rotinas com afeto

a ideia era que esse post fosse ao ar só lá pra frente, no fim de março. não tinha nenhum motivo específico, eu só achei a próxima data disponível e coloquei o tema no próximo quadradinho vazio. mas esse assunto tava muito na minha mente e eu senti que tinha que escrever sobre ele agora.

cinco minutos depois, me arrependi, porque parece que as palavras me escaparam da mente (e dos lábios).

escolher pelo amor todos os dias

sabe, no final do ano passado eu tirei duas semanas pra fazer um total de zero coisas relacionadas a trabalho (dizem que isso se chama “férias”), e aproveitei pra fazer uma coisa que tava a fim de fazer há um tempão: passar um dia inteiro vendo uma série na TV da sala. escolhi Bridgertons por dois motivos. o primeiro tem nome e sobrenome: Shonda Rhimes. não precisa de explicações, né? o segundo era a temática, que parece misturar Orgulho e Preconceito (um dos meus filmes preferidos) com Gossip Girl.

o que eu não esperava era que, meses depois, uma das falas da viscondesa de Bridgerton, em um dos episódios finais da primeira temporada, me viesse à mente. disse ela:

nós escolhemos amar um ao outro todos os dias. mas, sabendo que nós dois tomávamos essa decisão, eu não posso nem dizer o quanto de paz e conforto isso me trouxe.

na cena em questão, ela tava falando com a Daphne sobre a relação com o falecido marido, e isso me tocou tanto, sabe? não sei dizer exatamente porquê, mas isso ficou na minha cabeça e martelou forte uns dias atrás.

daí, na semana passada eu assisti Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre, e fiquei surpresa quando vi que a Lara Jean fala uma coisa parecida:

a vida é linda, é bagunçada, e nunca acontece segundo os planos. eu sei que o amor, o amor de verdade, é escolhermos um ao outro em meio a tudo isso, todos os dias.

tá vendo que o tal de “todos os dias” se repete, né? pois é. entendi como um sinal de que precisava pensar nisso com um pouco mais de carinho – e você sabe que eu penso escrevendo -, porque não era possível estar com uma coisa na mente e outra tão parecida aparecer do nada. e, sabe, eu acho que a gente anda mesmo numa encruzilhada, entre escolher pelo amor todo os dias ou escolher por… outra cosia.

tipo, tô falando como humanidade mesmo.

eu tenho observado muito. tenho pensado muito no que tem acontecido com a gente, senti medo e pensei que não teria jeito. e, sabe, eu sei que parece um discurso de positividade tóxica ou qualquer coisa assim, mas, sei lá, me parece meio… conformista achar que não dá pra gente resolver as coisas de outra maneira.

tô doida?

sentir amor parece uma coisa tão distante, às vezes, né? sei lá, parece que tem situações específicas em que ele aparece, parece que algumas pessoas recebem mais que outras e que algumas passam a vida inteira sem. tem gente que acha um tipo de amor, mas sente que falta de outro tipo. tem quem já desistiu completamente dele e quem pensa que ele é místico.

e eu fiquei pensando sobre isso porque me parece muito triste viver acreditando que o amor não existe ou que ele é difícil ou que não tem mais espaço pra ele no mundo em que a gente vive, sabe? me dá vontade de chorar.

fiquei prestando atenção também nas vezes que eu pegava o caminho não tão legal nessa encruzilhada, que é cheio de pedregulhos e pontes mal-cuidadas. uns pedaços são estreitos demais e parece que não vai dar passagem. outros, tão cheios de lama que a impressão é que a gente vai atolar se não tomar cuidado.

é um caminho confuso, que não faz muito sentido, e tem tantas curvas que deixa a gente meio enjoada. a paisagem não é bonita também. é cinza e cercada de paredões de pedra. parece uma prisão. sufoca, sabe?

e o outro… bem, eu me vi pegando essa saída algumas vezes também. é bonito. não é simples 100% do tempo. tem suas curvas sinuosas e seus trechos de terra. pode chover e a pista ficar um pouco escorregadia. mas… é mais suave. é claro e dá pra ver mais que um palmo na frente do nariz. não precisa de farol alto à noite porque é uma via de mão única, ninguém parece querer voltar atrás nessa estrada.

me veio na mente muitas vezes porque a gente escolhe o caminho estranho ao invés desse. e fiquei buscando nos meus dias formas de recalcular a rota quando me via optando pelo temporal de cinza.

abracei meu cachorro muitas vezes nesse período e acho que isso diz muito sobre o que eu fiz.

mas acho que mais do que abraços peludos, o que acontece é que eu tive que tomar mais consciência do que eu tava deixando tomar o volante da minha mente. (vocês já perceberam que cada dia que passa as metáforas e analogias ficam piores, né? eu também.) tinham dias que era um motorista raivoso e descontrolado na direção. outros, era eu. mais calma e centrada. outros, era um meio-termo entre os dois, se é que isso é possível – e não era porque no fim do dia eu me via na metade do caminho trevoso perguntando “como foi que eu cheguei aqui, eu tenho só seis anos!”.

acho que o eu quero dizer é que não é simples, mas é possível. a gente tem só que fazer umas aulas extras de direção pra pegar o caminho de forma mais… natural. sabe? tipo, decorar até virar um hábito, aquela coisa automática que a gente só faz, sem nem perceber que tá fazendo.

só pra lembrar: a gente tá falando de amor, né.

escolher amor 2

não pode ser tão ruim assim treinar escolher por isso.

