Eu sempre tive um soft-spot por filmes românticos, daqueles bem cheios de dramas e reviravoltas e grandes gestos de amor. Eu, claro, nunca tinha percebido o quanto eu acreditava que isso era real.
A verdade é que eu estou solteira há um tempo, principalmente porque eu sempre acreditei na grande história de amor. Naquele sentimento que aparece do nada, com a troca de um olhar ou de um sorriso de lados opostos da plataforma do metrô ou no meio de um show lotado.
Sempre fui fã daquele sentimento avassalador que não te deixa pensar em mais nada, que faz o tempo parar e cada músculo do seu corpo ficar tenso em antecipação. Sempre fui fã do frio na barriga, do suor nas palmas das mãos, do coração acelerado.
Isso tudo até eu entender que todos esses sintomas são exatamente iguais aos sintomas do medo. Porque, sim, a versão que mostram no cinema e que é contada nos livros não é amor, não de verdade, é medo.
Sinto informar (e, acredite, é com lágrimas nos olhos que eu escrevo isso), mas o amor do cinema não existe. Nem nunca vai existir. Não existe felizes para sempre em um relacionamento no mundo. Não existem grandes gestos de amor, nem aquele sentimento inabalável de que o amor pode tudo e que nada vai entrar no caminho entre você e aquela pessoa especial. ‘Se tiver que ser, vai ser’, não é isso que dizem?
Escrevi cartas esperando pelo amor verdadeiro, me coloquei disponível para ter o coração partido tantas vezes que já até perdeu a graça. Passei muitos anos da minha vida esperando aquele alguém especial me encontrar, me ver passando pela Av. Paulista e colocar um anúncio no jornal esperando encontrar aquela ‘garota misteriosa do sorriso bonito’.
Já sonhei tantas vezes com cenários como esse que mal sabia dizer o que era real e o que não era. Até que eu percebi, também, que o ‘real’ não era nem de perto tão legal quanto as histórias de amor que eu tinha criado na minha cabeça.
E é por isso que me dá até um negócio no estômago admitir porque eu fiquei tanto tempo solteira: nenhum amor do mundo iria jamais alcançar as expectativas que eu criei na minha cabeça. Nunca. Jamais. As pessoas ainda não aprenderam a ler mentes. Muito menos a abrir mão das suas metas pessoais em prol dos outros (por mais que às vezes pareça que isso acontece – acredite, não acontece).
Sei que esse parece um texto pessimista, mas ele, é, justamente, um texto realista.
Tem uma frase de Harry Potter que eu amo: ‘Não vale a pena mergulhar nos sonhos e esquecer de viver’. Eu, como vocês já sabem, esqueci de viver. E acho que quando o assunto é esse ‘tipo de amor’ (entre aspas porque isso não existe, o Amor é um só), eu ainda prefiro sonhar. Ainda acho que existe aquele cara ideal que vai dizer a coisa certa no momento certo e vai me levar mundo afora para viver aventuras.
E nós vamos viver felizes para sempre.
Mas isso é só mais uma ilusão. Quem ama de verdade não precisa de outra pessoa para provar que o amor existe. Quem ama de verdade, entrega esse mesmo sentimento para todo mundo e não para uma só pessoa, tentando mostrar por A + B que ela é especial – como se de alguma forma isso a tornasse melhor do que as outras.
Quem ama de verdade não precisa de buquês de rosas, de cavalos brancos, de serenatas de amor ou de conversas aos sussurros de madrugada. Quem ama de verdade não precisa jantar na sexta à noite ou ir no cinema domingo à tarde (desde que o futebol não esteja passando). Quem Ama de verdade, com A maiúsculo, não precisa de provas de que o amor é Real.
Essa tem sido uma das lições mais difíceis de aprender. Porque, no fundo, eu acho que ainda espero o meu cavaleiro (hipster) no seu cavalo branco. Ou no seu carro popular, pode ser também. Eu ainda espero o meu cara barbudo e tatuado, de óculos de aro preto, cardigã e coturno aparecer por aí, na multidão, louco pra me contar sobre o easter egg que ele encontrou na última vez que leu Harry Potter e pra dizer que o meu sorriso poderia iluminar São Paulo inteira. Pra fazer cafuné na minha cabeça enquanto eu leio pela milésima vez Anna e o Beijo Francês enquanto ele faz planos pra um mochilão à dois pela Ásia.
Eu ainda espero. Mas sei que, uma hora ou outra, eu vou decidir não esperar mais. Porque o amor de verdade, de verdade verdadeira, eu já tenho. Eu só esqueci dele, distraída com produções cinematográficas cheias de cabelos brilhantes e falas perfeitas.
