internet

coloquei meu álbum preferido do BTS pra tocar antes de começar a escrever esse post (caso você esteja curioso, Love Yourself: Answer). senti que precisava de conforto, quando conforto é tudo o que a gente não vê mundo afora.

foi uma semana difícil, sabe? com certeza foi mais difícil para alguns do que para outros, mas eu acho que ninguém se beneficia quando a gente tenta comparar graus de sofrimento. pra mim, sofrimento é sofrimento e ponto final. o que muda, talvez, é mais o grau de empatia do que qualquer outra coisa.

foi uma semana em que não consegui escrever. tive dificuldade de postar qualquer coisa em qualquer lugar e, quando fazia, sentia a bile subir pelo esôfago e o estômago revirar. olhar a tela em branco foi complicado. acompanhar as notícias também.

no meio de tudo isso, fiquei me perguntando: como diabos eu vou produzir alguma coisa pra internet agora? pra falar de rotina? de livros? de conforto? como? pra quê? quem precisa disso agora?

me senti paralisada, e a paralisia tinha nome: medo.

medo de falar o que eu não devia, de falar demais, ou, talvez, de menos. senti medo de não agradar, e me vi tentando fazer exatamente isso. agradar as pessoas, quero dizer. me senti mentirosa, traidora de mim mesma, me senti incapaz.

isso, com certeza, foi o que mais doeu.

a sensação de incapacidade é uma que carrego comigo há mais tempo do que gostaria de admitir. vira e mexe, ela aparece, me dizendo que não posso fazer alguma coisa. dessa vez, ela veio falando sobre o que eu mais amo.

escrever.

como escrever qualquer coisa quando o mundo tá sofrendo tanto? que direito eu tenho? de que forma falar do que sempre falei?

na dúvida, sumi.

acompanhei de longe-mas-nem-tanto o que acontecia. conversei com pessoas. estudei muito. avisei desavisados e observei. ouvi o máximo que conseguia, coisa que já treinava há anos. me vi querendo agradar de novo. chorar um pouco mais.

até escrevendo esse post eu pareço brigar contra os pensamentos que me colocam nesse mesmo lugar. escrevo palavras chorando, com o coração apertando, ouvindo minhas músicas favoritas, esperando estender um pouco mais o meu círculo de empatia.

de certa forma, é um alívio.

passei a semana com o medo me encurtando a respiração, a desesperança me tomando os pensamentos e o uma dor. que. simplesmente. não. ia. embora.

e o tempo todo eu via essa pergunta na minha mente. por quê? como? eu sei fazer isso? eu sei compartilhar alguma coisa? será que eu sei mesmo? e, se sei, de que adianta? por que agora?

o dito popular fala que “a caneta é mais poderosa que a espada”. mas eu duvidei. até porque, nunca fui nem nunca serei de bradar espadas por aí. ao mesmo tempo, nunca entendi tanto a importância das palavras para aqueles que ainda agem com a raiva que sentem. temos exemplos demais que comprovam essa teoria, aliás.

hoje sai de casa pela primeira vez tem três semanas pra ir no mercado. vi os ipês cor-de-rosa colorindo a rua e, por um momento, senti uma pontada no peito. não vi minhas flores queridas nascerem e colorirem o chão, não fiz fotos da suas pétalas cobrindo o asfalto nem dos buquês alegrando os dias ensolarados de outono.

o cinza aqui dentro parecia colorir o céu lá fora, sabe?

e foi nesse passeio que eu lembrei de uma palavra que de tão usada quase perdeu o significado: intenção.

lembrando aqui que estamos falando de produção de conteúdo, mas, como tudo nesse blog, vale pra qualquer coisa na vida.

o segredo está na intenção.

olhei pra dentro. fechei os olhos enquanto tomava banho e respirava fundo depois de passar tanto tempo de máscara. segurava na garganta a vontade de chorar e fechei a porta pra que ninguém ouvisse. achar que eu engano alguém é uma ilusão minha, mas senti que foi aí que a coisa destravou na minha cabeça.

