cotidiano

eu tô aqui ouvindo a minha música preferida da Zaz (é Si jamais j’oublie, caso você não saiba) e pensando no que falar sobre o tempo que eu morei na França. um tempinho atrás, uma seguidora muito fofinha me mandou uma mensagem no Instagram perguntando se eu não poderia contar mais sobre a minha vida por lá.

e eu tô aqui matutando desde então.

rotina na frança
o catavento da varanda, belíssimamente registrado num filme instax que queimou

é engraçado, porque eu sinto que não tenho mais o que falar sobre um período da minha vida que eu prefiro esquecer. ao mesmo tempo, fica martelando o quanto eu tenho a contar sobre o período que as ruas de Nice eram a minha casa, e vira e mexe as lembranças me voltam como curiosidades soltas no meio de conversas do dia a dia.

porque, querendo ou não, lá também era um dia a dia.

taí. talvez eu fale sobre isso, então. dia a dia.

viver na França foi uma as experiências mais incríveis que eu já tive, por mais que eu tenha certeza de que também foi uma das mais… tristes. porque eu tava triste, sabe? e mudar de país não resolveu o que eu tava sentindo, nem me deixou mais feliz. na verdade, talvez só tenha potencializado a tristeza e a solidão que eu sentia quando ainda tava no Brasil.

mas… sabe, nem tudo foi ruim. porque a França é linda. pra mim, tem cara de casa. é um lugar que me deixa com um quentinho no coração, e onde me apaixonei em cada esquina.

que engraçado. me deu vontade de chorar.

Nice é uma cidade minúscula, sem muita coisa pra fazer, que dormia cedo e acordava mais cedo ainda, cheia de vovôs franceses e cachorros e barracas de socca e pedrinhas no lugar de areia na beira do mar.

todo dia, quando eu chegava das aulas de francês, eu almoçava e saía andando, sem rumo, até chegar na Promenade des Anglais e na praia. e ficava lá. observando o mar. tomando vento frio no rosto. absorvendo o pouco calor do sol de inverno. vendo as pessoas andando de um lado pro outro e ouvindo Wake Me Up do Avicii no fone de ouvindo em loop (sim, era a música do momento).

as botinhas que eu tinha voltaram gastas de tanto andar. eu ia a pé pra tudo quanto era lado porque gastar um euro pra andar de tram numa cidade que você cruzava em 40 minutos com as próprias pernas me parecia absurdo. e eu gostava. me ajudava a pensar.

eu amava passar pelas boulangeries e sentir o cheiro do pão quentinho saindo do forno. de ver aquelas criancinhas francesas andando todas encapuzadas até a escola, que ficava bem no meu caminho.

eu amava o catavento na janela. e me debruçar um tiquinho na varanda pra ver o mar, lá no fundo. comi tanto macarrão com pesto que (quase) voltei enjoada pro Brasil, mas foi a primeira coisa que eu procurei no mercado quando tava precisando de um aconchego por aqui.

tinha feira de rua todo dia. todo. santo. dia. uma fruta mais bonita do que a outra. os franceses gostam de comida fresca, sabe? nada dessa história de fazer mercado pra semana ou pro mês. é todo dia. o dia todo.

comi comidas maravilhosas por lá. e me perdi no mercado de flores, procurando um pouco mais de cor pros meus dias. sentei mais de uma vez na Place Massena olhando pra roda gigante que montaram lá no Natal e me perguntando o que eu tava fazendo ali.

não encontrei a resposta, mas comi churros deliciosos com Nutella logo ali na frente.

me perdi nas ruelas da Vieille Vile mais de uma vez e fiquei maravilhada todas elas com a nomenclatura dupla de cada uma: um nome em francês e outro em niçardo, uma mistura doida de francês com italiano que faz o dialeto local e que, hoje em dia, só os velhinhos falam.