e parece que tá todo mundo precisando, né? é só passar rapidinho no Twitter pra perceber que isso é assim. e se a gente não começar de algum lugar, sabe, se não der um primeiro passo… quem vai dar? quem vai fazer isso por nós? acho que esperar que o amor venha ao nosso resgate é querer uma mágica, sendo que ele tá dentro da gente.

oras, é sempre mais simples do que a gente imagina.

quando eu peguei o caminho bonitinho, eu me senti melhor. quando escolhi o outro… bom, você já sabe, né? não foi tão legal assim. só que é isso, é uma escolha de todos os dias. não é o tipo de coisa que a gente fala A PARTIR DE HOJE É ASSIM e não pensa mais nisso. pelo contrário. é de ficar se lembrando o dia inteiro todos os dias. o meu Waze mental não cala a boca, sabe, fica ali falando “próxima saída a 2 km” e eu fico considerando se viro à direita ou continuo em frente.

e eu nem dirijo, gente. de onde vem tudo isso?

é o tempo todo um “amor ou medo? – amor ou medo? – amor ou medo?”, que não para nunca. e longe de mim achar que isso é uma reclamação interna (ou reclamar que isso acontece), é mais sobre ficar indignada comigo mesma quando eu opto pela segunda opção. mas aí preciso optar pela primeira de novo porque a indignação claramente não é uma sensação ligada ao amor.

tá dando pra entender a doidera que é?

enfim, acho que isso aqui é mais uma daquelas reflexões em voz alta que não tem um fim, mas soa como um começo. talvez a gente consiga pegar a estrada bonita juntos a próxima vez que se encontrar no caminho. ou talvez você me ajude a retomar a rota quando eu escolher pelo outro.

mas é uma escolha. e a gente pode se ajudar a escolher de novo. ou a mudar de ideia. ou a recalcular a rota, já que eu tô tão apegada com essa analogia hoje. vai ver, se a gente se juntar, dá um motorista bom o bastante pra guiar outros que tão perdidos por aí.

eu acredito que sim.

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Escrito pelaMaki
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6 Comentários
  1. Jae  em março 16, 2021

    Oi Maki!!!

    Antes de qualquer coisa: nossa, que texto! Sério.
    É uma reflexão mto sincera de se fazer, uma vez que hoje em dia o amor se tornou algo tão custoso.

    É por isso que eu sou completamente obcecado por Anne with an E (e espero que pelos livros também, em um futuro próximo). Me enche demais o coração observar como a Anne consegue ensinar a uma comunidade inteira sobre o amor e a comunhão. E eu me prendo a isso.
    É muito difícil nos dias de hoje a gente encontrar demonstrações sinceras de amor, né? E eu não digo das pessoas que estão perto da gente, eu falo mais sobre ês alheies que transitam ao nosso redor. A indiferença para com os outros é tão presente no nosso comportamento diário, que às vezes um simples “Bom dia” e “Obrigado”, que são gestos tão simples e, por muito, foram regras básicas de educação, fazem uma diferença tão gigantesca… Um sorriso diferente que a gente recebe na rua, um “pode ir na frente”, se destacam tanto nas nossas memórias porque, infelizmente, a gente não espera mais essa empatia dos outros. Às vezes nem nós mesmos nos damos esse papel.

    E é sobre isso, é sobre escolher amar todos os dias.
    E não é só amar quem tá perto, isso é muito fácil.

    (No meu último comentário vc me indicou o clubinho de escrita!! Muito obrigado pela consideração 🥺🥺 eu tô há um tempo pensando em investir nele, inclusive. então assim que eu puder eu vou sim fazer parte XD)

    Obrigado pelo post incrível, Maki!

    • Maki  em março 17, 2021

      Jae, seus comentários são sempre maravilhosos, sabia? 💓
      é sobre isso, exatamente. num tenho nem o que dizer a mais!
      (e vai ser um prazer ter você no clubinho, quando puder!)
      brigada por ser sempre tão gentil e generose com os seus comentários!

  2. Bianca  em março 07, 2021

    essa foi uma daquelas reflexões que eu não sabia que precisava ler até eu ler sobre, obrigada por isso Maki! acho que renderá boas páginas no journaling dessa noite
    acho que entrei nessa jornada de escolher o amor inconscientemente nessas últimas semanas, especialmente nas redes sociais. me peguei dando unfollow/block/mute em muita coisa que despertava raiva ou gatilhos negativos no twitter, enchi meu feed com coisas que me agregavam e me deixavam feliz ao entrar, comecei a dar mais atenção aos artistas do ig que produzem arte afetiva… acho que é assim que começa né? pequenos passos.
    no momento estou ouvindo o barulho da chuva na companhia de uma vela de apple pie que eu decidi acender (parei de ser adepta daquilo do momento ideal que nunca chega para usar algo, no meio desse caos do mundo acho que estou percebendo que o momento ideal é agora) e vim no meu bloglovin passear pelos conteúdos que me trazem conforto

    • Maki  em março 17, 2021

      Bianca, que comentário MAIS LINDO! eu amei isso: “o momento ideal é agora”. porque é mesmo, né? fico feliz que o blog faça parte desse seu passeio online <3

  3. carol justo  em março 04, 2021

    esse é um daqueles textos que eu termino de ler e fico sem palavras
    UAU, é só o que eu consigo falar, juro! muito obrigado, precisava ler isso

    aliás, eu quero muito assistir essa série, e o filme (que ainda não assisti, apesar de estar super ansiosa)

    beijos
    Carol Justo | Justo Eu?!

    • Maki  em março 17, 2021

      ai, Carol, assista os dois! vale a pena <3