento prévio de pausas e um priorizar dos rituais. logo mais, antes de dormir, vou deixar o celular de lado de novo e cuidar do rosto. e tô animada, porque tenho algumas músicas que quero ouvir e que eu tenho certeza que vão casar bonitinho com esse momento.

quando a gente fala de viver com propósito (a gente ainda fala isso?), parece uma coisa tão distante, mas eu tenho visto como isso é próximo quando eu torno o meu propósito simples. não precisa ser uma coisa grande, nem mirabolante, muito menos complexa. pode ser tão simples quanto “eu só quero ter dias bons”. e “ter dias bons” não significa não lidar com imprevistos ou questões de família ou insira a sua especificidade aqui. significa não deixar que isso tire o seu poder de decisão de manter os seus pequenos momentos de alegria cotidianos e olhar pro cenário maior.

eu sinto que esse post é um daqueles em que eu escrevo pra entender o que eu penso sobre alguma coisa. e a conclusão que eu chego é que o que eu mais quero é ter dias repletos de rituais que eu amo e marcados dos pés a cabeça com as minhas digitais. e aí, a partir daí, ensinar as pessoas em volta a fazerem o mesmo.

parece bom, né?

me conta uma coisa: o que você poderia transformar num pequeno ritual hoje? eu me comprometi a tirar 5 minutos de descanso no meio do dia, só olhando pela janela, ouvindo uma música gostosa. espero ter muitas pequenas alegrias como essa pra contar depois.

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Escrito pelaMaki
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5 Comentários
  1. BA MORETTI  em outubro 13, 2021

    acho que li esse texto no momento certo. sempre que falo sobre maternidade eu resumo dizendo que é horrível e maravilhoso (geralmente tenho que me explicar em seguida porque as pessoas acham “horrível” um péssima escolha de palavra nesse caso). tem dias, semanas que são tranquilas na medida do possível (kkkcrying) e tem semanas que a gente acorda pensando na hora de dormir mesmo. tento lembrar sempre de um frase que li sei lá aonde de que é um dia ruim e não uma vida ruim. as vezes a frase só faz sentido depois de eu chorar um pouco e recobrar minha tranquilidade emocional para resolver determinada situação HAHAHAHA tipo quando a sara tá com sono e não quer dormir de jeito nenhum 🙂 ai que ENFIM CHEGANDO AO PONTO (perdão pela demora no raciocínio) eu tenho buscando não lutar contra a correnteza. por exemplo: tô exausta mas sara precisa tomar banho e vai reclamar na hora de tirar a roupa e na hora de vestir. a principio ficaria irritada por conta do cansaço em precisar fazer algo com a pequena resmungando enquanto poderia (no passado, antes de sarinha) simplesmente ir dormir. já me peguei irritada muitas vezes antes de pensar dessa forma mas a maternidade é um caos mesmo e só falam em paraíso antes disso. ninguém fala do preparo emocional que a gente precisa ter (SOCORRO) antes disso. então comecei a tornar isso divertido pra ela e pra mim. parei de me preocupar em ser um banho rápido, deixo ela fazer bagunça, deixo ela ir sozinha até o banheiro depois que tira a roupa. parece pouco mas isso faz com que ela não fique estressada também pelo processo de tirar e colocar roupa. pra mim isso é como tomar um cafézin fresquinho na hora de pagar as contas do mês. é tipo topar comer junk food na rua em dia que tem perrengue pra resolver. (sim, desconto em comida geralmente haha). enfim, pra mim, isso torna as coisas mais leves mesmo. as vezes não funciona e no final do dia só umas choradas no chuveiro pra resolver mas na maioria alivia a tensão sim 🙂

  2. Bianca  em setembro 19, 2021

    aqui está um assunto no qual eu sou mestra: autistas vivem de pequenos rituais que muitas vezes nem fazem sentido mas só nos fazem bem. acho que existe algo de poético em transformar momentos mundanos e corriqueiros em algo especial, mágico e que poderia ser uma cena de transição aesthetic de um filme coming of age ksjsksjskjs eu amo, torna a vida um pouco mais leve e considerando nosso contexto atual acho que a gente precisa abraçar toda leveza que pudermos encontrar/criar.
    espero que você esteja bem, xoxo

  3. Tati  em setembro 17, 2021

    lendo seu post, me vi confirmando com a cabeça que também estou cansada do rolê todo da produtividade, e refletindo quais eram meus rituais e como os faço. No último texto que escrevi, falei sobre estar meio perdida da vida, sem entender quem sou e quais meus gostos atuais, e por essa razão me sinto meio desconectada de mim mesma o tempo todo. Acho que afinal de contas, o que tem me faltado são encontrar meus rituais de alivio 🙁 (que bom que te li, me fez pensar bastante!)

    Limonada

  4. Rayssa  em setembro 15, 2021

    se eu pudesse criar um pequeno ritual hoje seria caminhar na areia da praia à tarde por uns 10 minutinhos, eu realmente faria isso.

  5. Emerson  em setembro 15, 2021

    Acho que contemplar a natureza por poucos minutos todos os dias é um ritual que faz toda a diferença. Admiro sua facilidade ´para a escrita! Parabéns!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está de volta! Não deixe de conferir os novos posts.

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    Até mais, Emerson Garcia