Diário #67 – Dorme que passa

Vem aqui comigo, deita do meu lado. A cama tá bem confortável e quentinha, tenho certeza que você vai se sentir melhor depois de se enfiar embaixo das cobertas comigo. Sabe, eu já percebi que quando a gente fica acordado, parece que a mente não para nunca. Ela fica rodando o tempo inteiro atrás de coisas que nem existem direito e aí a gente parece que não consegue encontrar uma saída pro que quer que esteja pensando.

Dorme que passa, é o que a minha mãe me dizia quando eu tinha uma dor de cabeça daquelas. Tudo bem, eu já entendi que não é dor de cabeça o que você tem, mas não é tudo mais ou menos a mesma coisa? Tem alguma coisa acontecendo na mente que parece ter uma pulsação própria e não para jamais de te incomodar. É tudo a mesma coisa, e só uma questão de semântica, na verdade. Dor de cabeça, dor na cabeça… qual a diferença?

Eu sei também que dormir não resolve muita coisa, assim, no âmbito concreto da coisa. Mas dormir é bom, sabe? Você descansa, clareia as ideias e parece que a sua mente chega sozinha na solução na hora que você acorda. Ficar de cabeça quente fritando sobre o assunto não ajuda de nada.

Então, deita aqui, apoia a cabeça no meu ombro e descansa as suas ideias sem sentido. No meio da noite elas se acertam e eu sei que você vai acordar melhor. Dorme um pouquinho, aqui no meu abraço, e não se preocupa, nenhum pensamento monstro vai te pegar aqui. Você tá seguro.

E não se preocupa, você não tá sozinho, não. Eu sei que a sua vontade é ligar pra todo mundo, pra saber o que fazer, pedir uma opinião ou pesquisar no Google a solução pros seus problemas. Mas essa também é uma receita muito boa pra você ficar alimentando ainda mais o monstrinho da preocupação na sua cabeça. E daí não vem nada de bom, pra ser bem sincera.

Amanhã, depois que a gente acordar, a gente pode dar uma caminhada pelo bairro e aproveitar o dia de sol. Sentir o ventinho gelado no rosto e entender que, no fundo, no fundo, tá tudo bem. A gente só precisa parar de pensar tanto, sabe? Eu te ajudo nisso, se você quiser.

Mas, por hora, deita aqui comigo. A cama fica encostada na parede e cria um cantinho bem aconchegante no quarto. É quase um esconderijo. Mas um esconderijo onde ninguém tá sozinho. Eu, por exemplo, tô com você o tempo inteiro. Mesmo que seja em sonho.

Então dorme aqui, descansa e confia. Confia que tá tudo bem com você, com a gente. E confia que a resposta vem quando você precisar. É só pedir de verdade, sabe? Pede, que ela vem. E relaxa, não precisa ficar pensando nisso não. Nada de bom vai sair dessa sua fritação. O melhor a fazer nessas horas é relaxar e dar um bom e velho foda-se pra essa gritaria que acontece aí na sua cabeça.

Vem, pega na minha mão. Deita comigo. Vamos deixar o barulho dos carros passando na rua lá embaixo embalar o nosso sono e torcer pra não ter gritaria de criança na piscina do prédio do lado logo cedo pra gente poder dormir até meio-dia. Quem sabe a gente não emenda um dia na cama, vendo na Netflix aqueles filmes que a gente prometeu ver, mas nunca viu, devorando aquele brownie que gente fez no sábado à tarde e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Vem, vem na minha que é sucesso.

E não se preocupa não. Nenhum pedido sincero fica sem resposta. É só pedir, que a resposta vem. E dorme, dorme que passa. E amanhã a gente acorda melhor pra escolher melhor e parar de procurar preocupação em cada esquina.