Menina má. Acha que fez certo, mas sempre fez tudo errado, né? Não pode ficar sozinha um segundo que faz besteira. Acha que tá fazendo o que é melhor pra todo mundo, mas nem pra perguntar se isso era o que todo mundo queria mesmo.
Menina má. Não cruzou as pernas na hora de sentar, esqueceu de pentear o cabelo antes de sair de casa e nem passou uma maquiagem. Fica por aí andando com essa cara de doente e depois reclama que tá sozinha, só pra se fazer de difícil.
Foto: Cassio Crow Fotografia
Menina má. Mentiu pra chefe e disse que não podia fazer o tal trabalho naquela noite de quinta porque já tinha um compromisso imperdível com a sua cama e a segunda temporada de Demolidor na Netflix. Depois comeu um pote inteiro de sorvete Haagen Daz sem nem sentir o gosto da macadâmia e chorou na frente do espelho porque achou que tava gorda.
Menina má. Ficou brava quando a amiga foi promovida no trabalho e chorou porque não foi nem considerada. Não que você quisesse o emprego, mas ainda assim. Pra você ela provou mais uma vez que era a melhor das duas e você precisava extravasar a raiva de alguma forma. Raiva de si mesma, é sempre bom esclarecer.
Me-ni-na-má. Saiu fugida do país porque achava que nada aqui prestava só pra ficar tão triste quanto no Brasil. Só que agora num país europeu, falando francês e aproveitando o inverno da Cotê d’Azur como se os problemas tivessem sumido. Mentira, claro, ela só jogou tudo pra debaixo do tapete.
Menina má. Deixou tudo lá, escondido, e quando tropeçou no tapete culpou o mundo, disse que os problemas eram os outros e não quis olhar pra dentro, pra ver o que tava acontecendo. Trancou uma verdade lá no fundo de si, tão bem guardada, que nem ela mais achava. Mal sabia que essa verdade era a sua salvação,
Menina. Má. Acreditou em tudo o que os outros falavam dela, comprou mil ideias erradas, se machucou por dentro e por fora porque tinha certeza que merecia. Afinal, era uma menina má e meninas más precisam ser punidas. E, por mais que ela quisesse, não tinha nada de sexy nisso.
Menina má. Sofreu muito, sem saber porquê. Chorou muito, sem saber porque. Andou de um lado pra outro da Av. Paulista procurando a resposta pichada em algum muro entre o parque Trianon e a Consolação, sem sucesso.
Menina má. Acreditou que tanto que era má que fez várias coisas más na vida. Nada tão extremo como matar alguém, mas a gente bem sabe que não precisa matar pra fazer alguém sofrer. E o pior? A gente sofre junto, né? Ninguém que machuca o outro sai ileso. Ninguém que machuca a si mesmo sai ileso.
Menina má. Quando descobrir que de má não tem nada provavelmente vai chorar muito também. Aos poucos ela vai vendo que a maldade não existe, e se ela não existe, então de má ela não tem nada.
Menina má vai passar a ser chamada de Boa menina. E depois, só como Bom. Deus sabe que a gente não precisa de mais rótulos pra ficar diferenciando quem a gente é. Mas o ponto aqui é: a menina má trancou a verdade sobre ser boa lá no fundo do poço, e tem que rolar toda uma força tarefa pra tirar essa ideia de lá e trazer ela pra vida de novo.
Mas tudo bem, menina, tem tempo. Enquanto isso, vale dizer que de má você não tem nada. Você é tudo de bom. Não acredita nessa vozinha aí no fundo da sua mente dizendo que você tá errada. Isso é mentira. Você não é má, não. É a mais pura de todas. Pureza é só o que você é.
Esquece essa menina má. Ela não sabe de nada. Escuta o seu coração, é lá que você tem que ver que de má você não tem nada mesmo. Se a vida é mesmo essa alegria toda, então você é a sua única representante e não dá pra ser assim se você continuar achando que é responsável por tudo de ruim no mundo.
Sai dessa. Encontra a sementinha de tudo que é puro e bom no seu coração, ela tá lá. Rega, cuida com carinho. Daqui a pouco ela tá tão grande que nem vai lembrar mais que um dia achou que era má.
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2 Comentários
Faz pouco tempo que conheci o seu blog e já está entre os meus favoritos. O post de hoje me tocou profundamente, houve um instante que me perdi nas entrelinhas e tive a certeza que você estava me descrevendo, rs! Maki, muito obrigada <3
Ô, Marta! Obrigada por você por esse comentário fofíssimo <3