inspiração
algumas palavras sobre depressão desancorando

ainda bem que hoje eu me vejo assim 🙂

se eu me concentrar bastante, ainda lembro da sensação de abrir os olhos de manhã e não ver cores. era uma coisa meio louca, porque eu sabia que elas estavam lá, por todos os lados, mas parecia que tinha um filtro preto e branco colado no meu rosto, que eu não conseguia mais tirar do lugar. me faltavam forças, falta de vontade e de entendimento.

tem muita gente falando sobre depressão, ultimamente, e eu tô achando isso incrível. mesmo. é um sinal que a gente tá tirando da frente um tabu bem besta sobre como dizer o que a gente sente é errado e todo mundo tem que viver uma vida incrivelmente feliz sem resolver os tormentos da sua própria mente antes. confesso que era bem difícil pra mim imaginar ser feliz sendo que eu mal conseguia distinguir o azul do vermelho.

o mundo evoluiu muito desde que surgiu pela primeira vez nessa coisa maluca que a gente chama de universo, mas o que me chama atenção é que, mesmo com todas essas mudanças, as pessoas estão tristes. elas se sentem sozinhas, abandonadas, elas não entendem porque sentem o que sentem e como lidar com isso, elas não têm motivo pra acordarem de manhã. elas se machucam. elas morrem.

pensar em morrer parece mesmo a melhor solução quando o mundo que você vê não faz sentido algum.

mas a morte também não é a melhor dos desfechos, porque quando a gente fala em sensação, em coisas que você sente e experiencia longe daquilo que acredita ser palpável (que dá pra tocar, sabe?), é difícil imaginar que é resolvida de verdade quando você decide que é hora do seu corpo sair de cena e passar as próximas décadas debaixo da terra.

eu acho incrível, mesmo, que as pessoas estão descobrindo um lugar de sinceridade para falar sobre o que elas sentem, sobre o que pensam, e encontrando outras que pensam e sentem as mesmas coisas que elas, e percebendo que, no final das contas, elas não estão sozinhas.

a gente subestima um pouco o quanto as coisas que a gente sente têm um efeito no nosso dia a dia, e parece perceber que isso é assim só quando tudo beira o “tarde demais” – e você se vê diante de um precipício (literal ou metafórico), pronto pra dar o próximo passo em direção abismo.

reconhecer que o sentimento tá ali é parte do processo, sabe? é o que te coloca diante de um caminho importante, entre escolher fazer diferente, em mudar o que você sente de forma permanente, ou continuar experienciando isso tudo, do jeitinho que você tá percebendo agora.

é, eu sei que parece meio loucura – e pode até soar um pouco como ingenuidade ou cinismo – dizer que tudo começa e termina em uma escolha nossa. mas é verdade. seria subestimar demais a nossa própria capacidade imaginar que somos todos vítimas de um mundo cruel e obscuro, em que absolutamente nada vale a pena e por que diabos a gente veio pra cá, pra começo de conversa?

a depressão pode mesmo ser vista como um cachorro negro que acompanha a gente pra todo lado, mas a gente tem uma escolha corajosa pra fazer, em algum momento: ou a gente manda ele embora, e de novo e de novo, até ele parar de insistir em continuar seguindo a gente pra tudo quanto é canto, ou deixa ele aí, vendo ele crescer e crescer até ficar tão grande que não é mais você caminhando com ele, mas ele caminhando com você, te puxando pela coleira e acelerando o passo a cada segundo.

nessas horas, sempre me vem na mente quando o eu li o livro do Tyler Oakley e terminei com o coração apertado, porque o que eu vi ali não foi uma saída pras coisas que ele sentia e que ele decidiu compartilhar com todo mundo. e eu lembro de pensar “meu Deus, as pessoas vão ler isso e talvez elas também achem que não tem saída“. e não é só ele, tem um tantão de gente que acredita, mesmo, que esse é um mundo sem saída e o desespero que a gente sente todo o dia vai nos fazer sufocar mais cedo ou mais tarde.

