cotidiano

Sabe de uma coisa? Leve tudo o que quiser. As roupas, cadeiras, mesas, até mesmo o vestido vinho que eu tanto amo. Até mesmo o porta-retrato com aquela foto tirada no meu aniversário de 25 anos. Pode levar, mesmo, eu não me importo.

Percebi, depois de um tempo, que nada disso tem significado. Nem as Polaroids do casamento no sul que eu pendurei em um varal de barbante minha prateleira, nem os meus livros preferidos, nem mesmo a parede de lousa que eu insisti em pintar na frente da escrivaninha.

pirulito-coração

Vai, leva tudo e não demora. Deixe as paredes nuas, leve os espelhos, as luzes de natal que eu uso de enfeite, a mesinha amarela e a mesa de cabeceira que eu mesma reformei, da vida eu tiro tudo, menos os doces.

Não falo apenas dos muffins de banana com chocolate que eu insisto em pedir no Starbucks ou do eventual cookie triple chocolate, brigadeiros e bolos. Leve o que quiser, menos o lado doce da vida. 

Não tire de mim a doçura do primeiro olhar sobre tudo – até sobre o que eu já conheço -, a visão pura que me é natural. Não tire de mim a sensação borbulhante, de quentura, toda vez que lembro que estou viva e que ela – a vida -, é linda, tão linda.

Sabe do que mais? Pode me tirar o trabalho, o dinheiro, o computador. Leve tudo sem qualquer carinho ou consideração, mas não tire aquele gosto doce e alegre da boca, típico da sabedoria de que existe apenas um único problema, e ele já foi resolvido. Nem toda certeza do mundo valeria abrir mão dessa resposta

Não leve embora a doçura de um sorriso sincero, que por tanto tempo eu achei que estava perdido nos cantos escuros da minha mente.

Leve também o calor do chá de baunilha de todas as manhãs, eu não preciso dele me manter aquecida. Aproveite e leve junto as barrinhas de chocolate escondidas na gaveta da cômoda, mas deixe o gosto doce das lágrimas de felicidade que surgem sem cerimônia toda vez que eu escuto um “eu te amo” verdadeiro.

Vai, leva o que quiser. Esvazie minhas contas bancárias e arranque da minha pele as tatuagens, eu não preciso mais desses lembretes externos de que sou merecedora da vida.

doces

Faça o que você quiser com essa tralha toda, desde que você não tire de mim o doce conforto de um abraço apertado e da minha mão segura na sua.

Não se assuste com esse meu desapego repentino, mas é que eu mudei o foco e agora a minha visão está mais clara do que nunca. Falando nisso, leve os óculos também, a miopia não me incomoda mais, pois agora eu vejo de um outro lugar e os olhos não se fazem mais necessários.

Mais doce que qualquer coisa do mundo é a sensação de presença plena, então não use mais das suas distrações sem sentido para me deixar ausente.

Mas, sabe, a verdade é que eu nem precisava dizer tudo isso, porque tenho comigo a certeza que você vai levar tudo embora, uma hora ou outra, mas o que é meu, de verdade, eu confio que vai ficar.

Como a doçura do olho no olho e aquela sensação doida que o mundo é feito de areia e a qualquer segundo os castelos serão levados pelo vento. Ou os toques, tão doces e suaves, que é impossível separar a minha mão da sua pele.

É por isso que eu abro mão voluntariamente de tudo aquilo que eu tenho em prol dos momentos doces, das sensações tão boas que conseguem ser capturadas em foto.

Da vida, eu tiro tudo. Menos os doces. 

Compartilhe!
Escrito pelaMaki
Deixe seu Comentário!


Warning: Undefined property: stdClass::$comments in /home1/desan476/public_html/wp-content/themes/plicplac/functions.php on line 219
2 Comentários
  1. Paula  em setembro 18, 2015

    Uau! Conheci seu blog por acaso e comecei a acompanhar pelo bloglovin. Não tenho costume de comentar, mas achei q esse texto merecia. Achei incrível! Parabéns pelo texto e por carregar tanta sensibilidade dentro de vc!!

    • Maki  em setembro 19, 2015

      Oi, Paula!
      Poxa, que legal saber que você curtiu o blog, fico muito, muito, feliz. Apareça mais vezes!
      Beijos!