os dias ordinários são os meus favoritos

eu sei, eu sei. “ordinários” não é lá uma das palavras mais bonitas do dicionário de português. mas pensa nela como sinônimo de “banais“, “corriqueiros“… assim fica melhor, você não acha?

sabe o que é… eu tava aqui no meio de um texto complexo pro trabalho e começou a tocar Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, do Emicida, no fone de ouvido… aliás, só um parenteses, já posso considerar essa a minha música do ano? posso, né. foi base pro meu manifesto de 2021, pra arte do Instagram, e eu não paro de escutar. então, tá decidido.

enfim, começou a tocar essa música por aqui, e eu senti uma alegria pela forma como o Emicida constrói cada um dos versos, sabe?

A esperança pinta em aquarela
Chiadeira de rádio, TVs e novelas
O passeio das abelhas, o concordar das ovelhas nas orelhas
E a vida concorda de tabela

credo, que coisa mais bonita! daí, eu tava lá fazendo o que eu mais amo – escrever -, começou essa música linda, Michael Scott tá aqui dormindo esparramado no meu pé, cai uma chuva torrencial lá fora e eu comecei a chorar.

juro pra você.

comecei a chorar porque eu descobri que eu amo os dias ordinários. os dias simples. os dias corriqueiros, cheio de pessoas e cheiro de café e o cachorro que come o apoio de porta, mas ainda assim é o amor da minha vida. de piadas entre um momento de foco total no trabalho e outro. de almoços de domingo e pizzas nas sextas-feiras à noite. de passarinhos que fazem rasante na minha janela, de aulas à noite, exercícios na sala pela manhã, e agendas e os famigerados calls e… cotidiano.

eu sou apaixonada pelo cotidiano.

tanto que num ímpeto (onde começa tudo!) larguei o trabalho pra tirar uns cinco minutinhos de pausa e deixar a inspiração desse dia tão lindo tomar conta de mim, preencher cada centímetro do meu corpo da mais pura alegria borbulhante que me faz chorar quando eu olho pela janela, a chuva caindo, e me deixo embalar por uma mistura de Emicida e as gotas voando com pressa lá fora.

eita, como a vida é bonita.

até comentei sobre isso nos Stories outro dia… ah, se eu pudesse mostrar pra Maki de 2015 onde ela estaria hoje… o que estaria fazendo, com quem estaria vivendo, que ela teria um cachorro! principalmente, se pudesse contar pra ela que ela nunca mais sentiria vontade de não acordar, talvez ela não acreditasse.

mas cá estamos. e como eu acredito que o tempo-espaço é uma coisa bem louca (uma opinião que, talvez, somente outros fãs de Doctor Who compartilhem comigo), eu acredito que, de alguma forma, ela tá ouvindo tudo isso e se sentindo esperançosa pelo futuro, pelo que vem por aí pra ela.

claro, não vamos deixar de considerar o contexto – isso, jamais! mas eu sei – e ela também – que quando a gente faz a nossa parte em viver em paz isso reverbera tanto quanto uma música lindamente escrita. alcança os confins do universo, os lugares mais escuros e obscuros da mente e mostra pra esse mundão que é possível a gente olhar pro cotidiano como se fosse uma grande festa de aniversário com tudo o que a gente mais ama (mas talvez eu seja a única pessoa no mundo que ama camafeu de nozes, o típico docinho de tia rica).

e isso cresce e expande e, meu Deus!, eu já nem tô cabendo mais no meu próprio quarto agora. olha só, tem alguém cantando na cozinha, é hora do café e o ordinário continua sendo extraordinário porque é cheio de vida, cheio de mim.

falando em café, acabou de passar alguém aqui na porta falando que tá pronto. o cheiro já faz a minha boca aguar pelo gosto amargo e delicioso de mais uma tarde absolutamente comum e maravilhosa e linda e feliz. vou lá, tá bem? mas fica tranquilo, daqui uns 20 eu tô de volta. ou não, vai saber. pode ser que mais alguma extraordinariedade ordinária me prenda atenção no meio do caminho e aí, já viu. eu volto quando a alegria quiser.