eu tô lendo (e adorando!) o livro da Ana Holanda, Como se Encontrar na Escrita, e eu nem posso dizer que fiquei surpresa ao perceber que o que ela fala sobre escrita afetuosa é uma coisa que eu sempre fiz.
pra ser sincera, eu sempre me orgulhei de ser uma pessoa observadora e que, apesar de não sair falando as coisas que eu sentia por aí (e essa ser a minha maior dificuldade), eu olhava muito e analisava e depois escrevia um monte de coisa que guardava na cachola.
o que eu achei mais bonito do discurso da Ana, que é editora da Vida Simples, foi justamente isso – como pra escrever bem (na verdade, pra escrever – e ponto) você precisa olhar além de você mesmo.
tem uma coisa sobre colocar vida nas palavras que a gente só adquire depois de fazer esse exercício, e de entender que as coisas que a gente sente não são só nossas, mas de todo mundo – com certeza, tem alguém por aí que se identifica com o que você pensa, com as coisas que passam pela sua cabeça durante o dia, com a forma como você reage diante do mundo, sabe?
mas esse primeiro passo, eu acho, é um dos mais importantes. a gente tem que sair um pouco da gente mesma pra entender como as nossas palavras podem ajudar o mundo.
o que eu tô entendendo como escrita afetuosa é isso: você pegar alguém pelo coração e lembrá-lo que ele não tá sozinho nesse mundo aparentemente hostil e perigoso. é você alcançá-lo lá no fundinho da mente dele e falar um ‘ei, cara, a gente tá junto nessa, e a gente pode se lembrar que tem pessoas do nosso lado, inclusive por trás dessas palavras‘. e você, de alguma forma, se sente menos só.
sabe do que eu tô falando?
sei lá. quando eu criei esse blog, por mais que tivesse na mente uma ideia de só compartilhar o que eu tava sentindo, era muito com uma esperança de que você que me lê me ajudasse tanto quanto eu pudesse ajudar você. sabe? parceria, broderagem. sei lá como a gente pode chamar isso.
quem sabe de… relacionamento?
e o livro da Ana me fez olhar pra isso com mais carinho, entende? é tão fácil a gente jogar um monte de palavras na nuvem e achar que elas não têm efeito algum no universo. esquecer de olhar pra dentro e depois pra fora e entrar nessa onda de textos impessoais, de números e estatísticas e esquecer que, na verdade, cada uma dessas informações diz respeito à pessoas, à uma parte da gente que se apresenta de um outro jeito que parece não ter nada a ver com o nosso.
a gente se dessensibiliza muito facilmente, né? fica perdida nos próprios pensamentos, nas próprias questões e não olha mais pra fora e um número vira só um número e palavras são só palavras e textos são só textos.
só que não.
porque se eu te alcanço com o que eu falo aqui e você me alcança com o que fala daí significa que, de alguma maneira, a gente sabe como sair dessa doideira solitária.
mas alguém tem que olhar primeiro, né?
tipo… eu acho bem linda a forma como os galhos do abacateiro que fica aqui na frente da minha janela balançam com a brisa. e como o verde das folhas contrasta com o azul do céu nessa época do ano. me faz pensar sobre como as coisas podem ser mais simples do que a gente imagina. sempre tem um pássaro fazendo ninho ali no meio daquela bagunça verde, uma borboleta brincando na superfície e, à noite, eu fico sempre impressionada com os morceguinhos que voam à toda velocidade de um galho pro outro. é uma metáfora bem da bonita sobre o meu dia, entende?
tem uma coisa também sobre a forma como a minha mão segura uma xícara de chá, sempre procurando um pouco mais de calor (meus extremos sempre foram muito gelados), e como parece que os dedos encaixam perfeitamente em torno da louça quente. é aconchego, saca? ali, naquele momento, não tem muita preocupação além de esperar a água esfriar um pouquinho pra não queimar a boca no processo (e eu falho miseravelmente nessa pequena missão rotineira toda santa vez).
percebe que, mais do que palavras, nisso tudo tem uma sensação?
seja olhando o abacateiro ou mergulhando na xícara de chá, eu busco sempre olhar com cuidado pra cada coisinha, porque cada coisinha me conta uma outra coisa diferente que depois eu tento compartilhar aqui com você.
e, lendo Como se Encontrar na Escrita, eu percebi que isso não é comum, sabe? olhar pras coisas, pros outros, olhar nos olhos, olhar com cuidado. parece que é errado e a gente tem medo e de alguma forma isso vai fazer as pessoas entenderem e descobrirem coisas horríveis sobre a gente. (“os olhos são as janelas da alma”, é o dizem).
e vai saber o que a minha alma tá contando, né?
mas, sei lá. eu fiquei com isso na cabeça. e com mais vontade de olhar mesmo, de ver a verdade das coisas e transformar em palavras depois.
vai que assim a gente se alcança mais, né?
pra terminar, fui buscar uma aspa do livro que coubesse com o que eu tô querendo dizer por aqui e dei de cara com essa, a primeira que marquei no Kindle durante a leitura:
“o saber mais lindo é o da vida, a sua presença no mundo, sua intensidade em tudo isso. e, principalmente, na crença de que aquilo que nasce no coração tem um valor enorme.”
Como se Encontrar na Escrita, Ana Holanda
e tem mesmo.
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6 Comentários
Oi Maki!
Hoje ouvindo o podcast da Helena Galante com a tua participação, resolvi conhecer o cantinho!
Que surpresa maravilhosa! E já havia estado aqui antes e me perdi ao longo do tempo, então é para mim um recomeço, uma xícara quentinha que aquece o coração tua escrita.
Beijo
aaa Ana! que legal te ter por aqui (de novo, né?) hehehe!
Seus textos são sempre tão incríveis. Eu estou voltando a escrever agora. A minha forma de me expressar é pelas palavras escritas e eu não posso, não consigo e não quero me afastar disso, mas é complicado escrever. Sou muito observadora também e gosto de prestar atenção a detalhes, mas não é simples colocar essas coisas em palavras. Estou indo ver esse livro incrível.
Vidas em Preto e Branco
olha, entendo a dificuldade, mas, sabe… quando a gente abre mão de querer fazer o texto perfeito, ele sai que é uma beleza. às vezes, as palavras mais bonitas são as mais sinceras, entende? não precisa de esforço pra falar com perfeição uma coisa que a gente tá vendo é só… deixar os dedinhos fazerem o trabalho de traduzir o que tá no coração!
Como eu adoro esse mundo dos blogs, principalmente os que nem o seu com textos que são mais conversas e que são gostosos de ler. E sobre olhar pra fora pra poder escrever bem, atualmente, na vida corrida que as pessoas têm (inclusive eu) parece que fica impossível ter um momento no dia para relaxar e observar o que está em torno. E uma coisa que eu me dei conta durante a leitura do seu post, é que a minha dificuldade em escrever os posts (e acredito que seja) é por não estar olhando para o fora. Eu que amo escrever, tem momentos que não consigo me desligar e me dedicar a escrita e a forma que arranjo é ir aproveitando os momentos de “inspiração” quando as palavras só vêm e eu solto elas no papel ou no word.
menina, faça esse treino! coisa mais deliciosa. olhar pra fora abre um mundo de possibilidades e tira o misticismo, essa coisa “só escrevo quando tô inspirada”, porque você começa a perceber que a vida é inspiradora mesmo, sabe? coisa mais linda! brigada por esse comentário tão atencioso!