inspiração

cuidar de alguém desancorando

semana passada eu tive uma surpresa bem da linda. a Amannda Vitorino, que eu sigo no Instagram sei lá desde quando, tinha pedido pra gente mandar uma frase good vibes pra ela usar num projeto. eis que eu olhei pra aquilo, achei incrível e mandei uma frase que tava na minha mente naquela hora: só o amor salva.

esqueci daquilo, continuei meus dias e na semana passada ela me mandou uma mensagem com o resultado. ei, lembra que você me mandou isso? então, ficou assim. , coisa mais linda, amarelo e rosa, letras garrafais, cara de lambe lambe.

pensei com os meus botões: que timing perfeito, porque esse é o momento mesmo da gente lembrar que só o amor salva e que a gente tem que cuidar uns dos outros se queremos alcançar a luz no fim do túnel (que nem tá tão longe quanto a gente acha que tá).

aliás, esse foi o gancho perfeito também pra eu pensar com mais carinho numa coisa que tava rondando a minha cabeça há algumas semanas (pra não dizer ‘desde o final do 1º turno das eleições‘): como a gente faz pra cuidar de todo mundo?

é, de todo mundo. todo mundo mesmo. porque se você não percebeu (vai saber se você não tava bem escondido em alguma caverna no Himalaia), as pessoas tão precisando ser cuidadas. elas tão sentindo raiva. elas tão com muito medo. muito mesmo. demais. eu falei que elas tão com medo?

então.

daí a gente vê iniciativas das pessoas se juntando pra conversar, pra se apoiar, ou só pra ficar junto e lembrar umas às outras que elas não tão sozinhas – e isso é incrível, maravilhoso, continuem porque é isso mesmo! -, mas, ainda assim, ficava uma pulguinha insistente no meu ouvido me falando pra pensar melhor em como a gente pode cuidar um do outro se tá todo mundo tão afundado em medo.

pânico. até pensando se deve sair de casa ou não, andar à noite ou não.

e eu lembrei de um outro ensinamento que tive nos tempos recentes. se eu quero cuidar dos outros, eu tenho que cuidar de mim primeiro. e, ó, isso não tem nada a ver com banho de banheira e máscara de argila no rosto, massagem com óleo de coco ou tirar a tarde pra tomar um café enquanto você lê o seu livro favorito pela enésima vez (inclusive, quem me dera ter tempo pra fazer mais dessas coisas todas), e sim com o que você sente.

o quanto você presta atenção no que você se sente?

de nada adianta a gente lutar e brigar e falar se tá fazendo tudo isso com a mesma raiva no coração que o outro lado. a gente subestima muito o poder do que sente, e quando eu falo que só o amor salva, só ele salva mesmo – aliás, Marcius Melhem me representou muito bem ao dizer “talvez amor não ganhe eleições. mas no dia seguinte delas, ainda é com amor e pelo amor que se resiste”. pois é.

tô toda cheia de referências hoje porque o meu objetivo com isso é mostrar que o cuidado tá em outro lugar. talvez não tão palpável quanto o frescor da máscara de argila que você passa no rosto sábado de manhã, mas muito mais efetivo, eu garanto.

isso porque a gente só vai conseguir cuidar de alguém com medo se desistir do medo primeiro. desistir mesmo. nada dessa coisa de “vai com medo mesmo” ou “o medo faz a gente mais forte“. pelo contrário, menina, o medo deixa a nossa mente turva e a gente não consegue ver com clareza. e até faz a gente falar coisas que não devia e responder sem antes entender o que tá sendo dito.

então, a gente vai ter que baixar a nossa bola. agora mesmo, enquanto escrevo essas palavras, tô fazendo um trabalho de sossegar o meu coração e lembrar que eu escrevo por um motivo maior que eu mesma, que tem muito a ver com cuidar de você que chegou por aqui de mil formas diferentes, mas tem um ponto em comum comigo, que é buscar um lugar seguro pra atracar o seu barquinho.

e pra você se sentir seguro, eu tenho que passar segurança, mas pra passar segurança, eu tenho que parar de achar que tô sendo ameaçada por mil coisas diferentes, o tempo inteiro, e que talvez eu tenha que manter uma distância segura da minha mesa de trabalho porque vai que a tomada explode e o prédio pega fogo e ai meu Deus vamos todos morrer.

