diário #97 – entrega o teu amor por aí

sabe, a minha vida é muito boa. é uma vida quentinha. gostosinha. tipo tomar uma xícara de café num dia de outono, quando você ainda tá de pijama e meio deitada na cama, só observando o céu azul e sentindo a brisa fresca que entra pela janela. a minha vida é uma foto do Pinterest, daquelas que aparecem quando você digita ‘hygge’ na busca.

você já se pegou reparando que as outras pessoas não vivem as mesmas coisas que você? outro dia, eu tava conversando com uma amiga sobre isso. tem horas que a nossa vida parece uma bolha de cobertores fofinhos e cupcakes de unicórnio, e aí a gente cai no mundão e meio que toma um susto, porque nem todo mundo vive no quentinho como a gente. e rola uma indignação, sabe? tipo, como assim as pessoas não vivem isso também? o que tá acontecendo?

essa semana saiu um vídeo muito legal (e que tem euzinha, uhul!) falando justamente disso, desse quentinho todo, desse aconchego, dessa alegria, e me caiu uma ficha. parece que quando a gente tem uma vida boa, a gente precisa protegê-la da maldade do mundo, mas é bem o contrário. porque todo mundo merece uma vida boa, entende? todo mundo merece ser feliz.

e isso vira uma chave. porque a gente tem essa ideia de que precisa guardar tudo pra gente, se não acaba. nada, menina. se a gente compartilha, a coisa toda multiplica. e quando a gente vê, tá tão grande que nem cabe mais na gente.

você já guardou segredo de uma coisa, por medo de dar errado? sabe como é isso, né? você guarda só pra você e se ‘der certo‘ você compartilha só com quem é mais próximo, com quem tá perto, e deixa o resto do mundo no mistério. mas imagina que legal se a gente descobre que todo mundo pode fazer parte disso também? porque felicidade é uma coisa só. não tem minha nem sua, tem só a que é de todos. e isso é que é o mais legal.

não precisa excluir as pessoas nem achar que você tem que proteger o seu castelinho de areia das outras crianças. a gente pode chamar todo mundo pra construir isso junto e ser feliz junto e compartilhar o quentinho junto. sempre tem espaço naquele cobertor felpudo pra mais um. isso faz um bem, sabe? dá até uma emoção só de escrever. eu fico com os olhos meio marejados e a vontade é de gritar pela janela se tem alguém por aí que topa esquentar as minhas mãos enquanto a gente escreve esse texto junto, porque tá meio frio e eu queria colocar mais gente nesse processo comigo (não que eu não esteja fazendo exatamente isso, porque enquanto eu digito cada uma dessas palavras, vem à minha mente o rosto de uma galera que me faz sentir esse quentinho todo).

pode ser mesmo que eu viva numa bolha, mas é o meu papel fazer com que ela estoure. ou, então, que cresça o suficiente pra englobar o mundo inteiro. até todo mundo viver essa vida feliz junto comigo.