eu tive a ideia pra esse post achando que ele falaria sobre como a gente pode viver de escrever. mas enquanto eu pensava nele, e deletava e começava o texto de novo e de novo, eu percebi que ele tem tudo pra ser um texto sobre importância.
eu não sei quando foi que eu comecei a desenvolver esse amor tão grande pela escrita. tipo, eu consigo me lembrar de escrever em diários e descobrir o que eram fanfics muito cedo na vida (lá do alto dos meus 11 aninhos), e lembro de pensar que eu só conseguia me comunicar bem com as pessoas, falar o que eu sinto de verdade, através da escrita. eu me apaguei muito nisso, sabe?
e boa parte dessa minha vidinha, eu acreditei que a única coisa que eu sabia fazer era escrever. toda a minha importância tava nisso, toda a minha segurança tava nisso. em conseguir colocar no papel o máximo de palavras possível, no mínimo de tempo, escrever muito, escrever o tempo inteiro, escrever que nem o Hamilton, que sabia que ia morrer logo e precisava deixar um legado no mundo.
mas… o que acontece quando você sai tanto da sua zona de conforto que você não sabe mais se tá pisando em terra firme? acho que isso explica bem o que eu tô passando nas últimas semanas. não me entendam mal, isso não é nem de longe uma coisa ruim, pelo contrário, é uma das maiores dádivas que eu já tive diante de mim e eu não sei nem por onde começar a agradecer por tudo o que tem acontecido.
mas, por outro lado, eu ando percebendo o quanto eu coloco a minha segurança e a minha importância nas coisas que eu escrevo e no quanto eu escrevo, todos os dias. parece complicado, sabe? (mas na verdade não é) você coloca todo o seu valor numa coisa só. e se isso é questionado, parece que você não tem valor nenhum.
num é louco isso? a gente se apega tanto a coisas que acabam que acha que a gente vai acabar também se elas próprias acabarem. e aí fica tudo nesse esquema meio esquisito. você coloca todas as suas energias numa coisa que pode mudar do dia pra noite e você fica sem chão, se achando não-importante.
fiquei pensando sobre tudo o que eu falo sobre escrever com carinho, sobre colocar amor nas coisas que você faz e isso é tão verdade, sabe… mas mais do que isso, é perceber que eu não sou importante porque eu escrevo, eu sou importante e ponto. daí, eu escrevo e isso é uma ferramenta que eu uso pra lembrar as outras pessoas que elas também são importantes, independentemente do que elas fazem. é uma mudança de propósito muito profunda, percebe?
é uma coisa sem sentido e muito sem nexo e maluca a gente achar que é importante por causa das coisas que faz. atrelar a nossa utilidade ao mundo e às suas atividades mundanas de todo dia. porque parece que se essas atividades são tiradas da gente, a gente perde o valor. e aí? como que fica se tirarem a escrita de mim?
a gente é importante porque a gente é importante e ponto final. não tem vírgula, não tem reticências. não tem dúvida, sabe? e as coisas que a gente faz são só uma forma da gente mostrar pro mundo que todo mundo tem esse mesmo grau de importância, mas tá todo mundo tão colado na própria vaquinha que esqueceu que já é importante só por ser quem é.
falando em vaquinha… teve uma vez que me contaram a história de um fazendeiro que tinha só uma vaquinha. e tudo que ele fazia tinha a ver com essa vaquinha. ele vendia o leite, ele cuidava do pasto por causa dela, ele comprava só as melhores rações. ele era tão apegado à vaquinha que todo mundo sabia que ela era importante pra ele. daí, um dia, teve um furação (ou seria um terremoto? eu nunca lembro o que aconteceu de verdade) e a vaquinha foi levada. pronto. de um dia pro outro o vento levou (literalmente) o motivo pelo qual o fazendeiro levantava da cama todos os dias.
teve quem achou que o fazendeiro ia ficar ruim das pernas, mas na verdade ele tava feliz da vida. porque agora, sem vaquinha, ele conseguiu descobrir um monte de coisas que gostaria de fazer e que fazia bem, mas ele ficava tão preso na vaquinha que não se dava a chance de arriscar uma vida sem ela.
acho que a escrita é a minha vaquinha. e eu tô começando a entender que tudo bem eu viver sem ela, porque ela não é a razão da minha importância, é a minha ferramenta. ela não é a minha razão de existir sabe?
sigo amando escrever um tanto e duvido que pare de fazer isso num futuro próximo (ou distante). mas fiquei me questionando esses dias o quanto a gente dá de importância pra coisas que não são o motivo pelo qual a gente é importante de verdade. sabe? a gente é tão, tão importante. só por ser quem é. só por estar dando o melhor de si a cada momento. só por ser. não precisa de profissão, de carreira, de dinheiro na conta, de nada disso. você é importante porque você é importante e ponto.
continuo me comunicando melhor pela palavra escrita? sem dúvida. mas andei percebendo também que vou precisar começar a falar quando alguma coisa me incomoda, porque não adianta eu guardar pra mim e só jogar numa folha de papel, sem ter a resolução. de certa maneira, eu já comecei a fazer isso aos pouquinhos.
e tudo o que eu coloco aqui, apesar de ser escrito, é sempre pensado com muito carinho, pra que você entenda que é tão importante quanto eu. acontece que as palavras são a minha ferramenta e a sua é outra, diferente dessa. e não adianta eu ficar me comparando com você ou competindo com o que você faz pra tentar mostrar que eu sou importante também. isso não resolve.
o que resolve é lembrar todo mundo (todo mundo mesmo) que a nossa segurança tá num lugar que não acaba nunca. que não tem começo nem fim e que, eu tenho certeza, não precisa de um teclado e conexão wi-fi pra que as pessoas consigam se comunicar. e esse lugar é o amor.
se eu quero mudar a forma que eu penso e escrever com carinho, eu preciso parar de acreditar que os meus textos são a minha salvação e pra isso eu preciso questionar as coisas que eu faço e onde tá essa minha cabeça quando eu escrevo, quando leio, quando faço qualquer coisa que não me deixa com o coração tão em paz assim.
a gente é importante, sabe? e tá tudo bem tirar alguns momentos pra se questionar e tentar entender de verdade como faz pra você desapegar do que não é pra voltar a ficar sempre ligadinho no amor que é a nossa verdadeira salvação.
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[…] – Será que eu só sou importante porque escrevo? […]