rotinas com afeto

há algumas semanas, troquei mensagens pelo Instagram com uma amiga querida, com quem não converso tanto quanto gostaria. é aquela coisa da vida, sabe? os dias passam e você mal percebe – quando vê, a última conversa aconteceu meses atrás e é como se você tivesse que conhecê-la de novo, tão distante estão do momento passado.

sobre pontos de chegada

acontece que, naquele dia, ela meio que finalizou o papo de uma forma tão bonita que imediatamente me senti compelida a escrever sobre. ela disse:

que a busca seja tão prazerosa quanto a chegada, Maki.

é tão bonito que chega a doer, não é? e eu tenho pensado muito sobre isso sabe? nessa história de buscar planejamentos e metas e pensar no futuro ou no daqui a pouco, a gente esquece que tem alguma coisa pra ser aproveitada agora que a gente deixa passar. corte seco, a gente fica repensando e remoendo dias passados, na certeza de que foram bons – “a gente só não sabia”.

eu amo discursos de formatura, daqueles norte-americanos, sabe? em que um famoso é convidado pra palestrar pros formandos e a coisa toda vira um grande evento, com transmissão ao vivo pela internet e comentaristas especializados no assunto (juro!). um dos meus discursos favoritos é do Neil Gaiman, autor de Sandman e uma das pessoas mais interessantes que eu já conheci (metaforicamente, claro, nunca conheci ele pessoalmente – ainda!). o discurso do Neil foi tão inspirador que virou livro – e um dos meus favoritos! -, chama: Erros Fantásticos – O discurso “Faça Boa Arte” de Neil Gaiman.

tô falando disso por um motivo, claro. é que nesse discurso, o Neil fala sobre o melhor conselho que ele já recebeu, mas acabou não seguindo, e que ele gostaria que os alunos presentes ali fizessem diferente dele. o conselho veio, veja só, de ninguém mais, ninguém menos, que Stephen King, quando Sandman tava no auge do sucesso.

Stephen King tinha gostado de Sandman e do romance Belas Maldições, que escrevi com Terry Pratchett, e viu a loucura ao meu redor, as longas filas de autógrafo, tudo aquilo. seu conselho foi: ‘Isso é muito legal mesmo. Aproveite’. e eu não aproveitei.

e eu tenho pensado sobre isso, sabe? porque o Neil continua falando que ele não aproveitou porque tava sempre preocupado com a próxima ideia, o próximo quadrinho, o próximo livro… sempre tinha alguma grande preocupação™ na sua mente, ocupando um espaço que seria muito mais bem aproveitado se ele tivesse só… presente.

tenho observado muitas preocupações na minha mente. muitas justificativas e perguntas que não querem ser respondidas e desculpas esfarrapadas e mais um monte de tranqueira que eu jogo e deixo ali, sem mexer. enquanto isso… perco um tempo precioso não aproveitando o prazer da busca.

mais recentemente, tive uma conversa muito legal com outra pessoa, que me explicou de forma muito clara e tranquila como trocou as expectativas que criava sobre si mesmo na sua mente por uma felicidade obstinada em estar presente em tudo o que faz. isso bateu aqui, sabe? tocou bem fundo e me fez pensar que enquanto eu to na minha cabeça criando planos e expectativas, eu esqueço de olhar o que tá acontecendo agora e perco oportunidades que, talvez, nunca mais apareçam.

teve até a newsletter da Ana, do Eu Organizado, que falou um pouco sobre isso também, mas de um lado mais prático, talvez:

planejamento sem ação é só uma ambição que faz moradia na sua cabeça. para que essa ideia – fantástica & maravilhosa & excitante – de fato faça parte da sua realidade (do que te cerca literalmente, de uma forma mais visível & palpável) você precisa, em algum momento, tomar a decisão de agir.

decisão de agir. achei isso forte. porque, pra mim, a decisão de agir tá diretamente ligada ao aproveitar a busca. que tá diretamente ligada ao não fazer morada nas minhas expectativas mentais, mas aproveitar, ficar mais presente, em silêncio, observando e curtindo a jornada.

e como a vida é muito louca e a gente encontra sinais em todos os lugares, enquanto escrevia esse post eu tava ouvindo uma playlist do BTS e começou a tocar Fly to My Room. lá pela metade, parei pra pensar no que escrever a seguir e me veio de encontrar a letra. eis que tem um trecho que diz o seguinte:

eu quero ir para qualquer lado. bom, não tenho escolha. esse quarto é tudo o que eu tenho. então, eu vou transformar esse quarto no meu mundo.

