inspiração
medo de ser esquecido

eis que eu tava lendo o (maravilhoso) feed do Twitter quando trombei com um post novo do blog da Aline Valek, periodicidade para encher linguiça. só por esse nome já o considerei um dos melhores posts do ano, mas fala de toda aquela história de internet que eu já converso com você sobre há tempos por aqui.

e, curiosamente, na hora que eu abri o WordPress pra escrever esse post (amém a inspiração que apareceu no meio de uma tarde de segunda-feira), eu lembrei imediatamente de uma frase do Gus em A Culpa é das Estrelas (o melhor livro do John Green SIM), e que me soou como um soco no estômago a primeira vez que eu li:

eu tenho medo de ser esquecido.

ainda dói um pouco só de pensar sobre isso. porque eu acho que nunca levei muito a sério o quanto a gente faz questão de querer ser lembrado pelas pessoas e como a internet virou um amplificador muito do danado de uma coisa que a gente já sentia, sabe?

eu mesma já me peguei pensando que se não postar no blog, as pessoas vão esquecer de mim. se eu parar de colocar fotos no Instagram, ninguém vai lembrar que eu existo e as pessoas não vão ver o meu conteúdo. no Facebook, aliás, isso já aconteceu, porque eu entro tão pouco lá que, quando posto, ninguém vê.

e eu volto pro Gus. e como a gente quer encontrar um jeito de ser lembrado no mundo, como se essa fosse a única forma da gente provar que existe, de contar pras pessoas que a gente é alguém de carne e osso que importa de verdade e que merece ser lembrado.

às vezes, eu esbarro muito na minha vontade de ser lembrada, e fico buscando um jeito de fazer com as que as pessoas pensem em mim, sabe? fico triste quando elas saem pro rolê e não me chamam e tem horas que eu chamo uma amiga pra tomar um café só porque eu quero me manter presente na vida dela.

e não tem anda de errado em querer se manter presente na vida de alguém, viu, mas com que intenção a gente tá fazendo isso? é porque a gente gosta mesmo daquele alguém ou porque a gente tem medo de um dia acordar com 90 anos e não ter nenhuma pessoinha sequer lembrando que a gente existe e ligando pra saber se a gente tá bem?

eita que subiu um frio na espinha aqui.

e como é que a gente faz pra sair disso, né? porque parece um daqueles loopings que só são resolvidos quando a gente faz alguma coisa digna de entrar pros livros de história (se é que eles próprios têm alguma importância hoje em dia) ou que entre praquela Lista de Grandes Ideias da Humanidade™ e isso tenha algum valor pras pessoas e a gente viralize e fique conhecido como Alguém Importante™.

eu penso em Shakespeare. e no quanto as palavras que ele escreveu ainda são consideradas as mais bonitas de todas. em Einstein, e como as coisas que ele descobriu ainda ditam a forma como a gente compreende o mundo. até em Jesus, e como o parça foi tão doido que mudou a contagem do tempo (já pensou você MUDAR A CONTAGEM DO TEMPO?!?).

pensando bem, eu acho que nenhum deles tinha em mente que queria ser lembrado por toda eternidade, só que as pessoas precisavam entender umas coisas e eles sabiam o caminho pra levar todo mundo até o alto da montanha. talvez por isso eles ainda sejam tão vivos: a gente ainda não terminou essa caminhada e tem que ficar lembrando o tempo todo do que eles falaram pra ver se a gente se lembra das direções também.

a gente entras numas piras, né? e fica produzindo feito uma maquininha em busca de um reconhecimento que dificilmente vem. e, sem querer ser clichê, mas já sendo, todos os vídeos sobre as crises de burnout internet afora são prova que fazer um trabalho que alcance muitas pessoas não necessariamente faz com que a gente se sinta visto e lembrado e importante.

(esse é o momento em que Augustus Waters está se revirando no seu caixão fictício.)

daí, a gente muda a marcha, produz menos, se expõe menos, numa tentativa de tentar entender o que a gente tá fazendo aqui e como se sentir bem consigo mesmo ainda que longe de toda a internet e os monstros que ela alimenta na nossa cabeça. a gente tenta passar mais tempo offline do que online, mas a vontade de ficar na mente das pessoas é grande demais e o comichão parece que não vai embora nunca.

e por mais que diminuir o uso das redes sociais seja bom pro seu nível de estresse, não muda o fato de que a gente continua buscando isso, esse reconhecimento, essa lembrança, e esse medo de ser esquecido segue ali, porque você tem certeza que quando morrer ninguém vai nem lembrar que você existiu.

a palpitação tá forte por aqui.

mas… sabe, eu aprendi (e o mais importante: eu entendi) que essa coisa da gente achar que as pessoas tão pensando na gente, e da gente se importar com o que elas acham do que a gente faz, é a maior furada de todas porque tá todo mundo pensando em si mesmo 100% do tempo e com as mesmas neuras que você na mente. você não quer ser esquecido, a pessoa do seu lado também não, e ficam os dois num esforço hercúleo esperando que isso, de fato, aconteça.

