cotidiano

Eu lembro de falar, mais de uma vez que eu sofria de uma síndrome chamada ‘síndrome de tentar agradar todo mundo o tempo todo’. E, confesso, por um tempo eu até tive orgulho disso. ‘Olha pra mim, eu vou fazer tudo por você, pode pedir, eu não me importo!

um monstro chamado 'ser aceita'

Mas, sim, eu sempre me importei muito. Nunca era legal ter que me virar nos 30 pra fazer as coisas exatamente como o outro queria e torcer pra que ele gostasse de mim por causa disso. Aliás, aí está o grande pulo do gato: a real é que sempre o que eu mais quis era que as pessoas gostassem de mim.

Sabe aquela sensação que você chegou num lugar e todo mundo parou de falar? Aquela pessoa fez uma cara diferente e você tem certeza que é por causa de alguma coisa que você falou. Você mudou de roupa porque sabe que as pessoas não vão gostar se você usar a sua meia calça de poá com aquela saia listrada.

Você prefere concordar com aquela opinião de direita, sendo que você é de esquerda, mas ai de você se discordar da pessoa, vai que ela fica brava. Aliás, talvez seja melhor eu fazer aquele corte de cabelo que todo mundo tem mesmo, se eu usar um muito diferente pode ser que as pessoas não curtam e se afastem de mim.

Vou no barzinho também. Tenho que trabalhar, mas também vou no cinema. Não esquece de mim, tá? Me avisa se for fazer alguma coisa. Pouts, jantar em dia de semana? Tenho aula à noite… Mas relaxa, eu vou sim. Depois eu dou um jeito. Cara, eu tenho um projeto pra entregar na segunda, num tô nem na metade… Mas você tem razão, vamos passar o final de semana na praia, sim, eu consigo!

Corta a cena e você tá fazendo um monte de coisas que não gosta só pra garantir que alguém em algum momento vai gostar de você. E talvez, mesmo assim, outro alguém não goste mesmo. Mas o importante é que você chegou no fim do dia exausta e se sentindo a maior mentirosa do mundo porque tudo o que você fez foi tentar agradar os outros.

Esse é um monstrinho que parece que vai crescendo aos poucos, você acha que ele nem vai ficar tão grande assim, mas quando percebe ele está maior que a sua casa e não tem espaço para ele ficar sem te incomodar de algum jeito.

Claro’, ‘sim’, ‘vamos’, ‘concordo’… São as palavras que você fala o tempo todo, todo tempo, e não tem ideia de como parar. É uma missão que vai te engolindo aos poucos, por mais que você pense que tenha total controle sobre a situação. ‘Tá tudo bem, não se preocupa’: esse é o seu lema.

Você define a sua vida inteira a partir dessa ideia, de agradar os outros. A sua profissão. O que você gosta de comer. Os programas que você faz. Os filmes que você assiste. As roupas que você usa. Eu desteto sertanejo, mas vai todo mundo naquela balada, melhor eu ir também. Azul nem é a minha cor preferida, mas falaram uma vez que eu fico bem de azul vou usar de novo, vai que isso me rende um elogio.

Chega o fim de semana e vem aquela vontade doida de ficar quietinha, passar o dia de pijama vendo séries que você gosta mesmo, mas, ai, mandaram mensagem no grupo que vai rolar um churras na Zona Norte… Melhor eu ir.

E no fundo fica uma vozinha na sua cabeça gritando ‘MENTIROSA!!!!!!’ em caixa alta e com várias pontos de exclamação mesmo, que você até tenta disfarçar e calar enquanto canta o último hit do MC Biel, quando na verdade você queria estar ouvindo no fone de ouvido, em alto e bom som, aquele CD coletânea de Guns N’ Roses naquele aparelho de som que você ganhou no seu aniversário de 14 anos (true story, bro).

Ufa. Que canseira. Quando foi que eu fiquei tão envolvida pensando no que os outros achavam de mim que esqueci de quem eu sou de verdade? Passei tanto tempo buscando agradar os outros que, em algum lugar do caminho, esqueci de agradar a mim mesma, e no meio de tantas mentiras, eu me perdi.

A verdade mesmo é que eu não preciso ser aceita. Eu não preciso agradar todo mundo. Eu já sou aceita. A minha própria existência é uma prova da minha aceitação. Se eu não fosse aceita, a minha vida existiria? E eu não tô falando da vida que você tá pensando, dessa sucessão de escola-cinema-cube-televisão que a gente conhece como ‘vida’. Tô falando da Vida mesmo, com V maiúsculo e que é tão grande que não cabe nessa gaiolinha que a gente insiste em chamar de corpo.

Eu já sou aceita. Você já é aceita. É hora da gente parar de mentir, tá tudo bem.