a música fala diretamente da pandemia de coronavírus e do período de isolamento que o mundo inteiro, em maior ou menor grau, teve/tem que passar. mas é isso. é transformar o quarto num mundo inteiro. mas acho que é diferente de criar expectativas e imaginar o que vai acontecer quando a gente, de fato, sair dessa situação (vem vacina!). pra mim, tem a ver com aproveitar o que dá pra aproveitar, mediante as circunstâncias.

eu sei que isso não parece lá muito otimista e tem um tanto de privilégio em cada uma dessas palavras. mas, sei lá. a dor de ficar mais de um ano dentro de casa não tirou da minha mente as imaginações que me deixavam igualmente triste antes. e, hoje, eu vejo um desejo cada vez maior de fazer com que elas desapareçam daqui pra sempre – e isso é possível. eu confio que é. mas tem esse passinho básico. que começa com a mensagem da Mari. que passa pelo discurso do Neil, pela música do BTS, por um treino mental que exige muita dedicação e devoção da minha parte, e volta pro discurso do Neil:

acho que, para mim, a lição mais difícil foi essa: relaxar e aproveitar a viagem, porque ela vai levar você a lugares extraordinários e inesperados.

eu tô de malas prontas. e você?

de qualquer maneira, eu espero que a nossa busca seja tão prazerosa quanto a chegada. se o caminho é longo, que ele seja, pelo menos, alegre. e se, por enquanto, ele não sai do lugar, que a gente leve no coração a certeza de que esse andar parado é temporário.

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Escrito pelaMaki
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13 Comentários
  1. Bianca  em abril 15, 2021

    mais uma reflexão necessária e que foi de tamanha sincronicidade para mim! cá estava no dia de hoje, depois de uma semana bem turbulenta com idas ao hospital, tentando sair da espiral da ansiedade, aquela ansiedade para o final ou melhora da pandemia e também aquela para o próximo passo da vida (no meu caso é o limbo entre final do ensino médio e a faculdade) e hoje eu parei pra pensar no que eu podia fazer no agora para me acalmar. coloquei minhas playlists de conforto no coração e sai arrumando o quarto, separei umas coisas pra ler e organizei uma página no notion com as minhas poesias favoritas, parando pra reler uma a uma e foi tão gostosinho, tão gostoso quando parar no meu momento pós chá da tarde e vir aqui fazer a leitura desse post.
    é engraçado isso, eu nem te conheço mas te considero uma amiga tipo aquelas mutuals de twitter ksjskjs
    um beijo, espero que você esteja bem!

    • Maki  em maio 16, 2021

      Biancaaaaaaaaaa
      que amor de comentário, meldels.
      cara, e eu SUPER te entendo! aliás, você é mais uma daquelas leitoras que toda vez que vejo um comentário, penso: ai, ela ia gostar tanto de fazer do clube de escrita! porque a gente olha muito pra isso, sabe? (o outro leitor é o Jae, num sei se você já viu os comentários dele por aqui)
      mas fico feliz que você tenha conseguido fazer coisas que te fazem bem e sossegar a mente. lembro que quando eu saí do ensino médio eu tinha uma grande placa escrito PERDIDA na minha testa. às vezes, eu ainda sinto que ela tá aqui, andando comigo de um lado pro outro, mas tudo bem. a gente vai encontrando o nosso caminho enquanto anda e isso pode ser muito bonito, sabe?
      (e pode considerar amiga, sim, tá bom?)

      espero que você esteja bem, também <3

  2. Aline Amorim  em abril 14, 2021

    Gostei dessas citações, e lembrei uma vez que estávamos indo para o casamento de uma prima, e minha avó, que estava no carro com a gente disse “o melhor da festa é o planejamento”.

    • Maki  em maio 16, 2021

      nossa, eu já ouvi isso também! e super entendo, porque pensar em cada detalhe deve ser incrível mesmo! e muito feliz, né?

  3. Divana  em abril 13, 2021

    Oi, Maki!
    Lendo esse texto percebi que parte do caminho eu já trilhei, e estou fazendo que nem o Neil, não aproveitando tanto quanto poderia. E sim, um dos maiores motivos é que a minha mente NÃO PARA de funcionar como deveria, eu acho. Às vezes estou tão ligada que desplugar é um suplício, principalmente de noite. Preciso aproveitar mais o caminho, contruí-lo com muito mais amor.
    Obrigada pelo seu texto <3.

