escrita criativa

eu amo palavras difíceis. de verdade. eu acredito que são bonitas. e eu amo escrever como poesia. na minha cabeça, as duas coisas se encontram, sabe? as palavras difíceis e a poesia. mas escrevendo o meu primeiro conto (sim, isso aconteceu!) eu percebi o quanto eu fortaleço a minha voz quando eu uso as palavras que quero usar e não fico inventando jeitos diferentes de falar o simples. tem muita boniteza no simples, né?

celebre suas palavras

não posso dizer que essa ideia é nova. eu já tinha lido sobre ela no livro do Stephen King, Sobre a Escrita, só que nessa releitura recente parece que a ideia ficou na minha cabeça de um jeito novo. ele fala assim, ó:

coloque seu vocabulário na primeira bandeja de sua caixa de ferramentas e não faça qualquer esforço consciente para melhorá-lo. uma das piores coisas que se pode fazer é tentar enfeitar o vocabulário, procurando por palavras longas porque tem vergonha de usar as curtas de sempre.

e isso é essencial, eu acredito, principalmente pra quem tá começando. quando a gente tá desenvolvendo o ritual de escrita, aprimorando o nosso escrever, é fácil a gente cair na história de que precisa ter um vocabulário incrível e extenso pra escrever bem. mas tem algo que eu vejo como mais importante do que o vocabulário perfeito: a sua própria voz.

por um tempo, eu fiquei quebrando a cabeça sobre como melhorar essa conversa sobre encontrar a sua voz na escrita e sinto que agora achei um caminho mais claro. acho que tem muito a ver com isso.

o seu vocabulário vai crescer e se aprimorar naturalmente. é como disse o Stephen, você não precisa fazer um esforço pra que isso aconteça. tenha uma rotina de leitura, leia coisas diferentes do que você tá acostumado e a história se desenrola sozinha. eu não precisei escrever num caderno cada palavra nova que eu ia descobrindo nas leituras e que esperava usar em algum momento em algum texto meu. mas rolou tanto uma seleção natural do meu consciente, que guardou ali as palavras que gostava mais, quanto do meu inconsciente, que manteve as outras no fundo do armário só pro caso de eu precisar um dia.

enquanto eu escrevo, eu vejo as frases se formando na minha mente primeiro, e elas vêm de uma forma que tem muito mais a ver comigo do que as que as que eu finjo dizer quando transformo esse pensamento em frase escrita. parece meio doido escrever isso e a minha cabeça deu um nó só de tentar explicar, mas acho que faz sentido. dá pra até pra fazer um mini fluxograma:

frase em pensamento > filtro intelectual > frase escrita

o “filtro intelectual” é esse porteiro enxerido que fica me dizendo pra usar uma palavra mais difícil do que eu quero (ou do que é necessário) no meu texto. e acho que o exercício é, justamente, despistar esse cara pra que o fluxo seja apenas:

frase em pensamento > frase escrita

se o que eu pensei vai ser postado ou publicado exatamente do jeito que saiu, isso são outros 500 – entra aí a edição e o segundo melhor conselho do Stephen: diminuir o texto em 10% na segunda leitura -, mas, no mínimo, eu fui o mais fiel possível da minha ideia original e isso, eu sinto, mantém viva a minha intenção de comunicar e conectar.

celebrando as próprias palavras

eu nunca tinha percebido o quanto eu fazia essa edição inconsciente até escrever o meu primeiro conto. tô falando bastante dele pra ver se junto coragem pra colocá-lo no mundo em algum momento no futuro. eu espero que isso aconteça em breve!

mas, voltando ao assunto, enquanto eu escrevia esse conto eu comecei a aplicar essa prática que o Stephen ensina. ficava o tempo inteiro numa conversa minha comigo mesma, um vai-nãovai-volta que parece não acabar nunca. “não é essa palavra, é essa”. “não é essa palavra, é essa”. “não é essa palavra, é essa”. essa repetição mental parecia a locomotiva do meu trem criativo, me dando o fôlego pra continuar buscando exatamente o que eu queria dizer em cada momento.

depois de terminado, senti uma alegria enorme ao reler o texto (e tirar 10%!) e perceber o quanto ele soava comigo. e isso de alguém que escreve há tantos anos que nem sei contar mais. mas acho que a gente se perde tanto nas palavras alheias, considerando que são mais bonitas e melhores que as nossas, que se perde na própria voz, né?

então, o convite que eu faço é esse: que você faça um exercício de ouvir as suas próprias palavras e não as palavras dos outros. você tem muito a dizer – se permita dizê-lo! a edição vai fazer o seu papel de mudar o que for necessário – se for realmente necessário. mas, até lá, permita-se auto-ouvir. acho que a gente deixa muito de lado a própria voz enquanto procura pela própria voz e isso não faz nenhum sentido, né? então, sinto que o melhor a fazer, é ouvir.

o que é curioso, porque até agora eu não tinha percebido o quanto ouvir é importante pra escrever.

mas é isso. celebre as suas palavras, pois são suas e são importantes. você é importante e o que você diz, do seu jeito, vai encontrar alguém que precisa ouvir exatamente o que você tem a dizer, sem acrescentar floreios ou palavras difíceis no caminho. não julgue o que tem na sua mente, tá tudo bem com o seu vocabulário.

e se você precisa de ajudar pra entender melhor como destravar essa escrita (às vezes, a gente precisa mesmo de um empurrãozinho), o clube de escrita desancorando tá de portas abertas pra você! vai ser incrível ter você com a gente por lá pra estudar, aprender e desenvolver a sua escrita (que é sua e de mais ninguém!).

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. Emerson  em setembro 29, 2021

    Que texto mais encantador! Parabéns!

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

  2. Camila Faria  em setembro 23, 2021

    Sensacional Maki. Não adianta tenta falar/escrever “difícil”, você (e o Stephen King) tem toda razão. Essa história de cortar 10% do texto me lembrou os tempos de faculdade de jornalismo, quando alguns professores cortavam quase metade dos nossos artigos, como um exercício mesmo, de reescrita com mais clareza e menos “fru-fru”. Era tenso, mas me ensinou muito! Beijo, beijo :*