não sei quando foi que aconteceu (mas tem rolado com certa frequência), que alguém comentou como fica chocado com a forma como eu transmito sensações por meio da escrita. vou contar um segredo: não é como se isso ficasse na minha mente toda vez que eu abro o editor do WordPress ou um arquivo do Word. só o que fica na cabeça é que tem uma coisa que eu quero dizer e aí ela meio que toma vida sozinha e o resultado vocês encontram por aí.
mas, sim, eu tenho consciência que os meus textos passam uma vibe, que tem uma coisa que toca você bem fundinho do coração e isso tem um efeito. e eu ando com uma vontade de falar mais sobre escrita por aqui e esse assunto ficou na minha cabeça e eu só pensei ‘ei, que bom jeito de começar, não é mesmo?‘.
daí eu passei pra fase do processo criativo em que tudo o que eu tinha na cabeça era uma pergunta e nenhuma resposta:
mas como é que eu faço pra tocar as pessoas com o que eu escrevo?
ixi, que coisa difícil de responder. porque não tem uma fórmula, sabe? e eu tô falando aqui 100% de sensação. de você ler um texto e sentir uma coisa e querer voltar pra ler mais ou desistir no meio do caminho.
agora, acho que é o momento de compartilhar um outro segredo: todo texto que você lê ou que você escreve tem uma sensação. todo. todo todo todo. T O D O. e, aqui, estamos sendo totalmente comprometidos com as palavras e dizendo que todo é todo mesmo, porque todo texto escrito foi escrito por alguém que sente coisas e coloca essas coisas que sente naquilo que faz.
entendeu?
eu não sei o quanto você para pra olhar as coisas que sente durante o dia, mas seja um tuíte, uma mensagem no WhatsApp, um e-mail, tudo o que você escreve sai de você com a sensação que você tá sentindo naquele momento. isso significa que se você escreveu uma coisa meio nervoso, essa sensação vai junto com as suas palavras até o leitor, que vai sentir uma inquietação no coração, talvez sem entender muito bem o porquê.
entra aí o discernimento.
acho que isso fica muito claro quando você se aventura na timeline do Facebook e do Twitter e aparece ~aquele texto~ sobre ~aquele assunto polêmico~ daquela Pessoa da Família que Sempre Causa™, e a sua primeira reação é ficar com o coração batendo forte e sentindo o calor subir a espinha.
nisso, tem duas coisas: primeiro, a pessoa que escreveu tava, provavelmente, sentindo tudo isso. segundo, tem um desejo seu de sentir umas coisas também e você lê aquilo e fala ‘OLHA SÓ, COMBINA COM O QUE EU TO QUERENDO VAMO BATE A MÃO NO TECLADO E ARREGAÇAR AS MANGAS PRA ESSA DISCUSSÃO’.
eita nóis, circo armado.
o que eu tô querendo dizer com tudo isso é que as coisas que a gente sente tem um impacto direto nas coisas que a gente faz, e se você quer envolver o seu leitor com alguma coisa, então, talvez, seja interessante você pensar na sensação que tá colocando na hora de escrever.
eu não fico pensando o tempo inteiro na sensação que eu tô quando abro o editor do blog, porque eu já me coloquei num lugar mental de, toda vez que eu clico em ‘Adicionar Novo‘, assumir um compromisso de passar pra você uma sensação de aconchego e uma esperança de que momentos melhores estão por vir.
e, se eu não tô nessa vibe, o texto não sai, fica tudo truncado e estranho e eu fico em conflito. eu apago e começo o mesmo texto milhares de vezes (alô, newsletter de ontem!) e eu não acho as palavras certas pra dizer o que eu quero dizer.
tem horas que essa sensação confusa, inicial, é importante pra me levar pra esse final quentinho no coração, uma demonstração de que é isso que acontece com a minha mente e que pode acontecer com a sua também: dá pra você sair de um lugar confuso e ficar bem.
e aí a sensação do texto é essa: começa meio bagunçado, por mais que as frases façam sentido, mas no final chega em algum lugar consistente.
tudo pra terminar na seguinte conclusão: por mais que o enredo tenha o seu papel em prender o leitor, que o conteúdo tenha que ser bacana, interessante e tudo mais, saiba que tem uma sensação envolvida que você vai tirar de você e colocar no papel (mesmo que fictício) e isso vai ter um efeito do outro lado da tela.
lembra do post sobre o clubinho? então, a minha dificuldade em escrever recentemente era por isso: eu me perdi nas sensações e não tava encaixando o que eu sentia com o que eu me propus a expor aqui. daí não flui mesmo.
escrever é mais fácil do que parece, quando você tem uma meta clara na sua cabeça. o que você quer que o seu leitor sinta, quando lê o que você escreve? escrever um tuíte com raiva, gera raiva. escrever uma reflexão que vem lá do seu coraçãozinho toca o coraçãozinho do outro lado, e isso gera identificação (mas aquelas de verdade, que gera mudanças e empatia e amor mútuo).
mas mesmo um tuíte que seja, sai de você com uma sensação e chega do outro lado com essa mesma sensação. e quem ler vai sentir uma coisa, que, às vezes, nem sabe de onde veio ou porque tá sentindo. e aí vira um efeito bola de neve: você vai pegando sensações de todos os lados e chega no fim do dia exausto de sentir tantas coisas diferentes.
então… como tocar o leitor com as coisas que você escreve? prestando atenção no que você tá sentindo enquanto escreve, ué! e sendo honesto, sabe? com você mesmo. sem tentar se colocar numa caixinha, mas colocando quem você é de verdade no papel.