Warning: Undefined property: stdClass::$comments in /home1/desan476/public_html/wp-content/themes/plicplac/functions.php on line 219
22 Comentários
Oi, encontrei esse post depois de ter jogado no google “existe histórias de amor como nos livros?” Acho que eu queria encontrar alguma história real de um amor que durou, sabe?! um que até hoje eles velhinhos ainda possuem uma cumplicidade, ainda se amam, eu queria qualquer história que me provasse minimamente que não seria esperar demais encontrar alguem que escuta o seu cd favorito, mesmo não gostando da banda, ou alimente sua coleção doida de canecas, ou reserva um tempo da semana pra fazer alguma coisa, só vocês dois e mais ninguém, ou pergunta como foi seu dia querendo saber a resposta, parando para escutar de verdade.
Então encontrei seu texto, e roubando um pouco as falas da menina que roubava livro e mudando também, amei suas palavras e as odeie, porque é real. E acho que uma parte de mim nunca vai desistir de querer um amor que mesmo que não diga “você é mais bonita que todas as estrelas do céu”, olhe pra mim intensamente. Então eu te agredeço, por me quebrar um pouco com suas palavras, mas também por me reconstruir.
Espero que tudo tenha dado certo para você, somos todos assim, “garotas (o) procurando paz de espírito” e alguém para nos salvar. Deve ser a maior falha de gente sensível né?
ps: me apaixonei por você só por ler esse texto super sincero.
sabe qual a boa notícia? quando a gente decide pela salvação, todo mundo vira ferramenta pra gente chegar nesse lugar de paz, sabe?
♥
Nossa, estava assistindo alguns doramas, que me fez questionar se de fato existe todo aquele amor avassalador, e que bom que não fui a única a pensar que existissem, mas me dói não existir.
Tambem me sinto assim.e acabo sentindo um vazio por isso.
Eu queria ter nascido na epoca do feudalismo onde tudo era o amor e respeito.bom.pelo menos foi o que eu li referente o amor daquela epoca…
provavelmente o que a gente leu não era assim tão condizente com a realidade… mas tudo bem, porque o amor de verdade não precisa ser romântico pra ser sentido, sabe?
Realmente criamos essas expectativas aonde ninguém consegue superar elas, assim como fiquei fascinada por Jane Austen, pelos seus livros como ela descrevia o amor através dos seus livros, como ela descrevia os seus sonhos e o que gostaria de viver atra através deles.
aplausos, texto maravilhoso.
que amor, Selena! brigada ♥
Tbem me sinto assim. É muito frustrante qndo num dia qualquer percebemos que são apenas ilusões… obg.
Izamara, é frustante sim. Mas também é muito libertador, sabe? Porque aí a gente percebe que não tem nada de errado em amar livremente, sem rótulos, julgamentos. Só amar mesmo sabe? E isso é tão bom!
maki, que texto lindo, meu deus! doloroso, porém necessário. eu precisava muito ouvir isso, portanto, obrigada por suas palavras! por favor, não pare de escrever…seus textos são apenas maravilhosos! <3
Oi, Fernanda!
Ahhh, como você é fofa! Muito obrigada, fico feliz que você tenha gostado do texto… Pode deixar que vou escrever o máximo que puder!
OI MAKI,
CONHECI SEU BLOG HÁ POUCO TEMPO E JÁ LEIO SEMPRE, PELO FEEDLY. sOBRE O TEXTO, OUTRO DIA MESMO MEU MARIDO E EU ESTÁVAMOS CONVERSANDO E PERCEBEMOS QUE A GENTE NÃO SE APAIXONOU ASSIM DE FORMA AVASSALADORA, DE PERDER A RAZÃO. pELO CONTRÁRIO, A GENTE MEIO QUE ESCOLHEU SE APAIXONAR, E CULTIVOU O AMOR UM PELO OUTRO. aÍ ENTROU SERENATA, PASSEIOS DE MÃOS DADAS SEM DESTINO, LIGAR PARA CONVERSAR ÀS 3H DA MANHÃ (E ELE CONHECEU MEU MAU-HUMOR DE VERDADE NESSE DIA). mAS NÃO FOI PORQUE A GENTE ESTAVA SUPER APAIXONADO. FOI PORQUE A GENTE ESCOLHEU UM AO OUTRO E DECIDIU CULTIVAR ESSE AMOR. estamos casados a 5 anos e ainda nos dedicamos a cultivar esse amor. Não é felizes para sempre, mas é um dia a dia formado de pequenas felicidades.
Hum, desculpe-me pelas letras em caixa alta. Achei que era coisa do seu layout, depois vi que a capslock estava ativada… se conseguir editar antes de publicar, arrume para mim, please.
Oi, Daniela! Que bom que você gosta do blog, fico muito feliz!
