ah, não, você não tá falando sério. eu só escrevo. não é nada demais, não é extraordinário. (quase) todo mundo sabe escrever. eu só tenho mais facilidade de colocar as palavras no papel por causa das 12 horas de treino diárias que tenho desde os 15 anos. e nem é brincadeira, mas o mundo das fanfictions me ensinou desde cedo o poder que as palavras têm e como eu amo contar histórias.
histórias escritas, claro, porque faladas… não, isso eu deixo para os extrovertidos, para os que cantam e dançam, para os que não têm medo de serem rejeitados em um palco lotado. para os corajosos. eu me escondo atrás de meia dúzia de parágrafos e sigo acreditando que escrever ‘não é nada demais‘.
não adianta, você pode argumentar o quanto quiser. eu ainda tenho certeza que uma hora ou outra um homem de prancheta vai bater à minha porta e provar que eu estive enganando o mundo todo esse tempo e escrever não é profissão (como diria Neil Gaiman). todo mundo sabe escrever afinal, eu só tenho um pouco mais de treino do que a maioria.
eu já escrevi com raiva. já escrevi sorrindo, feliz, já escrevi a contra gosto e quando meus olhos não aguentavam mais ficar focados numa tela por um segundo que fosse. na maioria das vezes, eu escrevo chorando. de emoção, de alegria, porque consigo finalmente colocar no papel a música do meu coração. não é mais um choro de dor, nem de sofrimento. não. transferir para o papel o que eu sinto, agora, é motivo de comemoração – é conseguir compartilhar cada átomo de amor que existe em mim. quem quiser, leva um pouco pra casa. quem não quiser, pode voltar depois pra buscar a sua parte. as palavras não vão a lugar algum.
escrever, pra mim, era o mínimo, sabe? ‘pelo menos eu sei escrever‘. ‘na verdade, eu só sei escrever‘. e mais nada. eu não sei fazer mais nada. mas sei colocar no papel uma emoção como ninguém – desde que eu já a tenha sentido antes, é claro. é difícil falar daquilo que a gente não conhece.
eu achava que artistas eram aqueles que tinham a voz de Céline Dion ou o talento do Slash pra a guitarra. que tinham multidões de fãs. que subiam em palcos e interpretavam os personagens de Shakespeare. eu? ah, não, eu só escrevo. me deixa quieta aqui, nesse canto, acreditando que as minhas palavras não têm efeito algum no universo. me deixa continuar pensando pouco de mim mesma e dos meus dedos que trabalham todos os dias freneticamente. é um milagre eu nunca ter desenvolvido uma síndrome de túnel do carpo. isso ou amor. é, talvez só o amor pela escrita consiga explicar porque eu nunca me machuquei fazendo o que faço.
eu amo escrever. já odiei também, lembra? era um conflito no meu coração. eu queria escrever sobre coisas que eu achava que as pessoas não leriam, mas, veja só, tenho aqui um belo blog que algumas (muitas) pessoas entram diariamente para ler os meus textos e observar mais de perto as minhas fotos feitas às pressas na hora do almoço.
e quando isso não acontece, elas leem um texto meu num site. ou numa revista. ou trombam com um pouquinho de mim num lugar que elas nem esperavam. ‘caramba, tava lendo um texto hoje e vi que era seu‘. e aí elas conversam comigo sobre e a gente passa horas e horas de pé no corredor de casa discutindo sobre relacionamentos e o quanto elas querem entender a forma como eu penso.
escrever machuca. quando não vem do coração. quando não é sobre alguma coisa que você acredita. ou sobre coisas que você não acredita. é que nem interpretar um personagem raivoso quando tudo o que você mais sente é carinho pelas pessoas. parece estranho e deixa um gosto amargo no fundo da garganta.
tem horas que flui. que vai rápido e um texto de mil palavras sai em 15 minutos. tem horas que dói, e eu passo três horas olhando a tela do computador esperando que saia um parágrafo sequer sobre o assunto. tem dias que eu começo a escrever coisas aleatórias no word até entrar no fluxo. outros eu passo uma hora inteira vendo aleatoriedades no Youtube ou no Twitter até não sentir raiva do cursor que pisca.
não, não. eu só escrevo. é fácil, sabe? pra quem conhece as palavras. pra quem lê muito. eu li demais, sabia? era do tipo que devorava um livro por semana durante a adolescência. aí fica fácil. você consegue também, se tentar. é prática, sabe? mas é só escrever.
