inspiração

como escrever um livro

confesso que me peguei fazendo essa pergunta várias vezes no último mês. a ideia de escrever um livro, pra mim, não é nova – na verdade, devo pensar nisso desde que eu era adolescente e passava boa parte do meu dia lendo fanfics na internet e devorando um livro atrás do outro -, mas é diferente você ler a história que outras pessoas escreveram e começar a sua própria. de verdade. tipo, que você escreveu, sabe?

dá meio medinho, né? porque além de você precisar saber sobre o que escrever, tem que ter conteúdo o suficiente pra passar de cinco páginas, porque afinal é um livro e não um trabalho da faculdade ou um treino de redação de vestibular.

e são muitas perguntas, sabe? eu vou escrever sobre o quê? alguém vai querer ler o que eu escrevi? será que eu consigo terminar uma história sem me perder nos detalhes e ter que montar uma parede cheia de post its pra ligar um ponto da trama no outro? SERÁ QUE VAI SER BOM O SUFICIENTE? mas pra quê diabos eu escreveria um livro? por quê? AI MEU DEUS SERÁ MESMO QUE ALGUÉM QUER LER O QUE EU ESCREVO?

e por onde eu começo essa brincadeira toda?

pois é. essa tem sido a minha maior dúvida, porque a ideia de escrever algo mais extenso tá na minha mente tem um tempo – e não que eu vá escrever e publicar um livro, ok? estamos apenas divagando aqui -, mas eu percebi uma dificuldade real de saber por onde começar. porque na minha cabeça tinha assim: você começa pelo começo, ué!

daí, eu começava a escrever uma coisa e parava no meio do caminho porque não tinha ideia de onde aquilo ia parar. e, na minha mente, não tinha outro jeito de escrever uma história sem saber como ela começa. afinal, é o começo. dur.

daí, eu vi esse vídeo da Gaby Brandalise que me deixou bem da encucada: então, quer dizer que eu posso começar da parte que eu mais gosto, ou que me vem com facilidade, e depois pensar em como a história vai chegar nisso? minha nossa, parece que a minha cabeça explodiu e eu fiquei ainda mais confusa porque eu não tenho ideia do que eu mais gostaria de escrever sobre a história que tem na minha cabeça.

já começamos bem (ou não).

daí, lendo o (maravilhoso) livro do Stephen King, Sobre a Escrita, eu fiquei chocada em perceber que o ato de escrever um livro, na verdade, tem muito mais a ver com a prática do que com a inspiração, e tem toda aquela coisa de você se trancar no seu quartinho, com a sua mesinha rústica de madeira, o seu computador (ou a sua máquina de escrever, no caso do Stephen), uma xícara de chá e só fazer isso mesmo, escrever e escrever até sair alguma coisa dali que preste.

mas, ué, quer dizer então que escrever um livro não é o tipo de coisa que acontece numa tacada só, quando a bate a inspiração, tal qual Chico Xavier, e você coloca tudo no papel de uma vez e é o texto mais lindo que o mundo já viu e um best-seller automático?

tem certo nível de comprometimento envolvido. tem esforço, também. como diz a Liz Gilbert em A Grande Magia, tem um contrato que você precisa assinar com você mesma que diz que você não vai desistir disso mesmo que o mundo e a sua própria cabeça digam que não faz muito sentido. e tem um tal de fazer o trabalho até você achar que acabou que não parecia muito concreto na minha mente.

é um tipo de pensamento bem típico de quem começa e larga projetos pelo menos uma vez por mês, e tinha o costume irritante de dizer que “nunca faz nada até o fim porque não vale a pena, ó vida, ó céus“.

mas eu andei tendo a minha dose de tapas da cara vindas do universo, ultimamente (a começar pelo episódio mais recente do Imagina Juntas, um dos podcasts mais incríveis dessa internet), que me lembrou do quanto a gente tem que se abrir pra uma coisa pra possibilidade de ela acontecer se fazer presente na nossa mente, e que, sim, tem bastante trabalho envolvido, mas não necessariamente isso é algo ruim.

e – não preciso lembrar você disso, mas vou fazê-lo porque é um lembrete pra mim também – não necessariamente isso precisa, sabe, ir pro mundo e ser lido por outras pessoas. a gente pode fazer só pra gente e só porque a gente tem uma ideia na cachola que não para de azucrinar pedindo licença pra ser colocada em prática (e, aqui, Liz Gilbert dá uma risadinha de canto de boca como quem diz “eu avisei“) e você começa a perceber como não tem prática alguma porque nunca se permitiu experimentar escrever nada diferente do que já escreve e por isso parece tão mais difícil do que é na verdade.

isso e o monstro do “meu Deus, as pessoas vão odiar isso“.

quem disse que escrever é fácil obviamente nunca passou uma tarde comigo quando o cursor do Docs fica piscando e piscando e piscando e você só quer que ele PARE DE JOGAR NA SUA CARA QUE VOCÊ NÃO SABE POR ONDE COMEÇAR A ESCREVER UM LIVRO.

ou qualquer outra coisa.

calma, gente. vamos lá. a gente consegue.

acho que decidi escrever tudo isso porque existe um jeito de você começar, que é muito mais óbvio e simples do que a gente imagina, do tipo que a gente solta um ‘AH, VÁ?!‘ toda vez que falam isso pra gente, mas a gente nunca leva a sério de verdade a ponto de fazer o que está sendo dito.

