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pois é. é assim mesmo que eu vou começar esse post, com uma brincadeira singela com a palavra criatividade. sendo sincera, eu e ela (a criatividade) não estamos nos falando muito por esses dias, sabe. por vezes, acho que ela tá de mal de mim. ou eu to de mal dela (mas, se estiver, não me lembro o porquê).

dei uma risadinha resignada, do tipo ‘não acredito nisso‘, quando olhei o meu calendário e vi que esse era o tema do post da semana. justo quando eu tô numa baixa criativa. “poxa vida”, eu pensei, “logo hoje, que eu queria mais era passar o dia deitada em posição fetal na minha cama, a criatividade decide que é hora da gente conversar”. bom, vamos lá.

combustível pra criatividade

a risadinha também me contou outra coisa: talvez esse seja o assunto perfeito pra me tirar do baixão que eu tenho sentido. nada melhor do que enfrentar o problema de frente ao invés de correr dele como uma garotinha assustada (que fique registrado aqui que isso era o que eu preferia estar fazendo, correndo por aí como a Phoebe de Friends ou aquela tirinha da Turma da Mônica, gritando “o que está acontecendo???“).

bem… combustível para a criatividade. ando buscando também. semana passada acenderam alarmes por aqui, sabe, daqueles bem altos e estridentes, me indicando que algo tava meio torto. quando vi, era eu mesma, que tava sem paciência pra fazer qualquer coisa e tão desinspirada que as cores do mundo desbotaram um pouco mais. como ser criativo quando o mundo parece cada dia mais de cabeça pra baixo? e como trazer esperança pras pessoas de que é possível ser criativo e que isso importa quando a gente nem sabe mais o que é pra esquerda e o que é pra direita? (mentira, de esquerda e direita a gente sabe bem – mas vocês entenderam, né?)

eu, que tava a louca do podcast, de repente me vi sem vontade alguma de ouvir mais alguém falando num fone de ouvido enfiado na minha orelha. mas os ensinamentos de Austin Kleon no Creative Pep Talk ainda ressoam na minha mente, de como seguir criando em tempos confusos. na verdade, foi esse papo, que eu ouvi tantas semanas atrás, que me deu a ideia desse texto, de falar do que é o combustível da criatividade.

pro Austin, é um grau de indignidade. é algo que incomoda. teve alguma coisa, não muito bem explicável em palavras, que indicou pra ele que as pessoas tavam olhando pra própria criatividade de um jeito torto e, nisso, surgiu Roube Como Um Artista.

ele cita até a história do punk, como o punk usava toda a indignação com o status quo como esse fogo pra criar múscias nervosas e raivosas e definir todo um movimento que, hoje a gente sabe, é meio histórico.

e eu lembrei de uma das minhas músicas favoritas do The Script, que não ouvia há tempos, mas lembro de colocar pra tocar logo depois que terminei esse podcast. a letra de If You Could See Me Now é triste, mas é linda. nela, Danny O’Donoghue e Mark Sheehan falam sobre os pais que faleceram. Danny perdeu o pai enquanto escrevia com a banda um dos primeiros singles que eles tiveram, We Cry, e o Mark perdeu o pai e a mãe quando tinha 12 anos. a música conta sobre essa relação, mas tem um verso específico que sempre me emociona demais. diz assim:

“pegue essa raiva, coloque numa página, leve a página para o palco, exploda o telhado daquele lugar”

a letra no original em inglês fala “blow the roof off that place” e eu não encontrei uma tradução adequada, então foi a literal mesmo. mas a ideia é essa, de fazer o lugar explodir com a energia da música. e eu confesso que nunca fui muito fã de usar a raiva como lenha pra qualquer fogueira, mas ultimamente andei pensando que se não fizesse alguma coisa com o que eu tava sentindo, talvez eu nunca mais deixasse de sentir isso. e eu me recuso a viver com esse absurdo dentro mim.

enfim. o Neil Gaiman, lá naquele discurso Faça Boa Arte fala isso também, sobre você fazer arte com o que quer que venha no seu caminho (seu marido fugiu com um político? a receita federal está na sua cola? seu gato explodiu? faça boa arte). e isso não se aplica só às coisas ruins, mas também aos dias bons, em que você se sente bem, e usar esse ‘sentir bem’ como o seu combustível.

todo mundo que eu já li e que fala sobre criatividade (Liz Gilbert! Julia Cameron! Haruki Murakami!) conta que a história do artista transtornado é démodé e que não vale a pena seguir por esse caminho. mas, eu tenho visto, também não vale a pena seguir pelo caminho que ignora totalmente o que sente, porque isso bloqueia o fluxo criativo tanto quanto a autodestruição.