eu sempre lembro do discurso Faça Boa Arte, do Neil Gaiman (amo tanto, meldels), em que ele fala que um trabalho criativo é você jogar mensagens em garrafas no mar e esperar que pelo menos alguma delas volte pra você com alguma coisa diferente dentro. e escrever é meio isso. você joga a sua garrafa cheia de você e das coisas que você sente no mundo e só pode torcer pra que, em algum momento, isso volte. mas, independentemente do tempo de retorno, você ainda joga no mar tudo o que você tem com a certeza de que você tá 100% representado em todas as palavras que escreveu e que, de alguma forma, isso vai tocar alguém.
curiosamente, acabei de perceber que talvez isso tenha sido exatamente o que eu esqueci, nos últimos meses.
mas, divagações e insights à parte, é isso. não tem segredo ou uma regra. é seguir um fluxo, é deixar o coração guiar os seus dedos e dar o ponto final com paz no coração. eu nunca termino um texto sem ter aquela sensação de ‘é isso mesmo, consegui, terminei‘. eu continuo escrevendo até o ponto final vir na minha mente e eu sentir que a mensagem foi passada, tudo foi falado, acabou, boa sorte, não tenho o que dizer, são só palavras, e o que eu sinto não mudará (como diria Vanessa da Mata).
e aí… você espera. e a resposta vem. ou não vem. ou aparece um tempo depois do esperado. ou não chega nunca. mas o ponto final te diz que você colocou ali as sensações necessárias pra mexer com o seu leitor, com o que ele sente, com o que ele pensa dele mesmo, e isso é o suficiente.
ponto final.
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14 Comentários
Que texto lindo, me senti abraçada e tranquila, sua leitura me tocou, de verdade! <3
<3 <3 <3
Adorei este texto. Tenho alguma dificuldade em escrever assim, gostava muito, mas sinto que escrevo muito mais com a cabeça do que com a emoção e não consigo fazer o contrário.
é um treino, Inês! olha com carinho a próxima vez que você for escrever qualquer coisa!
Seus textos maravilhosos como sempre, Maki! Você tem dom, talento, habilidade, carinho, quentinho no coração… e seja lá qual termo a mais para explicar a sensibilidade com que escreve. Até te escrevi mais sobre.
Por favor, quando puder, continua falando sobre escrita e, como sempre, sobre esses sentimentos bonitos e essa vontade bonita de tocar a gente aqui do outro lado. Você consegue e até cuida de nós, de certa forma.
Com amor, Eva.
Eva, juro que chorei com o seu comentário. brigada por isso, mesmo <3 brigada brigada brigada.
pode deixar, que vou continuar escrevendo, sim <3
A escrita é natural e flui bem em alguns dias e outros não. Depende do nosso estado de espírito, concentração e exatamente como você disse: a mensagem que queremos passar. Eu também não consigo escrever quando não estou bem, a não ser que seja para eu mesma, sabe? E assim seguimos.
Você escreve com o coração, sempre que venho por aqui fico inspirada em simplesmente fazer um dia bom. Obrigada por isso! ♥
Ste, eu fiquei MUITO emocionada com o que você disse. mesmo. porque acho que essa é a minha meta, sabe? ajudar as pessoas a terem dias bons!
Não é possível que esse post não seja uma indireta para mim! Haha.
Eu ando com muito problema para colocar as coisas no papel por causa da minha ansiedade, que anda estratosférica. Descrever meu dia, falar sobre um livro, ou até mesmo a minha opinião sobre um filme é algo tão difícil. Tudo soa apressado, mal descrito, mal articulado. Além de tentar pegar mais leve comigo mesma (afinal todas temos fases ruins na vida), o que você falou fez tanto sentido que vou botar numa caixinha no meu coração. As vezes a gente escreve em um contexto emocional que passa para o texto e deixa o leitor com a mesma sensação. Muito bom esse teu insight.
A minha forma de lidar com isso tem sido escrevendo ficção. Parece que por ser mais desprendida da realidade eu posso ser mais flexível com o que quero passar. Enfim, é uma tentativa. Agora ando mais confortável e voltei até a blogar, mas seu post foi muito encorajador. Continue escrevendo!
guarda mesmo, Isa! porque isso é precioso demais. a gente esquece mesmo dessa transferência. e que incrível que você voltou a escrever <3 <3 muito feliz por você!
Adoro o jeitinho que você escreve Maki. Parece uma conversa de amigas onde, curiosamente, você fala exatamente o que eu estava pensando/passando.
Uma dúvida: o que você faz quando está pra baixo e tudo o que escreve é muito deprê pra publicar?
eu publico mesmo assim! ahahahahahahahahahaha
juro. tem textos que publico de qualquer maneira, outros eu guardo só pra mim mesma. como eu faço morning pages, tem muita coisa que eu escrevo que é meio desabafo e para ali. outras coisas (tipo o post do clubinho) eu tirei das morning pages e de conversas que eu tive e joguei aqui. serve pra destravar também, sabe?
Oi Maki! Já acompanho seu blog há um tempo e agora que criei um tomei coragem pra vir comentar. Achei incrível esse seu texto! É exatamente isso, quando estou “de bem” e quero escrever, o texto flui como nunca. Mas se estou insegura, ansiosa demais, parece que me perco nos meus pensamentos, o texto fica meio sem pé nem cabeça. E também já aprendi a separar os textos alheios que me passam uma sensação de nervosismo, de “querer brigar”. Acho importante a gente escolher os que nos fazem bem e os que não agregam em nada né?
Um beijo!
Renata | http://rivieredusouvenir.blogspot.com
isso! essa escolha é muito essencial, senão, a gente fica sentindo mil coisas e nem sabe porquê!