Sim, entendo muito bem o que você quer dizer. Mas acho que o ponto do texto é que independente do seu parceiro tudo o que você precisa para ser feliz o tempo todo está dentro de você. E é possível escolher por isso, sim. É possível escolher sermos só o que somos (o amor) e vivermos isso 24 horas por dia, 7 dias por semana. Aì, garanto, tudo fica mil vezes melhor, até o relacionamento com o seu marido! Mas saber que você escolheu amá-lo já é um passo em direção ao caminho!
Oi Maky.
Só tenho a dizer uma coisa pra esse texto lindo que você escreveu: inspirador!
Abração!
Oi, Divana! Que bom que gostou, fico feliz!
QUE TEXTO ÓTIMO!
EU VOU FAZER 24 ANOS E NUNCA TIVE UM RELACIONAMENTOS SÉRIO OU OFICIAL, TIPO NAMORO. ACHO QUE IDEALIZO O AMOR, PORQUE LOGO QUE ME ENVOLVO JÁ ME DESENCANTO AO PERCEBER QUE O CARA NÃO É COMO IMAGINEI E QUERIA QUE FOSSE. QUANDO ERA MAIS NOVA GOSTAVA MUITO DAQUELAS COMÉDIAS ROMÂNTICAS CHEIAS DE AÇÚCAR, MAS HOJE PERCEBO COMO ELAS FAZEM A GENTE SE ALIENAR EM UMA REALIDADE QUE NÃO EXISTE. SOMOS TODOS SERES HUMANOS PERFEITOS EM NOSSAS IMPERFEIÇÕES E CONCORDO COM VOCÊ… NÓS PRÓPRIOS TEMOS E SOMOS O AMOR VERDADEIRO! ESTAR SOLTEIRA, NÃO QUERER CASAR E NEM TER FILHOS ME FAZ IR CONTRA MARÉ E ENFRENTAR O ESTRANHAMENTO E OS QUESTIONAMENTOS DAS OUTRAS PESSOAS. ACREDITO QUE, INDEPENDENTE DISSO, O AMOR PRECISA SER E VIR PRIMEIRAMENTE DE MIM MESMA. A PROPÓSITO, COMO VOCÊ RELACIONA ESSE ASSUNTO COM A DEPRESSÃO? PERGUNTO ISSO POIS DESDE MEUS 16 ANOS FAÇO TRATAMENTO E SOFRO COM DEPRESSÃO, ANSIEDADE E FOBIA SOCIAL (ATÉ TIVE PENSAMENTOS SUICIDAS) E CERTA VEZ UM PSIQUIATRA DISSE QUE ANTES DE ENTRAR EM UM RELACIONAMENTO EU PRECISO ESTAR BEM COMIGO MESMA. E É ESSE O PONTO: EU OLHAR PARA MIM MESMA E ME VER BEM – O QUE É DIFÍCIL, PORQUE DEPOIS DE UM TEMPO PARECE QUE EU NÃO APENAS ESTOU DEPRIMIDA, ANSIOSA E FÓBICA, MAS EU SOU DEPRIMIDA, ANSIOSA E FÓBICA. TIPO, NÃO CONSIGO SEPARAR O QUE É A DOENÇA E O QUE É MEU JEITO. QUANTA PIRA, NÉ? EU LEMBRO QUE UMA VEZ UMA SENHORA DE 70 ANOS ME DISSE QUE NÃO TINHA MAIS IDADE PARA QUESTIONAMENTOS SOBRE SI MESMA E EU FIQUEI PENSANDO: SERÁ QUE UM DIA SEREI ASSIM?
ABRAÇO, MAKI!
Oi, Ana tudo bom?
Antes de mais nada, super entendo os seus questionamentos. Já tive depressão e ainda tomo remédios por conta disse, já tive pensamentos suicidas e agi sobre eles (até falei sobre no blog, aqui ó: http://desancorando.com.br/2015/05/06/vamos-falar-sobre-suicidio/). Então, sei do que você está falando.
Agora, uma coisa é estar doente e outra é SER doente. Você não é depressiva, não é ansiosa e não é fóbica. Você é o amor, é perfeita e imutável. Você é como sempre foi, apenas está vendo as coisas por uma ótica distorcida. Não tem problema você ter um namorado ou não, o que importa é você saber que tudo o que você precisa está dentro de você. Sempre esteve e sempre vai estar.
Espero ter te ajudado!
Beijos!
seus textos sempre me ajudam muito! Obrigada!
Eu conheci o seu blog através dos posts sobre depressão e fiquei surpresa e admirada pela sua coragem e sensibilidade em abordar esse assunto tão delicado. é muito significativa essa articulação que você faz sobre vários temas. Abraço!
Oi, Ana!
Que bom que você gosta, fico muito feliz mesmo! Ler esse tipo de comentário me incentiva a continuar escrevendo, sempre!