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Escrito pelaMaki
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13 Comentários
  1. Mariana  em janeiro 15, 2018

    muito obrigada por esse texto, você não faz idéia de como me fez bem e de como eu precisava ler isso ♡♡♡

  2. Natália Oliveira  em março 30, 2016

    Eu tinha/tenho exatamente a mesma mania. Já deixei de fazer várias coisas e já fiz tantas outras com medo das pessoas não gostarem de mim. Acabou que, no fim das contas, percebi que tinha muita gente ao meu redor que só ficava por ali porque sabia que eu não fazia questão de impor minhas vontades, tipo um quebra galho, um estepe. E as pessoas não gostavam de mim, gostavam do fato de terem alguém por perto que se moldava pra criar um relacionamento harmonioso, sem atritos. Basicamente, estavam perto de mim porque era mais fácil. Comecei a me sentir, como você disse, uma mentirosa. Fiquei bem mal. Estou tentando melhorar isso aos poucos, sempre tento esse mantra na cabeça. Eu sou eu, já sou aceita por mim. Não preciso de aprovação.
    Muito bom poder dividir isso com alguém que sabe como é.
    Bjs

    • Maki  em março 31, 2016

      Natália, conheço bem essas situações que você escreveu. É muito difícil a realização de que as pessoas só estava perto de você porque vc fazia de tudo pra não gerar um conflito, quando, na verdade, vc mesma estava em conflito (eu estava, pelo menos).
      Mas é isso, nós já somos aceitas, tá tudo bem com a gente. A gente não precisa da aprovação de ninguém!

  3. Nay  em março 29, 2016

    Eu nem sei se vou conseguir encontrar as palavras certas pra descrever o quanto esse texto falou comigo e o quanto ele é verdade pra minha vida. Foram muitos anos (e ainda são as vezes, porque é um detox que nunca acaba) dessa necessidade absurda de ser aceita a qq custo e geralmente às custas da minha felicidade. Mas pouco a pouco a gente vai se libertando e aprendendo a dizer não e a lembrar que as pessoas que nos querem por perto e nos amam o fazem pelo que nós realmente somos e não pelo que fingimos ser….

    Um beijo grande e um abraço apertado!

    (queria dizer que seu corte de cabelo novo tá lindo!!)

    • Maki  em março 30, 2016

      Ô, Nay, que delícia de comentário!
      É isso, aos poucos a gente vai entendendo que quem a gente é de verdade não precisa de aceitação, nós já somos aceitas. Você já é aceita e você já é amada. E pronto! O resto é só um monte de coisa sem sentido que a gente colocou na frente desse amor…
      Um beijo!
      (e obrigada! eu tô amando!)

  4. Jade maranhão  em março 29, 2016

    É muita ansiedade!
    É viver rodeada de milhões de juízes o tempo inteiro. e cansa pacaralho!

    • Maki  em março 30, 2016

      Nossa, sim! O peito fica apertado, você não consegue respirar direito. É horrível!
      Mas tem uma saída pra isso, que é entrarem contato com quem você é de verdade. E esse alguém já é aceito, você já é aceita. E tá tudo bem ♥

  5. Aline  em março 28, 2016

    Maki, me vi no seu texto, escorreu uma lagriminha aqui. Com muito custo e terapia eu comecei a entender que passei a maior parte da minha vida me chateando para não discordar do outro, indo onde não queria enquanto ninguém cedia para ir comigo onde eu gostaria de ir… Ainda não estou onde queria, não consigo dizer todos os nãos que gostaria, mas é um processo, não é?
    Gosto do jeito como você escreve, como divide seu crescimento com a gente!
    Um beijo :*

    • Maki  em março 29, 2016

      Oi, Aline!
      É isso mesmo, a gente se chateia por uma ideia (bem doida) de que o outro precisa gostar da gente… E não tem nada a ver isso, né? Só machuca a gente mesmo. Mas é um processo e as coisas vão se encaixando aos poucos!
      Fico feliz que você goste dos textos, isso me incentiva muito a continuar!

      • Aline  em março 29, 2016

        Eu gostei muito daqui, virou um dos meus blogs preferidos. De verdade. ❤. Que você continue se amando, e escrevendo esses textos que deixam o coração da gente mais quentinho por descobrir que tudo se encaixa e fica melhor!
        Beijão

        • Maki  em março 30, 2016

          ALINE NÃO ME FAZ CHORAR ASSIM!
          Mas obrigada, mesmo. Saber que eu consigo me comunicar com você assim, através do que eu sinto (que é traduzido em palavras) e o motivo pelo qual eu continuo escrevendo. Obrigada mesmo ♥

          • Aline  em março 30, 2016

            Por favor, não chora hahahaha.
            Não é pra chorar! mas eu realmente me sinto bem no seu blog e tenho passado horas aqui! Eu tenho que agradecer. Também tenho meu blog (que é um bebê ainda) como uma espécie de apoio para eu melhorar de todas minhas dificuldades… Então encontrei serenidade, inspiração aqui! gosto de você já! ♥
            não me abandona não!

          • Maki  em março 30, 2016

            AHAHAHAHAH Ok, ok.
            Mas é isso que eu quero mesmo, que as pessoas se sintam bem no blog. Que elas vejam aqui um lugar seguro pra falarem do que quiserem!
            Fico muito feliz mesmo de saber que você se sente assim!
            Não vou te abandonar, pode deixar!