rotinas com afeto

já diria Charlie Brown Jr. o curioso é que não foi dele que ouvi essa frase, mas de alguma outra pessoa que, infelizmente, não me lembro agora. ela – a frase – tem martelado na minha cabeça sem sossego nas últimas semanas. porque, de fato, para cada escolha temos que fazer uma renúncia.

na era do “abraçar o mundo“, eu vejo que não dou conta de 90% das coisas que digo dar conta. e, ultimamente, tenho me visto na necessidade de fazer escolhas e arcar com as renúncias. nada pesado, claro, mas é a simples dinâmica da vida, eu acho. de fato, uma pessoa só não consegue “dar conta de tudo“, até porque “tudo” é coisa demais pra uma pessoa só.

nisso, me vejo pensando mais uma vez em Neil Gaiman e no seu discurso “Faça Boa Arte”, quando ele diz:

um dia eu percebi que me tornei alguém que respondia e-mails como profissão e que escrevia como um hobby. eu comecei a responder menos e-mails e fiquei aliviado em perceber que estava escrevendo muito mais.

ele tava falando sobre o sucesso e como, em dado momento, o sucesso faz de tudo pra que você não faça mais o que gosta de fazer. ultimamente, tenho me sentido uma “respondedora oficial de e-mails”, mas os e-mails são conteúdos nas redes sociais. tenho me preocupado mais com o lá do que com o aqui, com o escrever sobre o que eu amo.

seja uma coincidência do universo ou não, eu estou relendo Mostre o Seu Trabalho, do Austin Kleon, e ele fala exatamente sobre essa parte do discurso do Neil no meio de tantas coisas importantes que ele diz sobre “criar um bom nome” e se concentrar no que você gosta, de fato, de fazer.

longe de mim romantizar a criatividade e o “faça o que você ama“, mas tem algo de verdadeiro quando ele diz que a gente adoeceu se preocupando muito mais com os números do que com as relações derivadas do que faz. e, de novo, me vejo diante de uma escolha que vai trazer uma renúncia. afinal, tirar o foco dos números talvez traga algumas decorrências sobre a minha presença na internet, mas, talvez, me dê mais espaço para fazer o que eu realmente gosto e sempre disse que quero fazer.

o Austin também fala uma coisa que me chamou bastante atenção e que, a meu ver, também recai nessa história do “cada escolha, uma renúncia“:

tudo o que é preciso para descobrir preciosidades escondidas é um olhar claro, uma mente aberta e uma vontade de procurar inspiração em lugares aos quais outras pessoas não podem ou não querem ir.

bom, optando pelos números e pelo trabalho além daqui, percebi que parei de buscar inspiração nos lugares onde outras pessoas não podem ou não querem ir. e isso, eu acho, é a pior-maior-mais horrível renúncia que eu já fiz. corrói a alma, sabe?

no discurso, o Neil fala sobre como as pessoas bem-sucedidas acabam, muitas vezes, miseráveis. a gente coloca na cabeça que precisa manter um padrão depois que chega em certo lugar na vida e por mais que seja absolutamente digno querer ficar no ponto que alcançamos (ainda mais se ele traz estabilidade financeira), é fácil perceber também como pode ser dolorido deixar de fazer o que se gosta em nome do dinheiro.

como se investir no que a gente gosta não pudesse trazer esse mesmo resultado, sabe?

quando as coisas ficarem difíceis, eis o que você deve fazer: faça boa arte.

é isso que o Neil fala e é isso que fica martelando na minha mente também. escolher pela arte talvez signifique uma série de pequenas grandes renúncias. cabe a mim decidir o que, de fato, tem mais valor nessa balança maluca, e optar por aliviar a minha própria carga ou, quem sabe, seguir na vã tentativa de carregar muito mais do que eu aguento.

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Escrito pelaMaki
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3 Comentários
  1. Everton  em julho 20, 2022

    Não sou de fazer comentários em postagens pela Internet, porém ao pesquisar a frase: cada escolha uma renúncia, no Google cai aqui nesse blog, e encontrei por acaso (ou não) uma mensagem que serviu como uma luva pra mim, então eu te agradeço, por esse texto meu querido autor

    • Maki  em setembro 18, 2022

      Everto, que bom que o texto te ajudou! fico muito feliz <3

  2. Emerson  em maio 25, 2022

    Reflexão válida. Não devemos nos cobrar tanto e aproveitar o lado bom da vida. Que bom que voltou a escrever.

    Boa semana!

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