tem horas que eu sinto que já tô tão longe da categoria “iniciante” que não sei se saberia dar dicas de escrita para iniciantes. e eu juro que não é arrogância. é ser realista, porque tem muito tempo que eu comecei a escrever. mas eu tenho buscado, cada vez mais, aprender como transferir o que eu sei pras pessoas. num seria diferente com isso, né?
tem uma frase do livro Romancista por Vocação do Murakami, que ele fala: “acho que não tem sentido escrever se esse ato não for agradável“. e, sabe, eu concordo. porque esse tem que ser um primeiro passo, sempre. talvez até uma primeira dica. se for sofrido e complexo, não vale a pena, e você ganha mais deixando o lápis e o papel de lado pra encontrar outra maneira de se expressar. e tudo bem. mas a gente precisa falar desse elefante na sala primeiro.
pra mim, escrever já é tipo uma segunda natureza. eu não penso sobre, só busco no meu repertório as palavras mais adequadas pra expressar o que tá na minha mente. tem horas que é mais fácil. outras, eu lido com o tal do bloqueio criativo como qualquer pessoa. mas, via de regra, não é uma dificuldade. é gostoso. é terapêutico. e pode ser pra você também.
então, o primeiro passo é começar com isso em mente. tem que ser agradável. se não é, deixa pra lá. tá bem? tá bem. sem isso na frente, a gente consegue dar um próximo passo, que é:
1.tenha um objetivo
eu ia dizer propósito, mas às vezes sinto que essa palavra pode ficar mística demais. é sobre saber o porquê você quer escrever. é pra compartilhar o que você sabe sobre algum assunto? é pra desabafar sobre o que você sente? é pra se comunicar melhor com as pessoas? pra quê, afinal, você quer escrever? “eu quero escrever melhor” é vago demais, percebe? só um “eu quero escrever” também. olha com carinho, tem um porque aí no meio que você precisa descobrir qual é.
2.comece pequeno
no post sobre rotina de escrita, eu falei da regra dos dez minutos. e acho que essa é uma das melhores coisas a se fazer pra quem tá começando qualquer coisa: começar pequeno. dez minutos pra escrever por dia é uma forma de você começar a colocar esse treino na sua própria rotina. se 10 minutos for muito, diminui pra cinco. mas só começa, um pouquinho por vez.
3.leia com intenção
a leitura é essencial pra quem quer escrever. não importa se você lê dois livros por semana ou leva dois meses pra ler um livro só. o mais importante, aqui, é você ler com intenção, sabendo que essa leitura, seja qual for (isso realmente não importa!), vai ajudar você a escrever mais e melhor. é lendo que a gente adquire repertório, lembra? é com o nosso histórico de vida também, mas a leitura tem esse papel. então, quando você pegar um livro, dá um carinho pra ele, presta atenção no que tá sendo dito, nos aprendizados (mesmo subentendidos) que você pode tirar dali.
4.escreva primeiro, edite depois
a gente tem uma cabeça muito maluca que tem mania de julgar cada coisinha que faz. quando você tá começando algo novo, tipo a escrever, é comum ficar uma voz chata falando que tá ruim, que tá errado, que a frase tá estranha, que não dá pra entender o parágrafo… enfim, você já entendeu, né? nesses casos, você vai ter que ser o seu próprio carrasco e mandar essa vozinha falar com outra pessoa, porque você tá ocupado demais escrevendo o seu texto. deixa a voz falando sozinha e só escreve tudo o que tem na sua cabeça. depois, com a mente clara, mais tranquila, você volta lá no texto, relê e ajusta o que sente que precisa ser ajustado.
tem uma frase perfeita da Liz GIlbert em Grande Magia que fala exatamente sobre isso. olha só:
o perfeccionismo impede as pessoas de terminarem seus trabalhos e, o que é ainda pior, muitas vezes as impede de começarem seus trabalhos. perfeccionistas com frequência decidem de antemão que o produto final nunca será satisfatório, então, nem se dão ao trabalho de começar a criar.
dá pra entender quando eu digo que a perfeição é inimiga da criatividade. se você quiser escrever o texto perfeito, preciso e sem qualquer erro de português logo de primeira, sinto informar que vai se frustrar bastante. não é assim que acontece. (esse post mesmo passou umas 3 revisões e edições antes de ir pro ar!)