e ninguém tá olhando pra ninguém.

mas eu sinto que entendi uma coisa, sabe? que o que Shakespeare e Einstein e Jesus falaram têm uma saída justamente pra isso. porque achar que ser feliz no mundo vai resolver o que a gente sente é uma dessas mentirinhas (que já virou mentirona) que a gente conta pra si mesma, e buscar esse reconhecimento que nunca vem é cansativo e dá mais rugas do que ficar muito tempo no sol.

então, a gente tem que ir atrás de outro lugar. do lugar que eles falaram, sabe?

e é mais fácil do que parece mesmo, porque o que essas pessoas falaram tantos anos atrás (no caso de um deles: milhares de anos – cruzes!) é que a gente tem só que se interessar um pouco mais uns pelos outros. é querer se relacionar de verdade. o medo de ser esquecido vem dessa falta de olho no olho, de entender, de ver mesmo quem tá na sua frente, sem querer nada, só buscando compreender.

e, pensando aqui nas experiências que eu já tive em treinar isso… eu posso dizer que esses foram os únicos momentos em que eu me senti vista de verdade. me senti lembrada, porque, ali, nessa conexão, eu percebi que na verdade eu nunca fui esquecida, e que essa ideia é só uma bobagem que passou pela minha cabeça, um canapé ruim que eu peguei meio desatenta na hora de comer e to lidando com a indigestão até agora.

é isso que faz a gente lembrar que já é aceito, e que já é importante. é esse o cantinho da nossa mente que não se vende pras nossas loucuras de feed do Instagram e que tá só esperando a gente acender a luz desse quartinho pra entender que lá tem tudo o que a gente precisa e que tá todo mundo buscando fora o que tá dentro.

é autoconhecimento? sim, mas do tipo que funciona. que gera um efeito real porque a gente começa a entender que as coisas que passam pela nossa cabeça não podem ser verdade porque elas não fazem bem pra gente. e, vamos combinar, não dá pra passar o resto da eternidade achando que a gente não presta.

então, pra parar de se sentir esquecido a gente tem aprender a se relacionar.

e isso exige um treino, viu? ô, se exige. é um olhar constante pro que eu tô buscando quando mando uma mensagem pra alguém. é porque eu quero genuinamente ver essa pessoa, conversar com ela, saber dela, ou é pra não me sentir sozinha e abandonada nesse mundo cruel? se for o segundo caso, entra aí o trampo que é mudar de ideia, buscar essa conexão, esse interesse pelo outro, e tentar de novo.

e, claro, pedir ajuda se eu esquecer o caminho entre os corredores que me levam até lá, e que, às vezes, parecem labirintos sem saída.

(mas só parecem, viu?)

a Aline terminou o texto dela assim:

e seguimos baseando nossos objetivos em numerozinhos numa tela (likes, views, acessos, seguidores, dinheiro). imagina que louco seria o mundo se não fossem eles que determinassem quem tem valor ou não.

eu sinto vontade de ir além, imagina que louco seria o mundo se não fosse o próprio mundo que determinasse quem tem valor ou não. porque se eu só puder ser importante segundo os padrões do mundo… vixi, que difícil.

prefiro não.

medo de ser esquecido desancorando
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Escrito pelaMaki
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6 Comentários
  1. Nina Elyard  em dezembro 21, 2018

    Que puta texto necessário! Eu queria escrever um comentário que pudesse expressar o quanto isso me tocou, mas não da. Só gratidão por ter compartilhado isso.
    Com carinho, Nina
    http://www.entremcc.blogspot.com

    • Maki  em janeiro 03, 2019

      ahahahah eu amei o seu comentário mesmo assim! (e senti que tocou mesmo 🖤)

  2. Maria Eduarda  em dezembro 20, 2018

    Que texto lindo e reflexivo, de fato um dos nossos maiores medos é de sermos esquecidos, afinal já nascemos com a missão de ser o próximo Steve Jobs nas costas, não é mesmo? Amei o texo e seu cantinho. Parabéns!

    • Maki  em janeiro 03, 2019

      pois é, menina, coisa mais doida… mas de onde vem essa pressão, se não da nossa própria cabeça, né? e nem precisa disso tudo! mais importante é a gente lembrar da gente mesma e ajudar as pessoas a lembrarem de si também 🖤

  3. Carina  em dezembro 18, 2018

    Meu Deus, Maki, que texto MARAVILHOSO. Meio-dia e eu estou aqui refletindo DEMAIS agora! hsaushaushuash

    A gente se preocupa tanto, todos os dias, com questões sempre tão externas que esquecemos mesmo de olhar para o que é interno. E pior do que ser ou não esquecido pelos demais, é esquecer de si mesmo, né?

    Amei demais tua reflexão. Um beijo. ♥

    • Maki  em janeiro 03, 2019

      EXATO! e a gente esquece tanto de si mesmo… por isso a lembrança é sempre necessária!