arte? não… arte é tentar decifrar porque a Monalisa tem aquele meio sorriso. arte é ficar arrepiada ao ouvir os primeiros acordes de It’s Time do Imagine Dragons no show do Anhembi. é ser levada às lagrimas pelo monólogo de Julieta e pelo amor de duas pessoas que todo mundo jura de pé junto que é uma tragédia. escrever é só colocar um bocado de sílabas juntas e esperar de alguém tenha paciência de ler os seus 800 toques num mundo de ‘li o título e já sei do que se trata‘.
escrever… as pessoas me pedem para escrever sem receber nada em troca, como se esse as palavras não fossem a matéria-prima do meu trabalho. do que eu faço. de como eu me expresso. ‘é pela visibilidade’, dizem. até onde eu sei, visibilidade não paga as contas e escrever demanda tempo, unhas quebradas no teclado num dia difícil e um nervoso no estômago que não passa nem com reza braba. exige paciência, feeling, e até a trilha sonora certa. tem dias só que uma playlist inteira com todos os principais singles do One Direction me salva de um dia zero produtivo. na maioria das vezes, tudo o que a escrita me pede é que eu me entregue por inteiro, porque ela vai me dar de volta o que eu preciso – o resto é resto e ela me conforta.
eu escrevo sem pensar duas vezes. escrevo repensando cada advérbio, adjetivo, pronome e sujeito. escrevo e apago. começo do zero. escrevo de novo. edito. reedito. penso em um, dois, três, cinco títulos diferentes pra ver qual é melhor. coloco tudo de mim e vejo editores me cortarem aos poucos. tenho sonhos de escrever histórias incríveis que nunca saem da minha cabeça porque eu julgo que as minhas palavras não são boas o suficiente. eu duvido. minimizo. falo mal. eu acho errado e ao mesmo tempo não me imagino fazendo outra coisa. no fim das contas, eu conto histórias: as minhas, em cada texto que escrevo. eu digo que não sei como, mas escrevo até sem olhar pro teclado. eu fico inquieta, eu canso, eu desisto. mas eu lembro que escrever é a minha maneira de me comunicar com você. e aí o mundo fica colorido de novo.
aí, eu pego a minha caneta tinteiro imaginária e recomeço o ciclo de achar que o que eu faço não é arte. daí passa a ser. e deixa de ser novo. e, em resumo, é o que eu quiser naquele dia e o que o seu coração pede, cada vez que você volta pra me ler um pouquinho mais.
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10 Comentários
Amiga, e com esse texto você mostra como escrever é, de fato, uma arte. As palavras que saem dos seus dedos ganham um poder e uma sensibilidade inimagináveis!
afe ♥ ♥
[…] – Sobre achar que escrever não é arte […]
Me identifiquei quando você falou: “apenas sei escrever”.
Durante a época de colégio, minha matéria preferida era redação. E, não por menos, ingressei na faculdade de jornalismo.
Hoje escrevo todos os dias, literalmente. Ganho a vida escrevendo coisas de todos os tipos. Relato o que acontece ao meu redor. Gosto de pensar que estou registrando a história, o que é bem verdade. Um dia, lá no futuro, alguém vai pesquisar sobre um fato e vai encontrar meu nome, o texto que escrevi.
Mas, meus momentos preferidos mesmo são aqueles que me deparo com alguém lendo o que escrevi. Às vezes acho que não tenho leitores, mas assim como você, tem gente (e muita gente) que espera para ver meu texto no dia seguinte.
Beijoos!
Estou amando seu blog <3
num é, Angelica? a gente se desvaloriza muito, mas com certeza tem alguém esperando pra ler as nossas palavras em algum momento!
‘na verdade, eu só sei escrever‘. e mais nada. eu não sei fazer mais nada.
O momento em que eu senti que você é como um reflexo de mim. Me identifiquei em cada palavrinha. Em CADA UMA. Que vontade de atravessar essa tela, te abraçar e dizer: “Você me entende” ou “eu te entendo!” porque as duas podem expressar muito bem o que eu senti ao terminar esse post.
Um caminhão de corações para você, Maki ♥
ahhhh, Emy, que amor! toma aqui um abraço: *abraça bem forte*
um caminhão de corações de volta pra você ♥
Que sensação boa lendo sua escrita. Me faz sentir a Vida. Me faz sentir vivo!!!
Tem horas que escrever também dói porque a gente relembra coisas que já tínhamos guardado lá no fundo do baú e colocar tudo em palavras dói, nossa como dói. Mas acho que é assim que textos bonitos saem. rs
mas sabe o que é mais legal? depois para de doer. porque a gente vê não era tão dolorido assim, pra começo de conversa, sabe? comigo sempre foi assim. eu achava que ia doer um monte,mas aí percebia que não era tão assim ♥