preciso informar que minha cabeça explodiu. não literalmente, claro, mas imagino que você entenda o que eu quero dizer. de forma displicente, andando à toa pelo centro da cidade, encontrei um tesouro perdido. bom, pelo menos, perdido pra mim. era um livro, chamado Como Escrever Bem, de William Zinsser.
esse achado fez minha cabeça explodir por dois motivos: o primeiro é mais óbvio, como assim eu nunca tinha ouvido falar desse livro (na capa diz que é ‘o clássico manual americano de escrita jornalística e não ficção‘?????). o segundo é menos óbvio, mas igualmente compreensível: o conteúdo é incrível, nível ‘esse é um dos meus livros favoritos sobre escrita’ e eu nem passei da página 60.
agora, eu imagino, você deve estar se perguntando porque escrever um post inteiro de blog sobre um livro que eu ainda não terminei de ler. e eu respondo que essa não é a primeira, nem será a última, vez em que isso acontece. além disso, esse é o meu jeitinho: quando alguma coisa deixa a minha mente em caracol, eu preciso escrever sobre.
por isso, cá estamos, novamente.
lendo os primeiros capítulos desse livro eu me senti como naquela cena dos filmes em que o protagonista tem uma realização: o olhar vidrado, a dificuldade de fala, a música pesada de fundo, a câmera que desfoca o resto do cenário… e a minha realização, por mais absurda que seja, é que eu não escrevo bem.
uma pausa dramática.
quer dizer, eu sei que eu escrevo bem, mas não escrevo bem da forma como o Will (acho que posso chamá-lo assim, sendo que ele me fez questionar toda uma existência) fala no livro. em menos de 60 páginas eu precisei rever tudo o que eu já escrevi na vida e toda minha experiência e dizer:
é, ainda tem muita coisa pra aprender.
um update sobre escrever para si
logo no comecinho, o Will fala sobre o público. eu sempre falei como a gente escreve pra si e nunca pro outro, e que essa é uma das melhores coisas que a gente pode fazer. mas ele levou isso pra um outro patamar, com uma audácia que me fez quase jogar o livro contra a parede:
você escreve, primeiramente, para agradar a si mesmo e, se consegue seguir adiante com satisfação, também agradará aos leitores que forem dignos daquilo que você faz.
que forem dignos daquilo que você faz. pelo amor de Deus, sabe? eu não sei nem o que dizer pra uma coisa dessas. porque é a coisa mais bonita e mais afrontosa que eu já li na minha vida. sinto que é um processo pelo qual tenho passado desde o ano passado, sabe, de encontrar um jeito de escrever coisas das quais eu me orgulhe e tudo mais.
como se eu só pudesse me orgulhar do que eu escrevo aqui, nesse blog.
mas ele leva esse conceito pra tudo – inclusive o trabalho jornalístico. de novo: a audácia, sabe?! e acho que foi aí que a explosão mental me tomou a primeira vez. porque parece que a escrita a trabalho e a escrita livre são diferentes, sendo que nas duas eu estou escrevendo e acreditando que são coisas distintas. e, no fim, pareço não encontrar as pessoas dignas do meu trabalho, porque o problema tá nessas pessoas que não querem me ler, quando, na verdade, o problema tá em mim, que insisto em escrever de um jeito que não me agrada.
*insira aqui um palavrão de boca cheia, dito com frustração*
a reverência às palavras
pra deixar o nervoso um pouco de lado, em outro capítulo o Will fala de um segundo ponto que me tocou profundamente: a reverência às palavras. eu acho que é uma noção comum que as palavras têm poder, mas numa era tão cheia delas, parece que elas perderam o valor.
você nunca deixará a sua marca como escritor se não desenvolver o respeito pelas palavras e uma curiosidade quase obsessiva em relação aos vários matizes de seus significados.
bom. é isso. mais uma vez, não existem palavras que expliquem o que eu senti quando li isso. me fez lembrar de outro Will, o Gompertz, que fala em Pense Como um Artista que os artistas são curiosos e fazem perguntas – método socrático e tudo mais. e, mais uma vez, me senti um grãozinho de areia no universo, achando que conheço as melhores palavras pra dizer o que eu penso e o que eu quero e que expressam exatamente o que sinto. uma formiguinha argumentando com um tamanduá. um marinheiro reclamando da umidade.
palavras, minhas belas palavras, tão vastas e desvalorizadas, tão grandes em sua pequenez de caracteres, tão potentes em espaços defasados. “bons prosadores precisam ser um pouco poetas”, diz o 1.º Will. e bons poetas reverenciam as palavras. fim.
(obs.: depois disso, percebi que vou ter que comprar um dicionário. de papel. em pleno 2022.)
uma ode ao relacionamento
a última parte desse post diz respeito a um dos primeiros capítulos do livro e me dá vontade de chorar. o autor, ao falar sobre estilo de escrita, me solta essa pérola:
a escrita é uma relação íntima entre duas pessoas levada ao papel e ela será tão boa quanto a sua capacidade de preservar a sua humanidade.
calma, eu dou um minuto pra você se recompor. pronto? a escrita é uma relação íntima sobre duas pessoas. eu poderia passar dias e noites, meses e anos, séculos inteiros falando sobre isso. a escrita é uma relação entre nós, eu e você, você e eu. é conexão. e essa relação será tão boa quanto a minha capacidade de preservar a minha humanidade. a nossa relação só vai ser forte o suficiente se eu mantiver viva a minha humanidade. ou seja, se eu conseguir me colocar de verdade num texto.
pode chorar mais um pouquinho. eu deixo.
não é lindo? a gente pode passar uma vida procurando a nossa própria voz num texto, tentando encontrar um jeito de engajar o público, quando tudo o que a gente precisa é alimentar essa relação íntima entre nós com a nossa própria humanidade.
sei lá, sabe. eu não tenho uma conclusão pra esse texto. eu só… queria que você soubesse que a escrita é viva tanto quanto a língua. que ela pode crescer e evoluir se a gente der o adubo certo. se cuidar com carinho e livrá-la das pragas. se manter o nosso amor por ela vivo. sempre tem como melhorar. sempre tem o que aprender. sempre tem como conectar. é isso.
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8 Comentários
ai. meu. deus. eu PRECISO imediatamente comprar esse livro. eu não vou conseguir escrever uma palavra sequer a partir de agora se eu não devorá-lo palavra por palavra logo! sensacional.
ahahahah eu amei o seu entusiasmo!
mas, sim, esse livro é tudo isso e mais um pouco. vale a pena!
Amei, e principalmente, me conectei! ✨
que booooooom <3
Eu nem sei o que te dizer, só sei que tenho que ler esse livro. hahaha
A verdade é que no fundo por mais que a gente tente escrever pensando no que o outro vai achar, entregamos muito de nós , só que em textos ruins. Escrever com liberdade é tudo! Quando se escreve com o seu eu de verdade, é perceptivo aos leitores. Por isso, sempre acabo dando uma passadinha aqui para contemplar os seus textos há muitos anos. Dá pra enxergar você através dos seus textos.
Te achei por acaso, e amei essa postagem.
Já vou buscar o livro para ler depois.
A primeira parte quando você fala, aliás, quando Will fala sobre escrever para em primeiro momento agradar a si mesmo fez muito sentido para mim.
Eu sou um pouco perfeccionista, e se começo a escrever um artigo para o blog, ou até mesmo algum texto que não me agrade eu apago e começo novamente, até que ele soe aos meus ouvidos como espero que soe: bom de ser lido (faço correção textual em voz alta). huahuahuahuahuahua
de verdade: amei!
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Pronto Maki, agora PRECISO correr atrás desse livro. Se até a página 60 já foi essa maravilhosidade, imagina o resto… <3
O texto de milhões para um livro de milhões. Agora fiquei curioso em ler esse livro. Parece ser muito interessante.
Boa semana!
O JOVEM JORNALISTA está de volta com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia