escrita criativa

eu amo que o título desse post pode ser entendido de duas maneiras. primeiro, o mais literal: como se conectar com a escrita, ou seja, com o ato de escrever. o segundo, como se conectar com outras pessoas através da escrita. mas acho que esse é tópico pra outro post que, tenho certeza, será muito bem-vindo também.

sabe, às vezes, eu fico pensando que a escrita virou algo tão natural pra mim que já é a minha primeira forma de comunicação, sempre. não é sem motivo que eu tenho certa aversão aos áudios de WhatsApp (desculpa, amigos), e é bem comum eu preferir fazer um primeiro contato escrito com alguém do que por telefone.

como se conectar com a escrita

aliás, alguém ainda fala no telefone hoje em dia? eu espero que sim.

enfim. o que quero dizer é que buscar ensinar como você pode se conectar com a escrita é um exercício de muita curiosidade pra mim porque… sei lá… eu meio que sou essa conexão. senti que falei um pouco sobre isso no post com dicas para iniciantes, porque é meio que isso aí: eu já tô tão avançada nisso que é preciso olhar como cientista pro meu próprio processo pra tentar entender como transmitir isso pros outros.

ainda bem que o Murakami fez isso muito bem por mim em Romancista como Vocação:

na verdade, acho que não tem sentido escrever se esse ato não for agradável.

eu sinto que esse é o ponto de partida. porque começa daí. pra mim, escrever o que eu pensava e sentia sempre me pareceu mais natural e mais fácil do que falar sobre os meus sentimentos (eu sempre sempre sempre sempre tive diários). quando ficava triste ou brava com alguém, recorria ao papel e à caneta. me parecia catártico, sabe? como se eu tivesse mesmo conversando com alguém sobre o que tava ocupando a minha cabeça.

mas eu fazia não só porque parecia natural pra mim, porque era uma válvula de escape. era também porque eu gostava. tem uma beleza no movimento de escrever que sempre me fascinou muito. o contato do papel com a caneta, a mão que tenta (sem sucesso) acompanhar os pensamentos que me passam pela mente, o relaxamento que eu sinto escrevendo as palavras, até o formato da letra A, escrito à mão, me deixa meio embasbacada. tudo sobre escrever é bonito e agradável pra mim.

daí, tem o computador, né? o teclado, o mouse, o tec-tec-tec das teclas tentando acompanhar a velocidade das informações da internet. num é simples, mas esse barulhinho irritante para alguns é muito relaxante pra mim. eu coloco uma playlist que amo pra tocar e sou capaz de ficar horas e horas escrevendo sobre qualquer coisa. me dê um assunto, qualquer assunto!, eu juro que dou um jeito de escrever um texto de 7 mil palavras sobre ele em apenas algumas horas.

tem uma agradabilidade no ato de escrever, seja digital ou à mão que acalma e me tranquiliza. e uma intimidade com as palavras que torna mais fácil, pra mim, expressar o que eu tenho vontade de expressar – nem que seja só pra mim mesma. eu até falo muito sobre isso no meu livro, lembra?

mas aí, sinto que tem uma atualização nessa conversa que é uma afirmação bem básica, que fiz numa oficina de escrita que eu dei um tempo atrás:

de alguma forma, você já tem uma conexão com a escrita.

e isso é um fato. boa parte de nós (pelo menos, de quem tem acesso à internet), estudamos o suficiente pra aprender a ler e escrever. a sua conexão começa aí, nas primeiras séries da escola, com o caderno de caligrafia e as repetições alfabéticas.

o ponto é que a escrita virou tipo fake news: viralizou e se tornou banal demais, a ponto das pessoas acharem que ela não tem muita importância.

ai, meu coração virou uma azeitona aqui.

mas azeitonas à parte (acabei de almoçar uma salada cheia delas, inclusive. tava ótima!), a relação com a escrita já existe. ela já tá aí, em cada e-mail de trabalho que você manda, mensagem de texto que envia, em cada texto de blog ou portal de notícias que lê.

mas o quanto isso é consciente pra você?

porque, a partir dessa consciência, vem um segundo passo nessa história toda, que é a pergunta valendo um milhão de reais:

pra quê você quer escrever?

bato tanto nessa tecla porque a questão do propósito, apesar de saturada aos olhos de muitos, ainda é o ponto central que vai fazer com que você desenvolva ainda mais essa relação com a escrita ou se afaste dela completamente. e, veja bem, qualquer uma das opções é absolutamente válida. todo mundo tem um amigo que foi quase um irmão em algum ponto da vida e viu essa pessoa se afastar de você ao longo do tempo, ao ponto de virar o tipo de pessoa que a gente só manda um “parabéns” uma vez por ano no dia do aniversário (eu tenho vários! e amo todos mesmo com menos proximidade).

é que entender isso é importante, sabe? se não, a escrita vira mais uma coisa na lista de coisas que você quer fazer, mas nunca faz e usa pra se sentir frustrado depois. e não queremos frustrações por aqui. queremos soluções.

só que a solução, nesse caso, passa pelo lugar de saber porque diabos você quer tanto escrever. e veja que “diabos“, aqui, é só uma forma de enfatizar o porquê mesmo. quando eu tô de cabeça cheia, escrever vira uma forma de esvaziá-la, como uma meditação ativa. se eu tô com dúvidas sobre alguma questão, vale também pra encontrar clareza e até entender melhor o que eu quero. às vezes, escrever me ajuda a estruturar melhor o que eu quero falar para alguém. e também serve como uma forma de registrar insights importantes que eu tenho sobre coisas da vida. se tem algo muito legal que eu descobri ou uma dúvida que alguém tem e que eu sei a resposta, eu uso a escrita pra compartilhar o que eu sei de uma forma simples de achar.

como se conectar com a escrita 2

tá vendo? cada um desses formatos ou “dores” que eu tenho encontram uma solução proposital na escrita. ou seja, toda vez que eu escrevo, tem um propósito. e isso, pra mim, é algo muito consciente. que fica na minha cabeça. como é pra você? conta pra mim aí embaixo, nos comentários!

por exemplo, esse post nasceu assim: eu abri uma caixinha no Instagram pra saber se as pessoas tinham dúvidas sobre escrita. daí, peguei as dúvidas de lá, joguei no meu calendário editorial no Notion e me propus a encontrar soluções pra cada uma delas. pra escrever este post aqui, especificamente. eu tive que parar pra investigar o meu próprio processo, e escrever sobre o assunto foi o que me ajudou com isso. aliás, tem uma outra frase incrível sobre isso. peraí, vou buscar.

não sei o que penso a respeito de algo até escrever sobre o assunto – Joan Didion.

pronto. é isso. não sei o que penso a respeito de algo até escrever sobre o assunto. ou seja, não sabia o que eu pensava exatamente sobre como se conectar com a escrita até escrever sobre isso! num é maravilhoso? eu acho.

e o mais maravilhoso mesmo é que esse é um processo que evolui cada vez que eu paro pra pensar sobre ele. porque uma conexão é uma relação, e uma relação exige um nível de investimento, sabe? tipo, a escrita tá sentada do outro lado da mesa, tomando um café delicioso e esperando que eu fale alguma coisa pra gente começar uma conversa que vale a pena. ela já me oferece um tanto de coisa incrível e bonita e inspiradora e eu entro como um veículo de comunicação, como um mensageiro.

só que eu tenho que dar o primeiro passo.

ou, melhor, oferecer a primeira palavra.

e, aí, a gente faz essa troca, e a gente se conhece melhor, e toma mais um café e talvez divida um pedaço de bolo e quem, sabe, no final da tarde, a gente levante da mesa com um segundo encontro marcado.

pode acontecer.

só que, aí, entra aquela boa e velha história de aparecer todos os dias no mesmo batcafé, na mesma batmesa, no mesmo bat-horário, esperando que a escrita apareça pra conversar comigo. a partir daí, é puro treino, sinto informar. na verdade, eu fico feliz em informar, porque se você se identifica com o que o Murakami falou ali em cima e com o que eu falei nesse texto inteiro, então você tá no caminho certo.

não que haja um caminho errado. mas você entendeu.

sem querer me sentir a própria Liz Gilbert, porém já me sentindo (será que um dia vou parar de citar Grande Magia por aqui? vamos acompanhar), tem toda essa magia que envolve o encontro perfeito entre tudo isso que eu tô falando e que torna a escrita uma ferramenta tão poderosa pra muitos de nós, seja como forma de autoconhecimento e descobrimento, seja em uma forma extremamente eficaz de comunicação com o mundo e criação de uma comunidade.

resumindo: como se conectar com a escrita?

enfim, tem três prontos principais que são a base dessa conexão:

  • você já tem uma conexão com a escrita, só tá esquecido disso;
  • você precisa ter um porquê pra escrever qualquer coisa;
  • você precisa tornar o seu relacionamento com a escrita um hábito.

olha só, olha lá. taí. simples, indolor, mágico. desde que você entenda magia como um processo consciente de investimento em algo que você gosta e quer desenvolver mais. mas, ainda assim, mágico.

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Escrito pelaMaki
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6 Comentários
  1. Jae  em abril 09, 2021

    Oi Maki!!!!!

    Eu meio que congelei um pouco quando você perguntou do porquê de querer escrever. Tipo, qual meu real motivo? Eu quero ter uma conexão com as palavras, sim, mas por quê? O que me trouxe aqui, o que me fez ter essa vontade… e, que louco, eu não tenho certeza.
    Acho que vejo muita gente compartilhando como se sente bem escrevendo, e acabei desenvolvendo um desejo de ter essa conexão também, sabe? Tipo criança invejosa no recreio? Na verdade, tem sido também uma jornada de me redescobrir, uma vez que eu me lembro de gostar muito de escrever quando eu era criança. Então eu não vou saber lhe dizer se é por nostalgia, ou por inveja do brinquedo novo do coleguinha. Mas eu internalizei que eu quero ter jeito com as palavras.
    A gente já conversou sobre como as palavras são uma arma alguns (um?) posts atrás, né? E eu quero ter um controle sobre isso. Não de forma perversa, eu só queria ter a capacidade de me expressar melhor, nem que seja comigo mesmo nas minhas folhas matinais depois do treino, sabe?
    Esse comentário já tá uma bagunça, então eu vou só encerrar meus questionamentos aqui KKKKKKKKKK vou passar dias pensando nisso, obrigado eu acho?

    (Você respondeu em outro comentário meu que você começou a estudar coreano também!!!!!!!!!! Nossa, que louco! Você é surtada e tá estudando sozinha que nem eu? kkkk Será que vai ter post sobre isso algum dia no Desancorando? ¬u¬ Saiba que o caminho no coreano é árduo DEMAIS, porém é um caminho que vale muito à pena, tá? O idioma é lindo além da conta, e carrega tanta história… eu tô lutando muito para alcançar o intermediário logo e devorar os livros coreanos que eu babo tanto 😛 )

    • Maki  em maio 16, 2021

      Jae, eu amei demais teu comentário, sério! se você saiu desse post pensando, então ele cumpriu a sua função questionada! ahuhauahua

      (menino, sim, eu to tentando, mas tô muito empacada porque o tempo não tá me ajudando! se eu conseguir avançar – o que eu pretendo! -, talvez tenha post por aqui sim <3)

  2. Julie  em março 31, 2021

    Ai, Maki, quando eu acho que aprendi tudo sobre escrita, você vem e me faz pensar em mais um monte de coisa e me analisar como pessoa que escreve. E isso, como você mesma diz, é lindo! Fico feliz em poder te ler e aprender tanta coisa bonita como essas que você passa.
    Eu escrevi um texto contando minha jornada com a escrita afetiva; citei você e seu blog, claro! Ainda não publiquei porque estou meio receosa. Mas é aquilo, esse receio quer dizer alguma coisa, e por isso seus textos são tão importantes pra mim. Eu preciso parar de ter medo de revelar as coisas e de mostrar mais meu afeto, meu carinho em escrever para as pessoas.
    E meu propósito? Acho que é, principalmente, me comunicar com as pessoas. Porque eu também não sei falar direito, mas escrever é algo que tá dentro de mim desde sempre. Amo escrever e ver as letras formando palavras, como você disse. Só que às vezes eu esqueço que além de amar escrever é preciso amar, como um todo. Amar comunicar as coisas às pessoas; amar que a escrita possa juntar a gente numa “dança” em que a gente se entende e se conforta.
    Enfim, tenho adorado essa sua fase na escrita, pois tem me ajudado muito, muito mesmo. Obrigada ♡

    • Maki  em maio 01, 2021

      Julie, eu espero de coração, que você publique esse texto!
      entrei no seu blog, mas não o encontrei, então, acho que ainda não foi, né? e obrigada demais pelas palavras e por todo carinho, mesmo! você não sabe o quanto isso é importante pra mim <3
      sobre amar: é isso mesmo que você falou. sem tirar nem por!
      um beijo

  3. Thais Okubaro  em março 31, 2021

    Murakami sempre me salva quando me faltam palavras também HAHAHAHA
    A escrita pra mim também tem sido um processo de cura, desde nova eu sempre gostei de escrever, mas eu não refletia muito sobre o que eu escrevia. Hoje eu sinto que eu faço de maneira mais madura e conscientes

    • Maki  em abril 20, 2021

      sim, Thais! eu também! e acho que esse é um processo normal, né? esse amadurecimento. ainda mais quando você pratica!
      mas, de fato, o Murakami sempre acaba sabendo falar das coisas melhor que eu!