(e será que tamponar os próprios sentimentos não é uma autodestruição também? fica aí a pergunta.)

nessas horas, a gente fica esperando uma mágica, alguma coisa sobrenatural que tire a gente de uma coisa que a gente já sabe que não existe (né?), e como não cair em contradição ao falar sobre não achar combustível pra criatividade quando eu mesma ando me sentindo não criativa?

e o objetivo, aqui, acho que é a gente conversar mesmo, porque eu não sei a resposta pra isso. e, enquanto escrevo, vi de relance a criatividade sentando no cantinho da cama – não vamos fazer movimentos bruscos, ok, vai que ela sai correndo. mas sinto que a criatividade volta a rolar quando a gente se abre pra resolver o que tá sentindo, seja colocando isso no papel como letra de música, seja conversando com alguém, seja fazendo a ilustração mais visceral que você já fez. tudo isso é criatividade.

pra mim, criatividade tem muito a ver com o divino, sabe? com uma conexão muito maior, é por isso que gera essa ligação entre nós. eu leio um texto e me emociono porque tem algo que é igual em mim e em você fazendo essa linha direta entre a gente, como aqueles telefones de latinha e barbante que a gente fazia quando criança (as crianças ainda brincam disso?).

então, hoje, falando da última atualização do meu sistema operacional, o que tem sido o combustível da criatividade? vamos à uma pequena lista pandêmica:

  1. ouvir as minhas músicas favoritas em loop (a preferida de todas segue sendo Changes, do Lauv);
  2. ler (e ficar absolutamente chocada com) Resista – Não Faça Nada, da Jenny Odell;
  3. sair pra caminhar com o Michael Scott sempre que dá (e, principalmente, de dia);
  4. virar uma grande batatinha amassada (como diz a Rowena Tsai) ao passar o tempo livre sentada no sofá jogando videogame;
  5. fazer um pequeno esforço pra escrever esse post que, eu sinto, já teve um efeito gigantesco ao abrir de novo a minha torneirinha criativa.

ai, que alívio! coisa linda que é a criatividade, viu? mas acho que é essa a reflexão mesmo, sabe? o combustível pra ela vem de onde a gente quiser, a questão é onde tá o nosso foco. o meu, até agora, tava no mal-estar que eu tava sentindo que, tudo bem, tem que ser endereçado e tem que ser resolvido, mas eu não vou resolver coisa alguma evitando fazer o que eu gosto. pelo contrário, é capaz ajudar mais do que qualquer outra coisa.

e, acho que posso dizer com segurança, o meu combustível tava, sim, sendo a indignação que eu tava sentindo, até comigo mesma. acho que aprender a direcionar a energia é uma das coisas mais potentes que a gente pode fazer e eu percebo que quando não to bem, ela fica absolutamente difusa, espalhada, e me concentrar numa coisa que eu naturalmente já gosto de fazer ajuda muito.

ainda não sei se essa é a resposta absoluta pra esse assunto – se é que existe uma única -, mas sinto que é um caminho. canalizar a energia, o truque mais antigo do livrinho dos criativos, que 10 entre 10 grandes nomes da criatividade já falaram sobre. e a coragem, sabe? de fazer isso. porque é um ato de coragem, sim, colocar o seu coração pra jogo. o meu costuma tá em cada palavra desse blog.

se eu esqueço disso… bom, perde o propósito da coisa toda, né? e, escrevendo esse post, senti que tive mais um entendimento disso. se eu não compartilho o que eu sinto em forma de trabalho criativo com as pessoas… de quê adianta?

(lembrando que estamos falando de criatividade e trabalho criativo, não de jogar a sua raiva pra cima de alguém online, crianças.)

fica vazio, né? escrever fica vazio. e eu não gosto de palavras vazias, acho que vocês já sabem. o resumo da ópera, então, é este: antes de tudo, direcionar a minha energia pro que eu amo, mesmo que ela pareça meio torta. no meio do caminho, percebo que muda e vira algo bonito, que me alivia o peito e encontra uma conexão do outro lado da tela.

o próximo passo que veio na minha cabeça é um que a própria Liz comenta em Grande Magia: buscar algo que me interesse e ir atrás de entender tudo sobre o assunto. a fagulha criativa tá nisso também, nesse interesse por algo, mesmo que não seja exatamente o que você tinha em mente.

me conta qual tem sido o seu combustível criativo?