e eu volto também praquele Ano Novo, de 2014 pra 2015, quando eu percebi como eu tava fundo, no meu poço imaginário, mas ainda assim olhei fixamente pra câmera, armei um sorriso de canto e bati uma foto, um único pensamento martelando na minha cabeça: eu vou sair dessa. eu vou sair dessa. eu vou sair dessa eu vou sair dessa eu vou sair dessa eu vou sair eu vou sair eu vou.

a depressão não é, nem nunca foi, maior do que eu. o que eu sinto nunca foi nem nunca será maior do que eu. antes de qualquer sensação, qualquer tristeza, qualquer filtro em preto e branco, eu existo, eu sou eu, eu sou. e eu tenho a capacidade de mudar de ideia e querer viver de forma diferente. de sentir coisas diferentes do que eu sentia ou que eu ainda sinto.

sabe o que é um milagre? o milagre acontece quando a gente muda de ideia sobre a gente mesma, e se coloca mais perto sobre a verdade da nossa existência do que sobre os dizeres do mundo a nosso respeito. isso é milagre. foi um milagre quando eu decidi sair do lugar escuro e úmido onde eu tava e eu continuo vendo milagres, todos os dias, ao desistir de sentir coisas ruins pra viver mais perto de mim mesma.

antes de mais nada, eu sou.

tudo isso pra dizer que… parece que a depressão é um bicho de sete cabeças e que o problema é a sociedade, e as pressões que ela coloca na nossa cabeça e mais um monte de coisas, mas tudo começa com uma decisão nossa, tomada todos os dias: eu quero continuar sentindo isso ou eu quero sentir algo diferente?

tem esse primeiro passo. e a partir dele, muitas coisas podem acontecer, sabe? eu, por exemplo, percebi que seria bom começar a tomar um remédio pra me ajudar a recuperar a força e o senso de direção. foi uma nuvem que saiu da frente dos meus olhos e eu comecei a ver com mais clareza. depois disso, comecei a topar mais a ajuda que estava sendo oferecida, e eu percebi que ia precisar pedir com mais franqueza no coração também. ei, eu preciso de ajuda. por favor, me ajuda, eu não sei o que fazer. só me ajuda. ei, tô sentindo isso. como eu faço? o que eu faço? como eu saio disso?

eu pedi muita ajuda. pra Deus. pra quem tava do meu lado. pra psicóloga. pro psiquiatra. eu fiz perguntas (muitas vezes sem nem precisar dizer uma palavra sequer) e as ferramentas foram aparecendo. eu conheci a Coexiste. eu aprendi a olhar melhor pro que eu sinto e eu entendi que o que eu queria mesmo era aprender a cuidar. eu treinei muito e hoje eu percebo que tudo o que aconteceu comigo foram escolhas que eu fiz ao longo do tempo e que eu sou livre pra escolher diferente a partir de agora. e de novo e de novo, até que escolher pelo quentinho no coração me parece muito mais natural do que continuar usando os óculos preto e branco – com a vantagem extra de que, agora, eu posso também ajudar aqueles que, como eu, também se esqueceram do caminho um dia.

nenhum pedido sincero fica sem resposta. confia. confia que isso é assim e que se você pedir ajuda, ela vai aparecer. queira sentir coisas diferentes do que você sente hoje e considere, por um segundo que seja, que você merece uma vida colorida. às vezes, só esse questionamento já mostra pra você o caminho pra uma ponte que você nem sabia que existia, mas tava bem ali, na sua frente.

tem muitas formas de você fazer isso. na verdade, o formato não importa. mas eu acredito na sua capacidade de fazer esse pedido sincero no seu coração e seguir a jornada corajosa em busca de uma mudança no seu jeito de pensar.

se tudo estiver muito difícil, você pode sempre ligar pro CVV, o Centro de Valorização da Vida, discando 188 – ele tá lá pra te ajudar. você pode falar com um amigo, com alguém da sua família. mas, por favor, não pensa que você tá sozinho. você não tá. as pessoas tão, sim, muito distraídas consigo mesmas e com as suas pequenezas, mas isso não significa que elas também não têm a capacidade de te ajudar nesse caminho, sabe?