que é: apenas comece.

como escrever um livro 2

no livro do Stephen, tem uma coisa muito legal que ele fala que é a noção de escrever com a porta fechada: primeiro você coloca tudo no papel. você só joga as ideias ali, pesquisa, pensa nos personagens, escreve a história do melhor jeito que você consegue, sem voltar atrás ou fazer releituras. depois que terminou, você para, pega tudo, começar a reler do começo e vai mudando o que acha que precisa. vai refinando, vai ajustando. ligando os pontos mesmo. e isso leva tempo, viu? não é coisa de uma semana ou duas. podem ser meses. PODEM SER ANOS! vai saber.

e, depois disso, você começa a escrever de portas abertas: que é você emprestar esse pedaço de você que você colocou no papel pra alguém que você confia e ver se a pessoa não acha que aquilo é a pior coisa que ela já leu em toda a existência. é aceitar críticas e ajustar o que acha que é necessário. é pedir ajuda pra pegar os buracos na história e os erros de digitação que você deixou passar. gosto disso, é o momento que você esperneia e meio que chora e se joga no chão e fala NEM POR UM MILHÃO DE REAIS EU VOU MOSTRAR PRA ALGUÉM, mas aí você manda aquela mensagem bem da safada dizendo “ei, eu escrevi um negócio aqui, será que você topa dar uma lida” e logo em seguida você coloca o seu celular numa caixa de Correio e manda pra Tanzânia pra nunca mais ver a resposta.

mas é claro que você atualiza o WhatsApp e checa se o wifi tá funcionando a cada cinco segundos pra ver se a pessoa respondeu.

mas é isso, sabe? como a gente começa a escrever um livro? começando, oras. pode ser pela parte que você acha mais fácil. pelo o que tá mais vívido na sua mente. pode ser pelo começo. pode ser pelo final e aí você vai ter que dar um jeito de escrever toda a outra parte e chegar até esse ponto. pode ser, sei lá, pelos agradecimentos. pelo epílogo. pelo prólogo. pode começar até sem intenção alguma de ser um livro. mas tem que começar de algum lugar.

e tem vezes que você vai se contorcer diante do computador. que você vai fugir e vai achar um milhão de coisas mais interessantes pra fazer do que escrever (“acho que esse é o momento perfeito pra colocar todos os alimentos da despensa em ordem alfabética“), mas você tem que começar.

não é diferente de começar um post de blog (e, confesso, ando me debatendo bastante na frente do computador pra começar a escrever posts do blog). mas a gente tem que começar. onde vai dar? acho que nem Deus sabe. mas, com certeza, o processo vai trazer um monte de aprendizado pra gente analisar depois.

dito isso, vão aí algumas sugestões pra gente dar aquele start e meio que se colocar junta nessa meta de destravamento das coisas que a gente quer escrever, mas acha que não consegue:

  • feche a sua porta (pode ser metaforicamente, pode ser fisicamente) e se coloque num ambiente confortável pra isso;
  • faz um cházinho pra acompanhar, não faz mal a ninguém;
  • estabelece uma meta realista, tipo escrever mil palavras, ou colocar 15 minutos no timer e parar no segundo que o alarme apitar;
  • leia muito. mesmo. vai ajudar (mas não vale ficar obcecado pela leitura e esquecer de escrever, né?);
  • evita ler o que você escreveu até terminar;
  • treine a paciência e a gentileza com você mesmo.

esse último item, acho eu, é o mais difícil – e é aí que tá o pulo do gato, como diria minha avó. porque a gente é tão autocrítica, tão cheia de ideias mentirosas e horríveis sobre a gente mesma que é capaz de falar as maiores obscenidades sobre si pra cortar essa ideia pela raiz. então, se deixe escrever. com o tempo, fica mais fácil. e na hora de reler, cuida com carinho do que você tá fazendo. foi uma primeira tentativa e a boa notícia é que nada disso foi escrito em pedra, do tipo que você nunca mais pode apagar pra começar de novo.

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. Elaine Nunes Wzorek  em fevereiro 16, 2021

    Caí aqui no seu site buscando mais sobre as morning pages e vim parar nesse post que, mana, eu precisava muito ler!! Obrigada!!

    • Maki  em fevereiro 21, 2021

      aaaaa Elaineeee!
      bem-vinda ❤️ fico feliz que tenha curtido! espero ver você aqui mais vezes!

  2. Ísis Lorrayne  em dezembro 05, 2018

    Esse post foi exatamente o que eu estava precisando ler, não saber por onde começar e onde vai dar é algo complicado. Nossa mente costurando ideias absurdas para nos deixar paralisados diante do começo, ao passo que ela também nos da impulsos para começarmos de uma vez. Tenho divagado sobre criar um blog, parece estranho, visto que, nos dias atuais, seria mais fácil criar um canal, quase ninguém se da ao trabalho de ler, entender, comentar o que a autora quer passar com aquilo, são tempos dificeis. Mas, como você disse, pra que começar com a intenção de que alguém leia? começa por você, pra satisfazer aquela lâmpada de ideia que fica acendendo em sua mente, e é exatamente isso que farei. Obrigada por palavras tão inspiradoras e realistas.

    • Maki  em dezembro 10, 2018

      Ísis, fico muito feliz (mesmo) que o post te ajudou <3
      e vamos juntas, a gente escreve pra compartilhar o que tem na cabeça e encontra um monte de gente que pensa como a gente por aí <3