cotidiano

Sabe quando você acha que não é bom em nada? Que você não tem nenhum talento, que a sua vida é bem da mediana?

Eu já pensei muito assim. Tinha certeza que eu não tinha talento nenhum, que não sabia fazer nada direito, que eu era bem mediana e a minha vida refletia isso. Verdade, toda a minha vida eu olhei para coisas e passei por situações que refletiam o que eu pensava e isso não é nem bom, nem ruim. Simplesmente foi exatamente como tinha que ser – e a gratidão por essa trajetória é real.

Diário #57 - A preguiça é uma desculpa (você só não quer)

Mas é verdade que boa parte do tempo eu tinha certeza absoluta que não tinha nenhum talento. E eu competia muito com as pessoas, mesmo pensando assim. Sabe aquela coisa do ‘não sou boa em nada, mas ainda assim tenho que mostrar que sou boa em alguma coisa’? Então.

Claro que isso era furada. Como eu ia provar qualquer coisa pra qualquer pessoa se nem eu mesma acreditava que era boa em coisa alguma? Essa conta não fechava, e não à toa eu sempre me senti muito mal quando o assunto ‘talento’ começa em qualquer situação. Lá ia eu mais uma vez mostrar que eu não sei fazer nada e sou tão invisível quanto eu achava que era.

Sabe, por muito tempo eu também acreditei que era invisível. E eu queria ser invisível real oficial. Como é que as pessoas iam notar qualquer talento que eu poderia vir a ter se eu queria ficar escondida atrás dos óculos fundo de garrafa e dos trocentos livros que me enterravam num mundinho longe de todo o resto? Outra conta que não fechava.

Perguntaram uma vez pra alguém que eu conheço se a pessoa faria tudo o que a Céline Dion fazia pra ser uma cantora incrível. Eu sei que já falei sobre isso aqui uma vez, mas depois que presenciei essa conversa, parece que a coisa ficou ainda mais escancarada pra mim.

Caraca, será que eu tô a fim MESMO de fazer tudo o que a Céline Dion faz pra cantar tão bem?

É algo a se pensar. A gente acha que ‘talento’ é uma coisa incrível que uma pessoa especial tem e mais ninguém no mundo pode fazer também. Puxa, aquela pessoa é mó talentosa, desenha horrores, ‘eu queria saber fazer isso também’.

Mas, poxa, você sabe o quanto aquela pessoa treina pra desenhar daquele jeito? Você tá a fim de fazer igual pra conseguir criar algo como aquela cartunista ou ilustradora mara que você segue no Instagram?

O que é um talento, afinal? Pra mim tudo volta pra uma outra parte dessa mesma conversa e que mudou um jeito meu de pensar: não existe preguiça, existe falta de interesse. Se você acha que é uma pessoa preguiçosa pra aprender a cantar ou a desenhar, entenda: na verdade, você só não tem interesse naquilo.

Afinal, se tivesse, você não estaria falando que tem preguiça e estaria lá tendo aulas de canto e desenhando 6 horas por dia pra aprimorar o seu traço, certo?

E tudo bem você não ter interesse. Mas será que não é muito mais legal a gente ser sincera com a gente mesma e falar ‘poxa, isso é legal mas não me interessa’ do que usar uma cosia dessas pra se sentir mal? Você se diminui porque não tem interesse numa coisa.

Mas, gente, é só falta de interesse. Não é uma doença terminal nem nada disso. E você pode ter interesse por outras coisas, só não dá o devido valor pra isso.

Eu percebi isso com a escrita. Cara, eu escrevo muito bem. E algumas pessoas já falaram pra mim: ‘queria escrever como você‘. Mas, gente, eu escrevo MUITO. O dia inteiro. Sete dias por semana. Eu tô sempre escrevendo (e tomando chá). Eu leio muito também. E aí escrevo mais ainda. Ou seja, eu pratico muito.

Eu tenho um talento? Tenho sim: eu escrevo bem. E, caramba, faça isso tão bem que virou uma profissão.

Parei de usar o que eu faço bem pra me atacar. Já pensei que ‘todo mundo pode escrever bem’ e que isso ‘não é lá grandes coisas’. Mas, sabe do que mais? Eu também posso cantar como a Céline Dion. Ou fazer mangás como as meninas do CLAMP. Eu só não tenho interesse o suficiente pra ir atrás disso agora. Pode ser que um dia isso mude. Pode ser que não. Pode ser que eu encontre interesse em fazer outras coisas.

Mas uma coisa é certa: eu não sou preguiçosa. Então parei de dizer que sou. E comecei a prestar mais atenção naquilo que eu gosto de fazer – que me desperta o tal interesse. E não é que essas coisas ficaram ainda mais legais?

Nada como ver as coisas de uma forma diferente, não é mesmo?

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. hellen  em junho 30, 2016

    só li verdades nesse texto, acho que o principal motivo nao é a preguiça, é a real vontade de ver aquilo concretizado, se realmente desejamos, amei!

    • Maki  em julho 01, 2016

      Extamente, Hellen! Você entendeu certinho! 😉