eu nem comecei, mas você já sabe do que eu tô falando. é sobre aquele dia em que a gente acorda e parece que tá tudo bem. que não tem nada errado, e as coisas acontecem conforme o planejado. você toma o seu banho no tempo certo, faz o seu café da manhã sem atrasos, chega no ponto de ônibus e nem precisa esperar tanto pro seu chegar. tem um pouco de trânsito, mas estamos falando de São Paulo e é impossível não tem algum trânsito nessa cidade. tem também uma dificuldade em pegar o elevador sem parecer que tá todo mundo enfiado numa lata de sardinha, mas você chega no seu andar sem problemas e uns dois minutos antes do horário você já tá no computador checando os seus e-mail sem muito entusiasmo.
o dia passa e você não tem muita ideia de por onde começar o tanto de coisa que você tem pra fazer e decide ficar um tempo no Twitter ao invés de encarar o trampo. e vai crescendo no seu coração aquele nervosinho característico de quem tá procrastinando e encontrando motivos pra se distrair. mas não adianta, você não tem ideia do que fazer primeiro e não vê motivação pra riscar qualquer uma das 15 tarefas que você tem listada pro dia no seu bullet journal milimetricamente pensado. você se pega olhando pro vazio mais vezes do que gostaria e percebe que passou a última hora pulando de vídeo em vídeo no YoTube. volta pra casa sem prestar muita atenção no caminho nem na playlist que tá tocando no fone de ouvido. janta. coloca o pijama. às vezes, toma um chá. dorme com a sensação de que tá tudo meio nublado e que você não tem muita noção do que tá fazendo.
nem sempre a gente sabe a resposta pras coisas e achar que essa resposta tá na nossa própria cabeça é um engano dos grandes. a gente tem tanta certeza de tudo que fica difícil entender que o que nos falta é propósito, aquela força motivadora que nos ensina ao mesmo tempo que coloca a gente numa posição de devoção. taí uma palavra que eu nunca achei que digitaria com tanta alegria. devoção.
a cabeça é meio maluca mesmo e tem dias que ela parece muito mais maluca do que o normal e você não sabe muito bem pra onde ela tá indo, o que que ela tá fazendo e o que você quer tirar dessa doidera toda. aliás, hoje eu ouvi uma música da P!nk que tocou o meu coração lá no fundinho porque tem uma parte que diz assim: Where does everybody go where they go?. a frase pode ser traduzida de dois jeitos, na minha concepção:
pra onde as pessoas vão quando partem? (no sentido de morte)
ou
pra onde as pessoas vão quando saem? (no sentido de dizer que vão a algum lugar)
e confesso que a minha vontade foi de sair por aí fazendo essa pergunta pra todo mundo, de qualquer um dos jeitos. mas o que mais me tocou foi o segundo. pra onde as pessoas vão quando dizem que saem? quando dizem que estão indo pra algum lugar? quando dizem que estão indo? pra onde elas vão? onde querem chegar? o que querem fazer? o que tem nesse lugar, nesse final, no fim dos trilhos? o que tem lá? o que a gente tá buscando? e o que tem que fazer pra ir até lá?
afinal, o que diabos eu tenho que fazer primeiro pra chegar onde quero chegar?
e, segundo: aonde é que eu quero chegar?
é. a gente fica meio confuso, às vezes. e eu sei o quanto isso pode parecer assustador, essa mente que não cala a boca nunca e fica distraída com qualquer coisa e te deixa meio sem vida, passando dia após dia fazendo as mesmas coisas de um jeito meio torto, com a sensação de que você nunca tá em dia com o que tem que fazer e nunca encontra o fim da sua lista ‘to do’ (e ainda acha bonito se gabar do tanto de coisas que tem ali, sendo que você morre de medo de começar qualquer uma daquelas tarefas e não conseguir terminar a tempo).
tem um negócio de não saber. mas não num sentido legal de ‘deixa o mundo me mostrar o que ele precisa pra ficar bem’, mas de ‘pelo amor de deus alguém me diz o que eu tenho que fazer com a minha vida’. alguém me dá uma regra pra seguir, um limite, um padrão pra adotar, um segredo de produtividade que acabe com os meus momentos de procrastinação.
mas a única resposta clara pra isso é uma: propósito. é querer parar de olhar pra si mesmo pra prestar atenção no entorno. e escutar. ei, olha só. isso aqui tem que ser feito primeiro. ‘olha, acabou de chegar um e-mail com uma resposta que eu precisava’. ‘ei, você quer ajuda com essa planilha? eu sei como configurar’. jantar? ‘sei fazer macarrão, serve?’ não é ‘o que eu tenho que fazer‘ é ‘o que você precisa?‘.
é olhar pra fora. pra fora pra fora pra fora. sai da sua cabecinha maluca. você não tá distraído porque tá entediado, é falta de olhar pra fora, pra ouvir aquela vozinha que diz, bem lá no fundo, o que tem que ser feito. no fim, acho que é bem isso, é alguém que guia a gente de um lugar de calma, e não de nervoso porque você quer abraçar o mundo. tem alguém te contando tudo, menino. fica quietinho um minuto que vem. olha pra fora. a confusão some.
pega aqui na minha mão. tá tudo bem, viu? eu tenho repetido muito isso, ultimamente. mas é porque tá mesmo. você só precisa aceitar. você tá sendo cuidado. tá sendo amado já. tá tudo certo. só para um minuto. olha pra fora. respira fundo. você já sabe o que tem que fazer.
e não tem nada a ver com você.
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21 Comentários
Era tudo que eu precisava ‘ouvir’!!! Obrigada pelo texto maravilhoso!!! Estou num momento muito difícil, e a sensação é exatamente essa: perdida!! E a procrastinação tá sendo minha companheira… por sinal, me fazendo muito mal…Voltarei mais vezes aqui…já gostei do blog!
volta sempre, Cris! espero que o que você encontrar aqui te ajude mesmo <3
Maki, vi seu texto sendo compartilhado por amigas no facebook. Pensei comigo, três pessoas seguidas compartilharam, acho que preciso ler isso, até porque esse título deve falar sobre mim. Dito e feito, ele falava. As vezes é bem isso que precisamos, respirar e parar de pensar. São tantas reflexões e tentativas de acertar, quando na verdade nada disso é uma obrigação. Abraçar o mundo é algo que sempre tento fazer, resolver todos os problemas do mundo porque gosto, é algo que faz com que eu me sinta bem, mas essa carga as vezes é demais.
Obrigada por escrever isso!
A partir de agora passo a te acompanhar em todas as redes e tento entrar aqui pelo menos uma vez por semana.
G r a t i d ã o por teres escrito algo que foi feito sob medida pra mim e para as coisas que tenho vivido no momento <3.
Katy, que comentário mais maravilhoso. brigada por esse feedback incrível! eu acho que nada é tão incrível quanto saber que as coisas que eu escrevo conseguem ajudar alguém! brigada por me acompanhar <3
Quando o texto cai como uma luva no coração. A dias me sinto assim, meio “sei lá”… mas esse texto me ajudou muito! Obrigada <3
brigada você por esse carinho, Lary <3 fico feliz que você tenha gostado do texto e que ele te ajudou!
[…] – Pros dias que a gente estiver meio confuso […]
Eu estou me sentindo meio mal nos últimos meses, e não sei bem a razão. Li sua postagem com o coração na mão por saber (e perceber) que ela estava falando direto comigo, mexendo comigo. Precisava muito ler isso. Precisava saber que as coisas que tenho sentido são “comuns”. Obrigada. Obrigada!
Mônica, sua fofa! sim, elas são comuns, mas nem por isso são obrigatórias, sabe? a verdade é que isso tem uma saída e a gente pode viver todos os dias cheias de alegria, sem nem lembrar mais que existem uma coisa tão antiga como a tristeza <3
Esse texto veio bem a calhar… é sexta, as coisas não estão saindo como o planejado, em vez de procurar me ajudar, deixei de lado… mas vou retomar agora.
força, Carol! respira fundo e olha ao redor! eu tenho certeza que tá cheio de gente aí precisando de você <3
Vir aqui me transmite uma paz, sinto-me tão humana… Como sempre me identifiquei muito com o seu texto.Principalmente com o trecho inicial, quando temos a sensação de que está tudo indo bem…as coisas estão dando certo, a chegada do trabalho ocorre como de costume. Quando me sinto entediada, morna, aérea, como costumo definir, saio de casa pensando “Todo dia ela faz sempre igual…”, vem aquela sensação ruim, de rotina, o carro vai no piloto automático, enquanto tento organizar meus pensamentos , então decido ou ficar mergulhada neles e ter um dia realmente morno, quase frio, ou coloco uma música animada, vou cantando até chegar no trabalho, dou uma suspirada quando entro e faço o que tem que ser feito. Nem sempre com empolgação, as vezes olhando para o relógio, minuto a minuto, em outras me envolvo tanto que a hora voa…fases…como é bom saber que são fases…e basta tão pouco para surgir um sorriso, uma alegria gratuita…a vida é mesmo cheia de surpresas… =)
então, volte mais vezes, Sil! a verdade é que tem como a gente manter uma rotina sem cair nessa coisa de morno. por mais que tenham mesmo fases em que as coisas parecem melhores e ora piores, é importante saber que dá pra fazer tudo de um mesmo lugar de alegria e entrega com tudo e todos. mas pra isso a gente precisa lembrar de olhar pra fora, né?
Oi de novo Maki! Que texto lindo, você tem toda razão. Nós nos desesperamos tanto procurando dentro de nossos mundinhos, da nossa cabeça, a resposta para todos os “por quês?” que não lembramos de olhar ao redor. Às vezes a resposta está bem diante do nosso nariz, e a neurose faz achar que ela está no meio de uma to-do list gigante. Muito obrigada por esse texto tão fantástico ♥ você é uma pessoa iluminada!
Andiara, brigada você por esse comentário tão fofo! sério, é isso mesmo. a gente esquece real de olhar em volta e prestar atenção no que tá rolando ao lado, sabe? e parece óbvio, né? mas é um treino mesmo, da gente mudar o foco de dentro pra fora.
Ai meu Deus eu precisava tanto disso hoje !!!!eu precisava tanto ler algo assim para me encorajar para sair da procrastinação para sair da minha zona de conforto… o negócio é olhar para fora e seguir… muito obrigada por esse texto hoje adorei!! Aliás todos seus textos batem muito comigo com minha vida obrigada por escreve-los!!
brigada você por esse comentário tão amoroso, Manu ♥
Ai Maki, você e esses textinho gostosos de ler que tocam a nossa alma (nem coração é). Parece que você sempre fala sobre o que eu estou passando. Já falei isso algumas vezes, mas é muito verdade. Fico até intrigada se é coincidência ou mágica haha
hahahahahahahaha é sintonia ♥
Como é bom ser abraçada por essas palavras <3
É bom alguém nos dizer que a culpa de estarmos assim, não é nossa. Pq eu sinceramente sempre achei que fosse minha culpa eu estar me sentindo perdida. Mas talvez seja essa questão de olhar pra fora.
Obrigada Maki <3
Beeeijos
Meraki | Emy Teranishi
o mais incrível, Emy, é a gente perceber que a culpa que a gente acha que existe, não existe de verdade. não tem culpa, é só um momento de confusão e tá tudo bem e às vezes a gente só precisa sair da nossa cabeça pra perceber que tá tudo certo e o que a gente sente tem saída.