cotidiano

Eu comentei no vlog de algumas semanas atrás que comecei a fazer um curso de Jornalismo de Moda na Faculdade Cásper Libero, e o legal de voltar a estudar é que eu retomo um questionamento muito bacana sobre a carreira e o ramo que eu gostaria de seguir: jornalismo de moda ainda existe?

O Alcino Neto, professor do curso, é um cara super entendido do assunto, que passou quatro anos no comando da parte de moda da Folha de S. Paulo, depois que a Erika Palomino deixou o jornal. E um dos pontos que ele sempre levanta em aula é que o jornalismo de moda anda bonzinho demais.

jornalismo-de-moda

Explico: as críticas de moda, por exemplo, elas são críticas mesmo? Ou são mais exposições sobre o que foi visto na passarela, nunca entrando no mérito se a coleção foi legal de verdade ou se deixou a desejar.

Sabe essa coisa do ‘vamos agradar para não perder a amizade?’. Então. Eu acho que isso tem muito, MUITO MESMO, no jornalismo de moda, e até mesmo de entretenimento. Lembrei de um caso com o Robert Downey Jr em que ele deixou uma entrevista quando o jornalista fez uma pergunta que ele ‘não gostou’. O pessoal vibrou e o jornalista, tadinho, ficou com a pior.

Mas será que deveria ser assim mesmo?

O jornalista deve priorizar, acima de tudo, o seu trabalho e o seu compromisso com a verdade dos fatos. Por isso, eu acho que o jornalista acima não estava errado, muito pelo contrário, ele fez o seu papel em fazer todas as perguntas, sem se preocupar em agradar ou não entrevistado. Isso significa falta de educação e profissionalismo? Claro que não! Mas fazer as perguntas difíceis é o nosso papel.

Acho que daí também surge muito do tal ‘glamour’ que ronda a área de moda. É coquetel para ir, festa de fechamento de revista, brindes, amigos maquiadores, stylists, estilistas e assim vai. É beijinho-beijinho aqui. É ‘passa no salão que te dou um tratamento de graça’ ali. É um ‘Amigggaaaaaa, que bom te ver!’ acolá.

Todo mundo é assim? Não, não é. Não seria certo da minha parte generalizar, até porque, eu mesma já fiquei um pouco deslumbrada com a possibilidade de brindes, comes e bebes e amizades por interesse. Mas a realidade das coisas é bem diferente.

Acho que falta, sim, um pouco mais de ousadia no jornalismo de moda brasileiro. Antigamente, os jornalistas eram super respeitados, porque a sua opinião era valiosa no mercado. Agora, sinto que é o contrário. Somos a ligação entre o criador e seus consumidores, por que não fazer um trabalho legal, com embasamento, para tornar essa comunicação mais proveitosa?

Sei que não sou a única que pensa assim e, verdade, sei também que o medo de desagradar alguém é grande demais para fazer algo que saia um pouco mais da caixinha nesse ramo, mas, poxa, será mesmo que não é a hora de começar? Afinal, as grandes críticas de moda, como Regina Guerreiro e Suzy Menkes, jamais se sentiram intimidadas pela possibilidade de desagradar alguém.

Como disse o Alcino uma vez, acho que devemos a adotar para vida a ideia de que “eu gosto muito de você, só estou avaliando o seu trabalho para fazer o meu da melhor maneira possível”.

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. Mariana Maia  em abril 23, 2016

    nem sei mais como cheguei até aqui, só sei que estou adorando seu blog.
    tbm sou jornalista, e lendo seu post lembrei do tempo que eu estava fazendo meu tcc sobre jornalismo esportivo. perguntei ao entrevistado (jornalista esportivo) sobre o relacionamento com as fontes (jogadores, dirigentes…). ele foi bem franco, disse que existia um desgaste natural nessa relação, por causa do cotidiano, de ter contato com as fontes diariamente, daí gerava uma certa promiscuidade. acho que funciona assim em todas áreas do jornalismo, infelizmente.
    beijos!!!

    • Maki  em abril 25, 2016

      Oi, Mariana!
      Que legal que você chegou aqui e gostou! (mesmo que não lembre o caminho! ahaha quem nunca, né?)
      Pois é, isso é normal e ao mesmo tempo não é, né? Quando a gente pensa que toda fonte é uma pessoa nova, com experiências novas pra dividir, acho que a gente consegue mudar um pouco esse desgaste. Mas é inegável que a rotina meio que mata a espontaneidade da coisa toda. A gente acaba fazendo tudo no automático sem pensar muito bem no que tá fazendo, né?