5.quando estiver pronto, abra a porta
essa aqui vem diretamente do livro do Stephen King, Sobre a Escrita, que fala sobre escrever de porta fechada vs. escrever de porta aberta. isso significa que, num primeiro momento, é você e o seu computador colocando todas as ideias no papel, aprimorando e ajustando o que for preciso. mas, em algum momento, você precisa abrir a porta e mostrar o seu texto pra alguém. escolha alguém de confiança, que você sabe que vai ser sincero sobre o que você escreveu. faça perguntas: o que você entendeu disso? o que você sentiu? a mensagem está clara? evite perguntar se “está bom”. o “bom” é tão relativo que é impossível saber se o que você considera bom e o que a outra pessoa considera bom são a mesma coisa (na verdade, isso vale pra tudo, né?). não aceite também um “tá bem escrito” como resposta. já comentei isso em algum lugar, alguma vez, mas uma das maiores ofensas que alguém pode fazer pra mim é dizer que um texto meu tá “bem escrito”. o que eu busco quando escrevo é conexão. com o seu propósito em mente, veja se ele ficou claro e não se prenda a elogios técnicos, ok?
aliás, pegando o gancho desse último tópico, tem outra aspa do livro do Murakami que eu citei ali em cima que cabe perfeitamente aqui, e é com ela que eu também queria fechar esse post. pra dar um pouco de contexto, nesse capítulo o autor tava explicando sobre o processo de escrita dele, como ele começou a escrever em inglês porque sentia que escrever na sua língua nativa (o japonês) não estava funcionando. usar outra língua deu pra ele perspectiva de que é possível passar uma boa mensagem sem a necessidade de escrever difícil (o que eu acho lindo!) e foi o recurso que ele encontrou pra descobrir a própria voz. diz ele:
a emoção e a intenção podiam ser expressas sem problemas se fossem combinadas de forma eficaz, dependendo de como fosse essa combinação. resumindo: percebi que não havia necessidade de usar palavras difíceis nem belas expressões para impressionar as pessoas.
acho essa frase maravilhosa porque resume muito bem aquilo em que eu acredito. você não precisa de um vocabulário gigantesco e anos de prática pra escrever um texto que gere uma sensação boa em alguém. pelo contrário. acho sempre válido lembrar daquele exemplo do Dr. Seuss, que criou um dos seus livros de maior sucesso num desafio com o seu editor, de escrever uma obra completa usando apenas 50 palavras do dicionário. foi assim que nasceu Ovos Verdes e Presunto.
no mais, vale a regrinha de ouro desta que vos escreve: seja gentil com você, por favor. a escrita é uma ferramenta maravilhosa de conexão entre as pessoas e de você com você mesmo. tenha isso em mente sempre que quiser escrever qualquer coisa, por qualquer motivo. não precisa usá-la pra falar mal de você, tá bem?
como de costume, fica aqui o meu eterno “obrigada!” pro clube de escrita desancorando, que me permite explorar a minha própria escrita ao mesmo tempo que me ensina a ensinar sobre ela para os outros! vocês são maravilhosos! obrigada pelos ensinamentos e por me ajudarem a manter o desancorando no ar!
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13 Comentários
Me apaixonei pelas sua forma de conversar conosco! Eu nunca fui uma pessoa criativa (artes, desenhos, colorir, pintar), mas sempre mostrei meus sentimentos e reflexões através da escrita, desde bem pequena. Porém, com a rotina, isso se perde. Escrevo de vez em quando, mesmo querendo escrever todos os dias. Tomei uma decisão de escrever pelo menos 10 minutos todos os dias, para criar uma rotina de escrita. Como você disse, começar pequeno! Obrigada pela forma carinhosa de nos ajudar!
Abraços!
ahhhh Clara! que amor esse seu comentário! sério, fiquei muito feliz!
e é isso: começa pequeno, no seu ritmo, que é sem erro <3
se um dia você quiser compartilhar os seus escritos, acho que você vai amar fazer parte do clube de escrita: https://apoia.se/makidemingo
enfim, brigada mesmo por todo carinho!
um beijo
Oi Maki!!!!
Dicas preciosíssimas!!!!!!!!!
A gente tem muito essa nóia, principalmente quando a gente começa, sobre como a gente precisa ter as palavras certas para pôr no papel. Acho que isso é o principal causador do medo de escrever. Escrever é uma coisa tão cotidiana, a gente escreve mensagens e notas o tempo inteiro, e mesmo assim quando a gente para um pouco para escrever algo com seriedade, seja fictício ou um relato pessoal sobre o dia, a gente empaca, com medo de não saber escrever aquilo.
Acho que muita gente acaba não escrevendo por causa disso.
Por isso acho que, para mim, a dica mais importante é “escreva”. Sem preparos, sem rodeios, só pega teu material e começa a pôr no papel. E, claro, vai ficar ruimzinho. Eu ainda não tô num lugar de conforto com minha própria escrita, então eu sempre releio meus textos com a mão nos olhos, com medo do tipo de coisa que eu coloquei no papel, mas tá tudo bem kkkkkk é assim mesmo. Como toda habilidade, a escrita deve ser praticada e estudada, então se a gente não se desafiar a, simplesmente, sentar e escrever, a gente não vai conseguri alcançar aquele nível de escrita que tanto almejamos.
Obrigadíssimo pelo post 😆😆😆
Jae, é sobre isso, sabe?
nem tenho o que dizer ❤️
Eu escrevo há muito tempo também. Tipo, desde que aprendi a escrever e entender as palavras, lá com meus 5-6 anos. Entretanto, hoje chegando aos 35, ainda sinto que falta algo na minha escrita. Não sei se preciso de um desprendimento de algo que me segura, ou se eu ainda (mesmo depois de tantos anos) não entendi minha própria escrita, seu proposito ou objetivo.
Já recebi o elogio de que minha escrita lembrava a da Clarice Lispector — que é uma das minhas escritoras preferidas —, mas sinto que ainda tenho tanto a aprender, não que isso seja errado, claro que não é, só que aí vem as comparações com as outras pessoas né? Eu olho pra mim e vejo alguém que escreve há tanto tempo e ainda não tem algo definido? Sei lá, me parece que não adquiri experiências suficientes para expor nos meus textos… Ou talvez seja a síndrome do impostor me pegando pelo braço e querendo me sacudir dizendo que não sou boa o bastante? Talvez.
Mas queria dizer, Maki, que apesar de tudo isso, de todos esses pensamentos, ainda acredito que eu consiga achar uma saída para minhas perturbações e isso se deve ao seu propósito com a escrita: criar conexão com a agente. E ler seus textos me ajuda a refletir. Muito.
Farei uma maratona deles, assim quem sabe eu começo a analisar os meus pensamentos sobre minha escrita com mais carinho do que tenho feito.
Obrigada ♡
😉
nossa, Julie! sério, eu fiquei muito tocada pelo teu comentário. brigada por isso!
sabe, eu já briguei muito isso também, e acho que, às vezes, a gente tem só que desligar essa voz incômoda na nossa cabeça e escrever com o coração mesmo, da forma que dá vontade. desenvolver a própria voz tem muito a ver com treino e, principalmente, com sinceridade, eu acredito. seja gentil com você! tá tudo bem continuar aprendendo sobre a maneira como você quer escrever! <3
Acrescento uma dica para os leitores: no podcast Calcinha Larga, feito pelas talentosíssimas Tati Bernardes, Camila Fremder e Helen Ramos, em algum dos episódios foi comentado sobre como a gramática perfeita é a parte menos importante de escrever. O importante mesmo é transmitir suas ideias, a norma culta da linguagem existe só para padronizar o formato a fim de tornar mais fácil da gente se entender. A Tati, por exemplo, contrata um revisor para os textos que ela publica no jornal. Ela escreve, outra pessoa lida com as regras. Claro que para escritores autônomos como nós é importante saber o mínimo para revisar ao final hehe mas não deixe isso te perturbar e nem diminua seu trabalho por um erro de português!!!
Off: No tópico 4 tem um erro de digitação, está “eu carrasco”, creio que seria “seu”. Super normal hihi
Ana! eu AMO esse podcast!
e você tem toda razão é isso mesmo, a questão é fazer a mensagem chegar em quem lê e não passar horas se preocupando com as regras, né?
(ps: brigada pela correção, realmente tem horas que a coisa passa batido, né?)
falando do tópico 4, foi corrigido. Obrigado pela observação.
Inspirador esse post, Maki! Eu sou uma eterna iniciante na escrita rs estou aqui prestes a lançar um blog só pra por minhas ideias aleatórias pra fora da minha cabeça e treinar minha escrita. Vc é sempre uma inspiração com ensinamentos valiosos. Obrigada <3
Juuuuuuuh, bota esse blog pra rodar, mulher! você consegue <3
Tudo que você falou casou tão bem com o jeito que venho construindo o hábito da escrita. Pensei sobre o meu objetivo e fui atrás de entender como outras pessoas chegavam nesse mesmo resultado. Não pretendo virar uma escritora, mas quero tocar as pessoas mesmo que meus textos sejam legendas de fotos no Instagram. Assim como o desenho, a pintura e outras tantas formas artísticas, a escrita tem um poder de expressão incrível e pretendo usar isso do meu jeitinho.
Obrigada pelas dicas fantásticas Maki 😍❤️
brigada você por esse comentário lindo, Leyliane <3
e é isso! a escrita é uma expressão artística sim que merece o nosso carinho, sabe?