    • Maki  em maio 16, 2021

      Divada <3
      eu super entendo isso! mas acho que tem um ponto importante que é: esse aproveitar não precisa ser mais uma pressão na nossa cabeça (super) lotada. acho que tem um desenvolver de olhar que começa com respirando fundo e cuidando do que a gente precisa a cada mesmo. mesmo que seja aprender a diminuir a velocidade da nossa mente, né?
      brigada pelo seu comentário <3

  4. Jae  em abril 09, 2021

    Oi Maki!!

    Para mim é bem complicado esse discurso de aproveitar o momento. Ou melhor, se torna contraditório. Porque depende muito do ponto de vista, né? Eu tô no meu último ano de faculdade, me formando em meio de uma pandemia que não tem data de validade, em casa o dia inteiro quase que vegetando e minha solução foi preencher minha agenda plantando sementinhas que eu pretendo colher no futuro. Estudo de coreano, rotina de escrita, e muitas outras coisinhas. E eu me pego me questionando, várias vezes, se eu estou /realmente/ aproveitando, ou se estou só desperdiçando o meu tempo.
    E, sei lá, acho que essa resposta eu só vou ter quando(se) essas sementes crescerem e frutificarem. Mas tudo é questão de equilíbrio. Tudo bem agir pelo futuro, a gente /precisa/ agir pelo futuro. Mas com calma, com respiros, com saúde, sem se atropelar pelo caminho… A gente precisa fazer com “que a busca seja tão prazerosa quanto a chegada”.

    Obg pelo post Maki XD

    • Maki  em maio 16, 2021

      Jae, é sobre isso! (ainda vale usar essa frase/meme? hahah)
      acho que uma coisa é a gente levar um dia de cada vez, investindo no que a gente quer e gosta certo de que tá fazendo o que tá fazendo por um querer profundo mesmo. outro é a gente embarcar numa jornada só com a mente no resultado final, sem olhar pro caminho que tá traçando, sabe? num sei se faz muito sentido isso, mas sinto que é uma mudança de visão muito importante pra diminuir o nosso grau de ansiedade, sabe?

      (obs: toda vez que vejo um comentário seu, me pego pensando: meldels, espero que ele consiga entrar no clube de escrita em breve, ele vai gostar taaaaaaaaaaanto!)

      (obs 2: isso não é uma pressão pra você participar, tá? é só que eu sinto que já te conheço pelos seus comentários e sei o quanto você pode usufruir do que rola por lá! mas tudo no seu tempo!)

  5. Camila Faria  em abril 08, 2021

    Ai Maki, depois desse post eu vou fazer as minhas malas também, viu? Estou SUPER nessa de projetar tudo pra frente e sinto que estou vivendo pouco no presente. É sempre: quando isso acontecer, quando eu conseguir resolver isso, quando isso estiver pronto… Não dá pra viver assim, né? Adorei o post (que foi um puxão de orelha pra mim). 🙂

    • Maki  em maio 16, 2021

      ai, Cami, me abraça?
      não dá mesmo. e acho que a gente já tá cansada demais pra ficar esperando por um “quando isso, eu vou aquilo…” que a gente nem sabe se vai chegar, né?

  6. Juh Oliveira  em abril 08, 2021

    Bela reflexão, Maki! Vc certeira como sempre. Tenho pensado muito nisso apesar de toda a tempestade que o mundo está passando e que eu estou passando. A busca por emprego, realização profissional, preocupação de como pagar as contas…tudo suga a gente, mas desta vez estou tentando fazer diferente. Enquanto não posso mudar a minha situação atual, sigo investindo e buscando coisa prazerosas, como a fotografia e a escrita. Fazendo independente se tá perfeito ou não, tirando as ideias da cabeça e agindo. Um processo difícil, porém necessário.
    Um abraço <3

    • Maki  em maio 01, 2021

      ahhh Juh, exatamente! ele é muito necessário mesmo! e eu espero que esteja sendo útil pra você e um acalento nesses momentos tão complexos que estamos vivendo <3

  7. Emerson  em abril 07, 2021

    Adorei o texto! Que possamos aproveitar todos os momentos da nossa vida, pois eles são únicos!

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia