cotidiano

Eu sempre tive muito na mente a ideia de que eu merecia ser vista por todos. De que valia a pena as pessoas reconhecerem como eu sou foda e coisa e tals, de como eu queria e deveria ser notada. Eu achava que era sempre subestimada pelo outro, que sempre passava desapercebida, mas que uma hora todo mundo reconheceria a minha grandeza.

No meio de tudo isso, eu deixei passar um ponto muito importante: ao mesmo tempo que, em algum lugar de mim, eu queria, de fato, ser vista, em outro muito maior eu morria de medo de que isso acontecesse. Na verdade, eu ainda morro de medo que isso aconteça.

Diário #64 - Para ver e ser vistaFoto: Cassio Crow Fotografia

Pode parecer muito irônico e controverso, mas a verdade é que ser vista dá muito medo. Parece que a gente fica exposta demais e que é difícil esconder qualquer coisa que seja quando a gente é vista. E, na real, não dá mesmo pra deixar pedra alguma sem ser revirada.

A gente aprende a passar a vida inteira se escondendo, e alguns compram essa ideia muito mais do que os outros (eu fui uma dessas, garanto). No fim das contas, a gente fica com aquela vontade de ser vista de verdade, sem saber ao mesmo tempo estamos criando um monte de formas de nos escondermos. Como consequência, a gente também não vê o outro e não só porque ele também tá se escondendo, mas porque a gente só entrega o que recebe. Se eu me escondo, como é que eu vou ver alguém? Não dá, né? A conta não fecha.

Eu não queria usar a palavra ‘difícil’ aqui, porque a dá a sensação de sacrifício e não é bem essa a intenção. Mas a questão é que complicado mesmo a gente juntar coragem pra sair dessa caixinha. Parece que se expor é um pecado, que é errado e que faz a gente ficar vulnerável a qualquer tipo de ataque – e muita gente vai dizer que é isso mesmo, que quando você se abre um pouquinho vem logo uma pancada na cabeça pra lembrar a gente do nosso lugar.

Se eu sou aberta demais, isso é um problema; se eu sou fechada demais é um problema também. Nunca tem uma medida certa, um parâmetro que é ‘aceitável’. Na visão dos outros você sempre é um ou outro. Não tem meio termo.

E ‘ser visto’ é algo que vem de dentro para fora. Se você não quiser, não vai acontecer. E ponto final. Não tem discussão. Mesmo. Se você quiser, o primeiro passo já foi dado. Agora é treinar sair dessa casinha e olhar pro outro também. É se abrir sem medo de ‘dar ruim‘, porque, bem lá no fundo, a gente sabe que isso não vai acontecer.

Dá medo. O corpo treme todo, parece que o coração vai explodir, até bater o dente a gente bate. Mas a gente só sente tudo isso porque é diferente do que a gente conhece. É o tal sair da zona de conforto, sabe? Mas num nível muito maior do que pular de paraquedas ou fazer aquele curso de artes, quando você acha que não tem talento. Quando você passa uma vida inteira se escondendo, é claro que vai dar muito medo sair ali da sua caverninha aconchegante. Mesmo que lá dentro tenha um monte de goteira e faça um frio de congelar o nariz. Mas a gente prefere ficar com o que conhece porque não sabe o que o desconhecido vai trazer.

Mas isso é muito contraditório mesmo, né? É claro que a gente não sabe o que o desconhecido vai trazer. A gente só vai saber quando conhecer… quando tentar. E tudo bem, pode ser um trampo e tudo mais, mas é gostoso. Dá um quentinho no coração quando você olha pro outro, que tá totalmente exposto e percebe que tá tudo bem. Isso é feliz, sabe?

E, no fundo, no fundo, isso é tudo o que a gente quer, né? Ser feliz. E pra ser feliz a gente tem que ver e ser visto também.

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. MANU  em agosto 09, 2016

    Eu preciso comentar: te entendo. Tanto. Descobri que também sofro esse dilema infinito de querer ser vista olhada admirada e amada mas morrer de medo de dar um passo a frente e ficar exposta ao que os outros tem a dizer. Como. Agente conserta isso???? Eu tento me convencer pensando sobre como a gente não consegue viver sem tentar, mas a zona de conforto é n taaaaaao segura e aconchegante. Enfim. Só queria mesmo dizer que compartilho disso tudo também!!

    • Maki  em agosto 09, 2016

      ih, Manu, eu sei bem disso, viu? mas a questão é que a gente não precisa consertar, porque não é como se isso fosse um problema ou algo errado. é mais uma questão da ficar na frente de qualquer pessoa, olhar pra ela e treinar o não-medo. ficar ali na frente dela sem medo de se expor. e isso não quer dizer que você tem que contar a sua vida pra ela. é mais uma abertura de postura mesmo! não é fácil, mas vale a pena ♥

    • Marina  em agosto 20, 2016

      Entendo vocês duas, entendo tanto que fica até difícil comentar, vocês já falaram tudo! Mas deixo o meu comentário pra registrar que não estamos sozinhas. Vamos sair da caixinha gente!

      • Maki  em agosto 22, 2016

        vamos, por favor <3