escrita criativa

teve uma época que eu tava com muita dificuldade de escrever pra cá. tipo muita mesmo. e tenho muitos rascunhos inacabados no publicador pra provar. a minha dificuldade não era tanto inspiração, eu acho, mas é que escrever tava muito chato. e, na minha cabeça, esse “chato” era traduzido como “isso aqui tá igual escrever a trabalho“.

nessa hora, posso afirmar com 100% de certeza e exatidão que a minha cabeça virou a própria sala de controle de crise, com sirenes barulhentas tocando numa altura absurda, pessoas correndo pra todos os lados, alguém gritando ordens de algum canto, um alto-falante berrando “alerta vermelho” em loop e telefones tocando em todas as mesas.

parar de escrever no automático

o “chato” e o que eu, na época, chamava de “trabalho” era uma forma de escrever no automático, que usava as mesmas palavras, a mesma estrutura, o mesmo tudo. às vezes, até o mesmo assunto. e era chato. porque eu escrevia de um lugar que era sempre igual o tempo inteiro. no trabalho jornalístico, seguir algumas estruturas é importante pra compreensão do leitor – afinal, o foco é passar uma informação com clareza -, mas isso não significa que é (ou precisa ser) chato. a minha cabeça tava muito bagunçada nesse lugar.

mas o ponto aqui é: eu tava escrevendo no automático e o lugar onde isso ficou claro pra mim foi aqui, o único lugar em que eu me permito – e me desafio a – sair do automático sempre que posso.

corte seco pra 2021 e escrever, pra mim, voltou a ser absolutamente prazeroso, seja a trabalho, seja pra cá. o que não significa que a história do automatismo não aparece de tempos em tempos, acho que eu aprendi a lidar com ele de uma forma nova. isso não sai da minha mente, mas também não é o que domina a minha forma de escrever, entende?

pra parar de escrever no automático, comece com quem lê

uma das grandes viradas de chave que eu tive sobre esse assunto foi, justamente, mudar o foco da minha escrita. eu já falei algumas vezes sobre escrever pro outro, mas acredito que quem trabalha diretamente com internet tem uma dificuldade muito grande em lembrar que por trás das telas existe uma pessoa.

quem é essa pessoa? é um desconhecido, alguém que só acompanha o que você faz no Instagram? é alguém que você conhece, que vai receber um e-mail seu? é uma pessoa muito querida, que você sabe que lê tudo o que você escreve? quem é? existe vida do outro lado do seu computador? se a resposta pra isso for “sim”, então, você deu o primeiro passo pra sair do automatismo.

você está dizendo o que realmente quer dizer?

pois é. depois desse primeiro ponto, tem um que parece óbvio, mas não é. e a ideia é a seguinte: quando você tá escrevendo alguma coisa – que seja um e-mail! -, você tá dizendo exatamente o que quer dizer? pra ser mais prática… será que você tá sendo sincero com o que tá escrevendo?

uma coisa que eu percebo é, quando eu to naquele fluxo automático, muitas vezes eu escrevo de uma forma reativa, o que significa que eu não necessariamente estou escrevendo o que, de fato, gostaria de dizer (aliás, não consigo nem contar o número de posts que foram totalmente deletados e recomeçados por causa disso – “num é isso que eu quero dizer“).

não é um exercício simples, sabe, ser 100% sincero ao escrever alguma coisa. mas ajuda quando a gente soma com e tópico anterior. eu faço muito esse exercício quando vou responder mensagens, principalmente – é isso mesmo que eu quero responder? com quem eu to falando mesmo? tem alguma coisa que eu gostaria de sugerir ou falar? a partir daí, já fica bem mais fácil e menos automático. é sair de um lugar de reatividade pra um de atividade em que eu tenho consciência do que tô escrevendo e porquê.

falando nisso, vamos conversar sobre objetivo?