é intenção. a intenção de comunicar de verdade faz maravilhas porque não ataca. ela não tem o objetivo de fazer a minha voz ser ouvida por cima das outras, mas de compreender. e se pra isso for preciso que eu fique em silêncio por um tempo, que assim seja.

a intenção independe de palavras, afinal.

de repente, a vontade de escrever voltou e a dor no peito deu uma trégua. parece que a mente clareou e o coração ficou mais leve. os dedos aquietaram e parece que eu encontrei o propósito de novo.

sabe, quando a gente fala de produção de conteúdo, de escrever textos, de fazer fotos, de tomar café, chá, fazer um bullet journal ou um planner de rotina da manhã… parece que as ações em si mesmas não têm uma intenção. mas, se a gente olhar direito, vai perceber que tudo o que a faz tem um quê de “quero alguma coisa com isso”.

percebi que as coisas feitas com uma intenção de carinho tem um alcance muito maior. e não tô falando de números. tem uma coisa que conecta a gente que é maior do que isso que a gente vê e se o meu posicionamento esquece disso por um instante que seja, o que eu falo sai torto, o que eu escrevo fica estranho, e as fotos que eu faço não me parecem tão bonitas assim.

toda intenção com base no mundo uma hora cansa. quero mais seguidores, mais likes, mais impressões únicas. mais textos publicados. mais hora, menos hora, isso perde o sabor agridoce de vitória.

mas aquilo que vem desse lugar que deixa a gente mais leve, mais conectado, mais junto, dura pra sempre. ouvi de novo e de novo um podcast essa semana que fala sobre comunicação e propósito e acho que foi uma das coisas mais bonitas e mais necessárias que ouvi desde sempre. engraçado como a gente tem mania de esquecer as coisas importantes, mas ele me veio na mente de novo, e tem um trecho, de tantos maravilhosos, que me pegou mais forte dessa vez:

“nós precisamos buscar entregar o que realmente acrescenta, ou o que realmente importa, ou o que é realmente relevante, ou o que tem um verdadeiro propósito e que tem a verdadeira intenção de se comunicar. isso é Amor. Amor em forma de relacionamento, pois isso exige um real interesse por todos com quem nós nos relacionamos. 

Kaw Yin e Yan Yin – Não Dá Pra Desouvir #39 – Comunicação e Propósito

real interesse. entregar o que realmente acrescenta. e, de fato, eu não sei fazer. só porque não tá naquilo que eu conheço. ainda bem, porque o que eu conheço envolve falar de mim mesma o processo inteiro e isso não faz bem pra ninguém.

então, como? como produzir conteúdo com intenção? eu não sei. ainda bem! tenho espaço pra aprender. me abro pra ouvir. pra fazer perguntas que precisam ser feitas na esperança de encontrar respostas. fico quieta por um tempo. ouço. faço um pouco mais de café. observo a vista da janela por mais um tempo. e as palavras vêm.

intenção. carinho. conforto. comunicar. é nisso que eu acredito. e é isso que eu vou entregar, qualquer formato que seja. a resposta tá aqui, eu confio. e ofereço ela inteira pra você. talvez precise de uns ajustes, umas revisões, algumas confirmações. mas segue completa, em formato de texto. do meu coração pro seu.

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Escrito pelaMaki
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10 Comentários
  1. Lary Zorzenone  em outubro 26, 2020

    Oi Maki

    Sei que vim aqui atrasada ver seu post, mas sinto que vim no momento que eu precisava. Ultimamente tenho me perguntando muito sobre o propósito das coisas que faço, do conteúdo que produto. Meu blog, coitado, está bem do abandonado. Estou tentando retomar o controle dele e de ter as rédeas da minha vida, porque tenho sentido ultimamente que perdi ela. Acho que é seguro afirmar que 2020 é um ano de muitas mudanças, a nível mundial e pessoal. Estamos evoluindo, querendo ou não.

    Vidas em Preto e Branco

    • Maki  em outubro 31, 2020

      exato, Lary! é um ano bem importante, eu acho. e isso é bom!
      a gente precisa de umas sacudidas, às vezes, pra sair da inércia… poderia ser menos sofrido? com certeza.
      mas não deixa de ser um momento importante, né?
      força, garota! sacode a poeira desse bloguinho aí!

  2. Joice  em julho 29, 2020

    Oi, Maki.
    Confesso que acompanho o seu blog há algum tempo (pensa em um blog indicado por outros blogs tão inspiradores como o seu!). Fico muito triste toda vez que vejo um blog que eu amava morrer, mas dá para entender, né? As vezes é cansaço, medo ou simplesmente a pessoa precisa de um tempo offline.
    Me propus a tentar um BEDA no mês que vem e, com certeza, esse será um post que eu indicarei.
    Seu texto foi uma das melhores coisas que li hoje muito obrigada pela sua sinceridade e delicadeza ao falar sobre esse assunto.
    O seu conteúdo é impecável e necessário.

    • Maki  em agosto 16, 2020

      Joice, você é um doce, mesmo!
      eu juro que considerei fazer o BEDA esse mês, mas decidi prezar pelos estudos e mais algumas coisinhas. aliás, o blog tá passando por uma reformulação e prometo mantê-lo vivo ❤️ comentários como o seu me estimulam a continuar em frente ❤️

  3. Sheila da Luz  em junho 30, 2020

    Tô aqui relendo alguns dos teus posts que me inspiram demais.
    Cada amo mais consumir conteúdos de blog, pois através desse universo eu posso ir muito mais além do que assistir vídeos. E foi ate por conta desses fatores todos que depois de muito tempo eu voltou ao meu velho blog também. Fazer textos tem melhorado e muito a minha ansiedade.
    Bjus minha querida.

    • Maki  em julho 12, 2020

      aaaa Sheila, que legal saber disso! mesmo <3

  4. renata rodrigues  em junho 16, 2020

    senti meu coração quentinho, esse texto foi tipo um abraço ♥
    te acompanho a um tempinho e você me inspira demais! acabei de me formar em jornalismo e no meio dessa pandemia louca senti vontade – e necessidade – de voltar a escrever para o meu blog e fico feliz em poder estar colocando um pouco de mim em cada texto que escrevo. não é nada tão carinhoso como o seu blog que me abraça toda vez que venho fazer uma visita, mas escrevo de coisas que acredito e que vejo necessidade de serem faladas. mesmo na maioria das vezes falando de séries, acho que consigo deixar um pouco de mim lá.
    e acredito que a comunicação é isso. a gente constrói com palavras e sentimentos, e por isso, deixamos um pouco de nós em tudo. é lindo <3
    obrigada por escrever de uma forma tão cuidadosa e carinhosa. obrigada por me inspirar e motivar, maqui. você tem uma luz enorme e eu agradeço demais a blogsfera por ter me apresentado você e o desancorando. (:

    • Maki  em julho 12, 2020

      Re, não sei nem como responder o seu comentário! brigada mesmo por todo esse carinho. de coração!
      e, ó, se você coloca um pouquinho de você em cada texto que escreve, tenha certeza que é carinhoso, sim ❤️

  5. Ana  em junho 15, 2020

    Oi, Maki. Depois de 10 anos fora do universo dos blogs, esse ano decidi voltar a escrever. Muitas dúvidas surgem todos os dias sobre ter um blog e produzir conteúdo. Também me questiono sobre a utilidade do que vou publicar para outras pessoas. E o medo se faz presente cercando os pensamentos.
    Com a pandemia alguns pensamentos começaram a mudar para mim. Se o conteúdo que produzo não machuca ou faz mal ao próximo, então está sendo útil pelo menos para que eu aprenda e me aprimore.
    Acompanho o seu blog há pelo menos 2 anos. É uma das pessoas que me inspiraram a voltar a escrever um blog. Adoro o seu conteúdo pela humanidade com que escreve e pelo aconchego que proporciona. Ler seus textos é como receber um abraço e perceber que a vida é um presente de imenso valor.
    Seu conteúdo é muito útil e incrível Maki.
    Esse ano, com o isolamento social, houve uma ressignificação de muitas coisas na minha vida. Antes eu tinha muito medo e vergonha de comentar nas coisas que me interessavam. Um medo bobo de comentar algo idiota. Mas, esse ano, decidi que participaria mais e apoiaria àquelas pessoas que me inspiram. E um jeito simples de dar apoio é comentar naquilo que gosto e me identifico. Por isso, criei coragem para falar a você que o seu conteúdo é especial.
    Obrigada por esse trabalho lindo, Maki.
    Abraços de alguém que se inspira muito em você.

    • Maki  em julho 12, 2020

      a meu Deus, Ana!
      como eu respondo um comentário tão lindo como esse?
      de coração muito obrigado mesmo por todo esse carinho. juro pra você que fiquei emocionada!
      é por causa de comentários como o seu que eu continuo escrevendo. brigada por ser minha inspiração tanto quanto eu sou a sua!