acho que entendi umas coisas sobre ser criança

num dos meus livros favoritos da vida, Siga em Frente, o Austin Kleon dedica uma parte do capítulo 3 pra falar sobre brincadeiras. na verdade, o que ele fala é que “o seu verdadeiro trabalho é uma brincadeira”, e a importância de trazer a diversão pras suas práticas diárias, o que pode ser entendido também como levar o processo todo com mais leveza e menos apego. eu acho que nunca tinha entendido totalmente essa parte do livro até o momento em que sentei pra escrever esse post.

eu também voltei a fazer O Caminho do Artista e, no livro, a Julia Cameron fala muito sobre como o processo criativo tem a ver com o cuidado com “a sua criança”, que ficou esquecida por sabe-se lá quanto tempo, num cantinho escuro da sua mente.

e eu fiquei pensando, sabe, na minha criança. em como eu era quando criança. e uma lembrança me saltou aos olhos. não é especificamente sobre uma situação, mas uma sensação de seriedade. eu me sentia uma criança muito séria, certinha, que não tinha muita liberdade pra fazer o que queria. e, aqui, eu não sei se essa falta de liberdade era imposta por alguém ou só o tipo de coisa que eu coloquei na cabeça que tinha que ser daquele jeito. talvez um pouco dos dois.

eu lembro de passar muito tempo sozinha com os meus cadernos e lápis de cor, com as pinturas e os desenhos e o que mais me desse vontade de fazer. mas eu não lembro muito dessa sensação de brincadeira, sabe? de curtir alguma coisa e me divertir no processo. parece que sempre teve uma camada de auto-cobrança e seriedade que eu não conseguia me livrar.

mas aí, tem o momento que eu tô vivendo agora, o que eu tenho experimentado refazendo o Caminho do Artista com uma intenção nova e diferente de ser sincera nessa processo e me descobrir.

dê a si mesmo permissão para ser um iniciante. ao se permitir ser ruim, você passa a ter a chance de ser um artista e, talvez, com o tempo, se tornar muito bom.

e, ó, eu sei que o discurso do “se descobrir” parece muito vago e já foi usado exaustivamente por muita gente, mas sinto que tem um momento na vida que você só percebe que não sabe exatamente se você faz as coisas porque gosta ou porque aprendeu que deveria gostar.

então, esse tem sido o meu momento. de fazer coisas diferentes do que eu tô acostumada. por exemplo, comprei pincéis e tinta aquarela pra experimentar pintar um pouquinho. nunca tinha tido coragem de fazer isso antes. outro dia, decidi que ia me arrumar inteira só porque tava com vontade, mesmo trabalhando de casa mesmo. revi todos os filmes da Saga Crepúsculo só pra ver se a lembrança que tinha era realmente o que eu sentia a respeito (e era!).

pequenas coisas que eu percebo que tem me levado para um caminho diferente do que eu fiz até então, um caminho muito mais de experimentação do que eu tava acostumada antes. acho que, no medo de desagradar, eu podei todas as oportunidades de encontrar coisas que eu realmente gostava de fazer, até chegar num ponto de achar que não gostava de nada de verdade.

isso casa com a brincadeira porque eu tenho percebido como os meus dias são mais divertidos e alegres quando eu me permito experimentar sem medo. parece que ter um experimento que deu errado significa que você é errado, mas acho que eu tô entendendo que não é bem assim. o experimento, em si, é mais uma forma de crescimento do que qualquer outra coisa.

parece redundante falar uma coisa dessas, mas brincar é divertido. e eu tenho gostado de ser brincalhona comigo mesma. de tentar fazer uma coisa que nunca fiz só por tentar. de comprar aquarela pra fazer uma pintura que provavelmente vai ficar tosquíssima porque eu nunca mexi com aquarela antes. e de perseverar na busca pela diversão, mesmo quando ela parece ter desaparecido da minha vida.

quando você perdeu o seu senso de diversão, pratique pelo simples ato de praticar.

o que é brincar, pra você? acho que estou descobrindo que brincadeiras, pra mim, tem a ver com cores e movimentos e mãos e usar o corpo pra fazer alguma coisa que me empolgue. mesmo que seja escrever. ❤️