eu sei que em 10/10 textos eu falo sobre o propósito ou um objetivo de um texto – e a importância de ter isso claro -, mas aqui, eu acho, esse ponto se torna meio que essencial. porque pra sair do automático você tem que assumir o porquê da existência daquele texto, entende? isso, pra mim, fica muito fácil de perceber no trabalho – quando eu escrevo uma matéria, eu preciso me lembrar o tempo inteiro de qual é o objetivo daquele conteúdo, qual a principal informação que eu tenho que passar, onde eu tenho que chegar com aquilo. esse auto-lembrete me tira um pouco de um lugar que é comum: sair escrevendo até achar que eu disse tudo o que eu queria dizer, mas que foge do objetivo principal e leva o texto por outro caminho.

é fato que é muito normal você começar uma matéria e perceber que ela tomou outro rumo no meio do caminho, as informações mais importantes eram outras, os personagens trouxeram novos fatos ou uma nova visão que é mais interessante pro leitor e assim por diante. mesmo que seja um texto pessoal, entender o porquê ele está acontecendo tira você dessa reatividade de “escrever no automático“.

quando eu escrevo no meu diário, também é bem normal eu escrever, literalmente, coisas do tipo “tô escrevendo sem prestar atenção nisso, então vou tentar de novo“. e aí, eu começo a colocar a ideia que tava tentando explicar de novo e sigo a partir daí. é, no fim das contas, um exercício de presença.

aliás… taí. eu acho que o ponto principal é esse. assim como muita gente treina a consciência plena na hora que comer, quando toma banho ou lava a louça, numa prática de meditação ativa, escrever segue mais ou menos o mesmo caminho. pra sair do automático, você precisa optar por estar presente ao fazer o que você quer fazer.

afinal, se um hábito, por exemplo, tá no automático, significa que você não pensa mais pra executar, né? você só… faz. é tipo dirigir! no começo, você tem que pensar em mil coisas diferentes, pisar no freio, no acelerador, mudar a marcha, checar os espelhos, etc. chega uma hora que essas coisas param de pedir tanto a sua atenção e só acontecem, quase que naturalmente. pra sair desse automático, você tem que colocar o seu foco em cada um desses movimentos.

por que com a escrita seria diferente?

então, não é. o resumo da ópera é, justamente, esse: pra parar de escrever no automático, você precisa escrever presente. e, pra escrever presente, você pode se guiar a partir de três pontos:

  1. quem é o seu leitor;
  2. o nível de sinceridade da sua escrita;
  3. qual é o seu objetivo.

eu espero que, por aí, esse exercício fique mais simples. caso sim, me conta nos comentários? é sempre importante saber como tá chegando a informação por aí. e, olha, eu fui buscar nas minhas práticas cotidianas respostas pra isso, porque, ainda hoje, eu me vejo caindo nesse lugar de automatismo. e tudo bem, sabe? tem dias que eu tô cansada e é melhor seguir o meu piloto automático só pra coisa sair, acontece. mas, cada dia mais, eu tenho buscado trazer essa presença pra cada coisinha que eu escrevo, mesmo que seja “” uma mensagem de texto pra alguém.

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. Bianca  em agosto 05, 2021

    teve uma época na minha vida em que eu fazia muitas coisas no piloto automático, até meados do ano passado. inclusive, uma parte do meu tcc foi escrito dessa forma, consegui me ver nisso que você falou sobre seguir uma estrutura, e foi justamente um dos sinais de que a coisa não estava indo bem já que eu amo escrever textos acadêmicos (a garota com gostos peculiares aqui). hoje em dia vejo que minha relação com o piloto automático mudou, ou melhor, nem existe mais. não consigo mais fazer as coisas assim, ou eu estou entregue naquilo que estou fazendo ou simplesmente não consigo fazer, sem um meio termo. difícil é só saber se eu considero isso melhor ou não ksjksjsksjs

  2. Emerson  em julho 28, 2021

    Texto bem reflexivo. Por aqui sua mensagem chegou perfeita e sem ruídos. Parabéns por esse dom de escrita tão próprio e cativante.

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia