não há nada no mundo que me faça lembrar onde foi que eu vi isso pela primeira vez, mas tem muitos anos eu li um texto (?) ou vi um vídeo (?) em que o Jerry Seinfeld explica o método de produtividade que ele criou pra si. chama “não quebre a corrente”, e a ideia é bem simples: colar um calendário na parede com uma meta que você gostaria de alcançar naquele mês, cumprir uma parte dessa meta todos os dias e, quando a parte daquele dia for cumprida, fazer um “x” no calendário de forma que comece uma corrente de muitos “x”.
diz o Jerry (que é uma pessoa maravilhosa, diga-se de passagem), que a motivação está em, justamente, não quebrar a corrente – ou seja, olhar o calendário com todos aqueles X-zinhos e continuar adiante, marcando os dias e alcançando a sua meta.
pode-se dizer que a ideia de “não quebrar a corrente” seria um precedente do nosso amado habit tracker, que ganhou todo um novo nível de admiração quando o bullet journal apareceu. a gente coloca numa caixinha bonita os hábitos que quer cumprir naquela semana ou naquele mês e se compromete a colocar uma bolinha ou um X-zinho quando aquilo, de fato, for feito. no final da semana (ou de um mês inteiro), a gente olha aquela fila de bolinhas coloridas e tem a sensação de que, enfim, cumpriu alguma coisa de verdade e com consistência.
mas o que isso tem a ver com rotina de escrita?
acontece que esse não é um post sobre hábitos ao mesmo tempo que é um post sobre hábitos (que eu prefiro chamar de rituais, porque é pra ser feito com consciência e não no automático!). eu amo o fato de que tanta gente por aí quer criar uma rotina de escrita ao mesmo tempo que fico encucada com a dificuldade que as pessoas têm de, sim, criar uma rotina de escrita.
e não pense que isso é um problema só seu, porque eu já passei por essa mesma dificuldade um milhão de vezes. acontece que a escrita, tal qual o seu bíceps (e já peço perdão antecipado por essa analogia horrível) é um músculo que precisa ser exercitado constantemente. se você fica muito tempo sem oferecer os estímulos corretos, ele enrijece, não responde aos seus comandos direito e, bem, não cumpre com a função de bíceps dele. vira só um pedaço de carne fibrosa acoplada no seu braço e que mal consegue carregar as sacolas de compras do mercado direito.
vou bancar essa analogia e dizer que com a escrita é a mesma coisa. se você não exercitar esse músculo, ele atrofia e parece impossível voltar a escrever sendo que você não sabe nem por onde começar, a mão dói muito (se você for um dos corajosos a tentar escrever à mão) e você não sabe direito nem o que quer dizer – por isso, é melhor desistir de uma vez.
tal qual a carteirinha da academia que a gente, às vezes, insiste em pagar e não usar, a escrita fica juntando pó no fundo da sua mente e a tal rotina de escrita, perdida pra sempre.
agora, tomando mais uma licença poética e fazendo o locutor da Polishop: MAS NÃO PRECISA SER ASSIM! você pode começar a mudar isso hoje mesmo!
só é preciso não quebrar a corrente.
Austin Kleon, esse homem maravilhoso que eu admiro mais do que tudo no mundo, já falou mais de uma vez sobre como escrever tem que ser um hábito. na rotina dele, a primeira parte da manhã é dedicada a escrever no seu diário. dali, ele tira alguma ideia, algum desenho, alguma coisa pra transformar num post do seu blog ou nas redes sociais. e por mais que esse não seja o tipo de escrita que muita gente idealiza (vou escrever um romance! um clássico! a nova Odisseia!), ela é igualmente válida.
todo mundo precisa começar em algum lugar, não é mesmo?
dito isso, 2020 foi um daqueles anos complexos e reveladores ao mesmo tempo, em que eu aprendi muito sobre como ter uma rotina de escrita é importante pra mim. não só pra manter o músculo funcionando (eu tenho muitas sacolas de mercado para carregar, afinal de contas!), mas porque também me faz bem. então, aí vai o que eu fiz pra transformar a escrita em ritual.
1.a regra dos dez minutos
queria dizer que essa foi uma ideia inovadora minha, mas não foi. o querido Vitor Martins já falou sobre isso no blog dele, o Austin fala sobre isso incessantemente, até mesmo o Stephen King comentou sobre no meu livro favorito, Sobre a Escrita, se não me engano. eu fiz disso um projeto com o meu diário, lembra? então.
sem mais delongas: dedique dez minutos a escrever todos os dias. todos. os. dias. não é hoje sim, amanhã talvez, no terceiro dia eu já esqueci que tinha um caderno. é todos os dias. foi assim que eu retomei (e mantenho!) o meu diário há mais de 4 meses. tirar dez minutos pra escrever num diário parece pouco, mas me ajudou MUITO a retomar o fôlego (e a treinar a inspiração) pra escrever o que eu gosto – e não só o que eu preciso pro trabalho.
2.faça pausas
tá, eu sei que parece contraditório primeiro falar pra escrever todos os dias e depois sobre pausas. MAS eu entendi que muito do meu bloqueio e dificuldade pra escrever vinha do fato de que eu não me dava tempo pra não pensar nisso, em descansar de verdade e deixar a mente relaxar. eu ficava num estado de tensão tão grande por tanto tempo que não tinha energia ou inspiração o suficiente pra escrever além do que eu escrevia profissionalmente. comecei a fazer pausas, a descansar de verdade, a ficar offline mais tempo durante o dia e deixar que as palavras viessem. acredite, elas vêm. somado com o exercício anterior, eu comecei a sentir vontade de escrever de novo, até mesmo além do meu diário.
3.revise!
não necessariamente o que você escreveu, mas a sua evolução! o Vitor fala sobre ter um registro do seu progresso, mas mais do que fazer um registro, eu percebi que é importante a gente acompanhar a nossa própria evolução. foi por isso que eu comecei a fazer revisões semanais e ficar mais próxima do meu bujo e do Notion (que é a ferramenta digital que eu tenho usado pra me organizar também). quando eu terminei o primeiro caderno, quando vi todas as bolinhas marcadas no meu tracker, me bateu um orgulho danado de mim mesma. diário é algo pessoal, só pra mim, mas me vi feliz de ter conseguido manter a consistência. puxa vida, sabe! a gente merece comemorar as nossas vitórias sempre, mesmo que só a gente tenha acesso a elas.
4.a palavra é: compromisso
bom, aqui vem mais um conselho do que uma dica em si. sabe, compromisso é a minha palavra de 2021. tem a ver com um comprometimento comigo mesma, com o que eu quero pra mim, com o que é importante pra mim. tem a ver também com um compromisso com as pessoas que eu amo, com o mundo e, principalmente, com Deus (sim, eu falei de músculos E de Deus num mesmo post). mas o que mais me ajudou a construir uma rotina de escrita foi compromisso.
pra mim, isso é importante, e, sendo importante, eu vou fazer. é sobre manter a palavra comigo mesma, entende? daí, escrever toda torta, já deitada na cama, à 0h40 de segunda-feira, depois de duas horas de viagem, só pra manter esse compromisso não fica com cara de obrigação, de coisa chata. fica com cara de: o dia foi tão incrível que precisa terminar com esse pequeno ritual que eu amo.
faça por você. se escrever é algo que você ama, que você quer manter no seu cotidiano, que te faz bem e que te ajuda a se comunicar com o mundo, então, faça por você. esquece um pouquinho a produtividade, deixa de lado o que as pessoas tão fazendo. faz por você, porque você curte, porque você gosta, porque faz você feliz. e o resto é só mecânica, músculos levantando pesos cada vez mais pesados, mas sem aquela dor chatinha do movimento forçado (e abandonado) no dia seguinte.
ah, e se você quiser um pouquinho de ajuda, um incentivo ou só alguém pra fazer junto, a gente pode fazer isso lado a lado lá no clube desancorando! ❤️
(update: como o universo é uma coisa maravilhosa, enquanto revisava esse post – de novo! – parei pra ler a newsletter do Austin Kleon e ele, justamente, chamava com um post que escreveu sobre um desafio de fazer um pouquinho de uma mesma coisa todos os dias, com direito a um calendário pra você baixar e imprimir. em um dos posts sobre esse projeto, que começou como um desafio de 30 dias e agora é de 100, ele resumiu os livros dele em um único parágrafo, que achei perfeito pra terminar esse post:)
tente sentar no mesmo lugar na mesma hora pela mesma quantidade de tempo todos os dias e veja o que acontece. –
Austin Kleon
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8 Comentários
Oi Maki!!
Adorei as suas dicas sobre o ritual de escrita. Gostei também de saber mais sobre a sua palavra do ano. A minha palavra escolhida tem a ver com a sua, a minha é Persistência. Penso, que a persistência é algo que preciso desenvolver mais, pois quando se persiste a gente costuma enfrentar os próprios medos para fazer algo importante para nós mesmos.
Essa semana foi bem caótica para mim e não consegui tirar um tempo para escrever. Interessante é que por ser uma semana mais agitada, senti mais falta ainda da hora de sentar e escrever um pouco para mim.
Também sou muito fã do Austin, inclusive estou fazendo o desafio de trinta dias que ele propôs. Imprimi a folha e colei na parede do meu quarto. Todo dia tenho me esforçado para dedicar 10 min do meu tempo para desenhar alguma coisa. Quero melhorar no desenho, porque assim como a escrita, desenhar é importante para mim.
Estou ansiosa para ver minha corrente completa de Xzinhos!
Vamos continuar a corrente!
Abraços
ahhhh não acredito, Ana! que ideia legal, essa! sabe que eu tô super a fim de começar a desenhar também, e tenho inclusive pensado em fazer o desafio do Austin <3 que bom que tá rolando pra você! te desejo muita sorte com ele e muitos Xzinhos no seu calendário!
Rotina é sempre tão desafiador. Principalmente nos dias atuais. Os dias parecem mais curtos e as tarefas parecem crescentes.
Eu prometi a mim mesmo que eu ia escrever todos os dias a partir desse ano. Não importa se for criativa ou pessoalmente, eu /quero/ estar sempre escrevendo.
E eu defini pequenas metas para me estimular a isso. Treinar caligrafia, encadernar meu próprio diário (pq eu gosto muito de encadernação hehe), ter várias canetas….
Mas eis que é meu ano de TCC, é meu ano de estágio, eu estou planejando um intercâmbio, estudando idiomas, e as 24H do dia se tornam 5H, e a rotina vai por água à baixo.
Mas é como você mesma pontuou, Maki, é sobre compromisso. Com calma, comprometimento e organização, a gente consegue dar um jeito.
E se for preciso tirar uma ou duas metas da tabela, tá tudo bem. A gente não é de ferro. É sobre fazer o que é melhor pra nossa saúde física e mental, e que a gente consiga se sentir realizado no fim da jornada.
Ótimo post, como sempre 😍😍
Jae, VOCÊ DISSE TUDO! eu supere entendo isso tudo que você falou porque sou dessas que quer fazer absolutamente mil coisas ao mesmo tempo, trabalhar horrores, blogar, postar nas redes sociais, aprender a desenhar, estudar uma nova língua… corte seco tô estatelada na cama porque tô exausta e só queria uns minutinhos pra descansar.
mas a gente pode ir com calma, sabe? pode fazer as coisas aos poucos, com sossego no coração, seguindo o que a gente sente que tem que fazer em cada momento ♥
apaixonada por esse ‘não quebre a corrente’, pelo seu post e pelos links que indicou, li todos! hahaha preciso voltar com meu diário e tô pensando em incorporar esse ‘só por 10 minutos’ pra MUITAS coisas que fico enrolando demais pra fazer, haha
amiga, te juro que foi a melhor coisa que eu fiz. porque pensar em fazer páginas matinais tava me desmotivando muito (leva um tempo, né?) mas a gente sempre consegue achar dez minutos, só colocar o timer e bora lá! super eu certo pra mim ♥
“a gente merece comemorar as nossas vitórias sempre, mesmo que só a gente tenha acesso a elas.” ♥♥♥
MELDELS QUE POST MARAVILHOSO
Sei lá, me pareceu ser importante começar a ter esse ritual de escrita lendo seu post e a dica dos X já me fez imaginar eu marcando todos os dias no calendário, seja lá com que comprometimento for e foi tão mais tão satisfatório kkkkk <3
E AMEI que vc falou do Austin, já abri o link aqui na outra aba pra ler, fiquei animada!
um beijo, Makiii
FÃS DO AUSTIN, UNI-VOS! esse homem é tudo na minha vida, sério!
e eu fico empolgadíssima que o post te animou pra escrever, Grazi, bem-vinda ao timeeeeeee!
♥♥♥