o meu cabelo… ah, você já sabe que o meu cabelo é uma ~questão~. acho que é impossível encontrar um ser humano que seja que não tenha um problema com alguma parte do corpo que ache errada, inadequada, estranha, feia. pra mim, sempre foi o cabelo.
já comentei um pouco sobre a minha relação com ele por aqui. lembro claramente, quando era mais nova, de ser chamada de ‘carequinha‘ por uma amiga e como isso me marcou. como eu penso nisso todos os dias, nesse barulho mental que me deixa maluca dia sim, dia também. como é sempre a primeira coisa que eu olho quando me vejo no espelho. a primeira coisa que eu reparo nas outras pessoas. como sempre sonhei que eu tinha um cabelão maravilhoso a lá Ariana Grande que eu bateria ~na cara das inimigas~ e que seria a coisa mais incrível do mundo porque teria cinco cores, como na música do McFly. blá blá blá, essa história já tá velha e cansativa.
corta a cena pra 2017 e me vi fazendo uma escolha. eu nunca mais, n u n c a m a i s, me permitiria ficar mal por causa do meu cabelo. é démodé. é coisa antiga. essa reclamação já não faz parte de mim . é só uma forma de eu me distrair das coisas que importam de verdade, uma forma de eu ficar comprovando pra mim mesma e pros outros que eu sou diferente e que, olha só, que coisa, a gente nunca vai ser igual porque o meu cabelo, ahhhh, o meu cabelo… não. para. corta. rebobina. começa de novo.
entre quedas, mais quedas (não de cabelo, que fique claro) e alguns tabefes na minha própria cara muito bem dados com discursos de ‘ISSO NÃO VALE A PENA‘ e ‘O SEU CABELO NÃO TE DEFINE‘ gritados na frente do espelho, eu tomei uma segunda decisão. talvez seja a hora de olhar pro meu cabelo com tanto carinho quanto pra minha alimentação. talvez. só talvez. ainda não. calma. agora acho que vai. tá. vamos lá.
cuidar de uma coisa dessas era muito mais do que apenas falar: ‘miga, vai num médico, toma o remédio X, passa o produto Y, vai funcionar‘. não. isso era muito pouco. era subestimar o tamanho do meu apego com me sentir mal com o meu cabelo.
sim, é isso mesmo. é um apego. pior que carrapato.
parece insano (e é mesmo) falar que eu tinha um apego em me sentir mal, mas eu tinha. eu passei tanto tempo (vai saber quantas vidas, né?) aprendendo a falar mal de mim, a me colocar pra baixo, a comprovar por a+b que eu não presto mesmo e olha como eu sou horrível e rejeitável, nem cabelo eu tenho.
a gente acostuma com essas coisas. a encontrar motivos pra se sentir mal pra confirmar que não é legal ou bonita ou qualquer outra coisa que seja. o meu maior apego sempre foi o meu cabelo. chegava num ponto que só falar sobre o assunto me dava vontade de vomitar. mas, ainda assim, eu achava um jeito de comentar. de puxar o assunto. de fazer as pessoas comentarem sobre como o meu cabelo tava crescendo. eu olhava e tinha certeza absoluta que eles tavam me encarando por causa disso.
no fim das contas, o crush não me notava por causa do meu cabelo. AH, ENTÃO É ISSO? pronto, achei o motivo. maldito cabelo! e o loop seguia. tudo era sempre sobre mim e o meu cabelo.
me dá um nó no estômago só de escrever essas frases todas.
se eu disser que superei completamente isso, é mentira. mas a promessa foi feita e tem sido cumprida. eu me recuso a ficar mal pelo meu cabelo. me recuso porque isso muda o meu foco. me tira do lugar de cuidado pra me colocar numa posição de mendiga, que fica pedindo a cada três segundos que as pessoas me aceitem apesar desse pequeno defeito. eu esqueço de você, quando fico olhando tanto pra mim.
depois de tantos anos grudada nessa nhaca (por falta de uma palavra melhor), eu decidi que era hora de começar a me desprender. fui no médico. comecei um tratamento. fui num segundo médico, pedi uma segunda opinião. vou começar um novo tratamento na semana que vem. e vou prestar atenção pra que, nesse processo todo, eu lembre de cuidar das pessoas que encontrar no caminho, ao invés de ficar tão preocupada com o meu cabelo.
porque a verdade, minha gente, é que o meu cabelo não é nada comparado a sensação de cuidar de alguém, e de distribuir esse carinho por aí. quem lembra de cabelo, de pele, de pernas e pés quando abraça alguém querido, quando reencontra uma amiga de anos ou quando escreve um post de coração num blog? quem tem tempo pra ficar pensando nisso, quando tem tanta gente precisando que eu me olhe com carinho pra aprender a se olhar também?
a alimentação parece fácil de cuidar, comparado com algo que eu sempre usei tanto pra me sentir mal e no qual me agarrei como se fosse o motivo da minha existência. não é. nunca foi. nunca vai ser. distribuir carinho é a minha função no mundo, lembrar as pessoas da vida que elas já têm é o que eu preciso fazer. é pequeno demais reduzir a minha passagem por aqui ao número de fios que eu tenho na cabeça. é desmerecer a minha importância, é me deixar com 10 centímetros de altura quando a altura é algo que não consegue medir a minha essência.
então, a gente cuida. e se não sabe cuidar, aprende. penteia com carinho. vai onde a resposta tá pra cuidar do que precisa ser cuidado. segue o tratamento à risca (e não tenta inventar moda ou fazer o que você ‘acha melhor‘). treina olhar pro que é e não pras mentiras que você conta sobre você. e cuida. cuida, cuida, cuida, cuida. uma hora você nem vai perceber mais que agora mexe no cabelo com uma delicadeza que nem os melhores ilustradores conseguiriam captar em imagem. e cada fiozinho que você tem na cabeça te ajudam a contar uma história, uma verdade sobre quem você é e sobre quem as pessoas são. no fim, a sua beleza se torna compartilhável.
eu prefiro uma beleza compartilhável a ficar me admirando no espelho, achando que tô bonita com o meu cabelo de Ariana, mas certa de que tá todo mundo encarando a minha barriguinha flácida.
em tempo: eu consigo prever algumas questões a respeito desse assunto (sempre acontece, afinal). então, deixa nos comentários o que você gostaria de saber sobre isso que eu vou juntar tudo num post, tá bom? ♥
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7 Comentários
Oi Maki, tudo bem? Nunca comentei aqui, mas te acompanho faz um tempinho. Esse seu post mexeu muito comigo porque eu tenho um problema sério com minha auto estima (e principalmente com achar motivos pelos quais eu não sou boa o suficiente – tanto pra mim quanto para os outros) e minha luta mais recente é com minha pele.
Tenho 22 anos, e até ano passado eu nunca tinha tido problemas com isso (pelo contrário, tinha uma pele linda, tão linda que nem maquiagem eu usava) e por conta de um remédio pra tratar de ansiedade eu comecei a ter espinhas no final do ano passado. Mas não eram poucas, surgiram muitas. Minha testa principalmente ficou coberta de espinhas e onde não tinha espinha, tinha manchas ou a pele ficava avermelhada demais. E eu sofri com isso, continuo sofrendo. Busco mil tratamentos pra pele, faço terapia, ironicamente meu emocional abalado faz a pele piorar mais ainda, enfim. Tenho vários dias ruins que a minha dificuldade de me amar é aumentada por conta disso, e tô tentando também me desprender disso. Lembrar que tem muito mais em mim do que minha pele, mas sem me largar também no processo. Tentar achar um equilíbrio mais saudável entre me cuidar com isso sem deixar isso levar tudo de melhor de mim, sabe? E seu post me ajudou muito, me impulsionou a continuar tentando, mesmo nos dias que são mais difíceis e que isso prejudica a minha visão de mim mesma. Obrigada. <3
E te desejo toda a sorte do mundo, tanto no seu tratamento como na sua jornada em se lembrar que tem muito mais em você que o seu cabelo, porque mesmo eu que só te conheço pelos seus posts sei disso.
Um beijo.
Tati, você é tão fofa, sabia? mesmo!
e eu só posso imaginar como uma questão como essa te afetou. mas acho que, no seu caso, a gente consegue ver com clareza que o seu problema de pele é resultado de algo muito maior (a sua ansiedade). você tá cuidado de você e isso tem alguns efeitos no caminho. acho que o mais importante é você lembrar do que está sendo cuidado. você pode ter a pele mais bonita do planeta, mas será que isso importa se você não consegue nem sair de casa de tanta ansiedade? eu sempre penso nisso quando percebo que tô me sentindo mal pelo meu cabelo. você é muito forte, e sei que vai encontrar em você aquele lugar que não se abala por isso. porque o que você é de verdade, nem pele tem, sabe? ♥
Que linda você <3 Obrigada, de novo. Palavras assim realmente dão força e me inspiram a continuar lutando contra minha insegurança, mesmo nos dias difíceis.
E sim, a pele é só um reflexo de toda a agitação e ansiedade que mal consigo conter dentro de mim. Acho que tá sendo um processo – um tanto longo, porém necessário – que mesmo lutando tanto contra tudo o que me afeta, acabo refletindo muito e descobrindo coisas em mim mesma que talvez em outra situação eu não conseguiria, sabe? Não tanto quanto consigo agora. Tudo passa, né? Tanto os momentos e situações ruins que a gente tem que deixar ir ao invés de se apegar, como os momentos bons que a gente cogita perder as vezes por conta da insegurança e que não voltam depois. Tô tentando manter isso em mente e ir levando dia após dia, pra não enlouquecer pensando em um "e se?" lá na frente que talvez nem vá acontecer e só vai me machucar agora sem motivos.
Espero que, não importa o resultado de qualquer tratamento que nós façamos, nós duas possamos olhar no espelho dia após dia e conseguir enxergar tudo de bom que temos além das nossas inseguranças e nos amar muito sem sofrermos tanto. <3
Oi Maki, tudo bem?
Lindo post. Me identifiquei com algumas coisas, mas pelo motivo contrário: eu tenho bastante cabelo, tipo Ariana, e acredite, tem suas dificuldades. Dá trabalho para cuidar e secar, para ir na academia, arma… Tanto é que vive preso 90% do tempo. Já me queixei bastante por isso, mas também decidi recentemente que não sofreria mais por causa de cabelo, tenho até tentado usar mais ele solto ultimamente e cuidar com paciência e zelo.
Tudo tem suas dificuldades, mas no fim o que pesa é o modo com lidamos com as coisas.
Seu post só reforçou minha decisão pelo cuidado também!
O que nos dignifica é o modo como tratamos ao outro e a nós mesmas.
Boa sorte com o tratamento, e um abraço 🙂
nossa, sim! exatamente. pra mim a questão é cabelo de menos. pra você é cabelo demais. é tudo significado mesmo, e a maneira como a gente lida com eles. eu só decidi por acabar com esse significado todo, mesmo que aos pouquinhos. é assim que a coisa vai aliviando ♥
que intenso seu texto. eu sinto muito essa questão de ajudar as pessoas a se sentirem bem com a vida que elas têm, porque acredito que passei por coisas que me trouxeram aqui com uma bagagem de autoestima e autoconhecimento que vale a pena ser compartilhado. não é um caminho fácil a gente conseguir se admirar, mas é necessário e faz bem, cura muita coisa. boa sorte no seu percurso! <3
não é mesmo! mas é necessário, sabe? porque a gente não se gosta, demonstra isso de vários jeitos diferentes, não é só no ataque a si mesma. eu tenho percebido isso com cada vez mais clareza. mas tudo bem também, é um treino sair desse lugar para lembrar de que eu não dependo disso pra ser feliz, entende? é mais topar um lugar de carinho constante, comigo e com os outros (porque, no fim, é a mesma coisa!)