Nice me lembra diários, escritos à caneta, embaixo do sol e com as mãos geladas de frio. me lembra Doctor Who, porque foi quando eu assisti todas as temporadas do New Who de uma vez só. me lembra dançar na sala de casa quando tava sozinha tentando espantar a tristeza. me lembra acordar doida olhando as notificações do celular porque o fuso horário era muito diferente.

me lembra acordar cedo pra tomar banho antes da Lari, que viajou comigo, e deixar ela acordar só quando eu já tava vestida, pra que dormisse um pouco mais. me lembra programas culinários mil que a gente assistia de noite e terminar a semana sempre no Wayne’s, dançando enquanto o corpo aguentava e comendo nachos (o quanto a gente aguentava também).

a França é a minha casa. tanto quanto aqui. tanto quando eu mesma, porque casa não é um lugar, já dizia Anna Oliphant.

hoje, penso nela com carinho. um desejo de voltar misturado com a certeza de que nunca saí de lá. e lembrar da Maki que viveu aqueles meses em Nice me deixa com o coração confuso porque aquela pessoa (ainda bem) não existe mais. mas, ainda bem também, ela decidiu passar um tempo numa cidade minúscula de mar azul pra aprender uma língua nova e voltou decidida a pedir ajuda.

o fim desse texto aprece ser o mesmo do começo. meio indefinido, meio sem saber por onde começar, só porque a França agora é uma memória distante que antes me deixava de peito apertado e agora… tá ali quando eu lembro de coisas divertidas pra jogar no meio de uma conversa despretenciosa.

falar dessa época… ah, tudo bem, sabe? mas acho que preciso mesmo falar do agora. foi lá que comecei a pedir no Póit Zéro o que é melhor pra mim, e é o que sigo fazendo, até hoje. agora, com um extra: eu não quero só o melhor pra mim, mas o melhor pra todos.

e se vier com um prato de macarrão de pesto e um sotaque do sul da França, que ótimo.

se não tiver nada disso. tudo bem também.

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Escrito pelaMaki
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6 Comentários
  1. Manuela Nunes  em agosto 06, 2019

    Encontrei por acaso o seu blog, e por acaso este texto. Amo a França, de uma forma que só outras vidas explicam… E estive em Nice mês passado, me apaixonei pela cidade, e você descreveu tudo tão bem, parece que estava lá comigo… Foi minha primeira viagem sozinha, e foi muito importante para o meu amadurecimento, mas a minha cura também não estava, mas a busca continua…

    Lindo texto, obrigada!

    • Maki  em agosto 22, 2019

      aaaaa Manu! Nice é linda, né? êta cidadezinha incrível <3

  2. Olívia Molinari  em julho 10, 2019

    A França é linda mesmo.
    Tive a oportunidade de ficar 4 dias em Paris. Mas como você disse, a gente sai de lá, mas lá não sai de nós. HAHAHA
    Amoooo seu blog!

    • Maki  em julho 21, 2019

      ahahaha eu amei! é isso mesmo. a França segue aqui, mesmo comigo tantos quilômetros longe de lá.

  3. Mari Damasceno  em junho 25, 2019

    Descobri esse espaço não tem muito tempo, mas já amo tanto seus textos. Esse, em especial, mexeu demais comigo, pois por muitíssimo tempo a França foi uma inspiração pra muita coisa na minha vida. Quando você citou a Anna, nossa, juro por God que vi fogos de artifício, porque é meu livro favorito! ❤

    Não sei exatamente o que você passou nessa sua fase, mas super entendo esse sentimento que citou. Pra ser bem honesta, acho que estou passando por isso ultimamente. Mas é tudo fase, e é tudo aprendizado. Viver é sempre uma loucura, mas eu adoro. Acredito que você também! haha

    Amei demais esse texto. Lindas palavras, consegui visualizar tudo o que citou e me senti abraçada por Nice.

    MERCI!!!

    • Maki  em julho 01, 2019

      Anna melhor livro e quem discorda não leu direito, certeza! hehehe
      pois é, foi uma fase meio agridoce, mas, ainda assim, cheia de carinho ❤️