Dizem que o primeiro passo para a recuperação é você aceitar que alguma coisa não vai bem. Os alcoólatras precisam entender que têm um problema com a bebida, assim como os viciados em drogas. Não sei se a mesma coisa acontece com a depressão, mas eu tenho pra mim que sim.
Por muito tempo, achei que estava bem, que era uma pessoa bem resolvida, que não tinha muitos problemas, mas muitas responsabilidades, e que minha vida era boa. Engraçado que a gente sempre tem essa sensação até que tudo cai por terra e você percebe que nunca esteve bem de verdade.
Igualmente por muito tempo, eu tentei resolver sozinha os meus problemas, lidar com os meus demônios, tentar sair da ‘fossa’ e ‘parar de mimimi’, como muitas vezes ouvi. Realmente, é mais fácil falar do que fazer de verdade, porque a mente vive pregando peças na gente.
Eu tentei escrever posts de incetivo (mais para mim mesma do qualquer outra coisa), estabelecer projetos de vida, fazer resoluções de ano novo, mas tem momentos que nem mesmo toda a influência positiva do mundo consegue superar os pensamentos negativos.
Verdade, é tudo uma questão de mudar a cabeça, mas, como disse, não é fácil. E quando eu cheguei no fundo do poço, percebi que talvez fosse melhor pedir ajuda do que tentar resolver sozinha uma coisa que poderia acabar muito mal pra mim. Então, eu pedi ajuda. Algumas pessoas me estenderam a mão de bom grado e fizeram questão de me ouvir quando eu precisava. Amigos de verdade que se mostram sempre a postos.
Mas, tão importante quanto isso, talvez, foi a força que eu achei em mim para buscar ajuda profissional. Comecei a terapia e sei que, pouco a pouco, ela tem feito sua mágica em mim. Parte disso também porque eu quero aprender a viver a minha vida, eu quero mudar.
Junto com a terapia vem o ‘diagnóstico‘: depressão. A gente nunca acha que as coisas estão tão ruins assim até que você entende que a tristeza e falta de ânimo que você sente o tempo todo não é normal, não é só uma fase. Isso não quer dizer também que você está doente e que depressão tem uma ‘cura‘. É uma batalha diária em busca de uma vida melhor.
Vocês podem estar se perguntando porque eu decidi falar disso aqui tão abertamente, me expor desse jeito na internet. Gosto de pensar que o fato de eu colocar isso aqui é um passo a mais para a minha recuperação, e também pode ser uma forma de ajudar outras pessoas. Não é um sinal de fraqueza procurar ajuda.
Confesso que senti certo preconceito quando ouvi que estava depressiva. Parece besteira, um tipo de ‘doença de gente rica‘, que encontra problema onde não tem. Senti mais preconceito ainda quando ouvi que talvez tivesse que contar com a ajuda de algum remédio, porque isso dá ainda mais o ar de ‘doença‘ pra coisa toda.
Mas agora entendo que a forma como eu penso, como eu me vejo refletida no espelho, como eu me porto profissional e pessoalmente, as coisas que eu faço e, muitas vezes, que eu falo, são um reflexo da minha depressão. A falta de foco, de concentração, a vontade de sempre ficar em casa sozinha, dormindo, os altos e baixos do humor que nunca param, o ‘agora eu tô ótima‘ versus o ‘hoje eu só quero chorar‘, não são normais, muito menos um reflexo do que eu sou de verdade.
Então, eu busquei ajuda. Ainda busco. Quando me sinto triste demais, eu falo com quem sei que não vai se importar em ouvir. Eu faço terapia. Eu tento fazer coisas que gosto e me cercar de influências positivas. Ainda tenho dias muito ruins (a última semana, por exemplo, tem sido bem complicada), mas sei que eles vão ficar cada vez mais escassos.
Sei que posso fazer mais e que isso depende de mim. Minha cabeça me diz que não consigo e eu acredito. Minha dificuldade em fazer exercícios físicos é, na verdade, uma relutância interna em fazer algo que me faça bem.
Tem dias que encontrar forças para levantar da cama é uma tarefa hercúlea, e em alguns eu não levanto mesmo. Me deixo ficar deitada o dia todo vendo filmes que amo ou séries que gosto, tentando transformar algo ruim em uma coisa proveitosa.
É uma batalha diária. E eu decidi que quero dividir essa batalha com vocês. Pode ser que isso seja apenas o meu ego em busca de atenção de novo (ele faz isso com frequência), mas pode ser também uma forma de conversar com outras pessoas que passam pelo mesmo e, quem sabe assim, a gente não se ajuda.
Cansei de fazer promessas vazias a mim mesma, de não ter comprometimento com o que eu quero e não ter a capacidade de ver um futuro pra mim. É hora de lutar de verdade. Talvez eu tenha perdido algumas (muitas) batalhas, mas decidi que quero vencer a guerra.
Warning: Undefined property: stdClass::$comments in /home1/desan476/public_html/wp-content/themes/plicplac/functions.php on line 219
8 Comentários
Estou nessa também, e eu espero que você esteja bem melhor já. Como você disse, é um exercício diário, é quebrar hábitos de anos e anos e enfrentar mudanças de personalidade que nem a gente está preparada, mas que são excelentes.
Não vou falar de mim aqui, só quero te deixar muito amor mesmo e toda a força do mundo, pra que você passe todos os momentos sombrios da sua vida com esse sorriso lindo que ilumina essa página. <3
Mileni, a boa notícia é que isso já é água passada <3
mas eu recebo o seu amor mesmo assim. brigada! ♥
Cheguei no blog procurando sobre bullet journal e acabei chegando aqui. me identificando e prestando atenção em cada palavra. acho que era o que eu precisava ler para tomar a decisão de pedir ajuda. (é sempre difícil admitir que precisa de ajuda?)
é bom saber que tem pessoas que não acham que é apenas “se esforçar pra ficar bem” ou “palhaçada, já que você tem tudo”
obrigada <3
Oi, Paula!
Olha, normalmente é difícil admitir que precisa de ajuda sim. Mas isso é normal, quanto mais a gente entende que precisa, mais fácil fica de pedir. A gente vai ganhando confiança no outro, sabe?
Fico feliz que você tenha gostado do post, foi feito com muito carinho… E brigada você pelo comentário! ♥
vi um comentário seu no post da Avec Gigi e vim parar aqui… me identifiquei com cada palavra, cada sentimento de desânimo, cada vontade de não fazer absolutamente nada em contraste com cada autosabotagem e cobrança internas de fazer absolutamente tudo… Estou a três meses em tratamento e tenho me sentido uma nova pessoa… como se tivesse me reencontrado com uma Nayhara a muito tempo perdida… mas tem dias, como hoje, que são muito ruins e parece que tudo foi por água a baixo, a gente simplesmente leva…
no fundo é o que vc disse, uma batalha diária…
beijos! adorei conhecer seu blog…
Nay, que incrível ler o seu comentário. Sei muito bem de tudo isso que você está falando e tenho certeza que você vai sair dessa batalha muito vitoriosa. Eu também continuo o meu tratamento, um dia após o outro, e comentários como o seu me incentivam a continuar em frente!
Força!
Beijos
Oiii!!!
amei muito seu post, mesmo porque eu acho que essa é a saída pra ficar bem, de verdade, é desabafando, muito, de todos os jeitos que você puder, que você vai aliviando a “carga”… e não se preocupe com preconceitos e julgamentos, pois você não está sozinha, tem muuuita gente passando pelo mesmo, por ansiedade, por angustias (eu mesma…). é muito fácil olhar pra você e dizer que é ‘mimimi’, mas digo com certeza que ninguém sabe o futuro, e ninguem mesmo está imune de passar por isso um dia! siga forte e tenha fé!! bjusss
http://mulherpequena.wordpress.com
Oi, Mari!
Muito obrigada pelo seu comentário! E, verdade, desabafar é sempre muito bom, qualquer que seja o jeito!
Beijos!