Eu nunca entendi muito bem essa necessidade que a gente tem de ter uma profissão. Sabe? Como se a nossa vida dependesse de um diploma da faculdade e de um cartão de visitas com o nosso nome impresso. Pra mim, isso sempre pareceu meio pequeno, olhando o quadro geral dessa coisa toda que a gente chama de vida.
Mas, mesmo assim, eu segui o caminho tradicional que os meus pais me incentivaram a seguir: fui pra uma boa escola, fiz uma boa faculdade, me formei, consegui um emprego. E posso dizer com 100% de certeza que isso não me fez feliz.
A ponto que estou colocando aqui não é o fato da gente querer fazer alguma coisa com o tempo que temos na terra, isso é mais do que aceitável. A questão é a pressão que a gente coloca na própria cabeça pra fazer uma faculdade importante, conseguir um emprego importante, fazer coisas importantes.
Mas quem foi que disse que ser médico é mais importante que faxineiro? Ou que lixeiro? Ou que pipoqueiro? Ou que contador? Ou que pescador? Ou que costureiro de logotipos em camisetas polo?
Isso tem muito da nossa cultura, claro, mas sei que em alguns lugares do mundo (como nos Estados Unidos), não fazer uma faculdade não é assim um bicho de sete cabeças. E, sabe, não é mesmo. Ninguém vai morrer se você não fizer uma faculdade, o mundo não vai acabar, o chão não vai partir no meio e São Paulo não vai ser soterrada por uma enchente de lava de um vulcão adormecido no Alto da Lapa que ninguém sabia que existia embaixo do asfalto até o dia que entrou em erupção.
A gente precisa parar de desvalorizar as pessoas só porque elas tem uma profissão diferente da nossa. E ainda mais quando essa profissão não demandou uma faculdade.
No jornalismo, isso é até bem comum. Jornalistas que não são ‘jornalistas’ no termo mais acadêmico da palavra. É um tal de ‘o diploma vale’, ‘agora não vale mais’, ‘agora vale de novo’ que é difícil de acompanhar e tem um monte de gente incrível por aí que é jornalista e nunca foi atrás de fazer um curso antes de começar a exercer a profissão (Caco Barcellos, meu muso mor do jornalismo taí que não me deixa mentir – ele foi taxista uma cara antes de entrar pra comunicação, sabia?).
Então, talvez, pra gente que é de comunicação, não seja assim uma coisa tão extraordinária alguém que não fez faculdade. Mas com o resto das coisas, é uma história diferente.
Não sejamos aquela pessoa chata da internet que diz ‘noooosssaaa, quer dizer que você operaria com um médico que não fez faculdade?’. Não é isso que eu estou dizendo, minha gente, não distorçam as minhas palavras. Existem profissões que demandam um nível enorme de estudo e treino (a medicina é uma delas) e outras que são desenvolvidas muito melhor no âmbito da prática do que na teoria (é o caso do jornalismo, se vocês querem saber a minha opinião).
O que a gente precisa parar de fazer (com urgência) é achar que algumas pessoas são melhores do que outras porque têm um trabalho X ou Y, uma profissão A ou B. A gente tem que parar de ser esnobe mesmo e falar de peito cheio que fez faculdade e intercâmbio no exterior, como se isso nos tornasse pessoas mais dignas.
Não. A nossa dignidade não está aí, não. Ela tá em ser quem a gente é de verdade, independentemente de vender pipoca na esquina da escola ou operar no Presidente da República pra ganhar a vida. Tá em ser verdadeiro com a nossa essência em cada momento e não acreditar naquela vozinha que diz que a gente é menos merecedor das coisas porque não fez um curso com diploma no final.
A gente não precisa andar por aí exibindo as nossas credenciais como uma forma de provar que é importante de alguma forma, sabe? Isso é feio, é brega, é démodé. Tá tão fora de moda quanto usar colant de lurex por cima de legging colorida (apesar de que eu sou super a favor dessa moda voltar).
A moral desse post é: pare de achar que o amiguinho é inferior só porque ele não fez o que você fez. Só porque ele escolheu diferente de você por N motivos (e falta de grana pode ser um deles). Isso não te torna o rei do mundo. E não faz dele alguém obrigado a te servir.
O que você acha? As pessoas são mesmo esnobes por causa da profissão?
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13 Comentários
Parabéns pelo texto!
Gostei muito e concordo em gênero, número e grau. Já desisti do curso Engenharia não pela dificuldade -se bem que realmente estava engajado – mas sobretudo porque eu ficava sufocado em me graduar pensando na satisfação dos meus pais e não propriamente à minha pessoa.
Como se eu não tivesse amor próprio e encarar a realidade de que sou melhor nas artes plásticas que necessariamente um engenheiro. Por caula dos caprichos que os filhos cursam para somente agradar os pais, é que vemos vários péssimos profissionais não engajados à “causa nobre” (igual médico que não gosta de gente e escolheu unicamente por dinheiro. Creio que boa parte dos cidadaos saben dessa história, que repete em outras inúmeras profissões, mesmo as que não exigem diploma).