tem que ter coragem. mas isso eu sei que você tem de sobra. tem que ter um primeiro passo. e tem que ter paciência. às vezes, leva um tempinho pra gente concretizar esse pedido, essa mudança. mas o mais importante é saber que ele é possível. e ele é, muito, possível.

eu acredito em você.

e eu confio que, independentemente do caminho, você vai encontrar a paz. pode ser que demore. pode ser que leve um tempo até você encontrar esse desejo sincero no seu coração. mas não importa o tempo, tá tudo bem. a gente vai chegar onde tem que chegar.

tá bom?

(no minuto em que eu terminei de escrever esse post, entrei no Twitter e me deparei com esse quadrinho, que, pra mim, representa exatamente tudo o que eu falei ali em cima sobre o cachorro preto. não consigo definir isso com outra palavra se não abundância, por ter a mão as ferramentas mais incríveis pra passar a mensagem com clareza e ficar com o coração em paz.)

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Escrito pelaMaki
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15 Comentários
  1. […] quando unida às demais partes, mas podemos escolher como encarar as dificuldades – pois a vida é difícil mesmo e sempre será – e dar-lhe esse bendito propósito. Estamos aqui para construir algo juntos e […]

  2. Caroline Abreu  em agosto 13, 2018

    Incrível. Há pouco mais de um ano eu vivi o meu primeiro – e espero que último – episódio de depressão, e a minha sensação era muito parecida com essa sua, de não enxergar as cores. Eu me lembro de chegar em casa do trabalho, deitar na cama e sentir que tanto fazia seguir vivendo ou não, pq tudo parecia tão vazio e sem sentido. Eu tive a “sorte” de ter o meu noivo ao meu lado, que insistiu muito para que eu percebesse que aquilo não era nem um pouco normal e que eu precisava procurar ajuda. E quando eu finalmente procurei e aceitei que havia um problema e que eu precisava tratá-lo, a minha vida mudou. É curioso pensar que faz só um ano que isso aconteceu, pq hoje eu me sinto outra pessoa. A medicação, a terapia, o mindfulness e as leituras que eu acabei encontrando por conta da depressão não só me tiraram desse poço como me colocaram em um lugar que hoje tem muito mais a ver com o meu verdadeiro eu, com a minha essência. É louco, mas parece que eu “precisava” passar por isso para finalmente chegar a este ponto onde eu me sinto tão bem, melhor do que jamais me senti. Obrigada por trazer esse texto pra nós. E se alguém que veio aqui ler os comentários está passando por essa escuridão no momento, saiba que tudo pode melhorar. Não tenha medo, vergonha ou receio de pedir ajuda. As cores podem voltar. <3

    • Maki  em agosto 23, 2018

      aaaaa Carol! que comentário, mesmo! brigada por isso, de verdade. eu nem sei o que falar. as cores voltam, sim <3

  3. Fernanda  em agosto 09, 2018

    Obrigada ❤️

    • Maki  em agosto 17, 2018

      ❤️

  4. Case  em agosto 09, 2018

    Obrigado por isso Maki,
    Eu me deparei com esse quadrinho tambem, e hoje em dia é como eu me sinto, mas assim como você disse, eu vou sair dessa, é só procurar a ajuda necessária, e seus posts são um pontinho de luz no meu dia… Obrigado

    • Maki  em agosto 17, 2018

      força, Case!❤️

  5. iza  em agosto 07, 2018

    Foi a melhor coisa que li! Você é maravilhosa!
    Infelizmente eu ainda dependo de remédios, mas a cada dia eu vou aprendendo sobre lidar melhor com as crises. Para uma pessoa que sofre com depressão essas tuas palavras são como um grande abraço! Um cantinho sem julgamentos, olhares tortos. Tão bom vir aqui e ler algo tão maravilhoso!

    Obrigada, Maki!
    Continue escrevendo e tomando porque você me salva e salva muita gente <3

    • Maki  em agosto 13, 2018

      Iza, tenho certeza que os remédios são importantes pra você hoje, por isso, sou muito grata por eles ❤️
      e também confio que, um dia, isso tudo vai ficar tão distante, porque você já vive segundo quem você é de verdade, que também vai conseguir olhar pra todo esse caminho com gratidão!

  6. Laysla Fontes  em agosto 06, 2018

    Obrigada, Maki! Mesmo. <3

    • Maki  em agosto 07, 2018

      brigada você <3

  7. Gabriela  em agosto 05, 2018

    Sempre venho pro seu blog quando não sei mais o que fazer. E sempre encontro um tipo de alívio. Eu ainda não sei o que fazer para levantar da cama. Mas é legal saber vir aqui e ler uma palavra amiga.

    • Maki  em agosto 07, 2018

      Gabi, eu prometo que você vai sempre encontrar um conforto aqui. e se isso te ajudar de alguma forma, pra mim é o suficiente, e eu cumpri a minha missão <3

  8. Fernanda Maria  em agosto 05, 2018

    Eu quando leio alguém que superou a depressão logo vou correndo ver em como mas logo percebo que é aquela depressão passageira que acaba.
    A minha eu tenho há mais de 17 anos, já cansei de tanto pedir ajuda, em ir em psicólogas que só queriam tratar sintomas ao invés de me curar porque elas mesmas não acreditavam que eu teria cura.
    É fato que essa doença me levou um tudo mas o mais importante é que eu não vivi o que os outros viveram,
    Nunca tive namorado, não sei como é beijar alguém que você ama e ele te ama, não sei, acho que beijar foram duas vezes na vida toda e tenho 37 anos. Nunca trabalhei de verdade, não tenho formação, não tenho amigos e sim, morro de inveja branca de quem se encontra com amigos apenas para estar junto, rir.
    Eu não sou de falar muito, eu escrevo mais, muito mais
    Tive muitos traumas não curados, quando falo deles sempre me falam “Mas é passado, acabou, esquece” mas é duro esquecer o estrago que fizeram na sua cabeça e na sua vida, cara, eu tive medo de homem até a adolescencia, até depois dos 18 anos, eu não entrava numa loja que tinha homem, eu tremia, tinha medo,muito, então, esse tipo de coisa, o estrago que causam em você é difícil esquecer. Dai veio a depressão,porque eu tive um amor platônico mais por minha causa que tinha medo e foi um amor maior que tudo, dai veio a depressão né, quis morrer, a dor quando ele foi embora foi tão imensa, eu não conseguia respirar sabe, implorava pra morrer porque doia demais. Mas eu costumo contar sempre que, eu planejei me matar, quase me matei mas encontrei uma mulher na igreja que era espirita e psicologa, do nada estava contando tudo e pronto, tudo mudou…eu tive muita sorte na minha vida pelas pessoas que encontrei,tive mesmo, elas foram as que me seguraram aqui nesse mundo mas hoje, estou sozinha, porque a escola acabou,fiquei em casa, dai me vi sem ninguém,minha familia não entende, não pode me ajudar porque, só damos aquilo que temos né. Tudo o que precisava era de um emprego hoje…e eu peço isso sempre, Deus como eu peço ajuda, porque não consigo sair como todo mundo e ir atrás de emprego, mando curriculos pela internet e só, mas toda entrevista que fui e foram 4 esse ano só, nada de nada e a situação piorou muito…
    Resumindo,
    Hoje me encontro em tal situação que sim, penso em morrer muitas vezes porque, sozinha, numa casa onde parece que te sugam e te deixam pior e sem ter pra onde ir e nem conseguir ir até um simples médico, como ver uma saída?
    Enfim, ainda espero conseguir escrever o post…aqui já foi um livro, não sei resumir texto hahahaa sempre fui reprovada nisso.

    • Maki  em agosto 13, 2018

      Fê, eu fiquei um tempão pensando em tudo o que você escreveu, e acho que o me deixa em paz é saber que é possível sair disso permanentemente e viver quem a gente é de verdade. basta fazer as perguntas e querer ouvir as respostas ❤️