como eu consigo escrever tanto?

muitas vezes eu me pego sentada na frente do computador com um monte de coisas pra falar, mas as palavras me fogem. parece que eu tenho que forçar uma barra pra coisa sair e se o post não flui – se eu não consigo escrever o que tá na minha cabeça e ficar com o coração tranquilo – tem alguma coisa errada. fica um peso no peito, uma sensação esquisita.

quase um sufocamento.

outro dia eu tava transcrevendo uma reunião do trabalho e, depois de três horas, eu percebi que tinha escrito mais de 10 mil palavras. é muita coisa. são 15 páginas de Word. como os meus dedos conseguiram acompanhar o que tava sendo dito foi um mistério (um que eu me pergunto como acontece várias vezes ao dia), mas ainda assim, rolou. curiosamente, tudo o que foi dito naquela reunião eram coisas que tavam na minha mente, e colocar aquelas palavras no “papel” me deixou muito em paz.

tem horas que eu me pergunto mesmo como é possível eu escrever tanta coisa, o dia todo. eu escrevo e tomo chá, é o que diz na minha bio. e, de fato, o que eu faço no meu dia não foge muito disso. eu escrevo e tomo chá. e quando não escrevo e tomo chá estou buscando palavras pra escrever e chás pra tomar (acompanhada, de preferência).

eu acho que já comentei aqui outras vezes como eu sinto que tenho uma facilidade muito maior em falar sobre o que sinto através da escrita, e não tanto na fala (apesar de já terem me dito que eu sou boa nas duas coisas e tudo isso não passa de uma imaginação da minha mente, bem, imaginativa). então, escrever sempre foi um refúgio.

é estranho, porque, mesmo em um mundo com tantas mídias diferentes, com tantos formatos diferentes, eu ainda encontro um acalento maior na escrita. essa semana, me perguntei muito como eu consigo escrever tanto, e encontrar tantas palavras pra digitar, sabe? mas, sei lá, parece que o teclado acompanha mais as coisas que passam pela minha cabeça (por mais que escrever à mão seja igualmente incrível).

então, eu escrevo.

eu faço matérias, eu tuíto, eu escrevo newsletters, eu posto no blog, eu escrevo até nas fotos dos Stories (você bem sabe que me dá um nervosinho falar muito por ali), eu faço legendas. eu escrevo e tomo chá. não sei.

divagando sobre tudo isso, eu pensei em algumas coisas que queria compartilhar com você:

1. escrever é treino: eu já escrevi tantas milhares de palavras nessa minha vidinha, que é mesmo muito fácil sentar e escrever um texto inteiro sobre qualquer assunto que você me der. às vezes, sai meio truncado. às vezes, sai cheio de vícios de escrita. às vezes, eu não fico com o coração 100% em paz. mas ele sai.
2. a exigência com a escrita é real: eu percebi, desde nova, que sou muito exigente com a escrita, minha e dos outros, e tenho um certo nervosinho com textos que eu não sinto que são bem escritos. você começa a buscar por coisas diferentes pra satisfazer esse seu desejo pela boa escrita, sabe? não é à toa que, por um tempo, eu era obcecada por sonetos e dramaturgia antiga (por muito tempo, o meu soneto favorito era esse aqui, de Camões).
3. querer ler de um tudo também faz parte: como eu sempre li muito, eu criei, desde cedo, um repertório gigantesco de palavras pra usar por aí. tinha que ter algum lugar pra colocar tudo isso, né?
4. observar o mundo é legal: eu lembro de, já novinha, ver alguém pegar um caneta de um jeito tão bonito que eu ficava tentando encontrar um jeito de descrever aquilo e criar uma imagem mental que fosse condizente com o que eu tinha visto. era muito difícil (alô, perfeccionismo!), mas ainda assim, eu tentava. por isso, sempre fui muito observadora. ficava na minha, só olhando, meio também por medo de mostrar a minha cara, e criando um acervo de imagens mentais que eu queria tentar colocar no papel depois.
5. eu achava que tinha que escrever sozinha: eu meio que tinha uma certeza no meu coração de que escrever era uma coisa muito solitária. eu comigo mesma, o meu computador, uma xícara de chá e as ideias que rodavam na minha mente. mas tem um tempo que eu percebi que escrever sozinha não é legal. eu posso encontrar um lugar, dentro de mim, em que eu me sinto junto das pessoas, em que eu considero todos, e, com essa consideração em mente, escrever um texto que tem valor. sabe?

acho que todo mundo já alimentou em algum momento a ideia do escritor atormentado, que precisa se trancar num quarto escuro pra escrever um livro e colocar tudo o que ele quer no papel. mas escrever sozinho não tem graça.

eu já escrevi muitas palavras, e provavelmente escreverei muitas mais, mas percebi que prefiro muito mais aquelas que eu escrevi com essa sensação de junto, de que eu tô fazendo alguma coisa com propósito e que as pessoas vão usufruir disso junto comigo. parece que faz mais sentido, sabe? mesmo que esteja só eu, o meu computador e a minha xícara de chá no quarto, tem um lugar que eu me lembro que eu não sou sozinha, e eu busco por esse ponto de inspiração pra colocar o que eu tanto quero no publicador (qualquer que seja ele). tem horas que eu meio que esqueço disso, e aí o texto não sai mesmo. tem outros momentos em que eu não tenho certeza do que quero dizer, e aí também fica difícil. tem horas que eu me distraio muito, daí levo o dobro do tempo pra fazer uma coisa tão simples.

mas tem horas que flui, e digitar 10 mil palavras vem bem facilmente (sejam minhas ou dos outros!).

mas acho que… o segredo é só tirar da frente o que eu tô querendo, entende? encontrar esse lugar de escrever tanto, independentemente do que seja, só acontece mesmo quando eu consigo parar de pensar nas minhas coisas, no que eu quero e não quero, e lembro que tem um propósito no que eu tô fazendo, e que tem pessoas fazendo isso junto comigo e pessoas que vão usufruir disso comigo.

sei lá, eu tava com esse assunto na mente, e o clima tá gostoso, e eu tava tomando um chá de frutas vermelhas bem do bom e pensei que seria legal compartilhar com vocês um pouco mais desse processo, desse meu estímulo pra escrever tanto. tomara que isso ressoe aí do seu lado da tela e você se sinta inspirado a tirar da cabeça algumas palavras bonitas também.