acho que isso não faria você se sentir muito confortado.

por isso, eu baixo a minha bola. eu não deixo pensamentos de raiva dominarem a minha mente. eu não me permito sentir medo. ou, no mínimo, eu treino mandar ele pra longe enquanto eu presto atenção no que tá acontecendo a minha volta, buscando compreender mais do que ser compreendida (taí mais uma referência, dessa vez pra incrível Santa Clara – se você nunca viu Irmão Sol, Irmã Lua, dê esse presente pra você mesmo).

e coisas incríveis acontecem. mesmo. o principal é a empatia. que tem muito mais com o ouvir do que falar. segundo, que você começa a sentir uma coisa doida pelas pessoas que eu só consigo definir como gratidão. tipo, brigada por ter me explicado como você pensa, agora eu entendi. entendi mesmo. entendi de verdade. e olha só, que doidera, não sei o que fazer com isso, mas vi em você um pouco de mim.

porque tá todo mundo buscando ser compreendido, né?

todo mundo quer ser cuidado também.

daí a gente faz esse movimento de novo e de novo, até que chega uma hora que ele vira meio natural… vem aquele gelado subindo pelo esôfago e você já manda um “segura a minha bolsa, querida“, e come um pedaço de chocolate metafórico pra mandar esse Dementador pra longe. você silencia as mil vozes na sua cabeça e tenta escutar, olhar com mais vontade, prestar atenção mesmo. a definição do Dwayne Johnson fazendo academia e gritando FOCUS! toda vez que vai fazer um exercício.

e isso dá resultado. dá mesmo. as coisas mudam. porque a verdade é que todo mundo tem dentro de si essa vontade genuína de cuidar de quem tá perto, mas esse “todo mundo” tá muito confuso com as próprias ideias, os próprios pensamentos. as pessoas não se entendem e não sabem como se expressar muito bem e o resultado é um monte de briga no Twitter que ninguém sabe quando vai acabar. e aí, você passa o dia todo meio tremendo de raiva e vai dormir nervoso e sente que envelheceu uns 10 anos em uma semana.

mas cuidar de alguém é não julgar. vejo só, cuidar é amar independentemente das ações que as pessoas têm no mundo. é desistir de uma sensação ruim na certeza que isso vai ajudar o outro também. porque vai. é, acima de tudo, se disponibilizar pra ouvir mais do que falar, entender mais do que ser entendido, e deixar o coração falar o que você tem que fazer em seguida.

e pode até parecer que ninguém tá muito preocupado com isso (tenho minhas dúvidas, viu?), mas alguém tem que colocar a mão na massa, né?

que seja a gente, então.

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Escrito pelaMaki
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12 Comentários
  1. manie  em novembro 07, 2018

    que texto necessário ♥
    precisamos urgente ressignificar ‘autocuidado’, porque é como você disse: vai além de fazer skin care haha
    eu tava bem pra baixo com tudo o que aconteceu nas últimas semanas, me sentindo incapaz e bastante impotente. não tava vendo graça em nada, nem mesmo nas coisas que eu estudava. parece que elas não tinham mais importância nem força diante de tanta babaquice que vi sendo compartilhada. de uns dias pra cá isso tem mudado e tenho recuperado minha subjetividade 🙂
    acho importantíssimo a gente sentir coisas que classificamos como “ruins”, mas não parar nelas, sabe? eu desabafei muiiito com amigos sobre o que tava rolando, botei pra fora toda raiva, stress e angústia. daí quando tava tudo isso jogado no chão, eu peguei no colo e tentei lidar. só agora tô conseguindo voltar a aproveitar minha vida, até mesmo a fazer a tal máscara de argila hahahah

    um abraço ♥

    • Maki  em novembro 08, 2018

      manie, super entendo, viu? eu passei por isso também. e, aí, fazendo esse exercício de ouvir de verdade, de prestar atenção, eu percebi que os nós que tavam no meu peito foram se desfazendo sozinhos, e quando eu parei de dar tanto ibope pro Datena que vive na minha cabeça (todos temos um, vamos combinar), a coisa ficou mais leve e eu consegui voltar o foco pro que é <3

  2. ana paula  em novembro 07, 2018

    Oi! Cheguei agora ao teu blog e reverberou tanto esse texto em mim.
    Senti vontade de te convidar pra vir pra lavanderia, aqui também tem cuidado!

    http://www.coemergencia.com.br

  3. […] – Como a gente cuida de alguém? […]

  4. Nana  em novembro 02, 2018

    Novamente me deparo com um texto lindo sobre como devemos nos unir e respeitar o próximo como queremos ser respeitado (parafraseando Jesus) e continuo sem entender porque tanta gente sabe a resposta para o caos mas o caos não acaba nunca.
    Voltei com o blog e estou com postagens diárias este mês; se puder, passe por lá.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

    • Maki  em novembro 08, 2018

      é só porque as pessoas tão muito presas nas próprias coisas, Nana. por isso a gente tem que começar de algum lugar, sabe? que seja a gente mesmo <3

  5. Bruna  em novembro 02, 2018

    Oi, Maki!
    Queria só dizer que essa coisa de escutar de verdade, colocando de lado aquela raivinha que a gente às vezes tem dentro de si, desarmadx mesmo, sabe? Ajuda tantoo!
    Hoje eu consigo falar com meu pai por causa desse ato tão simples. Nossa comunicação desde a minha adolescência é uma coisa horrível, ninguém escuta ninguém e eu vivia reclamando dele, mas aí eu pensei “o que EU posso fazer pra tentar fazer isso dar certo ou pelo menos confortável pra nós dois?”, então passei a escutar o que ele estava disposto a falar, mesmo que eu não concordasse, passei a escutar tudinho, porque era tudo que ele tinha, né? Isso mudou muito nossa relação. Sei que ele não concorda com meu modo de viver (não militarizado, ele é pm), mas deixo ele falar porque ele se sente bem com isso então também fico bem, se ele me deixar falar (o que aconteceu, pasme), eu falo, senão, deixo estar e tá tudo bem; talvez ele se sentindo escutado a raivinha que tem dentro dele também diminua, né?

    post liindo, Maki <3
    beijoss
    N E O D E S V A R I O

    • Maki  em novembro 08, 2018

      nossa, Bruna, É ISSO! tudo bem que você não concorde com ele ou ele com você, mas só dele saber que tem alguém ouvindo o que ele tá falando… porque eu tenho certeza que ele não se sente visto, sabe? e esse gesto, tão pequeno, faz uma diferença gigante. é por isso que o relacionamento melhora e as coisas ficam mais leves. e a gente fica mais em paz, sabe? é nesse lugar que a gente se une!

  6. Rebeca  em outubro 31, 2018

    Oi Maki!! Parabéns pelo seu blog, achei você pela blogosfera 😉 Eu achei o conteúdo que você trás aqui bem original e é fácil de te ler, agradável. Acho sim que estamos todos procurando por compreensão, aceitação.. Todo mundo fazendo o melhor que pode, mas ainda assim se sentido meio perdido. Acho interessante quando você fala de controlar a negatividade da mente, eu venho numa fase assim.. cada vez mais querendo trazer consciência pro que eu penso e pras minhas ações, colocando mais amor nos meus dias!! Parabéns pelo seu post, curti o seu cantinho por aqui. Beijo

    • Maki  em novembro 08, 2018

      oi, Rebeca! esse exercício é tãaaaaaaao legal! porque você começa a perceber como a sua cabeça fica gerando uma sensação que não melhora se você não reverter isso, sabe? e é possível <3

  7. Loma  em outubro 31, 2018

    que seja a gente então, Makizinha! que lindo texto sobre amor em tempos difíceis. o medo tá tão grande que a gente só tá espalhando e reproduzindo, sem pensar no quanto isso só piora o sentimento geral e individual sobre as coisas. obrigada por esse texto, obrigada por ser você!

    • Maki  em novembro 08, 2018

      isso! que seja a gente, e vamos juntas <3
      brigada por fazer parte da minha vida!