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Escrito pelaMaki
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10 Comentários
  1. Miriã Diasis  em julho 08, 2021

    Eu simplesmente amei esse texto! Obrigada por isso, Maki! Estava precisando.

    Já vou ler os outros posts e te acompanhar!

    Um beijo e um queijo!

    • Maki  em agosto 07, 2021

      nhaaaa brigada por estar aqui, Miriã!

  2. Amanda Moresco  em maio 22, 2021

    sabe uma coisa que eu notei com minha mandala lunar? que por volta de 1 semana antes de eu menstruar, há uma baixa na minha escrita. eu não quero escrever nesses dias, e não quero nem pensar em blog. durante esses dias, eu quero é desintoxicar do meu blog. daí, no dia que vem a menstruação, vem também vontade de escrever – muita vontade de escrever. para mim, o que funciona é aceitar esses dias 🙂

    • Maki  em julho 05, 2021

      menina, faz TOTAL sentido! eu tenho dias bem desinspirados também logo antes da menstruação, mas pra mim bate mais uma tristeza mesmo (que, consequentemente, me deixa sem vontade de escrever!). mas a cada mês eu tento coisinhas diferentes pra lidar com essa fase da forma mais tranquila possível.

  3. Melina  em maio 21, 2021

    Amei demais esse post, Maki! 😍😍😍

    Meu combustível criativo acredito que seja o meu processo de autoconhecimento e a curiosidade por vários assuntos (acho eu) 😆

    Beijooo 😘

    • Maki  em maio 23, 2021

      Meeeeeel, que legal ver você aqui, sério <3
      fico muito feliz que você curtiu o post! e eu acho que esses processos de se conhecer eles costumam ser um combustível muito bom, né? pra mim, pelo menos, aprender mais sobre mim sempre me inspira a compartilhar o que eu sei!

  4. Thaís Melo  em maio 13, 2021

    Exatamente o texto que eu precisava ler hoje! O meu combustível criativo tem sido aceitar os meus ciclos de luz e sombra, e apenas seguir em frente. No meu caso, um desenho por vez. Eu quase nunca comento, mas eu adoro ler os seus textos! Eles sempre me fazem pensar no meu processo criativo e a ser mais gentil comigo mesma. A ser mais gentil com a minha criatividade e com a criatividade do mundo.

    • Maki  em julho 05, 2021

      ai, Thaís! que bom saber disso, sabia? mesmo <3 eu fico muito feliz. porque é sobre isso! é ser criativo, mas é ser gentil e carinho consigo primeiro, sabe? a criatividade, a meu ver, é uma consequência disso!

  5. Bianca  em maio 12, 2021

    em termos de criatividade devo admitir que ando muito desconectada com ela, no meu caso eu sinto que estar inspirada e estar me sentindo criativa são coisas bem distintas e a criatividade e, acho que mais importante, a vontade de criar tem estado bem longe, provavelmente lá na terra sem covid. então só posso te contar o que anda me deixando inspirada:
    – seu blog, que tem me incentivado a deixar pelo menos algumas palavras em todo post
    – arte afetiva, sempre acabo voltando no ig da malena flores, da cordeind e de artistas nessa pegada para se sentir abraçada e inspirada a viver por um amanhã mais gentil
    – taylor swift, essa mulher tem uma capacidade de me fazer sentir tudo e as vezes é exatamente disso que eu preciso
    – meu diário, vi seus stories sobre ter finalizado um e aquilo me deixou tão feliz, estou bem perto de acabar o meu e mal posso esperar, acho que aquela satisfação que eu sei que vai vir quando eu ver o caderno todo completinho vai me deixar mais inspirada ainda a preencher diários com meus pensamentos

    • Maki  em julho 05, 2021

      ai Bianca <3
      teus comentários, sabe?
      eu super entendo o que você tem sentido... no último mês passei por um baixão de criatividade e inspiração e deixei muita coisa acumular (inclusive os comentários por aqui, me perdoa?). mas, sabe, é isso. a gente vai se alimentando de coisas boas, criativamente falando, e uma hora isso aflora como algo bonito. tá tudo passar um tempo mais introspectiva, só aproveitando coisas que a gente curte, sabe?

      como sempre, muito obrigada pelo carinho! (e também tenho ouvido muito taylor swift! e tô quase acabando mais um diário! uhul!)