Parabéns, ainda lerei mais alguns Posts seus, que são gostosos de ler!
Uma das piadas dos gringos quando vieram para as olímpiadas é o porque de todo mundo aqui se apresentar contando a profissão, eu achei sensacional! haha Como você, entrei na faculdade de nome, me mato de estudar, mas não aprendi nada relevante lá não, e só o diploma porque é o que manda o figurino e eu preciso trabalhar.
Fora a hierarquia de que quem temum diploma é superior de alguma forma, já conheci muita gente sem papel que era mim vezes mais competente do que qualquer um com título.
Bom, eu só acho um raciocinio burro e improdutivo, mas né, quem sou eu.
ah, sim, eu concordo muito! acho esse um raciocínio bem burro e sem sentido mesmo. é uma coisa muito cultural, essa nossa de dar tanta importância pra profissão. e uma besteira. ninguém é melhor que ninguém só por causa do diploma, né?
Oi Maki!
Posso te dizer com toda a certeza que existe sim a distinção entre as profissões e que as pessoas se orgulham mais por ter um emprego que exige uma maior preparação, uma faculdade mais difícil e não se sentem muito bem quando estão perto de pessoas que não têm uma preparação assim, pelo contrário, possuem profissões mais simples, como uma faxineira.
E acho isso uma besteira sem tamanho. Nem comento sobre essas coisas. Deixa a gente bem triste.
E se parar pra pensar, pessoas que têm mais grana não vivem sem as pessoas que façam os trabalhos mais básicos para elas. Então não entendo mesmo o desacreditar a profissão, o não gostar, o não ficar perto.
Acho isso terrível.
Abraços!!! =)
pois é, Divana, isso existe mesmo. e é uma besteira, como você falou. não existe melhor ou pior, existem só tarefas diferentes, mas todo mundo é igualmente importante no plano geral das coisas. não tem porque essa diferenciação, é uma bobagem mesmo!
Eu estava falando sobre isso esses dias. Quando éramos crianças prometiam um pote de ouro no final do arco-íris se fizéssemos uma graduação. Emprego garantido, segurança, felicidade eterna. Mas a vida real não é bem assim. Tem zilhões de profissões bacanas por aí e não precisam de diploma. E ter ou não ter um diploma Não faz ninguém melhor ou pior. E também tem o outro lado da moeda (embora menos frequente): gente que esconde a qualificação por receio de parecer esnobe. A vida é muito loucaaa, hehehe
sim, é verdade. o mundo é muito louco. as pessoas não deveriam se sentir mal de falarem sobre quem elas são só porque não tem um diploma (ou se tem, né?). é muito mais do que isso, é questão da gente aceitar que ninguém é melhor que ninguém. e ponto final!
Maaaaki, que texto incrível! Eu me sinto tão mal quando vejo as pessoas usando as conquistas que tiveram para desmerecer o outro. Uma outra variável de tudo o que você falou é a pessoa que fez a faculdade federal que acredita que é melhor do que o outro que fez uma faculdade paga. A pessoa pode ser a mais inteligente, mais estudada e tudo o mais, mas quando ela usa tudo isso para desmerecer o próximo é como se essas coisas perdessem o valor, deixa de ter propósito você ser doutor em algo quando você não consegue respeitar as pessoas ao redor.
Parabéns pelos textos do BEDA, não consigo comentar todos, mas tenho lido!
<3
Um beijo!
simmm, exatamente! e isso não tem nada a ver, né? não importa onde ou o que a pessoa estudou (ou se estudou), o que é importante mesmo é o que a gente faz com as ferramentas que tem, não é mesmo?
Nossa Maki, não poderia concordar mais com você e com esse post. Isso de se definir pela profissão é uma coisa muito louca e muito “brasileira” também. Tenho amigos de várias partes da Europa que não entendem muito essa mentalidade ~ sendo que uns 80% deles não fez faculdade e é bem resolvidíssimo a respeito disso, e mais feliz do que muita gente por aqui com 3 diplomas.
Palmas para esse post maravilhoso!
pois é! eu lembro que quando morei na França me falaram que uma coisa que a gente não faz em hipótese alguma é perguntar o que a pessoa faz da vida, com o que ela trabalha. é uma coisa cultural nossa mesmo e tá nas nossas mãos mudar essa ideia de que precisa de faculdade pra ‘ser alguém’. como se quem não ter estudo significa que você é um ‘ninguém’. nada a ver isso aí.
e o brigada! ♥
Como faz para colocar essA publicação em todos os postes da cidade?
Eu penso como vc! Há tantos profissionais abrindo mão do seu diploma para seguir sonho sabe? e fico feliz por ser um deles rss
me formei em algo que eu não quis e agora estou feliz por trabalhar com algo que sempre sonhei <3
mas não é? e o que você faz/fez é incrível! a questão vai muito além desse diploma é a nossa vontade de fazer algo com o coração, com carinho. e, nesse caso, importa mesmo se eu fui pra faculdade ou não? melhor coisa é fazer um trabalho que deixa o coração em paz e se for por necessidade, que seja de coração também e sem medo de ser julgado.